domingo, junho 09, 2013

Nicolau Santos, João Duque, Ricardo Costa, Robert Fishman, David Osborne, Clara Ferreira Alves e tantos outros, no Expresso deste sábado, dizem palavras amargas e duras contra as políticas e as práticas do Governo de Passos Coelho. Para memória futura. Pena que alguns só tenham percebido agora mas, enfim, mais vale tarde que nunca. A pintura de Michael Biberstein está aqui para nos mostrar como são mutáveis os céus que nos cobrem e os horizontes que julgamos ver




Foi na classe média que a austeridade cravou o seu mais afiado e longo punhal. E com a morte da classe média morre também a economia, a cultura e o próprio país.

[Nicolau Santos]




Crédito em risco de incumprimento atinge € 46,6 mil milhões. O crédito malparado é um dos maiores problemas da banca portuguesa. 

Segundo o Banco de Portugal, o rácio do crédito vencido atingiu, em Abril, 11.5% no caso dos empréstimos do sector financeiro às empresas e 4.2% no que se refere aos empréstimos às famílias. 

[Sónia Lourenço]




Sou presidente de um instituto público de ensino superior. Através dos anunciados cortes 'cegos' na rubrica de pessoal querem 'obrigar-me' a mandar para a mobilidade alguns colaboradores. As actividades que desenvolvemos no ISEG atraem estudantes, geram margem positiva e quanto mais nos deixarem gastar em determinadas áreas específicas, mais margem podemos gerar. (...) Não nos deixam fazer mais porque querem que reduzamos as pessoas ao serviço para gastarmos ainda menos. Mas, reduzir a actividade cortando custos variáveis depois de um processo empenhado de adequada gestão, obriga a reduzir a margem que contribui para cobrir os custos fixos. Assim transforma-se uma unidade do Estado que é geradora de margem numa entidade que passa, potencialmente, a ser um fardo para o erário público.

Qualquer gestor sabe que destruir todas as áreas de negócio por igual é manter as más ainda pior e transformar as boas em más, e, potencialmente, deitar tudo a perder. (...) Pode errar-se por desconhecimento ou por vontade própria, mas em qualquer dos casos é grave demais para se persistir no erro.

[João Duque, um dos que descobriu tarde demais com quem se andava a meter]




O Governo não vai dar continuidade ao programa que garantia aos idosos o acesso a obras de adaptação da casa para minorar os efeitos da redução de mobilidade.

Foi lançado em 2007 pelo Governo de Sócrates com o objectivo de melhorar 'as condições básicas de habitabilidade e mobilidade das pessoas idosas' que beneficiavam de apoio domiciliário de forma a 'prevenir e evitar a institucionalização'. Mas o Programa Conforto Habitacional para Pessoas Idosas, que permitiu fazer melhorias nas casas de 1205 idosos, evitando assim a sua ida para lares, terminou este ano, avançou à Lusa fonte do Instituto de Segurança Social

[Artigo não assinado]




Com a troika a recuar, o Governo perde outro discurso: o de 'ir além da troika'. O que é ir além quando a troika já está aquém? Esse ir além partia do princípio de que a receita ia correr bem e permitir um programa político claro. Com metas erradas no défice e na dívida, com desemprego galopante e recessão acentuada, o 'ir além' perde qualquer sentido. Este é o verdadeiro problema do Governo: os dois anos destruíram as promessas e o programa.

[Ricardo Costa, outro dos que só agora parece estar a perceber o embuste que é tudo o que envolve Passos Coelho - o que revela um pouco da sua capacidade de avaliação das pessoas e das situações - mas, uma vez mais o digo: mais vale tarde que nunca]




Escreveu em 2011 que Portugal não precisava da troika. Ainda pensa o mesmo?

Sim. Portugal tinha dificuldade em vender dívida no mercado, mas esse problema poderia ter sido resolvido sem um resgate, se o Banco Central Europeu tivesse feito mais na altura.

Portugal não cresceu na última década, tinha um défice persistente e uma dívida pública a aumentar a despesa. Não eram razões para um resgate?

De forma nenhuma. As exportações estavam a crescer, havia indicadores muito positivos - na educação eram os mais positivos em toda a Europa do Sul - e o défice estava a baixar. As medidas de austeridade do programa de resgate trouxeram um aumento significativo da dívida pública na sua relação com o PIB.

[Entrevista de Micael Pereira a Robert Fishman, formado em Yale, antigo professor em Harvard e agora na Universidade de Notre Dame, nos EUA, e que é um sociólogo especialista em 'prática democrática' e que diz que 'a crise em Portugal é mais séria do que há dois anos'}




Os EUA parecem ter conseguido sair bem da crise. Porquê?

Usámos uma abordagem keynesiana, em vez de escolher o caminho da austeridade. Imaginem alguém com excesso de peso, e que tem que reduzir peso. Uma maneira de o conseguir é cortando as mãos e os pés. É doloroso e debilitante. Assim é a austeridade. A outra maneira é ter uma boa alimentação e ir ao ginásio. essa é a forma mais inteligente, embora leve mais tempo.

É inevitável que o resto do mundo se aproxime mas não temos de empobrecer. Podemos todos ser mais ricos.

[Entrevista de Martim Silva a David Osborne, especialista americano em administração pública, em reformas públicas, autor de livros de sucesso, foi colaborador de Al Gore.]




Portugal resolvia-se se tivesse menos cinco milhões de pessoas e se os reformados, funcionários públicos envelhecidos, doentes com doenças exorbitantes, desempregados e outros subsidiados e excluídos, jovens com sonhos de educações superiores, simplesmente desaparecessem morrendo ou emigrassem vivendo. Se metade da população portuguesa fosse dizimada pela peste isto resolvia-se.

[Clara Ferreira Alves]




Podia continuar e trazer aqui Manuela Ferreira Leite, Fernando Madrinha, João Garcia, Miguel Sousa Tavares e outros. Mas isto ficaria ainda mais longo e todos eles, quase em uníssono, referem o drama que o País atravessa entregue a um bando de incompetentes, ignorantes, mal formados (nunca sei como me hei-de referir a esta gente que nos desgoverna, ainda não percebi se fazem tanta porcaria porque não sabem fazer melhor ou se estão a fazer isto de propósito).

Por isso, fico-me por aqui. Acho que, para memória futura, o conjunto de excertos de artigos do Expresso de dia 8 de Junho que aqui transcrevi é exemplificativo dos tempos que assinalam o fim dos tempos.

(Como sou optimista acho que o fim dos tempos a que me refiro é o fim do tempo do embuste a que temos estado sujeitos nos últimos dois anos e que, a seguir à queda de Passos Coelho, melhores dias virão. Um céu mais brilhante iluminará as nossas vidas - assim o espero).

**

As pinturas são de Michael Biberstein, pintor suiço, que nos deixou há pouco tempo. Casado com a escritora Ana Nobre de Gusmão vivia há 30 anos em Portugal e cobria as telas de imensos céus.

**

Tenham, meus caros Leitores, um belo domingo.

2 comentários:

Silenciosamente ouvindo... disse...

Realmente muitos acordaram tarde
de mais...O João Duque era um
terrível defensor do Governo e de
Passos Coelho. Fez bem transcrever
para o seu blogue para ficar "para
memória futura" mas o Passos Coelho
já disse que se vai voltar a candidatar e que o seu programa(qual
é para dois mandatos"? Que não tem
medo disto e mais daquilo, inclusivé
dos portugueses.
Se possível, gostaria que escrevesse sobre esta afirmação dele.
Mais 4 anos de Governo de Passos
Coelho? Os portugueses, assim,estariam ou loucos...ou
dementes!...
Enfim vivemos todos os dias em
terror...
Bj.
Irene Alves

jrd disse...

Está na altura do Expresso assumir o seu habitual funambulismo.
É bom sinal...