quinta-feira, maio 12, 2016

Depois do destravado do post abaixo, tinha mesmo que trazer perfume.
Com vossa licença: os perfumes que uso.
[Chanel: auto-retrato de um perfume].


Há coisas em que sou conservadora. Diria mesmo: fiel. 

Uma é ao meu relógio. Uso sempre o mesmo. Preciso de lhe sentir o peso, a forma como descai sobre o meu pulso, o desenho discreto, as cores neutras, a elegância. Se o ambiente é demasiado descontraído para o usar, então não uso nenhum.


Outra, é sabido, são os perfumes. 

Bem que eu, volta e meia, tento variar. São caros aqueles de que gosto e, por isso, nos saldos, afoito-me. Mas é escusado: raramente me assentam a meu gosto. 

Aqui há tempos li uma blogger a falar com ar depreciativo dos perfumes Chanel, como se fosse coisa de outra época. Ignorância. Até senti pena. Dizer isso dos perfumes Chanel é como dizer que uma rosa é um flor fora de moda, que usar sapatos de salto alto é uma pirosice ou que uma gaivota é um pássaro que já era. 


Claro que um Nº5 -- que é, de longe, o meu eleito -- não pode ser usado com fartura. Um Chanel Nº 5 usa-se com o cuidado devido às coisas preciosas. Um esguinchinho atrás de cada orelha ou, alternativamente, na base da nuca, um esguinchinho de nada na parte anterior de cada pulso e um esguinchinho no raiar do decote (podia ser mais gráfica mas as imagens que aqui tenho são self explaining). E chega. No verão, ponho também uma gotinha no dobrar de cada braço. 

É um perfume bastante caro 
(todos os Chanel o são, e sei que, para quem vive com dificuldades, é até obsceno eu estar com esta conversa mas, enfim, se eu o recebo de presente e também o posso comprar não vou estar aqui com hipocrisias)
         mas nem é pelo preço que ponho pouco, é mesmo porque a elegância do aroma provém também da contenção no seu uso. 

Também uso, às vezes, Chance. É bom, leve, floral. Mas não sei, acho que lhe falta um je ne sais quoi. 

E eu sou muito sensível à vulgaridade -- e, ok, podem achar que sou pretensiosa, encaixo essa. Não suporto perfumes vulgares. E há perfumes que, ao princípio, até são suportáveis mas no contacto com a pele e com o ar tornam-se densos, intensos, adocicados, banais. Detesto. O Nº 5 não, parece que muda de aroma mas de uma maneira que me agrada, dá ideia que se entranha em mim, modificando, para melhor, o cheiro natural da minha pele.


E, para além disso, gosto dos anúncios Chanel. Gosto. Acho que reproduzem o carisma da marca. O auto-retrato que verão aqui abaixo não é específico do Nº 5. 
Je suis un parfum CHANEL: un bouquet imaginaire, étonnant, foisonnant, fleuri, fabriqué avec un goût de l’absolu.
Dans le chapitre 15 de Inside CHANEL: L'Autoportrait d'un parfum est décrit tel une peinture abstraite, une géométrie olfactive, une palette invisible et une inspiration secrete. 
"J’ai voulu un parfum artificiel, je dis bien artificiel comme une robe, c’est-à-dire fabriqué. Je suis un artisan de la couture. Je veux un parfum qui soit un composé" disait Gabrielle Chanel.
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E, depois de um post tão perfumado, desaconselho a visita ao seguinte: é a rapaziada da Porta dos Fundos num momento de inconveniência.

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2 comentários:

Anónimo disse...

Há mulheres cujo perfume nos fazem segui-las com um olhar discreto, depois de passarem por nós. Já me sucedeu. E ficou-me essa imagem, essa recordação. Passam por nós, por vezes apressadas, mas deixam-nos o rasto daquela sua presença.
P.Rufino

Claudia Sousa Dias disse...

O meu preferido é o nº 19. Também arrisco por vezes o Mademoiselle. Mas, para uma toillette especial, é mesmo o 19. Chic absolu.