domingo, março 08, 2015

As palavras também morrem?


No post abaixo já falei do Dia da Mulher, de mulheres, de blogues de mulheres e mostrei o rosto de muitas mulheres. E, pronto, ok, confesso, também mostrei um pouco de moda.

Mas isso é a seguir. Aqui, agora, apenas um pequeno apontamento.







Em que momento se percebe que a casa que se pensava ainda viva é já um prenúncio de queda, de ruína, de dor, de adeus?

Talvez quem muito se entregou à descoberta de um novo prazer, o prazer de construir uma casa comum, não queira nunca admitir que o fim é irreversível, que os tempos de alegria e esperança já terminaram.

Talvez que a vida seja mesmo assim, caminhar em silêncio em direcção ao desconhecido e, depois, parar, perceber que aquele caminho é arriscado ou conduz a um beco sem saída, recuar. Talvez a vida seja mesmo assim: um acaso em mil milhões é bem sucedido, os outros não. 

Caminho, pois, pela beira do rio. O rio é um mar azul, largo, cheio de vida. As casas que o ladeiam foram, em tempos, cheias de vida e de futuro. Até que o futuro se foi embora.

Fascinam-me as casas que antes foram amadas. Gostava de saber se as paredes preservam ainda a memória das vozes, dos risos, dos olhares de quem lá viveu. Será que os que de lá partiram se despediram? Ou, sabendo que o fim seria inevitável, saíram sem um adeus, sem olharem para trás?

Espreito o que antes foi uma casa: as janelas desapareceram, as madeiras caem, a vegetação invadiu o seu interior. Mas não acho menos bela a casa assim, sem vestígios da harmonia de outros tempos, mas com uma vida que se inventa e renasce de mil outras maneiras.

Afinal, por cada mil acasos que soçobram, mil outros despontam.

E depois, quando olho o céu belo e muito azul, reparo que um dos meus anjos da guarda me observa. Talvez adivinhe o que eu penso, ou talvez queira que eu perceba que não há ruínas anunciadas, que talvez nem haja ruínas, apenas transformações. Ruína de verdade é a alma de quem não consegue ver a beleza que existe em tudo.




Olhei o meu anjo e ele olhou-me também. Entendemo-nos bem - do que se diz ou cala quando os olhares se tocam entendo eu muito bem. Sabemos que de pouco valeria a vida sem o sonho, sem a doce ilusão de que os percursos que se começam a percorrer são eternos. E, mesmo sobre a ruína de um percurso interrompido, que brilhe sempre um céu muito azul. E, mesmo na ausência de esperança, que o olhar de uma gaivota indique sempre que a vida é a constante descoberta e que mil surpresas nos irão sempre lembrar que as palavras podem silenciar-se mas morrer, não morrem nunca. 

As palavras estarão sempre aí para nos guiar, sempre, mesmo quando parecem silenciadas. Com a sua ajuda, no meio de ruínas, no meio de ausências ou tristezas, no meio da multidão, no fim do mundo, se necessário for, sempre nos encontraremos. Mesmo que finjamos não nos reconhecer.

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Agnes Obel interpreta Words Are Dead

As fotografias foram feitas este sábado.

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Do Dia da Mulher fala-se já no post a seguir.

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, um bom domingo.

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