segunda-feira, julho 18, 2016

Ver e ouvir a fantástica The Cinematic Orchestra à espera de saber quando é que apanhava com o maluco da fila da frente em cima de mim


Tal como no concerto do ano passado com a Melody Gardot, também este domingo o céu estava iluminado por uma gloriosa lua branca. O recinto cheio, um ambiente tranquilo, as árvores iluminadas, muita gente na relva, copo na mão, conversa sorridente. Há barzinhos de cerveja, de gin e talvez de outras coisas, não sei. Mais lá para trás há venda de cachorros e outros comes.

Nós tínhamos vindo já jantados, apenas demos uma circulada e fomo-nos logo instalar. Casalinho acomodado, tínhamos bilhete para a plateia.

Primeiro o Salvador Sobral. Nada a ver com a voz miada da mana Luísa nem com a vozinha de menino ainda pouco solto dos tempos do concurso da televisão. 


O Salvador agora é outro: um vozeirão, uma excelente presença em palco, uma tremenda empatia com o público. Muito bom. O menino, se quiser, vai longe. 

A seguir, mudança de equipamento, começam a chegar os carregadores de pianos e do resto. Material que não acabava. 

Depois, ao recinto central, chegam o técnico de som e o de luz (na fotografia abaixo, os que estão de pé). O que está à esquerda, de camisa escura e boné, é o da luz e é um artista. 


De facto, durante todo o espectáculo, a luz é o outro elemento da banda. Grandes efeitos de luz; belos, de impactante efeito cénico.

Depois de todos os testes, lá começa, finalmente, o concerto. The Cinematic Orchestra no EDP Cool Jazz Fest. Um som do catano é o que vos digo, mil vezes mais marcante ao vivo do que em todas as gravações que tinha ouvido antes.


Não tenho gravação deste concerto nos jardins do Palácio Marquês de Pombal - até porque é proibido gravar - pelo que, para aqui, tenho que me socorrer de um vídeo já com algum tempo, obtido via youtube. Breathe.



Um som ecléctido, do urbano furioso ao soft slow, do jazz arriscado às ladies que singam os blues, do alternativo às baladas românticas. E a luz sempre a mudar. E os elementos em actuação também em geometria variável.

Muito bom, quer a música, quer as vozes, quer os coros, tudo, 


Mas, como referi no post abaixo, o pior foi a maluqueira que ia na fila à nossa frente. Depois do Salvador, no intervalo, chegaram dois homens ainda novos, um de calças e camisa com as mangas levemente dobradas acima do pulso, o outro de tshirt, calções compridos, óculos de armação fina. Bom ar. Cool. Nada de mais. 

Contudo, mal se sentaram, o da camisa abraçou-se ao outro, um longo e apertado abraço, um abraço cheio de carinho. Pareciam ser um casal que finalmente vê cumprido um sonho, talvez ver ao vivo a banda preferida, e que mostram efusivamente a alegria por darem um ao outro esse prazer. Mas isto pensei eu ao ver aquele grande e ternurento abraço, a cabeça de um aconchegada na curva do pescoço do outro. Pensei: isto vai ser amor durante todo o concerto.

Mas não.

Passado um bocado, à medida que os acordes eram arrancados com maior veemência, o mais alto, o da tshirt, começou a dar grandes saltos na cadeira. Os acordes subiam ou as pancadas vibravam na bateria e ele punha a cabeça meio de lado, dava fortes guinadas, levantava o rabo da cadeira, saltava e a cabeça quase lhe saltava do pescoço. 

O meu marido segredou-me: o gajo é passado. Eu, vendo aquelas cenas, disse baixinho: se calhar tem epilepsia e a música alta dá-lhe cabo da cabeça. 

Depois a música acalmava e ele acalmava também. Se entrávamos no slow, era o outro, o da camisa, que se balançava, mas todo na calminha: rebolava a cabeça mas muito ao de leve, todo ele movimentos suavezinhos, a cabeça balançando devagarinho. O outro, aí, nada.

Depois vinham os acordes mais ferozes e começava o tal 'passado' a dar violentas guinadas com a cabeça, uma coisa tresloucada. Os óculos soltavam-se numa das orelhas, ficavam presos só numa haste, coisa que não o incomodava, ajeitava-os e prosseguia, de nariz meio levantado, a cabeça dando violentas guinadas, meio revirando o corpo como se estivesse a levar fortes choques eléctricos.

Ao meu lado, as pessoas, depois da estranheza e da perplexidade discreta, começaram a desatar-se a rir, sem parar. Eu idem. Aliás, já chorava a rir. O rapaz do outro lado dele, olhava desconfiado e desatava-se também a rir. Contudo, o parceiro dele era como se não desse por nada ou, vá lá, quando o outro dava saltos mais frenéticos ou abanava a cabeça numa maior agitação, olhava sem grande atenção e sorria, como se fosse coisa normal.

Numa altura, em que a bateria estava ao rubro, ele agitou a cabeça de um lado para o outro com uma velocidade tão inacreditvel e durante tanto tempo que parecia que a cabeça lhe ia saltar disparada. Mas não. Foram só os óculos que lhe saltaram, disparados. Olhou para trás como se não fosse nada e continuou. Nós é que lhe tentámos encontrar os óculos. Uma rapariguinha lá os descobriu e deu-lhos. Pouco ligou.

Por diversas vezes, tal o desconchavo, tais os saltos, tais as guinadas com a cabeça, que, quer eu quer a senhora ao meu lado, nos desviávamos, ela de braços esticados para a frente, a ver que ele ia tombar e cair-nos em cima. O outro nem aí, quanto muito sorrindo ao de leve.

O meu marido voltou a segredar: 'Ele está é com uma valente pedra naquela cabeça'. E, depois de ele ter dito isso, achei que sim, que era provável. Não sei o que tinham metido para dentro mas alguma coisa foi: a um deu-lhe para ficar todo peace and love e ao outro para ficar capaz de tocar bateria com a cabeça, como se tivesse uma guitarra eléctrica dentro dele, como se estivesse completamente possuído, o corpo percorrido por violentos choques eléctricos. Depois, a música virava slow e acalmava-se, ficava sossegadinho como um homem normal e o outro voltava à sua dança calminha, slowzinho bom, a cabecinha a rodar de um lado para o outro, todo dengosinho.

Saí de lá perdida de riso, perdida, perdida. Aquilo só filmado. Parecia uma cena cómica. Nunca tinha presenciado uma coisa destas.


Quando acabou, lá foram os dois, aparentemente normais. E eu ainda a rir. Até o meu marido que não é de riso fácil, se ria. 

E, portanto, gostei do concerto, claro, é música a sério, música da boa, e as interpretações fantásticas, e a iluminação e o som e tudo, tudo mesmo bom. Mas, caraças, um número daqueles ali mesmo à minha frente, introduziu um elemento de espectacularidade e comicidade pelo qual eu não estava mesmo nada à espera.


No fim, muitos aplausos (e apareceu uma menina em palco, talvez filha de um dos membros da banda) -- e eu ainda perdida de riso. 

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela semana a começar já por esta segunda-feira. 
Be happy.

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4 comentários:

Anónimo disse...

Um deles era o Tim Booth vocalista dos James, reconheci-o logo.
vocês, pessoal, de tanta risota perderam alguns acordes importantes
dos Cinematec. o riso não é bom para a música; ou se ouve ou se ri. :)

a banda em concerto não esteve nos seus melhores dias, nem o som.
beijos e abraços
tristan reveur

bea disse...

Reconheço que não entendo nada de música, não conheço a banda e já é uma sorte eu não lhe chamar conjunto. Mas a descrição está boa e faz-nos imaginar bons momentos, apesar do dito no comentário acima e que não sei se foi verdade, mas também não interessa nada.
E sim, biépi é boa trajectória de férias. Ou de trabalho.

Um Jeito Manso disse...

Olá Tristan Sonhador,

Eu também prefiro ouvir música completamente entregue ao prazer de a degustar. Mas como? Um doido aos pinotes à minha frente e eu a todo o tempo a ver que ele se atirava da cadeira, para trás, completamente possuído. Consegue imaginar?

E não creio que o Tim Booth estivesse lá no meio da Cinematic Orchestra. Estive a rever as fotografias e não o reconheço em nenhum dos que lá estavam (7 homens e 2 mulheres).

Mas, enfim, se calhar não vi bem, não?

Enjoy, Sonhador.


Um Jeito Manso disse...

Olá Bea,

também não sou nenhuma conhecedora, sou mera amadora. Gosto de ouvir música e volta e meia presto atenção mas, se me perguntarem, assim de repente, qualquer coisa relacionada com nomes dos membros da banda ou onde actuaram ou mesmo nome das composições mais conhecidas, aí é para o desastre. zero.

Biépi pois então!

E boas vacances se é que vai a caminho delas!