terça-feira, maio 04, 2021

Ontem é história, amanhã é um mistério e hoje é uma dádiva. Por isso lhe chamam presente.

 



Uma segunda-feira que começa cedo e que vai de enfiada até ao fim do dia é uma segunda-feira para esquecer. Tanto saco, tanto pepino, tanto sapo. A meio de uma reunião que estava a deixar-me com os nervos em franja, já incapaz de disfarçar a minha impaciência, recebi uma mensagem: 'Temos quatro monos na sala'. Deu-me vontade de rir. Tal e qual. Logo de seguida, um outra: 'Pelo menos...'. A partir daí, atalhou. Percebemos ambos que dali, por mais que espremêssemos, não sairia sumo. Quando a reunião acabou, ligou-me: 'Qualquer dia estamos os dois sozinhos'. E eu, apreensiva que também ando: 'Pois. Mas não pode ser. A verdade é que o tempo passa e a conversa não evolui. Não desenvolvem. O que é que a gente faz?'. E sugeri que apostássemos na mais improvável. Concordou. Tenho cada vez mais a convicção de que quando a mudança é profunda, quando os desafios são dos valentes, quando é preciso pragmatismo e capacidade para cortar a direito, as mulheres são mais capazes. É para fazer? Então, faz-se. Não há cá converseta da treta, mas-mas, não há cá medo de ouvir um não: é pão, pão, queijo, queijo. 

Mas é uma canseira. 

A minha filha diz-me frequentemente que tenho que gerir as coisas no sentido do phasing out. Conhece alguns dos intervenientes e antevê que não me 'deixarão' sair tão cedo. Diz que eu é que tenho que pôr os pés à parede, gerir as coisas nesse sentido. E é o que quero. Mas, por outro lado, são largas, muitas, centenas de famílias que dependem da empresa. Sinto a responsabilidade de fazer o melhor possível. 

Da empresa de que saí o ano passado saí com a noção de que tinha cumprido a minha missão e que lá ficaria uma equipa, a 'minha equipa', gente competente e dedicada, que asseguraria a continuidade. Saí com a convicção de que tinha preparado bem a minha saída. 

Aqui é tudo muito diferente. Tudo diferente. 

O meu marido diz que me esgoto nesta luta. E é um bocado verdade. 

Estou in heaven mas mal consigo usufruir. À hora de almoço, saí para andar e para falar com a minha mãe. Ao fim da tarde também. A meio do dia, sempre que falei ao telefone, estive a andar à porta da sala, para a frente e para trás. Nestes telefonemas de trabalho não gosto de me afastar pois a toda a hora me pedem que veja o mail ou que veja a disponibilidade e dá-me mais jeito sentar-me ao computador enquanto telefono para este tipo de validações.

Mas, ao fim do dia, a app informou-me que tinha feito 12.929 passos, o que corresponde a 8 km. E, imagine-se, queimei 502 kcal. Menos mal. 

E isto é a maçadora síntese do dia. 

À noite, aqui, vi que Bill e Melinda Gates, o dream couple, vai separar-se. Fiquei deveras surpreendida, Dir-se-ia que já teriam ultrapassado todos os cabos das tormentas, que, casados há 27 anos, certamente já enfrentaram. Ele com 65, ela com 56, diria eu que já achariam que o divórcio é coisa para dar mais trabalho do que continuarem a resolver as diferenças. Afinal, o quarto homem mais rico do mundo e a sua mulher que, em conjunto, gerem uma das fundações mais poderosas do mundo, chegaram ao ponto de não retorno. É obra. Já em 2019, MacKenzie Scott, a ex de Jeff Bezos, ao divorciar-se conseguiu a proeza de se tornar a terceira mulher mais rica do mundo e, acto contínuo, fazer filantropia à sua maneira, sem cuidar de acautelar previamente os benefícios fiscais. 

Mas é isso: quem tem a ilusão que dinheiro é felicidade e que resolve todos os dramas, bem pode tirar o cavalinho da chuva. É ver quase todos os mais ricos desta vida: Gates, Bezos, Musk. Falta o alienado Zuckerberg. Ou o outro dream couple, a Angelina Jolie e o príncipe encantado de todos os sonhos, Brad Pitt. Dinheiro não lhes falta, sucesso também não. E, no entanto, na intimidade da casa, são como todos os outros casais, têm diferenças. E, por vezes, seja qual for a dimensão da fortuna, as diferenças são insanáveis.

Moral da história? Não há e ainda bem que não há. Detesto quando as histórias pingam moral. 

Até porque se é para falar de coisas sérias vou antes falar de outra coisa. Já aqui contei muitas vezes: nada me descansa mais e repousa, tranquiliza, refresca as ideias e me prepara para tudo do que um belo banho. Não sou de água fria. Pode ser tépida no verão mas, no inverno, convém que se lhe sinta o calorzinho. Em especial, fico outra, retemperada, poderosa, se lavo o cabelo. Uma bela shampoozada, água a correr-me em cima até que se vá toda a espuma, e eu ali, com vagar, a deixar que todos os cansaços, aborrecimentos e desconfortos se vão pelo ralo abaixo. Coisa boa. Por sorte não precisei ainda de psicoterapia ou medicação para ansiedades ou angústias. A minha terapia é o banho, em especial com lavagem de cabelo incluída. 

Pois bem. Acabo de ler no The Guardian que It’s like therapy’: how washing your hair can lift your mood – and change your life. Hairwashing can be a catharsis and a reset, the purifying sluice of water rinsing a bad day down the plughole (...) Li e pensei: olha, afinal, se calhar, não sou maluca de todo. Comentei com o meu marido. Confirmou, disse que com ele acontece o mesmo. Desatei-me a rir: 'Essa é boa. És careca!'. Não concordou. Disse que eu não devia fazer uma leitura tão literal, que o ponto está em como lavar a cabeça levanta o astral -- a cabeça, não o cabelo. Está bem, abelha. Na volta acontece-lhe é como às pessoas que perdem uma mão e que parece que continuam a senti-la: ainda sente como se tivesse cabelo. A vontade de rir que isso me dá. E calma, que não se pense que estou a depreciar. Nada disso. Sou como as demais que é dos carecas que mais gostam. 

Já contei, não contei? Uma vez, estando a ouvir a conversa de dois colegas sobre a queda de cabelo, um a dizer que não tinha problema nenhum e outro a dizer que estava a fazer um tratamento e que estava a resultar muito bem, saiu-me, sem querer: uma amiga que é médica, disse-me que a principal causa de calvície é a testosterona. Quanto mais, mais o cabelo cai. Ficaram os dois em silêncio. E eu com vontade de rebobinar e retirar o que tinha dito. A coisa propagou-se. Durante anos, ouvi toda a espécie de piadas. Quando aparecia algum cabeludo, havia sempre alguém que me piscava o olho ou que me dizia: 'Aquele... coitado...'. Uma vez estava numa situação social, com gente que não conhecia muito bem, e às tantas, alguém falou do cabelo farto de um qualquer. E, às tantas, para meu sufoco, um dos meus colegas disse: 'Aqui a nossa amiga tem uma teoria sobre isso...'. E todos, virados para mim: 'Ai é...? Conte...'. E eu, furiosa com ele: 'Desculpem mas não posso. É uma private joke... Não levem a mal'.

Mas, também calma aí, há cabeludos que eu também não rejeitaria. Por exemplo, o dito príncipe dos príncipes, Pitt, Brad Pitt. E outros. Ou seja, quem vê cabelos não vê corações. Nem corações nem o resto, bem entendido.

E é isto. Termino com uma citação que acho o máximo e que vem mesmo aqui a calhar: «Yesterday is history, tomorrow is a mystery and today is a gift, that is why it is called the present.» (Eleanor Roosevelt)


____________________________________________________________

Do melhor


_______________________________________

Uma boa terça-feira.
E, se não estiver a correr bem, façam o favor de tomar uma banhoca.

Sem comentários: