Ontem, tive uma surpresa. Estava a querer referir quantas visualizações tinha em média e, para não me enganar, fui ver as estatísticas. E, para meu pasmo, constatei que, no total, já tinha passado as 8.000.000 visualizações. Há tempos, ao ver que estava a caminho disso, tinha pensado que tinha que arranjar maneira de assinalar a ocasião. E, afinal, distraí-me, e, à hora a que estou a escrever, já vai em 8.029.700 e, portanto, é absurdo estar agora com foguetórios e grandes invenções festivas quando o dia em que transpus o patamar dos oito milhões já lá vai.
De qualquer maneira, este domingo, ao pegar no telemóvel para ver as novidades, reparei que tinha uma mensagem de um amigo com quem tinha estado na véspera. E tive uma outra surpresa, uma surpresa de se lhe tirar o chapéu. Dizia-me ele que mão mais que amiga lhe tinha feito chegar o que eu aqui tinha escrito horas antes, e agradecia a referência amigável e a empatia de festejarmos juntos.
Como é bom de ver fiquei de queixo caído.
Quando aqui escrevo, sou só eu. Por exemplo, agora que já são quase duas da manhã, estou sozinha na sala e é como se estivesse sozinha no mundo. É quando me apetece escrever. Durante o dia, lavei e estendi roupa, apanhei sol, li, fotografei, falei ao telefone, vi televisão. E, só quando a casa adormece, ligo o computador e dou largas ao meu gosto por escrever.
Hoje retomei a leitura de o 'Caderno Proibido', um diário escrito às escondidas. Não é o meu caso pois, em vez de esconder um caderno no fundo de uma gaveta, abro a janela e deixo que as palavras voem por onde quiserem, que pousem no vosso colo, que cheguem até às vossas mãos. Mas, quando escrevo, é quase a sensação de que escrevo só para mim, como se ninguém me fosse ler, sem correr o risco de ter que me justificar perante ninguém, pois abstraio-me de tal maneira que nem me lembro que alguém que me conheça ou que se identifique com o que escrevo pode reconhecer-se e vir contrapor opiniões ou mostrar desagrado.
Desde sempre quis que o blog fosse anónimo. Estando eu a trabalhar num grande grupo empresarial, nunca quis que as minhas opiniões pessoais causassem desconforto na organização. Sou intrinsecamente livre e não estava para que, quem me lesse, tentasse condicionar-me com observações do tipo: 'trabalha onde trabalha e escreve estas coisas...' ou que viessem aconselhar-me a ter algum cuidado na manifestação de opiniões contrárias a certas linhas de actuação. Nem queria que, ao falar de algumas situações ou de alguns chatos que tinha que aturar em contexto profissional (e que existem em qualquer contexto profissional), pudessem parecer actos de deslealdade perante pessoas ou acontecimentos concretos. E habituei-me a este registo. Continuo a não divulgar junto da maioria dos familiares e amigos que que tenho este blog e que todos os dias continuo a vir aqui partilhar opiniões, memórias, fotografias. Parece até que sinto um certo pudor em contar. Tenho ideia que as pessoas 'normais' não escrevem tanto ou tão abertamente como eu e não quero constrangê-los, não quero que pensem que têm que ter cuidado a lidar comigo porque sou um bocado anormal.
Mas, porque me esqueço que, ao escrever aqui, posso ser identificada, alheio-me completamente e as minhas mãos voam no teclado, escolhendo as palavras que muito bem entendem. Bem sei que diariamente há cerca de duas mil e tal ou mais (por exemplo, este domingo, 5.002) visualizações. Pessoas concretas leem o que escrevo. Mas é como se fosse uma realidade abstracta, pessoas que estão por aí (vi agora que hoje, para além de uma maioria de Portugal, houve quase outro tanto do Reino Unido, mas também umas centenas dos Estados Unidos, um número significativo de Áustria, da Alemanha, do Brasil...). Para além de alguns leitores que me escrevem (e que não conheço pessoalmente), a larguíssima maioria são anónimos, desconhecidos.
E, no entanto, regularmente acompanham-me. De certa forma, justificam esta minha persistência. Sinto-me agradecida. E espantada... Têm muita paciência. Sou escalena, irregular na escolha dos assuntos, nem sempre sou bem comportada. Há muita tolerância nos que, aí desse lado, leem o que escrevo. Do fundo do coração, agradeço-vos.
Mas depois... há estas surpresas. Perguntei ao meu amigo se me poderia dizer quem era a pessoa que lhe tinha enviado o meu post. Disse um nome (vou referir apenas a inicial, V.) e acrescentou, 'minha filha'.
Num primeiro momento, senti-me comovida. Qual a probabilidade de eu falar numa pessoa, sem dizer nome ou outro dado concreto e justamente a filha reconhecer que eu estava a falar do pai...? Logo a filha... caraças... É muito jogo...
E, depois da comoção, fiquei estupefacta com outro aspecto. Sempre me espantei com isto: muitos leitores muito jovens. Admitindo que as pessoas quando criam a conta no google escrevem mais ou menos a idade correcta, então é com um enorme agrado que vejo que grande parte de quem me lê é gente jovem.
É o caso da filha do meu amigo. Mas se a filha identificou que eu estava a falar do pai, como percebeu ele que era eu a autora? Pois... a filha segue-me há algum tempo, sabe qual a minha formação, por sinal a mesma que a dela, e mais um ou outro tópico. Bingo. (Se há coisa que a gente gosta é de encontrar soluções mesmo quando há muitas variáveis e restrições em jogo, não é, V.?)
E, portanto, fui identificada. Não me importei nada. Pelo contrário. E tanto assim é que, ao assinalar a ultrapassagem das oito milhões de visualizações deste blog, é justamente à V. que eu dedico este valor, a ela pela sua perspicácia, a ela em nome de todos os outros leitores que, espalhados pelos quatro cantos do mundo, me aturam há tanto tempo.
A V. deve ter a idade dos meus filhos, talvez menos (como sou cusca, já googlei e já a vi: tens uma filha toda gira, I., e, pelo que li, deve ter uma pedalada intelectual que vai lá, vai... Parabéns!). Por isso, ao contrário do que costumo, que é tratar por você quem não conheço, vou tratá-la por tu.
Afinal se trato o teu pai por tu, não ia tratar-te a ti por você, não é, V.?
Conheço o teu pai desde que éramos miúdos, V.. Sempre foi impecável, 100% impecável, muito inteligente, discreto e educado, sensível, empático. Creio que nunca nos aborrecemos um com o outro. Nem sei se alguma vez alguém se aborreceu com ele. Creio que não. Sempre o admirei. Ao contrário de mim, que sempre me achei uma despistada e efervescente de primeira, a ele sempre achei estudioso, bem comportado, meticuloso, uma pessoa com a cabeça no lugar. Saberás que participámos ambos num concurso televisivo numa altura em que, por só haver dois canais de televisão, os programas tinham outro relevo. Tempos de festa, de grande animação. Sempre fomos solidários, amigos. Fizemos também uma longa viagem por terras de África, numa altura em que, adolescentes, descobríamos a alegria de andarmos à solta, quase como se estivéssemos por nossa conta. Gratas memórias. Depois a vida levou-nos por caminhos distintos, mas agora, ao reencontrarmo-nos, sentimos que a estima ainda está viva, intacta. Quando soube do acidente, fiquei preocupada. Ficámos todos. Os amigos formam uma rede de afecto que apoia quem está a passar por momentos mais delicados. Mas no sábado já o vimos fino, alegre, em forma, e, entre nós, comentávamos como está tão bem e a grande sorte que tinha tido. Ter um acidente assim e ter escapado 'apenas' com a lesão que teve é nascer uma segunda vez.
A vida é assim mesmo, extraordinária. Reserva-nos surpresas. No caos que é a multiplicação de acasos parece haver uma curiosa ordem, uma harmonia que nos conduz a encontros virtuosos, a momentos de profunda satisfação. O teu pai, que é crente, talvez pense que é deus que nos vai encaminhando através de caminhos que nem sempre compreendemos. Eu, agnóstica, vou mais pelo milagre das inexplicações perfeitas, pela indecifrável e aleatória conjugação de arranjos e combinações que, como que por magia, por vezes convergem em inesperados e felizes encontros.
E é isto. À V. e a Todos, uma vez mais, o meu sentido agradecimento.
E vamos continuando a ver-nos por aqui, não é?
Saúde e alegria!
2 comentários:
CARPE DIEM CARPE NOTE FRUI VITA
https://youtu.be/jsAbybZyASQ?feature=shared
Parabéns. Continue ,que nós a seguiremos com muito gosto, isto se os apagões deixarem.
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