terça-feira, agosto 07, 2018

Chamem-lhe parvo.
Nada. Nada. Nada.



Parva sou eu que passo os dias fechada em gabinetes onde nem a janela se pode abrir (e, com este calor, mesmo que pudesse, não abria), cheia de problemas e de vontade de ter férias e ainda tão longe delas. Apetece-me isto e aquilo mas é sempre a mesma coisas: nada.

A ver se, naquela aridez em que atravesso este canicular Agosto, a mim alguém me vai levar um gelado. Vai, vai. Nada.

E à hora de almoço, para espanejar, fui à procura de um livro que me recomendaram. Nada. Fui agora espreitar os sites das livrarias onde costumo passar. Nada. Provavelmente apenas o encontrarei quando houver saldos ou na próxima feira do livro. As estantes das livrarias cheias de lixo e do que se aproveita quase nada. Armários, balcões, tabuleiros cheios de nada.

E o centro comercial a deitar por fora, carregado de turistas, e os restaurantes cheios. Uma saturação de multidões. Fui experimentar uma coisa feita na hora à base de quinoa, frango, cogumelos, ovos, vegetais e regado a molho doce e amendoins. Mas demoraram, quando ficou pronto já eu estava mais do que atrasada. Calma para almoçar descansada, nada.

Enfim. Estou de janela aberta e com uma ventoinha apontada ao meu corpo mas continuo cheia de calor. O tempo arrefeceu mas a casa aqueceu tanto nos dois últimos dias que tudo se mantém quente. Fresquinho, que é bom, nada.

E as televisões entraram, de novo, em delírio com os incêndios -- e mensagens didácticas sobre não fazer queimas, queimadas, não se usar aparelhos de corte de mato ou outros que possam provocar ignições, ou avisos de séria punição aos incendiários, nada. Só directos, daqueles que incentivam os pirómanos, só comentadores daqueles que sabem tudo e não acrescentam nada. Gente serena ou programas sobre outra coisa, nada.

Ou, então, Marcelo, Marcelo, Marcelo. Na praia, a falar com um menino, ou ao telemóvel, ou a fazer selfies com famílias em peso, ou ao banho com calções iguais aos de outro senhor que também lá estava, irmãozinhos da caridade, pum, e no meio a comentar o facto de os outros, ingratos, agora virem dizer que ele, o ano passado, quando andou a distribuir afecto pelo teatro de operações, só atrapalhou ou, ar professoral, a mandar bocas ao Santana e ao Duarte, a dupla de Pedros estarolas. Coisas novas, nada.

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Sobre a fotografia lá de cima, que vi no The Guardian, transcrevo a respectiva legenda:
Prague, Czech Republic. A western lowland gorilla eats ice-cream in its enclosure at the city zoo. Photograph: David W Cerny/Reuters
E o que, sobre ela, tenho a dizer é que aquela corrente ali me incomoda. Não sei quando é que se vai aprender a respeitar os animais. Provavelmente quando apenas existir, à superfície da terra, um único humano. Este chimpazé que aqui vemos no vídeo e que tem um comportamento tão próximo dos humanos, ali está, sujeito ao que se quiser, acorrentado, bicho sem importância. Respeito pela sua dignidade, zero.

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