segunda-feira, maio 06, 2019

Balanço de um sarau em que alguns dos ginastas primaram pelas cambalhotas trapalhonas.
Fails, fails e mais fails
[E um breve apontamento sobre sindicalismo]


Estive no campo mas vim cedo para a cidade para preparar a janta já que a casa se ia encher e viriam cedo. Não tem a ver com ser da Dia da Mãe. Há coisas que não são de uns dias, são de uma vida. E vieram e a mesa esteve cheia e, como sempre, rimo-nos e houve jogos e cantoria. E, portanto, foi mais do que bom -- e a desarrumação foi também a condizer com a animação. E é mesmo assim, impossível controlar a energia de cinco crianças juntas (e de uns quantos adultos bem dispostos e a alinharem na brincadeira).

Estava eu a na cozinha, atarefada, quando o Rio apareceu a espadeirar à esquerda e à direita, à frente e retroactivamente, matando tudo o que era mosca e mosquito que lhe aparecesse no raio de meio metro. E foi isto que eu vi. E se ali não havia moscas e mosquitos, então não se passou nada, só mesmo o acto de espadeirar em seco. Só se for a cambalhota final da qual caíu fatalmente mal.

Além disso, no meio da afobação, mostrou o desatino que lhe vai na cabeça -- ele, tal como a madame Cristas, zanzando em volta do próprio rabo, dizendo que só pagam aos professores quando houver dinheiro --
- e toureando as outras classes profissionais, os pensionistas e contribuintes também vítimas da crise mais os que ficaram desempregados ou emigraram (que, pelos vistos, por eles, ficariam a chuchar no dedo) e sem explicarem que, se um dia, no tempo de São Nunca, houver dinheiro para isto tudo e pagarem e, no ano seguinte, perceberem que isso arruína as contas públicas... tiram outra vez tudo... 
E, aos saltinhos sobre a sua própria auto-importância, gabando-se não se sabe bem de quê e, de seguida, dando o dito por não dito, acabou a faena na maior deselegância e despropósito, mostrando o seu amargo mau perder, trazendo à liça as pessoas que morreram nos incêndios e os que morreram na estrada desprotegida, no maior desrespeito por quem morreu, ficou ferido ou por quem perdeu os seus entes queridos. Uma vergonha desagradável de presenciar.

Os portugueses ficaram, portanto, a saber que Rui Rio não apenas não sabe liderar o partido, não sabe ser coerente, não sabe conjugar o curto com o médio e o longo prazo, não é inteligente nem simpático, como nem sequer sabe ser bem educado e respeitador. 

Terminou dizendo que vai incluir no programa eleitoral do PSD isto de devolver tudo aos professores. Mais uma piadinha. Como se não estivesse careca de saber que não tarda já está com um par de patins e que, na próxima legislatura, não apenas não estará no governo como não estará no PSD. A dúvida, entre as hostes laranjas, é saber quando. Quando lhe põem o par de patins. 

Quanto à Cristas, mostrou que não apenas é uma peixeirona, uma troca-tintas, uma criatura que faz tudo e o seu contrário e, se necessário for, vende a alma ao diabo, juntando-se à direira mais extremada e mais populista e agora, também, à CGTP, ao BE e ao PCP, na ânsia de conseguir agradar não se sabe bem a quem como, depois, nem sabe disfarçar que é uma maria-tonta. É que, como se viu, quando a coisa sai furada, volta atrás, dá o dito por não dito, dá uma cambalhota trapalhona, estatela-se ao comprido e, a seguir, levanta-se a culpar os outros, aponta o dedo a quem vai no outro lado da rua, ao passarinho que canta em cima da árvore, ao que calhar. E assim, para desconsolo e enfurecimento dos centristas, vai desgraçando o CDS.

E nem vou falar de quão patético me soou o apelo de Catarina Martins a pedir a Costas que não se zangue, que continue a dar-lhe a mão, que a deixe continuar a brincar às geringonças. Claro que Costa vai continuar a ter paciência para as atitudes irreflectidas dela e do BE em geral, algumas a raiar a deslealdade. Mas há coisas que deixam algumas marcas. Mesmo pessoas com a pele dura e optimistas a toda a prova, como é o Costa, sentem quando um espinho se espeta no pé. Contudo, acredito que o Costa ache que é bom que haja um partido que acomode a esquerda sonhadora, romântica, saudosa de causas minoritárias e nobres. E, portanto, o Louçã há-de continuar a orientar a Catarina e a Catarina há-de continuar a andar por aí, bem intencionada, narizinho arrebitado, a agitar o punho e bandeiras coloridas. E tudo bem. 

Apesar de tudo, o PCP é mais reliable. Podem ser muito datados, muito agarrados a um proletariado e funcionalismo público que já é apenas uma pálida ideia do que é a classe trabalhadora da actualidade, podem ser um bocado casmurros, gente casca dura com um discurso muito já-era. Mas são gente de palavra, gente séria. Lá isso é verdade. Como parceiros de caminhada, antes gente assim, a atirar para o bota-de-elástico, do que gente que volta e meia tem fricotes, que vem com causas pseudo-fracturantes no meio de assunto sério e depois sobe ao palco a desfraldar bandeiras que nem se percebe bem a que propósito aquilo vem. Além disso, não há partido com homens mais giraços do que o PCP. Cada um mais sexy que o outro. E esta malta nova tem um discuro bem articulado, é gente serena para quem dá gosto olhar. O João Ferreira, então, faz favor: é mesmo um caso sério. 

E assim sendo, agora que a crise acabou e que já está mais claro com quem é que se pode contar, resta saber o seguinte:

1º - Quando é que os professores vão arranjar um representante sindical que lhes permita aparecer de cara lavada, que lhes permita limpar a má imagem que este Nogueira tem andado a espalhar junto da população. Os professores merecem mais e melhor -- e que seja rápido, se faz favor. 

2º - Quando é que o nosso Prof. Marcelo, por quem tanta gente anseia que se pronuncie, virá louvar a democracia portuguesa, madura de dar gosto, feita de gente que sabe dar cambalhotas e flic-flacs, andar de gatas, fazer o pino num só dedo, e tudo a bem do povo português. E que todos temos razão para festejar. Hip-hip-urra, efe-erre-á. Á. 

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E, portanto, agora que a crise está morta e quase enterrada, passo ao ponto do Sindicalismo. 

Começo, contudo, por um ponto prévio. Acho que devo andar com dificuldades de expressão pois ao criticar o que considero ser um mau sindicalismo há quem perceba que sou contra o sindicalismo. Isto deixa-me preocupada pois esforço-me por ser clara e, pelos vistos, não o sou.

Vou, então, tentar que não subsistam dúvidas: sou totalmente a favor de movimentos que representem os trabalhadores. Podem ser sindicatos, podem ser comissões de trabalhadores. Totalmente a favor.

Mas não me revejo nem nas causas nem na forma de agir destes sindicatos que conheço. São movimentos que, nuns casos, são correias de transmissão da linha mais ortodoxa e antiquada dos partidos aos quais estão ligados e, noutros, são movimentos corporativistas.

Os sindicatos que conheço pouco acrescentam. De vez em quando armam um banzé para convencerem os filiados que, se não fossem eles, os dirigentes sindicais, estariam perdidos. E vão para as negociações, focados em aspectos marginais, em relação aos quais pedem o dobro daquilo que acham razoável. E quem, do outro lado, vai negociar com eles, oferece metade do que está disposto a dar pois sabem que isso é importante para os dirigentes sindicais, para que possam exibir a vitória que conseguiram. Conheço bem tudo isto. Uma coreografia que não passa disto. Uma indigência.


Eu sei que que há quem, trabalhando todo o dia, chegue ao fim do mês com uma miséria. Sei tudo isso e muito mais.

Sei também da multidão que trabalha para empresas de trabalho temporário onde os ordenados são uma vergonha e as condições miseráveis. Sem ninguém que os represente.

Sei da multidão que trabalha em falsas empresas de prestação de serviço que mais não são do que empresas de mão de obra encapotada. Sem ninguém que os represente.

Sei de empresas de call center onde os empregados são em grande parte jovens licenciados que fazem um trabalho desgastante, com ordenados e horários do pior que há. Sem ninguém que os represente.

Sei de jovens investigadores sem segurança quanto ao seu futuro e sem condições que os motivem e segurem. Sem ninguém que os represente.

Sei de trabalhadores que trabalham sob uma pressão permanente, em turnos, muitas vezes integrados em equipas variáveis  com quem têm pouco em comum excepto o medo de perder o emprego. Sem ninguém que os represente.

Etc.

E sei dos problemas dos trabalhadores (problemas esses que vão muito além do que os 1% ou 2% de aumento de ordenado, no qual os sindicatos se focam):

  • o tempo que gastam em transportes, em especial nas grandes cidades; 
  • o dinheiro que gastam com creches ou ATL's para os filhos e as dificuldades que enfrentam para chegarem a horas; 
  • a angústia quando têm filhos doentes que precisam de ajuda, ou pais velhos e dependentes, e não podem ficar em casa a menos que metam férias ou tenham faltas que cortarão os ordenados no fim do mês; 
  • como, por mil razões, andam cansados para acomodarem a vida profissional e a vida familiar. 
  • A desmotivação por fazem trabalhos aquém da sua formação e das suas capacidades. 
  • A incerteza e precariedade que os impede de serem independentes e formar família. 
  • A dificuldade para os mais velhos em manterem-se em empresas que os olham como velhos apesar de não terem idade para se reformarem. 
  • A dificuldade dos que não suportam sentirem-se desmotivados ou indesejados e arriscam o desemprego ou uma reforma antecipada com cortes muito penalizantes. 

Etc.

E sei como estão prestes a mudar grande parte dos postos de trabalho. A transformação digital, as comunicações 5G e tudo o que já aí está a rebentar vão mudar drasticamente o mundo do trabalho. E sei que grande parte das pessoas vai ter que se reconverter profissionalmente e sei que grande parte das empresas não está a preparar-se convenientemente para isso.


E falo em empresas, que é a realidade que conheço melhor, mas a mesma coisa presumo que se diga em relação à administração pública.

E sei também como as empresas e os organismos de estado e outras instituições têm tantas vezes nas suas equipas de gestão pessoas completamente insensíveis em relação a tudo isto -- e não têm ninguém que represente os trabalhadores.

Gasta-se, por vezes, tanto dinheiro em projectos inúteis quando há tanto que fazer para aumentar a produtividade, conseguindo, em simultâneo, satisfazer as necessidades prementes dos trabalhadores e aumentar a sua qualidade de vida.

Portanto, acredito plenamente na necessidade de haver quem represente convenientemente os trabalhadores -- sob pena de a coisa se descontrolar. Sejam sindicatos, sejam comissões de trabalho. São vitais e deveriam ter uma representação forte junto das comissões directivas, representando com inteligência os trabalhadores (não partidos políticos, não causas escusas).

Os movimentos inorgânicos como o dos coletes amarelos ou os pseudo-sindicatos, que mais parecem agências -- onde dá ideia que os sindicatos ganham à comissão -- e onde em vez de beneficiarem os trabalhadores, apenas os desgraçam ao mesmo tempo que minam a democracia, aparecerão cada vez se o enorme vazio que referi assim se mantiver: vazio.

A não ser capaz de se reinventar, o sindicalismo definhará e poderão avizinhar-se tempos sombrios para os trabalhadores.


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E um pouco de poesia para cortar a aridez da conversa


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Lamento não conseguir responder aos comentários -- e tantos e tão interessantes que são e que bela conversa se poderia ter. Mas passa das duas da manhã e daqui a nada tenho que estar a pé. Alonguei-me demais na escrita. So sorry.

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Desejo-vos uma bela semana a começar já por esta segunda-feira. 
Saúde, alegria, sorte e tudo o mais que vos venha de feição.

3 comentários:

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Posso assinar por baixo?

Rico dia.

Smiley Lion disse...

Cara UJM, vou continuar a visitá-la!

Esta direita que nos habituou ao irrevogável, ao disse que não disse que disse antes pelo contrário, já só engana quem quer ir ao engano. Ao Rio faltou falar nos suicidas pós incêndios para completar o ramalhete. Á Cristas (quem é a Cristas?)......

Quanto ao Sindicalismo faltou apenas "sublinhar", "clamar" e "gritar" a essa juventude desgraçadamente explorada (que alguns desejam que seja descartável) SINDICALIZEM-SE, SINDICALIZEM-SE, SINDICALIZEM-SE e tomem os sindicatos por dentro.

Um abç

Paulo Batista disse...

UJM,

Teria tanto mas tanto a dizer... mas não o consigo hoje.
No entanto, deixo aqui algumas ideias rápidas em jeito de "defesa" dos sindicatos.
Isto porque os sindicatos têm um raio de acção bem delimitado pela lei. E a lei tem vindo a ser a pouco e pouco alterada para enfraquecer o exercício sindical. E esse movimento é tão abrangente que vai desde a proliferação de vínculos que condicionam ou vedam mesmo o exercício sindical (o caso dos recibos verdes, por exemplo), passando pelos ataques sistemáticos à organização dos sindicatos em federações (tornando o cada vez mais difícil e mesmo ineficaz a negociação coletiva... tipo acordos setoriais...), passando ainda pelo escancarar de portas na formação de síndica levando à fragmentação bem como à criação de micro sindicatos com propósitos muito concretos e muitas vezes contraditórios com os interesses dos trabalhadores (como se viu recentemente com os enfermeiros ou os motoristas de matérias perigosas), desembocando em questões mais de fundo como a própria legislação sobre propriedade e governo das sociedades (em certos sectores a atribuição de lugares na administração aos trabalhadores seria imprescindível não só para os trabalhadores como para o bom governo / gestão das mesmas... especialmente aquelas que têm inclusive uma função / utilidade pública mais marcada) e terminando nas clássicas estratégias de dividir para reinar (que, uma análise detalhada, poderia elucidar sobre o que se passa com os professores e a raiz longa que tem... sendo um momento marcante a restruturação da carreira realizada em 2007... por um governo ps...).

E, em jeito de remate, é bom não esquecer que o governo do ps com o apoio do be e pcp, desfez apenas uma medida dura da Paf que, entre todas apesar de tudo foi a mais progressiva (a modelação da sobretaxa que incidiu nos trabalhadores por conta de outrem constituía um sistema altamente progressivo! Que felizmente foi a solução alternativa encontrada para aquela medida inacreditável da TSU que levou a malta toda à rua!). Ora, embalado pelo ambiente económico de bonança, não foi difícil abolir a sobretaxa e ganhar a classe média, bem como reforçar alguma proteção da classe baixa e pelo caminho ficar à beira da maioria absoluta. O problema é que o sistema paradoxalmente tornou-se um nadinha menos progressivo naquilo que toca à comparação entre trabalhadores por conta de outrem. Pior do que isso é que os esforços para tornar o sistema socioeconomico progressivo entre TODOS (e não só entre aqueles que são assalariados) foi completamente esquecido, colocado de lado.
Um abraço,

Paulo Batista