sexta-feira, julho 14, 2017

Beleza e rêverie


Palavras, palavrinhas de que servis minhas meninas? Se eu convosco posso fazer o que quiser e pôr-vos a sonhar, a espernear, de pé, deitadas, a falar verdade, a falar mentira, a desenhar abraços ou a portarem-se como ingratas espadas, então, minhas lindas, de que servis vós?

Palavreio, palavrosa, palavroada, palavrainha, minhas coitadas meninas, para que vos hei-de eu querer? Se outros convosco vos melopeiam, vos tartamudeiam, se vos atiram ao charco, se vos amassam, lambuzam, torpedeiam, violentam, agridem, de que, minhas insignificantes menininhas, de que servis vós? Dizei-me. Falai.

Poemas, passeios descritos, argúcias dissimuladas, agressões, preversões, ilusões, para tudo, tudo, vós servis, vós, vós mesmas, suas vendidas. Para que vos hei-de, então, querer, suas malucas?

Páginas cheias de símbolos vazios de significado, páginas repletas de símbolos prenhes de significado, frases, parágrafos, tudo, tudo, tudo vago, tudo lábil, tudo levável pelo vento, tudo lavável pela chuva, embranquecido pelo sol, tudo despido de sentido, tudo carregado de sentido. Para que voais em torno de mim? Para que quereis que eu vos tome em minhas mãos? Para quê? 

Deixai-me. Deixai-me apenas ver em que param as modas. Deixai-me ficar a ver palácios, jóias, lábios pintados, olhares sedutores, balanceamentos elegantes, dourados, coloridos, olhares rendidos, apaixonados, ruas ao sol, brilhos em candelabros, passos atapetados, reflexos, inverdades. Não me tenteis. Deixai-me estar aqui apenas a querer ter aqueles colares, aqueles artísticos brincos, deixai-me pensar que quem ali vai tentando e abusando de tanta beleza sou eu. 

Quero sorrir sem ter que descrever o sorriso, quero maliciar sem ter que confessar a razão das minhas safadezas, quero desfilar o meu olhar sem ter que levar pela mão palavras que se põem feitas tontas a pôr em causa o que eu penso. Se penso que isto é beleza, logo me desafiam, que não, beleza é outra coisa. Se eu me ponho a imaginar-me vestida assim, sorrindo com uma boca feliz, logo as petulantes se empertigam nos meus dedos, que não, que não, que tenha eu juízo, que eu não, que eu não.

Desavergonhadas palavras. Falsas. Belicosas. Tentadoras. Insinuantes. Deixai-me. Não vos quero perto de mim.

A menos que me tragam ternuras e flores e abraços nas mãos ou escândalos presos nos dentes, não vos aproximeis de mim. Longe. Longe de mim. Dai-me descanso.

Agora vou ver os filmes. Depois logo vejo se vos dou nova oportunidade.


Dolce & Gabbana


Alta joalharia





Miss Sicily da Dolce & Gabbana: um baton irresistível




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Que bom poder não usar palavras

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