Estes dias estão a transbordar. Muito trabalho e, em cima de uma agenda demasiado preenchida, há a campainha a tocar com entregas, telefonemas das mais diferentes proveniências, o urso cabeludo a precisar de atenção -- e eu sozinha em casa.
Há-de aparecer a vontade. Portanto, adiante.
Ao fim da tarde, num ápice, fui até ao supermercado. Não tinha bananas em casa e isso é coisa que não pode faltar. Desde que me lembro, ao pequeno almoço, uma banana não me escapa (entre outras coisas). E não sabia o que fazer para o jantar. Então vi um lombo de salmão à provençal, congelado. Fiz como recomendado e acompanhei com um arroz com muitos legumes. Ficou bom. Vou dizer como fiz o arroz:
Num tacho, coloquei azeite, uma cebola aos bocados, um alho francês, uma folha de louro e salsa em boa quantidade. Refogou ao de leve. Quando estava tudo molezinho, juntei três tomates maduros aos bocados, um molho de feijões verdes também cortados aos bocados, metade de uma courgette cortadas aos bocadinhos, um pouco de sal, pouco, sempre pouco. Ficou tudo a cozinhar devagarinho. Quando estava tudo bem cozinhadinho, juntei um bocadinho de abóbora também aos cubinhos. Juntei dois copos de água, deixei ferver, Juntei um copo de arroz basmati. Quando ficou quase sem caldo disponível, desliguei e deixei o tacho tapado a apurar. Modéstia à parte, estava bem saboroso. Saborosinho. Inho, inho (que isto hoje está a dar-me para os inhos -- deve ser do frio, uma pessoa até encolhe, incluindo das ideias).
O salmão foi assim: claro que, primeiro, descongelou. E a seguir:
Numa frigideira coloquei um pouquinho de azeite e cobri o fundo com uma cebola grande cortada aos bocados. Sobre essa cama generosa coloquei o lombo que tinha cortado às postas. A pele do peixe ficou para baixo. Para cima a parte com as ervas aromáticas. Ficou para ali em fogo leve e brando, até que a cebola quase caramelizou, o peixinho cozinhou e o perfume a boa comidinha encheu a cozinha.
E agora aqui, ao ver os vídeos do dia, uma vez mais, o das Avós da Razão chamou a minha atenção. Falam de períodos da nossa vida em que parece que estamos num impasse, improdutivas, desinspiradas, abúlicas. Uma mulher de trinta e quatro anos perguntava se as Avós já se tinham sentido assim e, em caso afirmativo, o que fizeram. E a resposta que elas deram é a que eu daria: claro que sim. Quem nunca? E, numa situação assim, não se faz nada. Espera-se que passe. A menos que a pessoa esteja doente -- com uma depressão, por exemplo, e aí deve tratar-se -- passa sempre.
Falo por mim. Sou avessa à monotonia. Essa coisa da velocidade cruzeiro não funciona comigo. Prefiro mar encapelado sem saber bem o que fazer com ele. Gosto de me sentir a desbravar caminho, a construir, a enfrentar as dificuldades do que se faz de raiz, a criar coisas, a formar equipas, a deitar obstáculos abaixo. Depois, quando está feito e apenas há que manter, eu começo a roer-me de impaciência, doida por saltar para outra. Mas nem sempre há para onde saltar. E, nesses compassos de espera em que me sinto sem pachorra para o mar flat e sem saber se me vai aparecer lugar para onde me pirar, sinto-me a aboborar, a criar raízes quando gosto é de sentir as asas a romperem das costas, impacientes por me levarem nem eu sei bem para onde.
Mas, com o tempo, aprendi. Nessas alturas, não vale a pena fazer nada. Um dia tudo se vai resolver por si. O melhor é arranjar um qualquer entretenimento mental para ajudar a aguentar. Porque é apenas uma questão de tempo. Não vale a pena forçar. Tenho para mim que o que tem que ser será. Mas só o é na altura que tiver que ser.
A nível profissional ou pessoal sempre me aconteceu isto: depois de estar como que em hibernação mental, o próprio corpo a pedir descanso, um belo dia, sem saber porquê, acordo e aparece-me uma decisão que me vira a vida noutra direcção. Por vezes, uma ideia anda por aqui a pairar, indefinida, inconcreta, impalpável, vaga, vaga, como uma ilusão longínqua. E, do nada, aparece a cola que liga as peças, une as pontas. E, aí, é só ir atrás que a coisa se dá.
Mas eu sou eu e pouca graça tenho para falar das coisas. Agora as moçoilas aqui abaixo têm toda uma sabedoria, graça, irreverência e cabelo às cores que é impossível a gente não pensar que quando for grande quer é ser como elas.
[Relembro: Gilda tem 79 anos, Sonia 83 anos e Helena 92 anos]
E mais nada. O resto é conversa.
Avós da Razão: Escute os sinais e respeite seu momento
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