domingo, abril 06, 2014

Rui Chafes 'Entre o céu e a terra', sentindo 'O Peso do Paraíso'




24. Tento sempre fazer esculturas que sejam como a presença de um felino na sombra, do qual só apercebemos o brilho fugaz dos seus olhos, para que João Miguel Fernandes Jorge as consiga ver.



26. Existe uma 'perfídia do objecto: ele observa, com uma alegria maligna, os nossos vãos esforços para o subjugar. Temos de arrancar o objecto ao seu contexto natural, temos de o libertar dos laços que o unem aos outros objectos para o tornar absoluto. Só poderá existir uma aura em torno dos objectos se, como queria Nietzsche, reconduzirmos o pensamento à vida para a aumentarmos até a tornar num absoluto. Não há razão nenhuma para não nos sentirmos também observados pelos objectos.A arte tem de ser uma declaração de amor. Tem de possuir, de cada vez que a visitamos, a emoção e o deslumbramento do primeiro olhar: a revelação, a emoção, a expectativa, a comunhão e a transformação, infinitamente.


42. Não é a escultura, o desenho, a pintura, a fotografia... é a alma. A arte é o duro trabalho da nossa alma. A história da alma de um artista é dura, difícil, por vezes desagrad´vel e custosa. Mas do lado de lá, do outro lado, onde se encontram todos os nossos demónios e onde já estamos para além de tudo, encontramos a única geometria possível, a mais cristalina, parecida com a que rege os astros que rodeiam a bela lua. Aí construímos flores de aço e observarmos, maravilhdos, a transprência da chuva velando as suas pétalas metálicas. É este o único realismo que me interessa.



43. Acredito na poesia, no seu poder único. Como Novalis, acredito que tudo é poesia, que a mais pequena flor representa um pensamento, a intuição pura de um instante, uma explosão gelada de verdade. O sentido poético (tal como o entendia Pier Paolo Pasolini) é o que nos permite agir sobre o mundo mediante uma deslocação, por vezes mínima, de sentido ou de ponto de vista. O sentido poétco é o que desloca o espectador para um ponto onde uma nova construção da realidade pode acontecer. O fim da poesia é estabelecer um desvio, é quebrar e desconstruir todos os códigos de comunicação existentes, alterar o mundo coo os homens o conhecem, abrir fissuras no espaço com a sua presença. A poesia não é outra linguagem, é, sobretudo, um outro olhr. Robert Bresson disse que não é necessário nem possível procurar a poesia, ela penetra pelas juntas, o que é preciso é saber recebê-la. Para isso, é necessário juntar o que está separado, desequilibrar para reequilibrar, pois não existe arte sem transformação.


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As fotografias mostram peças da exposição antológica 'O peso do paraíso' de Rui Chafes que pode ser vista no Centro de Arte Moderna e nos Jardins da Gulbenkian até 18 de Maio (que recomendo - e que os meus pimentinhas adoraram; nada disto, para eles, é estranho).


O texto acima é um conjunto aleatório de excertos do livro 'Entre o céu e a terra' de Rui Chafes da editora Documenta.


A música é  Majâz interpretada por Le Trio Joubran.


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2 comentários:

Bob Marley disse...

e é isto os cantores da moda - https://twitter.com/villagevoice/status/452922213231251456/photo/1

Bob Marley disse...

a diferença do antigamente para agora - https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=87FjkqtK67o

por isso é que elas e eles têm que segurar no bicho durante os concertos, para a malta se distrair, tirem o som como neste vídeo e até dou de barato que continuem a segurar no bicho, para ver se sobra alguma coisa