domingo, julho 16, 2017

Quando os caranguejos atacam





Agora está a dar-me a fome. Ao fim do dia fomos petiscar. Comi caracóis como se não houvesse amanhã e não quis mais nada. Apenas comi o rabinho que sobrou de um dos pregos que aqueles esfaimados devoraram. Como, ao almoço, tinha tripudiado outra vez em cima da dieta e, inclusivamente, tinha comido uma generosa fatia de chocolatíssimo e os restos da da minha filha, resolvi que devia tentar contrabalançar. No espaço de três semanas já vamos na terceira festa. Quando os caranguejos começam a atacar é de seguida. E, ainda por cima, poucos dias antes de termos entrado na era caranguejeana, uma gémea também em festa. Portanto não há linha que aguente tamanhas tentações. Um autêntico festival gourmet que dura mais de um mês. Claro que, logo de seguida, sem dar tréguas, avançarão os leões. Uns poucos. Mas os caranguejos não se ficam por aqui. Aliás, de tarde, para desmoer, fomos uns quantos para a Decathlon para escolher presentes a pedido para o caranguejinho da semana que vem. Um filme. Um de trotineta, o outro a fazer do cesto com rodas um carrinho, o outro à cata de chuteiras e ela a falar muito alto, sempre com muitas coisas para dizer. E eu sempre a tentar contá-los, não vá algum tresmalhar-se. É certo que éramos quatro adultos para quatro crianças mas no meio daquela parafrenália de corredores, com tanta gente, é uma canseira. Além disso, um dos adultos também andava à procura de uma coisa e, portanto, para o efeito não contou. É que as crianças encaram a Decathlon como um gigante parque de diversões. E a tentação maior é irem para o sítio das bolas, tudo a jogar à bola. Verdade seja dita que até eu tentei encestar mas, talvez devido à desconcentração, atirei foi a bola para o corredor. 

Quando estávamos na caixa, eu exausta e o meu marido a queixar-se, 'estou estafado', a minha filha disse: 'pior será quando também vier o outro...'. Nem percebi: 'Qual outro?!'. Ora, pois claro, o bebé. Foi um dos que ficou em casa mas, do que dá para perceber, também vai ser fresco. Só quer andar ao alto, de preferência virado para a frente. No outro dia estava numa birra e eu, já sem conseguir calá-lo, perguntei à mana: 'O que é que a mãe faz quando ele está assim?'. Diz ela: 'Leva-o a ver as vistas'. Mas é mesmo. Quer estar à janela ou a cirandar, para ver tudo, mas não gosta de andar ao colo normalmente, só ao alto, com as costas encostadas a nós, para ver tudo de frente. Ou gosta de estar a ver de perto as brincadeiras dos outros. Ri-se como se estivesse a participar. 


Bem. 

Com isto, chegámos outra vez a casa já tarde. O meu marido queixa-se: 'Por isto ou por aquilo, um gajo nunca descansa'. É verdade.

Há bocado chamou-me. Ia comer alguma coisa, não queria eu também qualquer coisa? Não quis. Pensei que me aguentaria. Agora já foi deitar-se. Também, acorda cedíssimo. Mas a verdade é que está a dar-me a fome e acho que não me aguento sem ir à cozinha desforrar-me. Talvez fruta e umas amêndoas. 

Estou para aqui com esta conversa que não vos deve interessar para nada mas não tenho disposição para me pôr a falar de coisas espertas. De resto, nem sei o que são coisas espertas. Só as reconheço quando as vejo escritas em blogs alheios. Tanta gente sempre com vontade de  dizer coisas inteligentes ou profundas -- espanto-me com isso.

Adiante. A minha filha enviou-me um sms, quer ver fotografias de hoje e do outro dia. 

Já lhe enviei.
Mexem-se muito, vejo-me aflita para os apanhar sossegados. Quando estão na rua, luz com fartura, não há problema. Hoje, o almoço foi no quintal mas depois fomos para casa, em casa estava mais fresco. Além disso, encostaram as portadas para não dar o sol. Por isso, com pouca luz, não é fácil captar aquele revirote permanente. Mas fica o registo. E fica o testemunho de como crescem a olhos vistos. Ela também me enviou umas que me tirou com o bebé ao colo. Gosto, eu toda derretida e ele todo sorridente. Gosto muito de ter fotografias minhas com as crianças. Estou sempre a rir, a olhar para um, para outro. 
Bem. Vou interromper para ir morfar. Noutros tempos, comeria queijo com fruta, talvez um iogurte. Agora, os produtos lácteos estão interditos. Claro que volta e meia, rompo a interdição. Ainda hoje. Para levar, fiz uma espécie de tiropitas. Massa folhada. Ricotta e salmão fumado, um pouco de coentros picados -- isto para o recheio. Enrolo. Por cima, mel e sementes de sésamo e papoila. Vai ao forno. Fica uma delícia. Corto aos bocados. Ia lá eu fazer boquinha desinteressada a um petisco destes... eu não. Comi uns bocados, então não...? (E foi apenas um dos pecados, esse; outro o do chocolatíssimo; e fossem só esses...).


Pronto. Agora é que vou. Não sei se ainda volto porque também estou um pouco 'estafada'.

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A música é Julia dream dos Pink Floyd

As fotografias mostram os filhos de Alex Sumner que as fotografou

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Regresso para aqui partilhar convosco uma coisa que já tinha visto ontem e que, por se ter metido a série de posts sobre a praia ao fim do dia, ficou no deixa para lá. Agora já estou mais composta, uma vez que já me banqueteei com dois suculentos alperces e com uns miolos de noz e de amêndoa. Voltei à sala e liguei a televisão. Estava a acabar o Eixo do Mal e referiam a maravilhosa 'cena' que podem ver abaixo: Trump com cara de quem não percebia tamanha maluqueira e Macron todo divertido. Pela parte que me toca acho o máximo que no dia de França, num local onde também evocavam a chacina do ano anterior e na presença de uma alta (embora anormal) individualidade, a Banda da Armada Francesa tivesse escolhido tão divertida e desconcertante performance. De vez em quando percebe-se que a malta, apesar de poder parecer que não, ainda está viva. Só me apetece dizer: Vive la Republique!



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E um belo dia de domingo a todos quantos aqui me acompanham

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