terça-feira, julho 24, 2018

Coisas porcalhonas
-- que, logicamente, devem ser evitadas --







Pode ser que às mentes auto-sustentáveis as estações do ano não alterem a disposição. Mas a minha ainda é movida a coisas que se escafedem com o dealbar das temperaturas mais altas -- mesmo quando de altas não têm nada.

Sempre me lembro de chegar a estas alturas e já estar por tudo. Ficam à espera que proteste e eu moita. Podem provocar, tripudiar, saltar em cima a pés juntos que eu olho de longe, indiferente às minudências do pequeno mundo. Acham que o meu silêncio não prenuncia nada de bom, temem chumbo grosso mas eu, em paz, nada digo -- porque, simplesmente, estou sem paciência, desejando que passem à frente porque a mim tanto se me dá.


Hoje, no restaurante, ao almoço, dois dos meninos contaram que o outro avô defende o Bruno de Carvalho e acha que o Marta Soares é que é o culpado disto tudo. O meu marido ia entrando em apoplexia, que não podia ser, que essa não, que estavam equivocados, que o avô era pessoa de bom senso. E os meninos que não, que o outro avô era mesmo a favor do Bruno de Carvalho. O meu marido, fora dele, pediu aos meninos que dissessem ao avô que, que ele ache que o Salazar foi o maior, ainda vá que não vá, agora que ache que o Bruno de Carvalho deve voltar ao Sporting essa é que não. Os miúdos disseram que sim, que levavam o recado. E, dizendo isto, o meu marido atirava-se para trás na cadeira, perplexo, indignado. E eu, observando-o, gabava-lhe a energia.

A mim não apenas aquilo me foi completamente indiferente como nem que por ali adentro entrasse o clã Aveiro em peso, com a D. Dolores de shorts esfiapados e nalgas ao léu,  o namoradão todo camioneiro e altamente barrigudo feito sleeping partner, mais as manas Cátia e Elma em monoquini, bota alta e purpurinas multicores artisticamente espalhadas pelo corpo, com o CR7 em tronco nu a dar saltos no ar e a uivar, e a menina Georgina com três bebés ao colo e com as mamocas e as quatro bochechas três vezes maiores que eram quando ele a conheceu, que a mim me daria igual. Sem ânimo para me exaltar ou entusiasmar com o que quer que seja. Mesmo se entrasse o Marcelo a dar beijinhos de mesa em mesa eu juro que ficaria pregada à cadeira, impassível -- e se ele fizesse mesmo questão numa selfie comigo pois que viesse ele sentar-se ao meu colo que eu nem aí.


E isto para dizer que parece que nada do que vou sabendo sobre a actualidade me tira do sério, me entusiasma ou me revolta. Tudo me parece mais do mesmo. Monotonia mais chata esta.

[Mas sou eu. Sei que sou. É a energia dentro de mim que parece esfumar-se, retirando-me a vontade de espadeirar o mundo à minha volta. Fico mansa como uma rola budista num galho de azinheira]


Só coisas meio desasadas é que puxam por mim. Por exemplo, isto dos hábitos pouco higiénicos. Isto, sim, parece-me útil. Chamem-lhe coisa de estação pateta, chamem-me a mim desmiolada-mor. Tanto se me dá. A mim parece-me instrutivo e pertimente.

Portanto, transpondo -- em tradução e ordenação livres -- o artigo Tous ces gestes du quotidien qui ne sont pas hygiéniques, de Ophélie Ostermann, publicado no Le Figaro . Madame, partilho convosco dez dos erros mais frequentes a nível de higiene quotidiana. Cenas a evitar, portanto.


1. Nunca limpar o telemóvel

Uma nojeira. Pousamo-lo em todo o lado, mexemos nele sem quaisquer cuidados. Encostamo-lo quase à boca ou à cara mesmo que esta tenha cremes ou esteja transpirada, pegamos-lhe com as mãos pouco limpas. Portanto, façam o favor de, volta e meia, o limpar. Dizem as boas regras de higiene que bom mesmo era limpá-lo três vezes por dia com uma toalhita anti-séptica. Mas, se calhar, se o fizermos, ainda corremos o risco de nos tornarmos num daqueles maníaco-compulsivos com a mania das limpezas e, caneco, tudo menos isso. Eu diria que, talvez, uma vez por semana não fosse mau de todo. E, não havendo toalhitas dessas, talvez um papelinho com álcool. Melhor que nada.


2 . Não deixar arejar a cama

Parece ser coisa de gente arrumada mas é um erro. Refiro-me a, de manhã, quando se sai de casa, deixar a cama toda feita, muito bem feitinha, sem que o colchão ou o lençol de baixo fiquem a arejar. Errado. O ideal será deixar a roupa puxada para trás, lençol de cima incluído. Arejar é bom.


3 . Cortar o melão no prato (sem ter a certeza que foi previamente lavado)

Ou bem que se lava o melão antes de cortá-lo (tal como se deve fazer com toda a fruta) ou descasca-se antes de colocá-lo no prato. Nunca se sabe se traz vestígios de terra, de fertilizantes, herbicidas ou estrume de bicho cagador. Por via das dúvidas, há que ter cuidado.


4 . Partilhar a toalha da casa de banho

Se parece um bocado nojento partilhar a escova de dentes, pode parecer normal partilhar a toalha do lavatório da casa de banho. Errado. Limpar as mãos ou a boca deixa na toalha bactérias, células mortas e, num ambiente quente e húmido, ainda mais os germes se multiplicam. A menos que goste de partilhar micoses, verrugas e cenas que resultem de bicheza variada, não o faça. 


5 . Beber bebidas pela lata

Uma porcaria. Quando se levanta a tampa, uma parte que está em contacto com o meio exterior mergulha na bebida e lá vai toda a espécie de micróbios ao banho na bebida que vamos beber. Portanto: não beber bebidas directamente pela lata é o conselho a ter em atenção.


6 . Não lavar as mãos depois de mexer em moedas ou notas

Escuso de lembrar que quase não há dinheiro que não contenha vestígios de droga. Mas, mesmo não pensando na droga, sabido é que, de mão e mão, a bicheza miúda vai-se acumulando. O ideal seria usar toalhitas de limpeza ou aqueles sprays desinfectantes para ir mantendo as mãos limpas depois de mexer em dinheiro. Não havendo, água e gel de lavagem são melhores que nada.


7 . Pousar a malinha de mão ('carteira', para as tias) ou o saco das compras em cima da mesa da cozinha, da mesa do restaurante ou em cima da cama

Esta espero que o meu marido não leia. Volta e meia pouso o que não devo onde não devo. Errado. Razão tem ele em chamar-me a atenção (mas, lá está, prefiro que ele não leia isto para não me aparecer a cantar de galo). Em especial se já os pousámos no chão, nos transportes públicos ou noutros locais onde a higiene não abunde, nada de os pôr em locais que se querem limpos como a mesa onde comemos, a bancada da cozinha ou a nossa rica caminha. 


8. Não lavar as mãos antes de, na casa de banho, limpar as partes íntimas

Penso que já é bem sabido que, depois de irmos à casa de banho, devemos lavar as mãos. No entanto, pasmo, mas pasmo mesmo, por, em casas de banho públicas, ver frequentemente mulheres que saem do habitáculo privado e... ala moça que se faz tarde, e aí vão elas, as porcalhonas, sem lavar as mãos. Pois bem. Depois, sempre. Isso já deveria ser sabido e consabido. Mas, se temos as mãos pouco limpas, deveremos lavá-las também antes de limparmos as intimidades ... a menos que não nos importemos de correr o risco de nos contagiarmos com as porcarias que, incognitamente, transportamos nas mãos.

9 . Não lavar a roupa antes de a vestirmos pela primeira vez.

Penso que toda a gente lavará a roupa interior nova antes de a usar. Contudo, talvez não lavem a roupa que se encontra exposta e disponível para ser provada. Errado. Excepto se forem peças dobradinhas e resguardadas, parece de bom tom lavar o que já pode ter sido provado por gente transpirada, suja e mal cheirosa (já para não dizer com doenças estranhas e contagiosas). Agora que o escrevo, dou por mim a pensar que... bem prega Frei Tomás. Mas, de facto, pensando bem, parece uma nojice uma pessoa vestir uma coisa que sabe-se lá quem é que a vestiu antes. (Credo... só de pensar nisso...)


10 . Dormir com cuecas

Já aqui, no blog, referi uma vez que é mais saudável dormir nu ou, pelo menos, sem cuecas. E repito: as cuecas podem favorecer o desenvolvimento de irritações, inflamações, culturas de fungos -- especialmente se forem de fibra (as cuecas). E isto é tanto mais relevante para as mulheres. Arejar é que é bom. (E isto é regra que se aplica à genitália, ao colchão da cama e, assim de repente, a tudo)

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Para tentar atenuar -- que um tema sobre práticas pouco higiénicas não será do mais apelativo que há, reconheço --  resolvi aqui ter as melhores fotografias (em grandes planos) tiradas em jardins e que integraram o conjunto em apreço na eleição do melhor Garden photographer of the year com o patrocínio de Royal Botanic Gardens in Kew, London [no The Guardian]. São lindas, não são? Ah como eu gostava de ser capaz de fotografar assim.Tão, tão, tão bonitas.

E para que o ambiente fique mesmo limpinho, peço agora a ajuda do grande Cine Povero

Ruy Belo :: Algumas proposições com pássaros e árvores / Por Luísa Cruz



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Lá em cima Antoine Ciosi interpreta Ti Tengu Cara e talvez também não tenha nada a ver com nada mas eu gosto, sabe-me bem ouvi-lo.

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