Quando para lá começámos a ir, pedras e mato rasteiro, terreno aberto, acontecia encontramos por lá outras pessoas.
Uma vez, estava eu repimpada num cadeirão, completamente à vontade e convencida que estávamos ali no maior isolamento, quando passaram umas pessoas junto à janela, olhando para dentro e dizendo que aquilo ali era muito bonito. Achei um abuso. Sou reservada na minha intimidade e, quando estou dentro de casa, não gosto que espreitem lá para dentro. A questão dos caçadores de que já antes aqui falei, acelerou a decisão de vedarmos parte do terreno.
Mas, nessa altura em que ainda era aberto, encontrávamos por lá, por vezes, uma mulher que, na altura, eu achava já de certa idade e que, a esta distância, me interrogo se não teria a idade que tenho hoje. Andava a apanhar ervas para tratamentos. Subia lá da aldeia mas não vinha pela estrada, vinha pelas terras e, do que percebi, seria quase a farmacêutica ou a curandeira do lugar. Era uma mulher interessante mas o que retive era a conversa sábia e sóbria. Guardo dela a imagem de andar com um chapéu de palha e sempre curvada mas, penso agora, via-a assim porque, justamente, andava a escolher as ervas. Dizia: isto faz bem à bexiga, isto faz bem ao fígado. Perguntava se não nos importávamos que por ali andasse e eu não me importava porque ela era discreta, silenciosa e eu gostava de a ouvir.
A minha mãe, que conhece também as propriedades das plantas, quando lá ia reconhecia muitas plantas e também sabia a que faziam bem. Quando lhe contava da outra, ela não achava bem, como se a mulher andasse a retirar de lá produtos de que um dia ainda pudéssemos precisar para nos tratarmos.
Para tentar adquirir algum conhecimento, comprei alguns livros de botânica mas nunca me senti com certezas para, a partir das imagens dos livros, me afoitar a usar plantas para tratamentos. Receio interpretar mal e ainda arranjar algum trinta-e-um, usando alguma planta traiçoeira que, afinal, seja venenosa.
De lá, uso alecrim, uso tomilho, orégãos e nada mais. E, claro, louro. E a minha comidinha fica saborosa, cheirosa, sabendo aos perfumes do meu querido heaven.
Mas tenho muita vontade de aprender mesmo o que são todas aquelas plantas que por lá proliferam. O meu amor por aquele pedaço de terra é tão grande que eu adoraria saber usar, de forma inteligente, tudo o que dela nasce.
Lembro-me das aulas de Botânica no liceu. Detestava. Tudo o que implicasse decorar era para mim um pesadelo e, ou porque a matéria era mesmo assim ou porque não tive professores que soubessem fazer despertar o meu interesse pela natureza, nunca assimilei nada que tivesse ficado retido. É que nem Botânica nem Mineralogia, nada disso.
O meu dia foi cheio de programas e foi até bom apesar de tudo o que tive que resolver pelo meio. Mas foi cansativo, tudo muito compacto, tudo sempre muito preenchido e a falta de tempo para respirar pelo meio quase me esgota. Mas o almoço foi bom, a companhia boa, o ambiente festivo e alegre, a conversa animada. Não tenho do que me queixar, não tenho mesmo.
Mas é bom chegar a casa, é bom poder estar aqui sossegada, vendo vídeos bonitos, histórias de gente superior, gente das montanhas, dos desertos, das florestas, gente que sabe perceber a natureza. E ouvir música boa, sons puros.
Tenho aqui uns livros bons, palavras elegantes, a felicidade inscrita em pedaços de árvores, e tenho o meu tapete que estou a bordar com lãs sobre juta e é tão bom estar assim, tão bom.
E sábado é outro dia e, se chover, a chuvinha vai saber-me também muito bem. Sou uma pessoa simples.
Mas é bom chegar a casa, é bom poder estar aqui sossegada, vendo vídeos bonitos, histórias de gente superior, gente das montanhas, dos desertos, das florestas, gente que sabe perceber a natureza. E ouvir música boa, sons puros.
Tenho aqui uns livros bons, palavras elegantes, a felicidade inscrita em pedaços de árvores, e tenho o meu tapete que estou a bordar com lãs sobre juta e é tão bom estar assim, tão bom.
E sábado é outro dia e, se chover, a chuvinha vai saber-me também muito bem. Sou uma pessoa simples.
The Ingenious Botanist in the Mountains of Tajikistan
Lacoste-Lebuis and Plante-Husaruk’s short documentary, The Botanist, is an elegant, meditative portrait of Raïmberdi, his culture, and his life’s work. Raïmberdi descends from a tribe that lived a nomadic lifestyle in a particularly hostile environment. “Therefore, they were completely dependent on the fauna, flora, and climate of the region,” Plante-Husaruk said.
“Old Kyrgyz people knew how to use plants to make herbal remedies for pains and aches,” Raïmberdi says in the film. “I discovered everything about roots, stems, leaves, flowers, etc., and how to use them … Each plant accumulates organic substances its own way.”
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As pinturas são da autoria do coreano Yoo Youngkuk (1916 - 2002)
Catrin Finch e Seckou Keita interpretam 'Clarach'
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Um dia muito feliz a todos. Saúde e boa disposição.
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