terça-feira, dezembro 05, 2017

A célebre expedição das cabeleireiras pafinhas ao Everest
que, como é sabido, levou Mário Centeno a presidente do Eurogrupo


Sobre a nomeação de Mário Centeno para a presidência do Eurogrupo e a propósito de certas reacções, podia limitar-me a dizer:


Mas vou dizer algo mais.

Com vossa licença, claro está.

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Quando, há un meses, Schäuble elogiou Mário Centeno fartei-me aqui de rir. Escrevi então O elogio, pela boca de Schäuble, de que Centeno é o Cristiano Ronaldo do Eurofin é a pimenta que faltava no cu de Passos Coelho.


Contudo, no dia seguinte, ao ler a opinião de gente sábia -- desde embaixadores a comentadores com pedigree, passando pela fina flor dos PàFs -- fiquei a achar-me uma eterna ingénua encartada.

Onde eu tinha percebido uma mudança de ventos, estes outros viram gozação -- obviamente o Schäuble está a gozar com o Centeno e só os totós é que acreditam em tamanha patranha, decretaram. Onde eu tinha visto motivo para me rir do Láparo, outros viram razão para se rirem, uma vez mais, do Centeno, esse pobre risonho com carinha de enjeitado.

A minha intuição fazia-me sentir que a Europa estava a querer começar a virar a agulha, rendendo-se à evidência dos factos e predispondo-se a arrepiar caminho depois de uma errática deriva austeritária, pressentindo que ou era isto ou acabaria devorada por dentro, pelo populismo, essa gangrena que se alimenta do descontentamento legítimo mas mal informado. 

Mas, onde eu via isso, outros, os inteligentes, sabiam que não, que a Europa de Schäuble e Dijsselbloem não cedia um milímetro nem descia do seu pedestal dourado para elogiar um pobre patareco vindo dos escafundós, do portugal dos pobrezinhos.

Pensei: que reacção mais naïf a tua, oh UJM, sua santinha desmiolada. Fosses tu mais esperta e terias percebido também que o Schäuble estava a gozar. Para a próxima, benze-te três vezes antes de acreditares no pai natal.

Entretanto, o tempo foi passando.
  • E depois de uma irrisória cruzada pàfienta, em que os direitolas-unidos tentaram derrubar o pobre Centeno com base em inocentes sms, sms essas que o próprio rei do big reality show se sentiu no direito de inspeccionar, 
  • depois do Láparo ir às lágrimas com as intervenções parlamentares do dito ministro-alvo-a-abater, 
  • depois da estonteante Teodora ter botado várias das suas prescientes faladuras ao alertar para os potenciais perigos das contas risonhas do ministro-risonho, 
  • depois da pinókia albuquerca ter demonstrado a sua veia de vendedora de banha da cobra dizendo, com ar doutoral, banalidades de pernas para o ar
  • e da Cristas da coxa grossa ter expelido mais uns quantos dejectos em forma de sound bites
a comunicação social começou a dar, finalmente, algumas tréguas a Centeno. Na verdade, não sabiam por onde pegar.
A dívida a dar sinais de querer baixar, o défice baixinho, baixinho como jamais se esperaria (ler jamé, se faz favor), o desemprego a baixar estupidamente, a confiança a subir... e cada vez menos por onde pegar.


E, na Europa, a possibilidade de Centeno ir para a frente do Eurogrupo ia ganhando terreno.


Mas Portugal não é amigo dos seus. Está na massa do sangue dos portugueses. Não sei se é dor de cotovelo, se é fatalismo. Seja por que for, a verdade é que logo, logo, saltaram as velhas do Restelo. 



Até o omnipresente rei do big reality belém show veio a terreiro dizer que, se a eleição acontecesse mesmo, não se esquecesse o ministro Centeno de fazer o trabalhinho de casa nem de quem é que lhe paga o ordenadinho e coiso e tal -- e que não viesse alguém dizer que ele, a omnipresente Voz, não tinha alertado.


E os das so called esquerdas-unidas também saltaram a pés juntos -- que não fosse o zé povo acreditar que ir o Centeno para a frente do Eurogrupo ia ser boa coisa, que não ia, que aquilo lá quer-se é nas mãos dos mais estafermos de entre os estafermos para haver quem corporize o mal dos males e eles, os das esquerdas-unidas, terem a quem apontar o dedo. 

E os mais catastrofistas, de cabeça perdida, já falavam como se ele, Centeno-o-risonho, caso fosse eleito, se preparasse para  largar o ministério das finanças português, não passando, pois, do novo durão, a alforreca nº 2. 


Mas, enfim, o caminho faz-se caminhando e o impensável aconteceu. 
Claro que, colateralmente, foi-nos dado observar o costume: o pequeno Cambalhotas fez mais um flic-flac à rectaguarda, os comentadores avençados afinal sempre acreditaram e sempre souberam que sim e já todos conhecem a história de trás para a frente. Os avençados têm que continuar a ganhar o deles. Fazer o quê?

Mário Centeno foi eleito e vai ser o próximo presidente do Eurogrupo. E eu, a simplória de sempre, apenas posso dar-lhe os meus parabéns, desejar-lhe boa sorte e esperar que aguente as pressões e os trabalhos acrescidos e que se aguente igual ao que é, simples, lúcido, equilibrado. E fiel ao seu ideário. Será bom para a Europa e, claro, também para Portugal. Não tenho reservas. Ter Mário Centeno à frente do Eurogrupo é melhor que ter o Dijsselbloem ou qualquer outro da mesma linha. Centeno, ao longo da sua vida profissional tem sabido provar -- e é isso que espero que continue a acontecer.



Enquanto isso, Costa soma e segue. Inteligente e determinado como poucos, pode faltar-lhe alguma queda para os perdoa-me e para os beijinhos, abracinhos e selfies mas parece decidido a continuar a mostrar à Europa que há uma alternativa à austeridade-custe-o-que-custar. E isso é bom. 

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Portanto, quase a terminar, aos incrédulos, aos cépticos, aos catastrofistas, aos velhos do restelo e a tuti quanti só tenho a dizer:


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E aos Pàfs, ex-PàFs e candidatos a PàFs que acham que a eleição de Mário Centeno para o Eurogrupo se deve também ao lindo trabalhinho que Passos Coelho, o ex-irrevogável Portas, a Pinókia, a Cristas da Coxa Grossa e restante trupe fizeram antes, o que tenho a dizer é que só me fazem a lembrar a expedição de cabeleireiras ao Everest. É ver.


Monty Python e a expedição de cabeleireiras ao Everest



Muito boas, as meninas pafinhas...

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E um dia muito feliz a todos quantos por aqui passam.

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