A questão é simples: a noite passada devo ter dormido umas três horas. E estou a pé há umas dezassete horas, senão mais. E isto depois de um dia de se lhe tirar o chapéu.
Portanto, não apenas estou a milhas do que se passou neste nosso pequeno cantão -- onde se acotovelam bloggers de todas as sensibilidades e capazes de todas as habilidades, autarcas parece que meio deslumbrados, madonnas mandonas, comentadores aos cachos, futebolistas de toda a espécie e feitio, blocos de esquerca e comunistas cada vez mais metidos no buraco que teimam em cavar, socais-democratas de cabeça perdida com o mangas-de-alpaca que lhes saíu na rifa, sportinguistas que desconsoladamente chucham no dedo à conta de um peseiro com que não contavam, cavacos de esposa pelo braço que volta e meio saem da tumba para virem arremelgar o olho e esticar o ressabiado queixo invectivando os outros com razões que a eles próprios devem ser assacadas, apresentadores de notociários que parecem saídas de soap operas ou filmes de terror marados, mários nogueiras datados e demais sindicalistas mumificados, descredibilizados, e, meus Caros, sei lá que mais -- como adormeço entre cada palavra que escrevo.
Acontece que amanhã me espera outro dia quase que tal, um dia em que nem faço ideia de como vou conseguir organizar-me, um dia em que não vou conseguir fazer a única coisa que faria de gosto (leia-se: ajudar a fazer a cama a um ditadorzeco de meia tigela).
E olhando para a agenda até ao final desta e das duas próximas semanas fico de gatas, a priori sentindo o peso de tudo o que aí vem e que, desde há mais de um ano para cá, me deixa completamente debaixo de água.
Portanto.
Eu poderia aqui falar das conversas durante a viagem, poderia falar das conversas durante o almoço. Fait-divers com piada e bons para conversa de fim de dia. Mas como, se adormeço?
Escrevo estes nadas e penso como deve ser fastidioso para quem me lê estar aqui a ouvir-me falar das pequenas misérias que são estas minhas sobrecargas. Presumo que pensem: ó maria parvalhona, livra-te mas é dessa porcaria toda. Pois. Bonito de dizer, difícil de fazer. Há as responsabilidades, há os compromissos, há as envolvências, há os funfuns e gaitinhas. A vida da gente é um somatórios de mil e uma merdinhas que se acotovelam, se interpenetram, se ensarilham umas nas outras. E a gente o melhor que tem a fazer é tentar passar incólume ou, pelo menos, o melhor possível por este rio que nos leva e que arrasta, à mistura, toda a espécie de detritos.
E pronto.
Ou melhor: e ponto.
Ou melhor: e ponto.
O meu marido já dorme aqui a sono solto. Quando madrugo, ele madruga também. Gosta de me desejar boa viagem e quer que eu, quando me meto a caminho, lhe ligue. Penso que deve recear que algum lobo nocturno ou gato vadio me assalte quando entro no carro. Portanto, chega a esta hora tão mal dormido como eu.
Faço zapping e a indigência televisiva é total ou, então, sou eu que não garimpo bem os canais. Uma lástima.
Faço zapping e a indigência televisiva é total ou, então, sou eu que não garimpo bem os canais. Uma lástima.
Ou seja: tenho que me reclinar aqui um pouco a descansar e pode ser que daqui a nada cá volte para tentar dar um arzinho da minha graça que agora tudo me puxa para um recuo da consciência, para aquele estado de dormência em que as minhas baterias recarregam..
Claro que me apetecia era estar acordada e ser capaz de escrever eloquentes cartas. Gosto de cartas. Cartas aos políticos, aos ministros, aos sindicatos, aos jornalistas. E belas cartas a cada um dos meus Leitores. E a um, em especial, uma carta de amor. Uma bela e pungente carta de amor.
Ou um poema.
Será que algum dia vou ser capaz de escrever um poema? Será que algum dia vou ser capaz de me despir completamente e com o coração e a razão à flor da pele escrever aquilo que tenho vontade de escrever?
Claro que me apetecia era estar acordada e ser capaz de escrever eloquentes cartas. Gosto de cartas. Cartas aos políticos, aos ministros, aos sindicatos, aos jornalistas. E belas cartas a cada um dos meus Leitores. E a um, em especial, uma carta de amor. Uma bela e pungente carta de amor.
Ou um poema.
Será que algum dia vou ser capaz de escrever um poema? Será que algum dia vou ser capaz de me despir completamente e com o coração e a razão à flor da pele escrever aquilo que tenho vontade de escrever?
Transporto o teu coração comigo
"i carry your heart" by E E Cummings (read by Tom O'Bedlam)
i carry your heart with me (i carry it in
my heart) i am never without it (anywhere
i go you go, my dear;
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As fotografias que usei ao longo do texto comprovam a maravilha que é a vida vista ao microscopio. Provêm do The Guardian, onde se fazem anunciar desta forma:
Colin Salter’s new book is a selection of extraordinary electron microscopic images of the plant world around us, including seeds, pollen, fruiting bodies, trees and leaves, flowers, vegetables and fruit
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Talvez até já
4 comentários:
A mim não enfastia a UJM, não. Nem por achar que os seus assuntos não o são, nem pelos desabafos.
Beijinhos
Olá Gina, nem sabe como me soube bem este seu comentário. Muito obrigada.
PS: Estou curiosa com a toilette. Cá para mim precisa de um verniz rubro, de rosa profunda. E um anel de rubi (mesmo que da Parfois...)
Beijinhos.
Ora essa.
Ter aberto a caixa de comentários tornou o seu espaço mais fresco. Às vezes gosto de comentar, embora a vontade rareie. Mas leio o seu blogue. Todos os posts. Vejo as fotos mas nem sempre vejo os vídeos.
Essa cor de verniz não estará mal, não.
Entretanto vi que me referiu num post aí acima, e logo duas vezes, é agora a minha vez de agradecer.
Beijinhos
Olá Gina,
Ontem à noite estava tão estafada que nem consegui agradecer-lhe. Obrigada, eu.
Também não perco o seu diário porque nunca vi grafómana mais 'fora da caixa', completamente inovadora na forma e na perspectiva segundo a qual vê e regista as coisas.
Um dia ainda vamos ter exposições das fotografias da Gina. Vá por mim. A menos que os curadores e galeristas andem ceguinhos.
Beijinhos.
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