O que aconteceu a Filipe Silva parece-me do domínio do impensável. Estes tempos vão férteis em anormalidades.
É o Musk a ingerir à cara podre na política europeia, é o Zuckerberg a prescindir nas suas plataformas da validação da veracidade das notícias que circulam, abrindo ainda mais as portas ao esgoto a céu aberto que são as calúnias que são despejadas nas redes sociais, é o Trump a querer comprar a Gronelândia e anexar o Canadá e a manifestar outras intenções obscenas... e é toda uma sucessão de parvoíces que há não muito tempo diríamos impossíveis.
Que Filipe Silva, vendo a sua vida devassada, se tenha sentido obrigado a demitir-se parece-me bem o sinal do que são estes tristes e perigosos tempos. Não o conheço nem faço a mínima ideia da natureza do envolvimento com a directora. Mas ou é coisa ligeira e ninguém deveria sequer perder 1 minuto a debruçar-se sobre isso ou é coisa séria (e, nesse caso, até pode ter sido uma situação emocionalmente complicada para ambos, algo do seu foro íntimo, pessoal e intransmissível) e deveria ser respeitado, algo que, a ser abordado, o deveria ter sido com bom senso e sensibilidade, sob total reserva.
Outra coisa, caso ambos ou algum deles seja casado será o impacto que isso terá no respectivo casamento. Mas sendo todos adultos e vacinados, lá se organizarão. E, sobretudo, ninguém, a não ser os próprios tem alguma coisa a ver com isso. Não é tema da empresa, muito menos do País.
O mais que, na GALP, alguém com tino poderia fazer, o Chairman por exemplo, seria falar com ele e indagar se o relacionamento interferia, de alguma forma, no desempenho profissional de ambos. Havendo garantias de que não, a coisa ficaria por aí. Eventualmente o que poderia ser feito, e lembro-me de uma situação assim numa das empresas em que trabalhei, em que, havendo envolvimento entre o presidente e a responsável por uma das áreas por si tutelada, houve um rearranjo de pelouros, tendo ela ficado a depender de outro administrador. Ambos, anos depois, viriam a casar-se. Mas isso nem vem ao caso.
Agora expor Filipe Silva e a directora da forma como aconteceu é torpe, é vil, é imperdoável. E a Comunicação Social puxar o tema para as primeiras páginas e para notícias de abertura é outra miséria.
E só espero que quem enviou a denúncia à Comissão de Ética e, sobretudo, quem vazou isso para a Comunicação Social, fique com a consciência a roer-lhe a paz de espírito até ao fim dos seus dias. Quando a fofoca, a bisbilhotice, a coscuvilhice, a intrusão, a maldade, o voyeurismo e a falsa moralidade se torna em fanatismo vai mal a sociedade.
Quanto a Filipe Silva e quanto à directora desejo-lhes que consigam lidar com a situação com coragem, com calma. E que, da melhor maneira que consigam (ou juntos ou separados, conforme assim o entendam), sejam felizes.
3 comentários:
"Quando a fofoca, a bisbilhotice, a coscuvilhice, a intrusão, a maldade, o voyeurismo e a falsa moralidade se torna em fanatismo vai mal a sociedade"
Claro que vai mal. Muito. Ainda tinha dúvidas?
Coitado...se é casado o que é que a mais que tudo terá dito? Noutros tempos o caso resolvia-se com um anel de brilhantes. Vai uma sugestão: um cinto de castidade e a chave fica com a madame. Sempre se evita o divórcio e as partilhas.
No caso dela, bom, não sei. Se é casada o que dirá o amor? Noutros tempos ou seria repudiada ou a honra seria lavada em sangue. Hoje, às tantas, vão os dois para um clube de swingers. Se for solteira ou divorciada é seguir em frente. Até pode ser que entre no metoo. Também ela foi vítima de assédio, até quando saltou para cima dele.
Deveria apurar-se o ou os autores da denúncia. Atirar pedra e esconder a mão deveria ir para a comissão de ética.
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