domingo, outubro 11, 2015

Sérgio Sousa Pinto, para mim uma espécie de Shirley Temple do PS, já não curte causas disruptivas. Demitiu-se do Secretariado do PS porque acha que a malta da esquerda não cheira bem ou lá o que é. Parece que não soube crescer, o Serginho.


Quando era jovem e ar de betinho, era todo fracturante, peace and love, e vamos lá a revolucionar isto tudo, esquerda é que é bom. A JS cresceu, os jovens socialistas ganharam protagonismo, o rapaz parecia querer trazer uma visão mais gauche para dentro de um partido com uma certa tendência à acomodação ao centro.

Depois o tempo foi passando e, tal como acontece a algumas jovens promessas, Sérgio Sousa Pinto foi mostrando alguns sinais de que o processo de crescimento não lhe estava a correr lá muito bem. Era o que dizia, a forma extravasada como o dizia, o que fazia, o look. Alguns vídeos disponíveis no Youtube mostram-no na AR, destemperado, provocando o riso naqueles a quem pretende atacar. 

Agora Sérgio Sousa Pinto bateu com a porta: sai da direcção do PS porque não acha bem que António Costa tente entendimentos à esquerda. 


Foi mais um que ainda não digeriu bem o que se passou. 

Eu confesso que também ainda estou de boca aberta com a reacção do PCP. Líder de um partido conservador até dizer chega, preso a uma visão limitada da realidade, com uma conversa velha, relha e monocórdica, eis que -- talvez abananado pelos resultados eleitorais que, de tão anémicos, soam a pesada derrota -- Jerónimo de Sousa, numa imprevisível jogada, se despiu de preconceitos e ranços antigos, e mostrou ser capaz de um golpe de rins que não é para qualquer um: estendeu um tapete ao PS e não se poupou a garantias.
As revolucionárias declarações que fez de que apoiará um governo PS e que votará contra qualquer moção de rejeição que o PSD/CDS* venha a apresentar contra um possível governo PS caíram como uma bomba na cabeça do Cagarro, do Láparo, do Irrevogável, e de meio mundo (entre o qual me incluo).
Mas, se me senti surpreendida, não me senti rasteirada ou amedrontada. O PCP é competente na governação autárquica, é, de forma geral, um partido de gente honesta, honrada, dedicada. Se agora estão nesta atitude, acho que só há uma reacção possível: acolher a sua disponibilidade com ambas as mãos e aprofundar o entendimento, negociar cuidadosamente os pontos de convergência.

Vamos ver o que diz agora o BE. A Catarina Martins ainda deve ter sido mais apanhada na curva que eu pois nunca lhe deve ter passado pela cabeça esta extraordinária reviravolta do PCP. Mas, se for coerente com o que disse na campanha, aceitará o desafio e avançará. Destemida já ela mostrou ser.


Se é chegada a hora da política, como o referi na noite das eleições, acho que é da negociação entre quem tenha um terreno de entendimento comum que poderá nascer um caminho promissor. Em democracia, uma pessoa-um voto, e valem todos o mesmo. Se um sem-abrigo votar, o seu voto vale tanto quanto o do Cavaco. E assim deve ser porque o País é de todos e o tempo que vivemos também.

Se a maioria dos portugueses votou contra a coligação e se, ao contrário do que supus, as esquerdas conseguirem chegar a um entendimento genuíno, se traçarem linhas e definirem quais as que jamais deverão ser ultrapassadas e se aceitarem que o segundo partido mais votado, o PS, deverá ter o comando, então parece-me uma via de governação sustentável e legítima.

Os próximos dias serão de clarificação. Se o PSD/CDS* se apresentar nas negociações com o PS sem propostas ou armado em chico-esperto ou a defender as mesmas medidas estúpidas de sempre, e, com isso, tiver como certo que o seu programa será chumbado na Assembleia, então, essa será a via mais instável e inviável.

De resto, aos fundamentalistas que acham que a malta do PCP ou do BE tem sarna, brotoeja ou que comem criancinhas ao pequeno-almoço, tenho a dizer que deveriam ler atentamente o que diz Mario Draghi, presidente do BCE:
"Muitas coisas assumiram um rumo melhor nos últimos tempos e isso deve-se ao primeiro-ministro grego, ao Governo grego e ao povo grego", disse Mario Draghi.
Mais: Mario Draghi revelou ser favorável a um alívio da dívida grega.

Portanto, antes de cuspirem para o ar, armados em enjoados com a abertura dos três partidos de esquerda ao entendimento, todos quantos por aí desvairados, de cabeça à nora, assustados e antevendo mil pragas - e a Sérgio Sousa Pinto, em particular - só tenho a dizer que seria bom que crescessem. A liberdade e a democracia é para todos, para os de direita e para os de esquerda.
E, de resto, quem tem medo compre um cão**.
Sérgio Sousa Pinto sai da Direcção do PS e não vejo que lá faça falta. O que vejo que faz falta é gente de cabeça arejada - no PS e em todos os partidos. Acho que deveria ser obrigatório que os partidos vissem atentamente o Borgen para perceberem o que é a política, para perceberem que, para se estar na política, é preciso inteligência, bom senso, modernidade, vontade de perceber o voto do povo, vontade de servir o povo.

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* Refiro-me ao PSD e ao CDS apenas como PSD/CDS porque, para mim, já não existe CDS. Paulo Portas, tanto quis garantir lugar no governo que se fundiu com Passos Coelho. Abdicou das suas linhas vermelhas, deu o dito por não dito, viciou-se na arte da pantomima. O CDS perdeu identidade, perdeu dignidade. Portas, que não é parvo nenhum, tão ambicioso e tão contorcionista é, que nem deu pela evidência: aquele que ele achava medíocre, acabou por comê-lo (salvo seja, claro)


** A propósito (dos que têm medo), estou a ouvir, enquanto escrevo, o José Gomes Ferreira, na SIC (a debater com o Pedro Adão e Silva). Nunca tive boa impressão daquele pretenso economista (que até já se deu ao despautério de escrever uma coisa a fazer de conta de programa de um governo formado por ele), mas agora vejo-o de cabeça perdida, aflito, cheio de medo, medo dos mercados, medo dos credores, medo do bicho papão, medo das bruxas, ó tio, ó tio. Parece em pânico perante a perspectiva de vir a haver em Portugal um governo à esquerda. Mas vejo nele um pânico próximo da histeria. Não se limita a dizer que há o risco de vir aí o lobo: não, dá ideia que já se vê cercado de lobos esfaimados. Coitado do homem...

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Bem. Está na hora de um pequeno apontamento musical.

Naturalmente, dedico-o ao Sérgio Sousa Pinto e a todos quantos ainda têm medo do escuro, do bicho papão e do homem do saco e que gostavam mesmo era de ainda serem pequeninos, usarem caracolinhos lindos e andarem ao colinho da mamã

When I Grow Up 
Shirley Temple


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Desejo-vos, meus Caros Leitores, um belo dia de domingo.

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8 comentários:

Jaime Santos disse...

Por amor de Deus, não coloque Passos Coelho no mesmo plano de Paulo Portas, por muitos defeitos que ele tenha. Aquilo que sugere nunca aconteceria porque PPC deve ter nojo da enguia em que se transformou Portas, que em tempos teve ideais e que os trocou há muito pelo puro Exercício do Poder pelo Poder. Desconfio que PPC nunca acreditou de facto em nada, a não ser nele próprio pelo que a questão da perda de espinha dorsal não se coloca no seu caso...

Anónimo disse...

Sérgio Sousa Pinto é um asco de criatura, não por estas ultimas razões, embora contem, ou acrescentem ao seu péssimo perfil político, mas várias outras, a começar pela sua postura política. Uma pústula que caiu por si, sem necessidade de ser removida por Costa.
A.Costa naõ precisa destas mediocridades.
Quanto as acordos do PS com o PCP e BE, oxalá se consigam obter, embora ache que, quem tem menos votos, como o BE e a CDU tenha de ser aquele parceiro político a ceder mais. É normal. É democrátco. Acredito que, havendo boa fé, se consiga. O BE e o PCP aprenderam alguma coisa, ao que me parece, com o passado recente. Depois de terem contribuido para o derrube de Sócrates e terem percebido que veio muito pior, ou seja, esta canalha de Direita, o melhor é passarem a ser mais capazes de fazer acordos, do que a permitir que a nefasta Direita se mantenha, mais uns tantos anos, no poder.
Quanto a Portas, creio bem que o seu CDS/PP se extinguiu. Numas próximas eleições, desaparecerá, ou ficará próximo disso. Portas, esse pavão vaidoso, salve-se a redundancia, um dia será despachado para o caixote do lixo da História. Onde ele merece acabar os seus dias!
P.Rufino

Abraham Studebaker disse...


A grande maioria do povo português acha que basta de sacrifícios sem esperança...Partindo daí,vamos lá vencer o desafio!

RFC disse...

Rufino,
o CDS concorreu nos círculos dos Açores (em coligação com o PPM) e na Madeira, e desapareceu sim. 3,90% nos Açores que correspondem a 3654 votos e 6,02% na Madeira, onde perdeu o único deputado que tinha. Na Madeira, que interessa mais, tinha obtido 25975 votos em 2011; em 2015, restam apenas 7536 almas abandonadas.

Acho que os números são estes, exactos.

Anónimo disse...

Quem me desiludiu foi a Clara Ferreira Alves, com a sua última crónica sobre o "momento Prudêncio" de António Costa (http://expresso.sapo.pt/opiniao/2015-10-09-O-momento-Prudencio).

Então ela que é toda "ai que somos um país tão incivilizado, olhem-me para as democracias sofisticadas do norte da Europa, olhem-me para o Borgen, onde se vê como fazem os países decentes para formar governos com coligações e acordos parlamentares, olhem-me para eles e depois falem, etc." vem-se com esta de que o Costa foi "desclassificado". Desclassificado? Não percebo. Chega o momento da verdade e estas pessoas da esquerda-caviar mostram como são: faltas de vista, conservadoras, autênticos velhos do restelo.
E escreve uma daquelas frases muito típicas dela: "Se houvesse comédia em Portugal este seria um momento sublime. Só nos pende para a tragédia". Eu acho que é comédia mesmo, um momento de senilidade momentânea, só pode.

JV

RFC disse...

JV, ontem o Eixo do Mal na SIC N deixou um minuto final para se comentar a bronca do José Rodrigues Santos na RTP 1. É confortável que o tivessem feito através do Luís Pedro Nunes, perante uma silenciosa troca de olhares. Neste caso de política duplamente doméstica, tendo a Clara Ferreira Alves balbuciado algo no fim, é pena que a troupe nevrórica não se tivesse atrevido a comentar o comunicado pueril da direcção de informação da RTP. Olhem se fosse da administração...

Anónimo disse...

Não creio que a tal Clara Ferreira Alves seja Esquerda Caviar. Isso seria uma ofensa à tal Esquerda Caviar. Ela é uma pobre de espírito. Ponto! Convencida que tem a sapiência na barriga, uma arrogante. Alguém que ouvimos de raspão e votamos ao desprezo.
A Esquerda Caviar gosta de Caviar, claro (não confundir com Clara), de um bom Bife de Lombo, de Lagosta, Ostras com limão, de um bom Vinho, tinto ou branco, de um bom Espumante ou Champagne, mas ainda tem tempo para pensar que existe um sem número de pessoas que, se por ventura assim o desejassem, não tinham acesso a essas iguarias. Até podiam não gostar, apreciar, mas ter, (economicamente) acesso (a essas ou outras mais nutrientes escolhas gastronómicas). Há hoje um a tremenda confusão sobre o que é ser-se de Esquerda. Caviar ou não (conheço tipos de Direita que não gostam dessas ovas), o que importa é saber de que lado se está: se daqueles mais fragilizados socialmente, se do lado da Banca, da traficância de influências, dos interesses das grandes empresas, etc. Eu não me importa nada, mas mesmo nada, que um governo de Esquerda me "coma" uma boa parte do meu IRS desde que esses descontos vão beneficiar quem mais necessita de apoio social.
Ás vezes pergunto-me se haverá alguma vez coragem neste país de implementar uma verdadeira política Social-Democrática, que nada tem a ver com a porcaria que o PSD (mais a muleta dele, o CDS) praticam. Assim sendo, espero, ansiosamente, o que o Sr. António Costa nos irá anunciar. Boa degustação!
P.Rufino

Rosa Pinto disse...

Completamente de acordo com o comentário de P. Rufino.