domingo, agosto 24, 2014

Madame Claude, a mais exclusiva Madame de Paris, terá tido como clientes John Kennedy, de Gaulle, Onassis, vários Rothschilds e muitos outros nomes sonantes. Mas misteriosa mesmo foi a sua vida.


Nos dois posts abaixo já partilhei convosco os vídeos de duas pessoas que têm carradas de carisma, Benedict Cumberbatch e Lady Gaga, num dos momentos que marcam o verão de 2014: o banho de gelo como forma de apontar os holofotes para uma doença que merece mais atenção, a esclerose lateral amiotrófica (ELA). Não deviam ser precisos números destes - e eu, para dizer a verdade, sou muito avessa a estas cenas virais - mas se, com isto, se vai angariar uma 'pipa de massa' e ajudar os doentes, então fico de bico calado em relação aos métodos e faço votos para que os resultados sejam estrondosos e que o dinheiro seja muito bem usado a bem de quem dele precisa.

Mas isso é nos dois posts a seguir a este - e vale a pena ver. Muito estilo.

Aqui, agora, a conversa é outra.

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[Fossem outras as minhas circunstâncias e talvez me alongasse mais. 
Madame Claude merece muita atenção, não apenas duas ou três linhas mal alinhavadas.]


Madame Claude nasceu, de facto, Fernande Grudet e é caranguejo de Julho de 1923. É francesa e foi criada num convento gerido por freiras. Mais tarde, durante a ocupação alemã durante a II Grande Guerra, foi agente da Resistência Francesa.



À direita, Madame Claude, com 73 anos, numa foto de 1996.
À esquerda, a porta para a antiga residência de  Madame Claude no nº 18 da Rue de Marignan, in Paris.



Depois disso, Madame Claude teve várias ocupações incluindo vender Bíblias porta a porta, até que estabilizou naquela que viria a ser a sua actividade mais conhecida: tornou-se uma Madame. Tinha a seu cargo uma exclusiva rede de prostituição e servia clientes que eram altos dignatários, figuras de Estado, gente de prestígio, chefes da polícia que a protegiam. Gente da CIA. E gente da Mafia.


Foi objecto de perseguições várias, tentativas de desmantelamento da sua rede e, por fim, para fugir aos impostos, exilou-se nos Estados Unidos.

Madame Claude é uma lenda e foi uma instituição. 

O que se passava das portas de Madame Claude para dentro era sigilo. Fala-se em muitos nomes. Madame Claude, que era férrea na defesa do nome das mulheres que trabalhavam com ela, algumas das quais que casaram ricas ou se tornaram artistas de cinema, de vez em quando, no decurso do trabalho jornalístico que abaixo refiro, deixou cair os nomes de alguns clientes. John Kennedy (que pedia mulheres parecidas com a sua Jackie mas em hot), de Gaulle, Pompidou, Onassis (que terá aparecido com Maria Callas e que terão feito pedidos depravados que terão deixado Madame Claude corada), vários Rothschilds, Agnelli, o Xá da Pérsia que as enchia de jóias, Chagall que oferecia esboços com nus feitos com as mulheres com quem fazia a festa, Marlon Brando, etc, etc. 


Disse ela que estes homens famosos, homens que podiam ter tudo e todas, não estavam a pagar para ter sexo. Estavam a pagar uma experiência. 

Elegante, vestindo Chanel,
Madame Claude
mais parece uma poderosa banqueira
do que uma proxeneta


Mas como comprovar que ela fala verdade quando deixa cair estas recordações? Não estará a fantasiar? Pode uma memória conservar-se intacta quando vive durante tanto tempo num ambiente que é, todo ele, paralelo, clandestino, uma ficção?

Há quem a declare mitómana. Há quem diga que ela sabe mais do que o que diz. Não interessa. 

O facto é que é uma vida rodeada de mistérios mas o maior de todos é a própria vida de Madame Claude. 

Dizia eu, no início, que gostava de ter disponibilidade e sossego mental para dedicar mais tempo a esta história suculenta. Mas não tenho.

Depois de mais um dia de aniversário que terminou com jantar numa esplanada e os pimentinhas, felizes da vida, a brincarem uns com os outros e a escaparem-se por todo o lado e depois de uma semana preenchida como um ovo (preenchida de momentos de felicidade, leia-se), já não tenho capacidade para ler com mais cuidado e resumir o artigo Behind Claude’s Doors da autoria de William Stadiem e publicado na Vanity Fair. Mas aqui fica o link para quem queira e possa aventurar-se.


E aqui fica um excerto do belo livro de J. Rentes de Carvalho Os Lindos Braços da Júlia da Farmácia, pág. 299:

Eu não fazia ideia de quem Nicole fosse e a minha curiosidade também não era muita, habituado como estava a vê-lo nas companhias mais variadas. Bluebell Girls, maravilhosas filles de Madame Claude (o bordel parisiense onde também o xá da Pérsia e Onassis se abasteciam), manequins mocinhas de bar, actrizes de nome e menos nome e, de longe a longe, como para criar a excepção que justifica a regra, uma ou outra burguesa caída nas malhas do seu dinheiro e do seu charme.


Também deixo um pequeno excerto de um filme de 1981 realizado sobre Madame Claude.




A ver se um dia destes tenho tempo para me debruçar com mais atenção sobre este assunto que parece ser bem interessante.

E agora vou descansar porque bem preciso.

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Recordo: baldes de gelo levados com muita pinta, é a seguir.

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, um belo domingo.

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