sábado, junho 07, 2014

Normandia. As praias do desembarque - um dos passeios que, até hoje, mais gostei de fazer






O meu marido gosta muito de história. Eu nem tanto, apenas pela rama, de forma superficial ou genérica. Ia dizer que o meu marido sabe tudo sobre a II Guerra mas seria disparate dizê-lo. Ninguém sabe tudo, muito menos um simples amador. Mas sabe muito. O meu filho, sobretudo por influência de filmes e séries - tantas vezes que ele viu o Resgate do Soldado Ryan e Band of Brothers, uma das suas séries de culto - também sabe bastante e a 'cena' do desembarque sempre foi um momento que o emocionou bastante.

Por isso, há algum tempo, não muito - o meu filho vivia ainda connosco e a minha filha era recém-casada -resolvemos ir fazer um passeio pela Normandia, conhecer as praias do desembarque.

Ela não foi, claro, e bem preocupada estive enquanto andava por lá, com Portugal a arder - víamos na televisão, e ela acabada de vir da lua de mel, com o marido num sítio que os sogros têm no Alentejo com os sobreiros a arderem e a quererem defender o máximo de árvores e eu com medo que lhe acontecesse alguma coisa. Quando chegávamos ao hotel e víamos as notícias, só víamos os incêndios a varrerem Portugal de uma ponta a outra e víamos como aquela zona estava atravessada por incêndios incontroláveis e, depois, falava com ela e ficava ainda mais preocupada, não havia bombeiros que chegassem, tentavam eles próprios apagar o fogo, ele, o irmão, o pai, o caseiro, e eu tinha medo que ela também andasse por perto ou que o fogo cercasse a casa. Uma pessoa estar longe numa altura destas custa um bocado. Quando regressámos. fomos lá e fazia muita impressão, uma extensão enorme toda queimada. Uma árvore ardida e ainda de pé é uma coisa triste de se ver. Mas algumas ressuscitaram. A natureza é extraordinária.

Mas, enfim, essa inquietação foi o aspecto negativo da viagem (e isso aconteceu mais para a parte final - lembro-me muito bem, por exemplo, de estar a jantar numa esplanada de Saint-Malo e falar com ela por telefone e ela estar tão assustada que o jantar nem me soube a nada, de preocupada que fiquei), porque, tirando isso, foi dos passeios que mais gostei de fazer. Gosto imenso de França, conheço razoavelmente Paris e o meu marido ainda mais que eu, mas a Normandia não conhecíamos.

Tirei muitas fotografias mas, sendo eu tão adepta de modernices, nisto da fotografia mantive-me clássica até não há muito tempo. Tinha uma Pentax que parecia fazer parte de mim, focava, tinha zoom manual,  regulava a abertura, a exposição, e ainda com rolo que depois mandava revelar, e parecia-me um atentado à arte o uso de máquinas digitais. Estupidez. Tinha na altura uma digital, HP, tinha sido cara mas não me parecia ter qualidade suficiente, não me seduzia. Além disso, a bateria esgotava-se rapidamente. Andava com ela mas, de facto, não a usava. Por isso, dessa viagem fiz muitos rolos que depois passei a papel mas, agora, se quisesse mostrar aqui teria que fotografar as fotografias.

Por isso, não vou usar as minhas fotografias dessa bela viagem. Vou usar as que encontrar através do google.


Em termos turísticos, seguimos o Guia Michelin e percorremos as belas aldeias, imaculadas e floridas, experimentámos os restaurantes recomendados, comemos excelentes ostras em esplanadas sobre os rios, em locais divinos, deliciámo-nos com mexilhões em restaurantes típicos localizados em pracetas históricas, ficámos em hotéis especiais (um deles, um dos que melhores memórias me deixou até hoje, o Le Chat em Honfleur e do qual já aqui falei).


Mas, em termos históricos, fomos pelo conhecimento deles. Visitámos todos os locais marcantes, todas as praias e, nestas, os bunkers, os locais de vigilância nas dunas.

Uma vez andávamos por lá, nas dunas, e o meu filho e o meu marido diziam que deveria haver ali, num determinado sítio, um bunker - mas não se via e eu dizia, sabem lá vocês, mas afinal, no meio da vegetação, lá estava.


Visitámo-los por dentro, tal como visitámos os pequenos museus locais com fotografias, memoriais, armamento, fardas.

E posicionámo-nos nos locais de onde melhor se via a praia e, tão vívidas as imagens que temos dos filmes, facilmente imaginávamos o que teria sido aquilo no dia D.

Por um lado parece coisa de filme mas, depois ali, os pés na areia, tudo tão real, percebemos que aconteceu mesmo e que não foi assim há tanto tempo.

A água naquelas praias estava quente.

Em algumas zonas da costa de França passa uma corrente quente que não esperamos encontrar quando estamos ali.

E há muitos limos, altos, uma coisa compacta. Faz impressão. Ninguém usava aquelas praias como praias.

No entanto, eu não resisti e entrei sempre pela água mas fez-me muita impressão. Os limos roçavam-me nas pernas e a água estava mesmo morna, uma sensação muito estranha. E o meu filho, para me assustar, perguntava se eu não sentia nenhum braço a puxar por mim de dentro de água.

Acabava sempre por sair da água meio assustada, quase me pareceria normal que a água estivesse ensanguentada.

Omaha, Utah, o meu filho e o meu marido a falarem de estratégias, de nomes, de datas, de episódios. 

E as aldeias onde sabemos que se dançou na rua a festejar a libertação. Senti-me sempre emocionada nestes locais.


E os cemitérios. O cemitério americano, cruzes brancas num imenso relvado de onde se vê um mar muito azul. Andei lá pelo meio. Tantos nomes. Tão impressionante. Tantos, tantos, tantos jovens deram a vida pela libertação. 

Quem hoje menospreza a democracia e a liberdade saberá que tantos jovens morreram por elas?

Logo a França, logo a França que testemunhou o desembarque dos que vieram libertá-la, está hoje como está a nível político.

Nessa altura visitámos também a Bretanha, igualmente com casas encantadoras, tudo muito arranjado e florido, até as paragens de autocarro no meio de estradas ladeadas por árvores, têm canteiros e vasos de flores.

É tudo tão bonito que só não vos sugiro que vão até lá este verão porque a vida está difícil e, assim como assim, o nosso país é também tão belo que é mal empregado irmos gastar dinheiro lá para fora em vez de o mantermos cá dentro.

Mas, a quem possa, ou quando puder, acho que é um passeio tão bom que é pena que um dia o não façam. E até dá para ir de carro já que é tudo bonito. As portagens em França são fogo mas, enfim, cá também já o são.

Bayeux, Saint-Malo, Honfleur, Dinard, locais tão bonitos. Penso muitas vezes que tenho que lá voltar. Há qualquer coisa de romântico, de envolvente, sentimo-nos tocados por aqueles locais. Não sei se é o peso histórico, se é a beleza natural, se é o carinho que as pessoas põem na preservação daqueles locais. Talvez seja tudo isso.

E também a gastronomia... Eu, que adoro ostras, por lá há-as com fartura, fresquíssimas, praticamente cruas a saberem a mar, servidas sobre gelo, apenas com limão ou manteiga para quem as queira temperar.

Amar a Europa é amar os locais onde a Europa se fez, onde os valores mais nobres se afirmaram, onde a nobreza de carácter, a generosidade, a bravura e o despojamento ficaram impressos na terra, nos edifícios, na memória das pessoas. Amar a Europa é querer que se mantenha livre e democrática, é festejá-la, é senti-la como ela deve ser sentida: um ideal vivo pelo qual vale a pena lutar, não uma teia burocrática, entregue a espíritos mesquinhos e ignorantes.
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, um bom fim de semana.

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6 comentários:

Vitor Gomes Freire disse...

Revi-me no seu Marido e Filho, estimada UJM .
Ontem, acompanhei, em directo , ( pela "France 24 " ) as comemorações dos 70 anos do Dia D.
E ontem, pelo menos, a França voltou aos seu Pergaminhos e aos Valores da " Liberdade, Igualdade, Fraternidade "
Belíssima e pedagógica coreografia e um emocionante preito de homenagem a um conjunto de muito idosos veteranos altamente condecorados.
Foi Bonito !
Como é possivel uma Marie Le Lén . . . ?!
Bom fim de semana para si e Família.
Melhores Cumprimentos
Vitor

Vitor Gomes Freire disse...

Queria dizer, claro , Marie Le Pén.
Vitor

Anónimo disse...

Olá jeitinho,
Também adoro ostras e já dei um passeio pela Bretanha e os castelos do Loire. Adorei.
Bom fim de semana.
Beijinhos Ana

carlos Reys disse...

"Há (textos) que nos (comovem) como se tivessem (voz)" (... outros nem por isso)

parabéns

Carlos Reys

lidiasantos almeida sousa disse...

Não há bela sem senão. Selado o Armistício. os aliados. alegando que estavam lá nazis, bombardearam o castelo da Idade Média perto de Diepp, e como sempre roubaram o que eles chamam os despojos da Guerra. Com voluntários de todo o Mundo, o Castelo já está reconstruido, mas os tesouros roubados por Americanos e Ingleses, são devolvido às pinguinhas. Fizeram o mesmo na cidade Museu da Europa. DRESDEN e no IRAQUE, apoderando-se dos tesouros dos outros com falsos pretextos. Para mim não valem nada, e a história da invasão da Normandia está muito mal contada. Eles que devolvam o que roubaram alegando serem despojos da Guerra e depois festejem. Eu queria ver os Alemães terem feito o mesmo na Inglaterra.

bob marley disse...

fanado de 2 comentários do derterrorist (assino por baixo)

e saber que se Rommel, não fosse fuzilado, e hitler acatasse, a estratégia de um frente móvel em vez de fixa, podia ter perdido a guerra, mas demorava mais 2 anos, mas todos sabemos de onde eram o cientistas que fizeram a bomba atómica. Eu acho é que tivemos uma sorte do caralho

e depois temos aqueles que muiiiiiiiiiiiiiiito, contribuíram para este desfecho, como o génio matemático que decifrou a enigma, mas foi ostracizado pela sua homo sexualidade, acabando por se suicidar.

Rommel dizia "uma morte singular é uma tragédia, milhões é estatistíca", mas há mortes singulares estatísticas.pela vergonha , espero