sexta-feira, julho 31, 2015

Quem o feio ama, bonito lhe parece? Então amemos os feios. ON BEAUTY. Sobre a beleza: um chamamento à aceitação das diferenças.


No vídeo que coloquei no post a seguir a este, o entrevistador pede a Nicole Kidman que indique nomes icónicos da moda e ela responde: todas as mulheres fotografadas por Irving Penn, especialmente a sua mulher, Lisa Fonssagrives.


Lisa por Irving


De facto, se há fotógrafo que tenha feito imagens de rara elegância, esse fotógrafo é, sem dúvida, Irving Penn.




Mas nem sempre Irving se focou nas poses bem comportadas ou na beleza tradicional, nem as suas musas icónicas foram sempre inequivocamente perfeitas ou reverentes e obrigadas. Beyond beauty é prova disso ao provocar a nossa perplexidade e, por vezes, as nossas aquietadas consciências. As fotografias dessa série foram feitas entre 1949 e 1950 e, imagine-se, apenas foram expostas depois de 1980. A nudez e a estranheza eram, então, ainda mais inquietantes do que hoje.




É um fotógrafo cuja obra bastante aprecio e, de certa forma, pasmo como um homem nascido em 1917 e vivendo entre meios tão normativos em termos de perfeição, conservou a semente de irreverência, tão visível em tantas das suas fotografias.




Irving inovou de várias formas, muitas delas pela simplificação e despojamento que introduziu nas sessões fotográficas: usava fundos lisos, cinzentos, cenários angulares, modelos posando de cara quase tapada, etc. Vendo agora, à distância, ainda nos admiramos. Todo ele era criatividade, emoção e intuição.




Vários artistas das mais variadas artes posaram para Irving. Picasso foi um deles e, digo eu, deve ter amado as fotografias de Irving. Toda a sua argúcia, vivacidade e sensualidade estão no olhar que o fotógrafo agarrou e que irradia a partir do centro, ocupando (ie, iluminando) quase toda a fotografia.




Mas quero agora focar-me, sobretudo, no que é diferente: os cenários, as poses, os rostos que, mesmo diferentes, proporcionam a quem olha, momentos de fruição e beleza.

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You are my sister

(cantado por essa outra criatura diferente: Antony)



Para falar da beleza ou da fealdade, socorro-me de novo de Agustina, agora com Camilo como personagem in Camilo - Génio e Figura.


Camilo: Feio sou eu, senhora. A fealdade exprime uma malignidade anónima. Em Nápoles, quando se passa por uma pessoa feia como eu, pensa-se logo que vai haver desgraça em casa. Aquele que é feio escolhe as vítimas e dá-lhes um destino apropriado. Um destino terrível.

Vieira de Castro: Acreditas nosso?

Camilo: Acredito. O princípio que cria uma desgraça transmite-se aos outros.

Ana: Julguei que era esse o efeito da beleza. A beleza pode ter sido criada por um mau princípio. 


Camilo: O olhar dos outros descobre-nos a tara que nós cobrimos de talento e que queremos esquecer. Um feio provoca sempre um arrepio, mesmo naqueles que estão mais preparados. Adivinham a responsabilidade do feio, que é o de ser mau.

Ana: Isso comove-me. Vejo que está condenado ao mal.

Camilo: Sim, dona Ana. Condenado ao mal exterior: ao escândalo e à infâmia. Condenado ao mal interior: vergonha, inveja, sofrimento, desespero.


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Preconceitos. 
Outros tempos, os tempos de Camilo - ou talvez não. 

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Um artigo do The New York Times despertou há pouco a minha atenção. É um tema que me é caro: as diferenças, o direito à diferença, o direito à aceitação.

Changing Our Perceptions of Beauty

por  KAREN BARROW

What is beauty?


Christine, with albinism,
photographed by Rick Guidotti
Rick Guidotti, a fashion photographer from New York City, once defined beauty by supermodels, hairstylists, makeup artists and magazine covers, but a chance encounter at a Manhattan bus stop changed his perspective.

Mr. Guidotti saw a 12-year-old girl waiting for a bus with her mother. The girl had white-blond hair, eyebrows and lashes, pale skin and light eyes — the first time he had seen anyone with albinism. “She was gorgeous,” he said.

He searched medical textbooks for more photos of people with albinism, but the only images he found were of youngsters standing up against a wall with black bars over their eyes.

Sarah, 21, is a motocross racer
living with Sturge-Weber syndrome,
a developmental condition that causes
a port-wine stain to appear on the face,
along with possible seizures and vision issues.
Rick Guidotti
Mr. Guidotti then called a support group for people with albinism and made arrangements to photograph another girl with albinism, Christine, who would become the first of the many thousands of people with genetic and developmental conditions he would come to photograph.

“As a fashion photographer, I was always told what was beautiful, but I saw beauty everywhere,” he said.

His work evolved into a not-for-profit organization, Positive Exposure, and is currently featured in a new documentary, “On Beauty.” His aim: to transform perceptions of people living with genetic, physical and behavioral differences, both among the public and health care professionals. “We need to get rid of those black bars,” he said. “It’s not about what you’re treating, it’s who you are treating.


On Beauty: Early Trailer



Todos diferentes, todos iguais. Todos belos apesar de diferentes.

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Relembro que, já abaixo, poderão ver uma beldade respondendo de seguida a 73 perguntas. 
Podem achar que isso não vale nada; mas experimentem a ver se conseguem, 73 respostas de seguida, pimba, pimba, pimba.

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa sexta-feira. 
Um dia feliz para todos, com muita sorte, com boas notícias, com muita esperança.

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2 comentários:

Anónimo disse...

Há pouco, quando fui procurar uma notícia sobre um grave acidente de automóvel de algém que conhecera, sucedido há uns dias, de que me atertaram, que desconhecia, no jornal Correio da Manhã, veio-me o seu Blogue e logo este seu Post, vá lá um tipo perceber isto, ou saber porque razão. Ainda por cima, ao que "sei", UJM não vai lá muito um com o CM. Isto da Net e da blogosfera é curioso!
P.Rufino

Rosa Pinto disse...

A beleza basta ser bela para fazer bem. Há criatura que tem consigo a magia de fascinar tudo quanto a rodeia; às vezes nem ela mesmo o sabe, e é quando o prestígio é mais poderoso; a sua presença ilumina, o seu contato aquece; se ela passa, ficas contente; se pára, és feliz; contemplá-la é viver; é a aurora com figura humana. - Vitor Hugo