quarta-feira, abril 01, 2020

Os momentos da perplexidade, descoberta e reaprendizagem antes do recomeço





Vamos experimentando novas astúcias. Um passo um dia, hesitações, dois passos num outro dia, uma ousadia ao terceiro.

Sem rede e sem quem possa abeirar-se de nós para nos ajudar, adquirimos novas competências, auto-suficiências.

E, até para emular as formas tradicionais de exprimir afectos, descobrimos teledemonstrações do que for preciso -- e o nosso cérebro aprende novas línguas, não apenas as dos abraços e beijos mas também as das palavras, as das imagens, as que se constroem em cima das saudades, as que cimentam com débeis e inseguras esperanças.


Passaram duas ou três semanas e o distanciamento social começa a entrar no nova normalidade. Aproximamo-nos de outra maneira. Trocamos mensagens, sorrisos, alentamo-nos mutuamente. Pelo menos, teremos pela frente mais quase três semanas idênticas. E o mais provável é que depois venham mais duas semanas ou talvez ainda mais duas, talvez então já com algumas nuances. E talvez depois comece o abrandamento. Ainda com distância, talvez todos com máscaras.  E talvez sabendo que pode ser uma liberdade condicional e relativa. É que pode acontecer que, de Setembro a Novembro, voltem as recomendações mais apertadas. E talvez, então, com sorte, por essa altura, já haja vacina ou tratamento e tudo se resolva -- e embora o covid continue por aí já não meta medo a ninguém.

Mas, quando isso acontecer -- e mesmo que, por um bambúrrio de sorte, já daqui por um bom par de meses, haja ventiladores com fartura e tratamento para grande parte dos casos --, nessa altura já seremos outros.


Ao termos passado por este regime de inoculação diária de números diários de contagiados, ventilados e mortos, durante largas semanas confinados e amedrontados, estaremos conscientes da nossa vulnerabilidade, teremos aprendido que o espirro de um pangolim no distante mercado de Wuhan pode prender-nos em casa, pode afastar-nos dos que amamos, pode ceifar vidas, esvaziar ruas, derrubar empresas, empobrecer tudo à sua passagem, pode deitar o mundo abaixo.


Estaremos, pois, nessa altura, conscientes do respeito que o equilíbrio da natureza nos deve merecer, estaremos conscientes de que, por milhões de conhecimentos que adquiramos, nada nos salvará se uma gotícula invisível que se tenha evadido da expiração de um qualquer anónimo entrar em nós.

Teremos aprendido que há formas mais saudáveis e racionais de viver, teremos aprendido que somos todos agentes de saúde pública, teremos aprendido que o melhor para todos nós é se formos também guardiões do planeta azul e verde.


Seremos outros e o mundo será outro, mais limpo, mais natural e acolhedor. Ter-se-ão reinventado ocupações, criado novas actividades, adquiridos novos hábitos. Hoje ainda não sabemos quais, ainda não sabemos como faremos, como seremos. Hoje desconhemos aqueles que seremos. Hoje estamos a iniciar a construção do que seremos no futuro, um futuro que queremos que seja próximo e bom.


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1. Recomendo a leitura de algumas sementes das chaves que abrirão a porta ao novo mundo: Oxford firm to screen 15,000 drugs in search for coronavirus cureExscientia to use AI to hunt through compounds which have passed human trials


2. Recomendo que vejam e ouçam a prova de quão resilientes somos, de quão generosos poderemos ser




3. Recomendo que vejam um dos vídeos que provam como a natureza tem horror ao vazio


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As pinturas são de Otto Dix e vêm ao The way that I love you, segundo o Passenger

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E agora, se me permitem, vou ver um bailado de um coreógrafo que o Paulo B. me deu a conhecer, Alexander Ekmman, que cria bailados na fronteira entre o mundo actual e o mundo novo


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E agora, com vossa licença, vou ouvir poesia e, se descobrir alguma que me face arrepiar ou ouvir de olhos fechados, volto aqui para partilhar convosco

1 comentário:

Paulo B disse...

Olá UJM,

Passo aqui para dar nota que esse bailado passou recentemente na RTP 2. Ainda está disponível para rever no RTP play: https://www.rtp.pt/play/p5796/play

Abraço,