terça-feira, julho 12, 2016

Cleópatra, o Professor Marcelo que bate o Miguel-bate-Punho aos pontos, o idolatrado Mister Santos e os apoiantes que vão em peregrinação a Fátima e que talvez aproveitem para agradecer também aquilo das sançoezitas serem de brincadeirinha, e, ainda, qual cereja em cima do bolo, 'O que os homens simpáticos não dizem às mulheres simpáticas'





Muito bem, sim senhor.

À hora do almoço ia no carro a ouvir o discurso do Marcelo a parabenizar os jogadores. Empolgante, muito motivador. Aquele tal bimbo que dá pelo nome de Miguel-bate-Punho devia pôr os olhos no Professor para aprender como é que se inspira, motiva e galvaniza uma plateia. O nosso ubíquo presidente puxa o ego para cima, envolve-o em tule e benze-o com mel. Por pouco, uma lágrima não me toldava a visão. Ouvi palmas, presumo que dos próprios jogadores. Depois ouvi que foram todos para a varanda, que o povo agradeceu em delírio e que todos cantaram o hino. Eu no carro também cantei. Ora essa.


Quando à noite cheguei a casa, percebi que o ambidextro Prof. Marcelo, parabeniza com um hemisfério do cérebro enquanto com o outro já está a ensaiar a entrada discursiva no Conselho de Estado. 


Já lá vão os não-saudosos tempos em que, nada acontecendo em Belém, qualquer pequeno evento era transformado num happening. Se ia haver um Conselho de Estado, a comunicação social salivava, querendo saber que desígnios misteriosos ali se iriam discutir. Depois, no dia, aquilo durava horas e horas, de lá nunca saía nada e ficávamos todos a pensar que dali nunca valia a pena esperar nada. Quanto muito, antevíamos que, num próximo roteiro cavacal, talvez lá aparecessem referências oblíquas ao sucedido. E suspirávamos de tédio.

Agora, com o Prof. Marcelo, as coisas andam ao ritmo da luz. A gente nem dá por elas. Quando sabe que vão acontecer, já acabaram. Tudo na maior normalidade, como se fosse natural distribuir vouchers para comendas à hora do almoço, cantar o hino à varanda à sobremesa e, logo de seguida, discutir o futuro da desEuropa e elencar os advenientes riscos para o País. Puxa!

Como não vi as notícias, não sei de mais nada. Agora, enquanto escrevo, passam reportagens sobre o menino com ascendência portuguesa que consolou um francês em lágrimas e que se tornou viral (o vídeo, não o menino) e agora estão em casa dele a entrevistá-lo e o menino fala com uma fluência que tomara eu. Se o Prof. Marcelo tem sabido disto, tinha-o trazido até Belém para o ter ao lado daquele menino Tiago que escreveu uma carta à Selecção. Que isto o Prof. Marcelo não é um catavento qualquer -- não senhor, é um catavento com um radar de última geração: nada lhe escapa. 


Agora estão os comentadores do costume: desta vez não discutem. Obra de São Marcelo que apazigua todos os adversários, eles agora consensualizam sobre o quão excelsas são as virtudes do engenheiro Fernando Santos ou como foi ainda melhor Cristiano Ronaldo lesionado, no banco, a moer a cabeça ao Mister, do que a jogar. Os três de acordo. Ele há milagres que a gente nem imagina.


Pelo telefone, a minha mãe já me tinha prevenido: 'Sabes lá o que tem sido... Uma multidão... E na televisão, psicólogos, sociólogos, tudo a dizer que isto é bom para o país.'

Acredito. Somos uns heróis. Não sei se isto é só obra do bom olhado do nosso Presidente ou se há também mão da borboleta de prata que pousou na cara do Ronaldo. Capaz daquilo ter dado sorte ao País inteiro.

Ah, é verdade, à vinda, no noticiário da TSF, também disseram que aquela turminha dos bolinhas armados em bons -- e refiro-me, obviamente, aos comissários europeus -- tinham ido avante com a bambochada das sanções mas que agora a 'cena' era que as sanções tivessem valor facial de zero. Ou seja, uma coisa na base da brincadeirinha. E, cúmulo dos cúmulos da farrinha democrática, quem vai decidir são os ministros das finanças. Uma coisa assim como atribuir as grandes decisões de gestão de uma empresa ao contabilista de serviço. Está certo. Carnaval avant la lettre. Mas, não sei porquê, acho que isto já não dura muito. Palpita-me que um dia destes, alguém, lá de dentro, puxa a toalha e atira a louça ao chão. E aí aquelas pardas sumidades talvez percebam que está na hora de recolherem à casota. E talvez alguma voz se faça ouvir para explicar à bicharada que não é hora das galinhas andarem pelos salões, que é hora de puxar os políticos de verdade para a política.

Bem. Mas isto vinha eu no carro.

Chego agora aqui, faço uma ronda pela net e é quase tudo também na base do futebol. Acho bem. Ao menos, com esta vitória, a honra do convento não ficou manchada. Mas logo o lado religioso das gentes: um vai rezar o terço, vários vão a pé a Fátima e outro pôs-se nu no Marquês. Já a Ágata se tinha posto de bikini.


Felizmente nunca prometo nada. Imagina que me tinha dado para dizer que, se o Éderzito marcasse um golo, pintava o cabelo metade de verde, metade de encarnado e a ponta do nariz de amarelo. E um sapato de cada cor. Com medo das vinganças, depois tinha medo de não cumprir. Havia de ser lindo, eu a ter reuniões e naquela figura.

Bem.

Com isto tudo, não tendo eu promessas a cumprir, não sabendo que mais agora dizer e continuando em pousio no que à alta política diz respeito, mudo-me para o mundo mágico do algoritmo do youtube. Quiçá me reserva matéria suculenta.

E cumpriu, lindo menino. Ciência com fartura, música erudita de várias eras, hetero e ortodoxa, bailados clássicos e modernos, poesia de toda a espécie, muita poesia, e cartas lidas. E sei lá que mais. E, no meio, The school of life. Olho para os vídeos sugeridos e escolho um ao acaso. What Nice Men Don’t Say To Nice Women. Da música escolhi, lá em cima, o novo  e muito bom dos The Lumineers - Cleopatra.

Já agora: para ilustrar o texto apeteceu-me ter aqui as esculturas de bronze da autoria do polaco Malgorzata Chodakowska que as combina sempre com água. Acho que é o tempo quente que me faz apetecer passar junto aos repuxos dos jardins.


Mas, pronto, já chega de conversa mole e vamos à aula da Escola da Vida. Dizem eles deste vídeo:
A lot isn’t expressed between couples because of a fear of not seeming very ‘nice’. That’s deeply unfortunate, and stores up a lot of trouble. We’d be better off daring to be a little more honest
E eu confirmo. Sou casada para aí há uns mil anos -- ou mais -- e quer eu quer o meu marido estamos praticamente santos do que temos aturado um ao outro. Há respeito, claro, que respeitinho é muito bonito e sem respeito não há relacionamento que resista. Mas não há cá pruridos, nem conversas da treta ou teorias de cão de caça, que conversa a mais e muita teoria dão cabo da paciência de qualquer mortal. É pão pão, queijo queijo, Mas nem eu nem ele somos exemplo para ninguém. Aqui os camaradas da The School of Life devem saber disto mais do que eu.


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Sem conseguir responder aos comentários e aos mails que a hora vai avançada, agradeço-os e vou tentar responder esta terça-feira (bem, talvez esta terça também não seja fácil) mas, atenção, não é uma promessa senão já sabem, fico com medo de ser severamente punida se não cumprir. Foge. Punições é que não -- mesmo que também sejam só de brincadeirinha. 
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela terça-feira.
Sejam felizes. Muito felizes.

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1 comentário:

P. disse...

Essa malta “europeia” a impressão que tenho é que são assexuados. O sexo para eles/elas não existe. Só o trabalho e dedicação à causa – triturar os mais frágeis. São uns patéticos seres. Imagino-os sem pénis e vaginas, como aqueles bonecos, ou manequins das lojas, mas mais feios, muito mais. E quem sabe, se calhar cheios de pensamentos libidinosos e outras taras. Quanto ao vídeo dos “Nice Men” é bem engraçado! Há ali algumas observações que até são bem verdade, como aquela de um tipo estar a olhar para a empregada bonita do restaurante, a miúda gira do comboio, da loja, da recepção do hotel, do bar, que passa na rua e por aí fora. Os olhos dos homens, daqueles que apreciam mulheres, porque há os neutros, que nunca dão conta da sua existência, têm dois tipos de movimentos – e não são vesgos. Um na mulher deles, outro na das outras (sejam dos outros, ou simplesmente outras). É assim, é a nossa natureza. Não quer dizer que não podemos ser bons rapazes. Podemos. Mas, como digo, sempre com um olhito a fugir para as outras. Sorte tinha uma tia minha, ainda viva e rija, cujo marido, tinha um olho de vidro (tão bem feito que ninguém dava conta). Deste modo, o único olho estava sempre todo virado para ela. Pelo menos é o que penso…
P.Rufino