terça-feira, junho 19, 2018

Retrato de mulher com marido
[Ou quando o casal maravilha vai divertir-se à grande e à francesa para o Louvre]
>>>>>> Apeshit <<<<<



Dou-me lindamente com o meu marido apesar de já viver com ele há séculos e séculos. Na origem de tal fenómeno estará a atracção, o afecto mútuos mas, não menos importante, está o respeito pela liberdade e privacidade mútuas: um não invade (demais) o espaço um do outro. Cada um trabalha em seu sítio, cada um tem seus gostos, cada um tem seus horários. Coexistimos a espaços e, acho eu, de forma não intrusiva nem evangelizadora.

Já aqui falei de uma prima, bonita, elegante, altamente apaixonada pelo marido, e que, por ele fazia tudo -- e esse tudo incluía querer tomar conta dele, querer controlá-lo, fazer-lhe todas as vontades. Quando ele chegava ao trabalho, ela exigia que ele lhe ligasse a dizer que tinha chegado bem, se ele estava ao sol, ela ia a correr pôr-lhe um chapéu, se ele andava ao frio, ela ia a correr buscar-lhe um casaco. Claro está, que ele não descansou enquanto não arranjou outra. Agora vive com uma horrososa, mal encarada e mal disposta e que se está nas tintas para ele. E a minha prima vive ainda sozinha, incapaz de substitur o grande amor da sua vida.
Também já contei sobre a minha amiga vistosa, toda giraça, que era casada com um homem mais baixo que ela, meio encurvado, feio e mal jeitoso (apesar de simpático e bom coração). Pois bem, ela tinha uns ciúmes loucos dele. Fazia cenas, vigiava-o, controlava-o. Uma coisa sem explicação. A paciência que ele tinha que ter para aturar aquela maluquice não tem explicação. Claro que, depois de uma parte final tempestuosa, acabaram separados, inimigos, a espumar ódio por todos os poros.

Não sou exemplo para coisa nenhuma e nisto ainda menos. Mas o que queria dizer é que, volta e meia, quando estou com o meu marido muito tempo de seguida aqui na casa da cidade, acabo por me enervar um bocado e inevitavelmente alerto-o para o facto de que, um dia que estejamos ambos reformados, ele que nem tente disciplinar-me, educar-me, ou, de qualquer forma, condicionar-me. No campo esta é questão que não se coloca: há largueza e ocupação que chega e sobra para que não tenhamos que andar a encalhar um no outro. Mas, aqui nesta casa, a conversa é outra e presta-se a que ele ensaie tentar fazer de mim uma mulherzinha de bons hábitos, bem comportada e bem mandada. Coisa fatal. Tudo menos isso.


Mas há os casais estóicos que conseguem conviver airosamente, do levantar ao deitar, dia após dia, ano após ano, seja a nível pessoal, seja a nível profissional. Conseguem fazer uma equipa sempre bem articulada, sempre tolerante e sempre prontos para mais. Quando penso nisso, não sei porquê ocorre-me que, quando isso acontece, na volta acabam mais companheiros, quanto muito amigos coloridos, do que amantes. Mas não sei. Sabe-se lá da vida de cada um.


O que sei é que o vídeo que a Beyoncé e o marido, Jay Z, acabaram de lançar é qualquer coisa de espectacular. Nem um nem outro fazem o meu género (aliás, acho que é a primeira vez que vejo um vídeo que qualquer um deles do princípio ao fim) mas, a sério, tiro-lhes o chapéu. Para dizer a verdade nem foi à letra nem à música que prestei mais atenção. Nem à interpretação. Foi mesmo ao vídeo. Espectacular. Ela linda, hot, uma deusa parideira, toda sinuosidades e convites, ele todo dengue, malandrice, disponibilidade. E há ali cumplicidade. Vê-se que se divertiram, que há criatividade, empatia e convergência de vontades, de estilos, de vida. Ousaram e ousaram em grande. Ousaram em grande estilo. Com arte. Com muita pinta.


A coisa dá-se no Louvre e, vão por mim: é espectacular. Vou ouvir outra vez a ver se me dá vontade de dançar. Ou de ir até ao Louvre.


Beyoncé e Jay Z em "Apeshit"  do álbum"Everything is love"



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