segunda-feira, junho 23, 2014

Arrábida, da Serra ao Mar - um dos belos lugares deste Portugal, 'meu país desgraçado'


No post abaixo já vos dei notícia dos riscos na utilização de detector de mentiras. Isto da franqueza absoluta às vezes pode dar mau resultado - que o diga o casal envolvido na experiência descrita ou o candidato a emprego cujo entrevistador se entusiasmou com um certo detalhe revelado na conversa.

Mas isso é a seguir. Aqui, agora, a conversa é outra. Arrábida, sempre.


A maravilhosa Serra da Arrábida
(foto obtida aqui)


Na sequência do vídeo sobre a Serra da Arrábida que aqui vos mostrei no outro dia, um Leitor presenteou-me com um outro que mostra a Arrábida segundo uma perspectiva, um pouco diferente mas igualmente bela.





O vídeo Arrábida, da Serra ao Mar é da autoria de Luís Quinta e Ricardo Guerreiro, 
com narração de Eduardo Rêgo, com patrocínio da AMRS.

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E porque, quando falo da Serra da Arrábida, inevitavelmente me vem à ideia o Poeta que tanto a exaltou, Sebastião da Gama, não resisto a incluir aqui um seu poema (in 'Cabo da Boa Esperança') que, infelizmente, ainda não perdeu a oportunidade.



Meu país desgraçado!… 
E no entanto há Sol a cada canto 
e não há Mar tão lindo noutro lado. 
Nem há Céu mais alegre do que o nosso, 
nem pássaros, nem águas… 

Meu país desgraçado!… 
Porque fatal engano? 
Que malévolos crimes 
teus direitos de berço violaram? 

Meu Povo 
de cabeça pendida, mãos caídas, 
de olhos sem fé 
— busca, dentro de ti, fora de ti, aonde 
a causa da miséria se te esconde. 

E em nome dos direitos 
que te deram a terra, o Sol, o Mar, 
fere-a sem dó 
com o lume do teu antigo olhar. 

Alevanta-te, Povo! 
Ah!, visses tu, nos olhos das mulheres, 
a calada censura 
que te reclama filhos mais robustos! 

Povo anémico e triste, 
meu Pedro Sem sem forças, sem haveres! 
— olha a censura muda das mulheres! 
Vai-te de novo ao Mar! 
Reganha tuas barcas, tuas forças 
e o direito de amar e fecundar 
as que só por Amor te não desprezam! 


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SERRA MÃE
te chamou o Poeta
(eu não me atrevo)
Só ele te deu
em vida
essa ternura
de quem sabe a morte prematura

Arrábida
caminho
tantas vezes percorrido
abuso de verde que não cansa

Arrábida
Esse teu ar agreste e doce
me encanta e me fascina
se tu és MÂE
não contes a ninguém 
os meus velhos sonhos de menina


Poema da Leitora Era uma Vez publicado numa Colectânea de Poetas, antigos e contemporâneos, que escreveram sobre a Arrábida, iniciativa do Centro de Estudos Bocageanos com o nome "A Serra da Arrábida na Poesia Portuguesa", (2002)


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Para saberem os cuidados a ter junto de um detector de mentiras, desçam, por favor, até ao post já a seguir.

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3 comentários:

ERA UMA VEZ disse...

Foi lá que passei o meu dia...

Entre braços e beijos e pulseirinhas de elásticos, com vista para o mar de um lado e para o convento do outro.

Foi lá que o nosso amor começou lá atrás no tempo, tempo que nos foge e atordoa, lembramos as mãos dadas escondidas na areia quando o segredo ainda era só nosso E o mar era mar ou era a lago?apenas o cheiro a sal esclareci. Quando a luz da lua beijava a água...

Foi lá que, grávida de termo, esperei a primeira filha e jantava serenamente na pousada da Família Gama

É aqui que venho hoje lembrar um pequeno poema meu publicado numa Colectânea de Poetas, antigos e contemporâneos que escreveram sobre a Arrábida, iniciativa do Centro de Estudos Bocageanos com o nome "A Serra da Arrábida na Poesia Portuguesa"

SERRA MÃE
te chamou o Poeta
(eu não me atrevo)
Só ele te deu
em vida
essa ternura
de quem sabe a morte prematura

Arrábida
caminho
tantas vezes percorrido
abuso de verde que não cansa

Arrábida
Esse teu ar agreste e doce
me encanta e me fascina
se tu és MÂE
não contes a ninguém
os meus velhos sonhos de menina

(2002)

Um Jeito Manso disse...

Olá Erinha,

A moda das pulseirinhas de elásticos também já bateu às vossas portas? As suas patanisquitas já andam com pulseirinhas de todas as cores? À minha casa também já chegou. Até eu já fui ao chinês comprar caixinhas de elásticos para fazerem à vontade quando cá estão.

Quanto à Arrábida, ultimamente não tenho ido lá, tem-me feito impressão só de pensar nisso (os meus tios que morreram recentemente quiseram que as suas cinzas fossem lá espalhadas) mas, só de de me lembrar e rever as imagens, já me deu umas saudades...!

Vou puxar o seu poema lá para cima, para ficar ao pé do de Sebastião da Gama.

Ainda no sábado estive a falar de si. Espero que, pelo menos, esteja menos mal.

Beijinhos!

Fernando Ribeiro disse...

Uau! Belo filme! E muito profissional, com nomes científicos e tudo... Obrigado.

Achei graça ao facto de no filme só terem mostrado a impressionante escarpa marinha da Serra do Risco, dezenas e dezenas de metros a pique sobre o mar. Não se atreveram a mostrar as horrorosas pedreiras do lado norte da mesma serra... Tão grandes e tão horrorosas são essas pedreiras que até de Lisboa se veem, e de que maneira!

Podemos dizer que a Ponte Vasco da Gama é um pedaço da Arrábida transposto para o Mar da Palha. O cimento veio do Outão e a brita veio do Risco. Inadmissível! Um autêntico crime!

Desconhecia completamente a existência da gruta que mostram no filme, cheia de estalactites e estalagmites. Que maravilha! Consta que existe uma outra gruta na Mata do Solitário, mas não a conheço porque esta mata é Reserva Integral. Só conheço a Lapa de Santa Margarida, junto ao mar entre Alpertuche e o Portinho. O acesso faz-se por umas escadas que descem para o mar nas proximidades da Casa do Gaiato.

Também já vi uma raposa na Serra da Arrábida. Estava parada na berma da estrada que liga os Capuchos a Setúbal pela crista da serra. Estava tão habituada ao trânsito que nem se mexeu quando passei de carro a um metro dela!