Eu não sei o que ele pensa. Não sei se é inteligente, letrado, dado a álgebras, se é dado a religiões, se é bom de gramática, se sabe botânica, em quem votaria se se mudasse para cá, não sei se já teve cinquenta mulheres ou apenas uma, se sabe de geografia política ou da teoria geral da semiótica aplicada.
Sei que tem 28 anos, que nasceu na Ucrânia e que é um caso. Como todos os que nascem fadados para altos voos, Sergei já se portou mal. Não sei até se, de vez em quando, ainda se porta mal.
Mas não quero saber. Quando alguém cai nas minhas boas graças eu desculpo tudo.
Bem. Se calhar não devia dizer 'tudo' porque 'tudo' não existe. Melhor dizer: 'quase tudo'.
Se ele dá saltos como se voasse, se ele desliza pelos ares, se ele tem um corpo feito de levante e de sobressalto, se eu o vejo e fico com vontade que ele não pare, então, eu não quero saber de quantos livros leu, se sabe dizer poemas de cor e salteado, se citações filosóficas lhe brotam da boca como se a fonte fosse infinita, ou se sabe de lógica, de geometria analítica ou computação quântica.
Claro que o inverso também é verdade. Se ele desenha sonhos no ar, se ele rasga os céus para lá plantar rosas azuis, se ele abre aqueles longos braços feitos para abraçar e para me falar segredos feitos de ternura, se ele descobre as linhas infinitas que a ele me unem neste vasto mar azul em que ambos vivemos perdidos, então eu relevo que ele não rodopie no ar, que não dance como um pássaro louco de paixão.
Sou assim. Ou não sou assim. Não interessa. Digo coisas por dizer, apenas porque as palavras me tentam. Mas este não é o tema. O tema é Sergei.
De vez em quando, trago Sergei para me fazer companhia. Já o devem conhecer. Tem um corpo tatuado, ginasticado, e desenha arabescos e insolências no ar.
Cavaleiro, corsário, príncipe, arruaceiro, pajem, trovador, enamorado, pirata, deus, homem, pássaro. Sergei.
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E queiram descer para conhecerem o novo Coco
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