Depois de, no post abaixo, vos mostrar uma mãe aflita, a patinar em seco, tentando explicar à filha o que significa 'virgem' e de, no seguinte, ter entrado na Maison Chanel para ver o enigmático Lagerfeld a preparar o desfile primavera/verão 2014, aqui, agora, parto para outra.
Os nomes que lá aparecem são nomes de quem sobejamente se afirma a homossexualidade mas, assumi-lo publicamente, é coisa que é com cada um e não serei eu que aqui me farei eco disso. Aliás se eu sou favorável à co-adopção isso tem a ver com a minha consciência e não com a minha orientação sexual e, portanto, não é disso que vou aqui falar hoje.
Também não me pronunciarei sobre uma questão que ultimamente me aparece muito nas estatísticas do blogue: a magreza, que prenuncia doença, de uma certa figura pública. É doença, sim, mas não me parece que seja tema para aqui falar. Só se for para dizer que admiro a coragem dos que, apesar de ser notória a magreza e de saberem que poderão passar a ser olhados com uma certa comiseração, continuam a exercer as suas funções, tomando, inclusivamente, posição em assuntos controversos e, por isso, sujeitando-se a críticas e censuras incómodas.
Gostaria, pelo contrário, de falar de alguns artigos sobre a dívida portuguesa: é pagável? é para esquecer? fazer o quê? varrer o assunto para baixo da carpete? ... what...? - mas agora não me apetece.
Estou in heaven, na maior paz. Isto está a maravilha de sempre, a natureza delicada e pujante (se é que possível conciliar conceitos aparentemente contraditórios) que sempre me surpreende na primavera. E, quando estou assim, mergulhada em quietude e beleza, não me apetece nem um bocadinho falar em dívida descontrolada ou em estúpidos que não sabem lidar com situações complexas.
Além do mais, é quase uma da manhã, estou perdida de sono e estou a fazer tempo para o Downton Abbey que nunca mais começa. Ainda hei-de perceber a anormalidade das cabeças dos responsáveis pela programação das televisões que enchem os horários mais acessíveis com porcaria e mais porcaria e deixam as coisas boas para horas absolutamente impróprias. A estupidez instalou-se em todo o lado, senhores.
Por isso, se me permitem, em vez de falar de coisas chatas, vou antes primaverar.
Uma vez mais vou buscar as luminosas palavras do Pde. José Tolentino Mendonça.
Quando penso em negócios a que eu gostaria de deitar mão, um deles é o de ter uma revista literária. A LER caminha cada vez mais para ser carta fora do baralho. O mercado de língua portuguesa tem espaço para uma nova revista. Tenho bem claro na minha cabeça o que seria uma revista boa e rentável e tenho também bem claro quem é que eu contrataria. Não contrataria nem o kitsch Valtinho, nem o inconsistente José Mário Silva, nem o Casanova, esse chato pedante. Mas contratava os acima referidos da área da escrita literária e talvez também o António Guerreiro. Gostava de quando ele escrevia no Expresso. E mais uns quantos, alguns bem improváveis (que aqui não divulgo porque o segredo é a alma do negócio e sei lá se um dia não me abalanço mesmo a isso).
Poderia fazer a vontade aos leitores que entram no Um Jeito Manso escrevendo nos motores de busca frases como: 'revelada orientação sexual de deputados e ministros' ou 'artigo sobre a homossexualidade dos que votaram contra a co-adopção'.
Desde há vários dias que estas questões me aparecem, algumas referindo os nomes em concreto. Claro que, logo no dia seguinte ao ex-dirigente do PSD Carlos Reis ter protestado contra a votação do PSD e CDS, confrontando alguns políticos com a sua coerência pessoal dado que, segundo ele, são homossexuais, recebi, de alguns leitores, o texto em questão com os nomes bem explícitos. Não publiquei nada na altura tal como não me pronuncio agora.
Os nomes que lá aparecem são nomes de quem sobejamente se afirma a homossexualidade mas, assumi-lo publicamente, é coisa que é com cada um e não serei eu que aqui me farei eco disso. Aliás se eu sou favorável à co-adopção isso tem a ver com a minha consciência e não com a minha orientação sexual e, portanto, não é disso que vou aqui falar hoje.
Também não me pronunciarei sobre uma questão que ultimamente me aparece muito nas estatísticas do blogue: a magreza, que prenuncia doença, de uma certa figura pública. É doença, sim, mas não me parece que seja tema para aqui falar. Só se for para dizer que admiro a coragem dos que, apesar de ser notória a magreza e de saberem que poderão passar a ser olhados com uma certa comiseração, continuam a exercer as suas funções, tomando, inclusivamente, posição em assuntos controversos e, por isso, sujeitando-se a críticas e censuras incómodas.
Gostaria, pelo contrário, de falar de alguns artigos sobre a dívida portuguesa: é pagável? é para esquecer? fazer o quê? varrer o assunto para baixo da carpete? ... what...? - mas agora não me apetece.
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Estou in heaven, na maior paz. Isto está a maravilha de sempre, a natureza delicada e pujante (se é que possível conciliar conceitos aparentemente contraditórios) que sempre me surpreende na primavera. E, quando estou assim, mergulhada em quietude e beleza, não me apetece nem um bocadinho falar em dívida descontrolada ou em estúpidos que não sabem lidar com situações complexas.
Além do mais, é quase uma da manhã, estou perdida de sono e estou a fazer tempo para o Downton Abbey que nunca mais começa. Ainda hei-de perceber a anormalidade das cabeças dos responsáveis pela programação das televisões que enchem os horários mais acessíveis com porcaria e mais porcaria e deixam as coisas boas para horas absolutamente impróprias. A estupidez instalou-se em todo o lado, senhores.
Por isso, se me permitem, em vez de falar de coisas chatas, vou antes primaverar.
Uma vez mais vou buscar as luminosas palavras do Pde. José Tolentino Mendonça.
As suas crónicas semanais quase justificariam o Expresso e fazem com que não me sinta burra de todo por comprar um jornal que aloja opinadores que atentam contra a inteligência de quem os lê como é o caso de um tal João Vieira Pereira de quem nem consigo pronunciar-me, um Henrique Raposo que escreve como um rapazola armado em esperto, um Duque cuja opinião varia consoante o sentido do vento, um Daniel Bessa cujos textos têm a consistência da enxúndia, um Henrique Monteiro que fala do que não sabe com uma soberba que induz em erro os incautos, um Ricardo Costa que disserta sobre evidências ou que se arma em zandinga, ou um José Mário Silva que não tem gosto literário apurado ou que, ao fazer uma crítica, revela coisas que o autor certamente gostaria de reservar para o momento certo (como é o caso da absurda recensão que faz do último livro de Dulce Maria Cardoso, o 'Tudo são histórias de amor').
No entanto, para ser justa, terei que dizer que não é só José Tolentino Mendonça que me cativa dentro da casa que é o Expresso. Pedro Mexia, sempre: é um príncipe na forma como escreve. Clara Ferreira Alves é outra âncora. Miguel Sousa Tavares também. João Garcia, Nicolau Santos, Fernando Madrinha são sempre portos seguros onde não se pode deixar de ir. Desde há pouco tempo, o Expresso tem uma das mais lúcidas vozes do jornalismo português: Pedro Santos Guerreiro. Um prazer ler o que escreve e provavelmente a ele voltarei amanhã.
E não deixo também de ler as crónicas de Ana Cristina Leonardo, 'Isto anda tudo ligado'. Anda triste com isto tudo, ela, e compreendo-a, também eu me sinto muitas vezes cercada por mediocridade; além disso, do que percebo, as coisas não estão fáceis para ela. Por vezes, ao ler o que escreve, fico preocupada por ela. Depois de ter tido um lugar de destaque no Expresso, a sua presença tem vindo a reduzir-se. Não percebo porque não aparece mais na crítica literária. Nem sempre concordei com ela mas, apesar de uma ou outra divergência, reconheço que é culta, inteligente, que tem uma forma irreverente de estruturar as ideias. Por isso, lê-la não nos deixa indiferentes. O Expresso deveria reconsiderar alguns critérios: há nomes que atraem leitores e Ana Cristina Leonardo é seguramente um deles.
Quando penso em negócios a que eu gostaria de deitar mão, um deles é o de ter uma revista literária. A LER caminha cada vez mais para ser carta fora do baralho. O mercado de língua portuguesa tem espaço para uma nova revista. Tenho bem claro na minha cabeça o que seria uma revista boa e rentável e tenho também bem claro quem é que eu contrataria. Não contrataria nem o kitsch Valtinho, nem o inconsistente José Mário Silva, nem o Casanova, esse chato pedante. Mas contratava os acima referidos da área da escrita literária e talvez também o António Guerreiro. Gostava de quando ele escrevia no Expresso. E mais uns quantos, alguns bem improváveis (que aqui não divulgo porque o segredo é a alma do negócio e sei lá se um dia não me abalanço mesmo a isso).
Mas adiante, que já se faz tarde e eu ainda para aqui na conversa.
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Green Kalahari, se faz favor.
Que Abdullah Ibrahim solte as suas mãos sobre o piano e deixe que a música nos envolva
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Esquecemo-nos que as estações se conjugam como um verbo e que, por isso, a pimavera não é apenas um fenómeno exterior, um substantivo que descreve anualmente a natureza à nossa volta, mas é uma realidade que posso dizer de mim: 'eu primavero'.
Desde o fio de erva à vegetação mais grandiosa, tudo passa por um incrível processo de rejuvenescimento.
Quando, de repente, tínhamos tudo para nos pensarmos completos, gastos ou acabados, descobrimos que a vida é o aberto. A verdadeira sabedoria, aquela que nos faz tocar o coração da vida, é a sabedoria do inicial, do verde tenro, do primaveril, do incessante.
Desde que nascemos estamos não só prontos para morrer, mas estamos sobretudo preparados para nascer, as vezes que forem precisas.
Primaverar é persistir numa atitude de hospitalidade em relação à vida. Ao lado do previsto, irrompe o imprevisível que precisamos aprender a acolher.
Misturado com aquilo que escolhemos, chega-nos o que não escolhemos e que temos, na mesma, de viver, transformando-o em oportunidade e desafio para a confiança.
A primavera não tem uma linha demarcada: transborda sempre e temos de preparar-nos para isso. Ela não fica a alegrar apenas os canteiros muito bem ordenados. A sua floração inédita dá-nos o endereço da torrente, para lá da vida que pensamos domesticada pelos nossos cálculos.
Pobres de nós: achamos que conseguimos dominar completamente o mundo com os nossos cinco sentidos! Precisaríamos, na verdade, de cinco mil para perceber um pequeno quinhão do que somos.
Há quanto tempo não caminhamos assobiando, ou seguimos com um fio de erva nos lábios, sem mais, sem pressas nem pretensões, acreditando simplesmente no valor de ser e que, por isso, nos dão a possibilidade de estar, de vaguear, de medir o momento apenas com o peso e a leveza da própria marcha?
Quando vamos de um lado para o outro estamos, normalmente, presos aos motivos que justificam a deslocação.
Mas - temos que reconhecê-lo - uma viagem assim é demasiado curta. Há uma outra viagem que só começa quando as perguntas sobre o que fazemos ali deixam de interessar.
Estamos, ponto final. Viemos.
Não é o saber ou a utilidade que a definem, mas o próprio ser, a expressão profunda de si.
A sabedoria dos que primaveram não consiste, assim, num reconhecimento prévio, mas em alguma coisa que se descobre na habitação do próprio caminho.
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O texto acima, em itálico, é formado por excertos da crónica 'PRIMAVERAR' de José Tolentino Mendonça da Revista do Expresso deste sábado.
As fotografias foram feitas este sábado in heaven onde a primavera rebenta fora de canteiros, livre, iluminada, feliz como os inocentes pássaros e coelhos que são os verdadeiros donos deste espaço.
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Recordo: por aí abaixo há vídeos bons de ver.
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, um belo domingo.
E primaverem, meus Caros, primaverem.
2 comentários:
Olá UJM
Obrigado por me ter revelado o
Abdullah Ibrahim que me fez recordar o meu saudoso Bill Evans de quem sou órfão há muitos anos...
um abraço
Gosto igualmente bastante de ler o que escreve Pedro Santos Guerreiro.
P.Rufino
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