quinta-feira, dezembro 31, 2015

A excitação e o divertimento de uma mulher de 88 anos que contacta pela primeira vez com a realidade virtual. E Marcelo Rebelo de Sousa de visita aos bombeiros - ou a relevância de se poder vir a ter em Belém um presidente que almoce sandes mista acompanhada por sumol de ananás.


Uma jovem filmou a avó enquanto ela 'andava numa montanha russa'. A montanha russa não era de verdade mas a senhora reagia como se estivesse de pernas para o ar, pronta a sair disparada na curva seguinte. Sei bem o que se sente mesmo que apenas com um simulador.

Uma vez fomos ao Futuroscope em Poitiers. Os miúdos eram, então, já adolescentes. Tenho ideia que passei parte do dia a gritar, a rir e a armar um inacreditável espalhafato. Os meus filhos, especialmente ele, diziam 'calma, mãe, isto é a fingir' mas qual quê. Lembro-de de ir como se a conduzir um carro de corrida por uma estrada estreita de montanha, desfiladeiros à espera de um voo sem rede, curvas apertadas, descidas acentuadas, árvores à espera que o carro se desfizesse de encontro a elas. A cadeira em que estávamos sentados mexia-se para transmitir a sensação adequada, a de que estávamos tombados, a cair, e o barulho e a imagem nos quais estávamos imersos e aquela coisa das três dimensões, tudo aquilo era real demais. Para quem não viveu a experiência não é fácil de imaginar.

Outra era a montanha russa. Eu que, quando ando numa a sério, me desfaço em medo, achando que não vou escapar dali com vida, gritando desesperadamente e interrogando-me, interiormente, porque fui eu, uma vez mais, meter-me numa coisa daquelas, ali, que era uma das gigantes, nós de cabeça para baixo, uma velocidade tresloucada, em despiste - era uma coisa horrível. Bem me podiam, pois, dizer 'calma, é a fingir' que eu estava incapaz de discernir. Quando aquilo acabava, eu nem sabia onde é que tinha os pés, como é que se andava ou onde era a saída da sala. Nesse dia o meu marido arranjou uma: que estava aflito das costas, que não podia arriscar-se a ficar sem se mexer. Se calhar era verdade ou, pelo menos, meio verdade. Por isso esperava cá fora que nós de lá saíssemos. E saíamos meio esparvoados, rindo, eles logo a relatarem ao pai a barraquinha que eu tinha armado.

Na Disneyland há também destas coisas mas não tão realistas. Mas lembro-me que tinham lá um space shuttle ou coisa que o valha que devia ser coisa fina. Nesse, eu e a minha filha não fomos, tivemos medo, estávamos escaldadas de Poitiers. O meu marido, estrategicamente, tinha reuniões, não pôs lá os pés nesse dia. Lembro-me que o meu filho, que andou várias vezes de seguida, saía de lá com ar alucinado. Dizia que achava que tinha andado de cabeça para baixo pois lhe parecia que as bochechas estavam penduradas e a tremer. Ora ele não é bochechudo... Por isso, imagine-se o que aquilo devia ser.

Mas, por agora, vejam, por favor, o vídeo: é um fartote de riso. Foi divulgado neste dia de natal e o texto que o acompanha diz o seguinte:
My grandmother, Marie, tries Google Cardboard VR for the first time. She is watching a roller coaster simulation. We filmed this on vacation in Hawaii (Laupahoehoe) on Christmas morning. She will be 89 in March


...  ...

E que me desculpem os que gostariam de saber o que achei da entrevista do Marcelo ou de qualquer outra coisa do género, como, por exemplo, se a Judite Sousa ia de babete para não babar o vestido, se esteve o tempo toda derretida, olhando o seu idolatrado Professor com ar embevecido. 


A verdade é que não vi. Cheguei a casa à meia noite ou depois, nem sei. Não vi televisão, não sei de nada do que se passou nesta quarta-feira. Contudo, não sei se, podendo, veria. Nada do que ele possa dizer será novidade. 
Anos a fio a pregar na televisão, para Marcelo dar entrevistas é coisa que ele já tira de letra. Sabe os truques, sabe o que aumenta a audiência, sabe o que puxa ao sentimento. É afável, claro, mas não tem o perfil que eu acho relevante para a Presidência da República. É um entertainer, isso sim. E aí é dos bons -- dentro do género, claro.

A última que agora anda a ser propalada é que ele e o António Costa se dão lindamente -- como se pôr o Marcelo em Belém fosse a maior garantia de estabilidade que poderíamos ter já que, sendo amigos, o Marcelo não tirará o tapete ao Costa. Abóbora. Querem lá ver que a condição para se estar em Belém é gostar pessoalmente do Primeiro-Ministro. 

Nesse caso ter-se-ia que medir qual o que gosta mais do Costa: o Marcelo, o Nóvoa, a pimpolha ou a Marisa? Cá para mim todos gostam. E então? Tira-se à sorte? Ou submetem-se a um teste no polígrafo? Olha, essa era boa. O Marcelo ia logo à vida.

Não há pachorra para tanta manipulação da opinião pública. É permanente, senhores.

Há pouco vi de raspão, no noticiário (talvez no da uma da manhã), o Marcelo a mostrar o farnel que levava num saco de papel e, depois, à mesa dos bombeiros, eles a comerem uma tachada de qualquer coisa e ele, o demagogo perfeito, com a sua sandes mista no prato. E tal o destaque dado ao apontamento de reportagem em torno do farnel que quase também parecia que o que Portugal precisa mesmo é de ter em Belém alguém que, ao almoço, coma uma sandes mista e um sumol de ananás. 


Parece-vos isto normal? Se calhar é e, às tantas, eu estou é com sono ou com mau feitio. 

......

Bom, para o caso de isto ser mesmo eu que estou imprópria para consumo, despeço-me e vou pregar para outra freguesia que é como quem diz dormir o sono dos justos.

Amanhã, durante o dia, já que não trabalho e, até à tarde, estarei home alone, a ver se, no meio do que tenho que fazer, arranjo tempo para vir aqui desejar-vos umas boas entradas, quiçá até a escrever alguma coiseca.
.....

Entretanto, até lá, desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela quinta-feira. 
Sendo o último dia de 2015 é favor usarem-no bem, ok?

...

7 comentários:

A. Cabral disse...

Venho agradecer para que nunca lhe falte a boa disposição que sempre sabe enquadrar todos os textos que aborda frontalmente com toda a verdade que muito aprecio, e dar conta que todas as manhãs muito cedo continuarei a seguir este magnifico Blogger.
Devo dizer que também me revoltou muito o assunto em questão do Marcelo tudo serve para iludir os mais incautos.
Aproveito para desejar que tudo se realize no Novo Ano que vai nascer.
Boas Festas

A. Cabral

Rosa Pinto disse...

Com muito carinho venho desejar-lhe um bom 2016. Sei que sou egoísta...quero continuar a ler o que aqui escreve. e tão bem!

Beijinho

Humberto disse...

Caríssima UJM
Venho desejar-lhe um Feliz Ano Novo com tudo o que de bom deseje.
E, mais uma vez, muito obrigado pelos seus magníficos textos, que como disse a leitora Rosa Pinto, espero e desejo continuar a ler em 2016.
Tudo de bom
Um abraço
HB

Um Jeito Manso disse...

A. Cabral, olá!

As suas palavras simpáticas são-me gratas e só espero continuar a merecer o seu agrado. Agradecendo-as, agradeço também os seus votos que retribuo.

Que 2016 seja um ano muito feliz para si e para os seus!

Um Jeito Manso disse...

Olá Rosa Pinto, de quem tanto gosto de ler o que escreve!

Fico contente por ter aqui as suas palavras que tão boa companhia me fizeram ao longo de 2015.

Desejo que 2016 seja um ano muito feliz para si: com saúde, sorte, afecto, boas novidades, belas surpresas.

E obrigada por tudo, Rosa Pinto1

Um Jeito Manso disse...

Olá Caro Humberto Barbosa,

Também agradeço as suas palavras e não me refiro apenas a estas. Refiro-me a todas as vezes que me escreveu incentivando-me com a sua simpatia e generosidade.

Desejo que 2016 seja tão bom quanto o deseja, para si e para os seus. Muitas felicidades.

Um Jeito Manso disse...

Rosa Pinto, volto a si para acrescentar que os meus votos são extensíveis aos que lhe são queridos. Gosto sempre de o dizer porque a gente bem pode estar bem mas, se os que amamos não estão, nós perdemos a nossa alegria. Por isso, tudo de bom para si e para os seus!

(E agora o ponto de exclamação saíu mesmo ponto de exclamação e não um 1...)