segunda-feira, dezembro 11, 2017

Como uma estrela explodindo, eterna e sem duração






Eu era fã dos Livros do Brasil. Aquela editora era um guião cultural para mim. Uns livros puxavam outros. Uns autores abriam-me a porta a outros. Quando ia à Feira do Livro era lá que a colheita era mais segura. 

Steinbeck veio, certamente, assim. E o que eu gostava daquela prosa crua. Livro após livro. Não sei se hoje, relendo, acharia o mesmo. Mas é o que guardo: uma escrita viril, palavras que me traziam a dureza, os sentimentos crus, uma rectidão que eu aprendia a respeitar, uma secura de prosa que continha a vida inteira lá dentro. 

Procuro na Paris Review. Não chegou a dar a entrevista que tinha em mente. Adiou, adiou até que se esgotou o tempo. O que leio são extractos, apontamentos, cartas.

Da introdução a essa resenha feita por Nathaniel Benchley em 1969, retiro isto: 

Há muito tempo, atribuiram-lhe uma citação segundo a qual o génio seria um rapazinho a perseguir uma borboleta por uma montanha acima. Mais tarde afirmou que o que dissera relmente fora que o génio é uma borboleta a perseguir um rapazinho montanha acima (ou uma montanha perseguindo uma borboleta por um rapazinho acima, não me lembro bem) e acho que, de muitos modos, se sentia incomodado por ter apanhado a sua borboleta tão cedo.
Acho extraordinárias estas definições e variações em torno do intangível conceito de 'génio'.

E agora a palavra a John Steinbeck:
O dever do escritor é elevar, ampliar, encorajar. Se a palavra escrita contribui alguma coisa para o desenvolvimento da nossa espécie e da nossa cultura em expansão, foi isto: a grande literatura foi um apoio a que recorrer, uma mãe a consultar, uma pedra de toque para identificar os tropeções da insensatez, uma força na fraqueza e uma injecção de coragem para a cobardia doentia.
(...)

Quando escrevo, às vezes sinto que estou muito próximo de uma espécie de inconsciência. Nessa altura, o tempo altera-se e os minutos desvanecem-se numa nuvem de tempo que é uma só, tem apenas uma duração. Já pensei que se fosse possível desligar a nossa preocupação com a duração, o tempo poderia não a ter. Nesse caso, toda a história e pré-história poderiam efectivamente ser um clarão sem duração, como uma estrela explodindo, eterna e sem duração.


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O discurso de Steinbeck ao ser agraciado com o Nobel em 1962



John Steinbeck, biografia de um escritor americano



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E, por falar em genialidade, lá em cima, numa gravação de 1932, Schnabel interpreta Beethoven Sonata 30 E Major 1st Mov Op 109 

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E caso não se importem de continuar no mesmo comprimento de onda, queiram, por favor, descer ao encontro do monge budista que engoliu um canário: Henry Miller.

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