sexta-feira, maio 07, 2021

Para não falar de Flo, mostro o local de trabalho de Maitê e a casa que agora é de Zezé mas que já foi de Clarice

 


É daquelas semanas em que o facto de chegar a sexta-feira não me deixa especialmente entusiasmada. É uma semana que está a passar depressa demais. Nem sei bem como fui de segunda a sexta sem me dar conta. O teletrabalho tem disto. Trabalho de sol a sol, sem interrupções e sem o break que as viagens de carro sempre estabeleciam. É um contínuo que quase me deixa sem referências.

Ainda assim, para as minhas funções em concreto, é bem melhor este regime do que trabalhar presencialmente. Nem quero pensar que posso ser pressionada para voltar a encaixar-me no 'velho e relho' normal. Há quem ainda não tenha conseguido assimilar que o teletrabalho é possível, é vantajoso. Tem é que ser equilibrado e tem que haver condições para isso. Imagino o sufoco de quem está a trabalhar com a família em volta, sem privacidade, sem sossego. Mas para quem tenha condições e para quem tenha funções compatíveis, é do melhor que há. Claro que há que condimentar com reuniões remotas assíduas para que o vínculo não se perca e com uma ida ou outra aos locais onde estão outros colegas.

Tirando isso. 

Continuo a quase não ver notícias. Os media portugueses têm orgasmos com qualquer espuma que assome aos dias. Não me assiste. Podem os desastres e os desvarios estar debaixo dos narizes dos mamíferos que ninguém escoiceia. Mas basta que uma qualquer desgraça salte para a ribalta que logo a carneirada se atira ao mar, uns a seguir aos outros, replicando os balidos dos que saltam. Indignações a la minute, fogachos que não duram o tempo de um ai. Não me assiste. 

Comentários ainda menos. Gente que opina a metro e que por aí anda a espalhar opiniões sobre tudo e sobre nada há anos é coisa que ainda menos me assiste. Ruminam, ad nauseam, o bolo alimentar uns dos outros. É pitéu que é para quem gosta. Não é o meu caso.

Portanto, aqui chegada à minha salinha, ponho-me a ouvir música, a deslizar o olhar sobre o que me parece ter alguma graça, ponho-me a ver vídeos de jardinagem, decoração, leitura de cartas ou poemas. Ou danças. Ou os textos dos bloggers aqui do lado. Ou coisas assim. 

E depois, quando me apetece escrever, não tenho nada para dizer. Escrevo porque sim, porque gosto. Quando vou dar o título, fico sem saber. A MP não está nem aí, vai só o texto e faz ela bem. Mas ser assim é para quem pode. Eu ainda não estou nesse ponto: tenho esta coisa de dar nome, de enfeitar, de arranjar banda sonora. Não sei se é infantilidade se é pirosice. Mas sou assim. Talvez um dia, quando crescer, consiga apresentar-me de forma despojada, só as palavras, só eu tal como vim ao mundo. 

E depois há outra coisa. Li uma coisa que me deixou intrigada, um daqueles casos que me perturbam, inquieta por perceber que há pessoas que parecem feitas de outra matéria, uma matéria que é o avesso da matéria a que mais estamos habituados. É o caso de uma mulher que parece normal mas que já fez de um tudo, tanto que já esteve presa, tanto que nem ela própria deve ser capaz de se explicar. E eu vinha aqui para falar disso. Mas depois fugi. Talvez amanhã ou outro dia. Hoje não consigo passar as mãos por uma coisa tão incompreensível.

Por isso, fico-me por estes dois vídeos que vi de gosto. Os brasileiros têm este jeitinho gostoso de rolar as palavras com uma graça que envolve em folguedo e vida gostosa qualquer assunto de que falem. Se falam das suas próprias casas, então, o ninho dá-lhes um carinho que ainda mais adoça a língua que é também a minha.

O apartamento de Maitê Proença


Zezé Motta abre as portas de seu apartamento histórico, onde morou Clarice Lispector


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Os chapéus são obra de Ruslan Baginskiy e Carole King interpreta (You Make Me Feel Like) A Natural Woman 

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Desejo-vos uma sexta-feira completamente friday

1 comentário:

Paulo B disse...

Olá UJM,

Mas por falar em casas, olhe que andam aí notícias das boas na comunicação social. Todo um tratado de sacanice típica de Portugal que vale a pena ver e no qual ninguém sai bem na fotografia: do governo aos restantes partidos (especialmente à direita e sobretudo ao IL), da comunicação social a instituições várias (ordem dos advogados, ser, act, câmaras municipais, bancos, ... ).
Um rol de histórias inacreditáveis temperadas com imigrantes tratados como carne para canhão, discriminados, excluídos socialmente, isolados espacialmente.
Cereja no topo do bolo: a comunicação social praticamente toda a contar historinhas da carochinha ao povo, que, sem saber (por acaso o tema é da minha área profissional) tornou patente o quão fácil é capturar a comunicação social e colocá-la ao serviço de quem tem poder (e dinheiro).
Um folhetim ao melhor estilo das histórias de cordel!

Abraço.

Boa sexta feira.