À beira mar havia uma névoa leve, branca, quase transparente. Caminhávamos dentro de um tule húmido quase sem darmos por isso.
Não estava frio nem havia vento.
Muita gente a passear e muitas línguas diferentes, muita gente a fazer surf, muita gente a fazer skate, a correr, alguns de bicicleta. O mar muito bonito, quase tranquilo de lindo que estava.
Há sempre homens à pesca. Duvido que consigam pescar alguma coisa mas eles não desistem.
Às vezes penso que um dia gostaria de voltar a pegar numa cana, de voltar a sentir o peixe a picar, de voltar a puxar a linha, de voltar a tirar o anzol da boca do peixe. Se eu soubesse que conseguia descobrir um sítio onde fosse certo que conseguiria ser bem sucedida, arriscaria. Pensando bem, deve ser bom estar à beira da água, quieta, ouvindo apenas as ondas, à espera que um peixe ceda à tentação. E depois amanhar esse peixe com as minhas mãos, e depois cozinhá-lo e comê-lo. Deve ser bom.
Mas depois há aquilo de a maior parte do tempo não vir peixe nenhum... e isso deve ser frustrante.
E já estou a fazer aquela ginástica aquática feita com os pés no ar, coisa que tem dado uma luta... O professor diz que é mesmo assim, às primeiras custa a manter o equilíbrio enquanto se está naquele folguedo de pernas para a frente, pernas para um lado, braços para o outro. Diz que trabalha os abdominais e tomara que sim.
E tenho conversado muito com amigos improváveis. E a minha empreitada agora anda meio interrompida pois deitei mãos a outra coisa. Não muito convictamente, diga-se. Uma coisa é ficcionar à mão livre. Outra é escrever sobre o que está a passar-se sobretudo porque não sei qual o day after.
E depois há isto. Alguma marosca há pois abro o youtube e aparecem-me escritores falando do seu ofício. Adivinha-me os pensamentos. António Lobo Antunes a ser o António Lobo Antunes e Arturo Pérez-Reverte com uma outra atitude. São estilos, não interessa. Cada um é como cada qual.
Entrevista exclusiva a António Lobo Antunes
Entrevista a Arturo Pérez-Reverte
Arturo Pérez-Reverte considera-se um marinheiro-leitor que acidentalmente escreve romances. Até agora, foram 34. Traduzidos em cerca de 40 idiomas, chegaram a mais de 20 milhões de leitores em todo o mundo e vários deles foram adaptados ao cinema e à televisão.Pérez-Reverte possui um olhar de uma lucidez extraordinária sobre o ser humano, que deve aos 21 anos em que foi repórter de guerra – aí, nas trincheiras, todos são iguais e nem sempre é claro qual é o lado bom ou o lado mau. Escreveu Linha da Frente, o romance sobre a Guerra Civil Espanhola que acaba de lançar em Portugal, como consequência da situação política em Espanha, esperando contribuir para a reconciliação nacional. E está a consegui-lo.Quando vem a Portugal, vem à sua pátria. Defende que uma Ibéria unida seria uma grande potência frente e esta Europa que olha para o sul com desprezo. Crítico da desvalorização da História, avisa que estão a criar-se gerações de órfãos de memória, facilmente manipuláveis, excedentes em sentimentos e carentes de razão.Está convicto de que, no dia em que deixar de escrever romances, será esquecido, e não vê mal nenhum nisso. Sente-se realizado, porque é lido em vida, e grato aos seus leitores, porque lhes deve a sua liberdade.
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