No outro dia, quando vínhamos a sair da praia, passámos por uma rua pejada de gente a caminho dela. Novos, velhos, crianças, todas as raças. Um verdadeiro desfile. Estava estupefacta com o que por ali passava naquele verdadeiro sambódromo. Nem quero aqui descrever com pormenor para não parecer mais elitista do que, na volta, se calhar, sou mesmo. Mas era com cada gorda mais matrafona, banha ao léu, tatuadas, rebolonas, descaradonas, umas com ar quase avacalhado, outras com ar bem vivido mas de saia curta ou legging, rabo de cavalo -- nem sei, um despropósito. Até uma idosa numa cadeira de rodas estava pintada e repintada, com um lenço ao pescoço cheio de brilhantes. E homens pintarolas, penteados mais do que suburbanos, vestimentas abaixo de vulgares, sapatos e tatuagens às cores. E tudo falando alto, chamando uns pelos outros, um carnaval.
Espantada, perguntei em voz baixa para quem seguia ao meu lado: 'Mas que gente é esta, senhores?'. Parecia uma cena a la Fellini. Juro. Responderam-me: 'É o povo'. Fiquei a pensar. Acrescentaram: 'Tu é que não estás habituada a andar no meio do povo'. Pois, na volta é isso.
Pensei cá para mim aquilo que tantas vezes se diz: 'Os ricos não comem nada de jeito, não sabem cozinhar e as empregadas não estão para se maçar a alimentá-los, por isso são magros que nem cães esgalgados. E são sovinas, não gastam um cêntimo mal gasto. Se nem em comida, quanto mais no resto. Qual nails, qual cabelo às cores, qual modelito, qual ténis de marca, qual jeans esfiapados de origem (só se já estiverem mesmo rotos de podres que estão). Nem força têm para falar alto, quanto mais para rirem à gargalhada. Os pobrezinhos, não. Os pobrezinhos comem que se desunham, por isso andam sempre bem nutridos, sobra-lhes calorias para rirem a bom rir, e não deixam passar uma moda em vão, todos sempre na ponta da unha'
Espantada, perguntei em voz baixa para quem seguia ao meu lado: 'Mas que gente é esta, senhores?'. Parecia uma cena a la Fellini. Juro. Responderam-me: 'É o povo'. Fiquei a pensar. Acrescentaram: 'Tu é que não estás habituada a andar no meio do povo'. Pois, na volta é isso.
Pensei cá para mim aquilo que tantas vezes se diz: 'Os ricos não comem nada de jeito, não sabem cozinhar e as empregadas não estão para se maçar a alimentá-los, por isso são magros que nem cães esgalgados. E são sovinas, não gastam um cêntimo mal gasto. Se nem em comida, quanto mais no resto. Qual nails, qual cabelo às cores, qual modelito, qual ténis de marca, qual jeans esfiapados de origem (só se já estiverem mesmo rotos de podres que estão). Nem força têm para falar alto, quanto mais para rirem à gargalhada. Os pobrezinhos, não. Os pobrezinhos comem que se desunham, por isso andam sempre bem nutridos, sobra-lhes calorias para rirem a bom rir, e não deixam passar uma moda em vão, todos sempre na ponta da unha'
Mas pronto, não me alongo senão os mais puritanos, os que só engolem papinha politicamente correcta, ficam indignados com esta minha desbocadice.
De resto, só me lembrei de falar nisto ao ver o vídeo que o meu amiguinho algoritmo do YouTube tinha aqui para ver se me tira do sério. Não tira. Veja eu o que vir mantenho-me na minha, não desço do chinelo, não desço, não desço, não desço.
Divinas
Um vídeo de Vitoria de Mello Franco
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