segunda-feira, maio 06, 2013

Paulo Portas falou este domingo aos portugueses para mostrar a sua oposição à taxa sobre as pensões, para fazer floreados verbais como 'cisma grisalho', 'fronteira que não pode deixar passar' e mais não sei o quê - e todos os jornalistas vão fazer uma festa à volta disso. Ora o que eu acho é que ele mostrou que está bem para o Passos Coelho: com governantes destes, Portugal e os Portugueses estão desgraçados.


Estava em casa dos meus pais quando Paulo Portas começou a falar. 

A minha mãe - que já tem motivos de sobra para se preocupar com as despesas acrescidas resultantes dos males que vêm com a idade, despesas essas que, no caso, são bem pesadas - está preocupada com os cortes nas reformas, com as sistemáticas ameaças. Apesar da experiência que supostamente a deveria preparar para tudo, está estupefacta com a má qualidade destes nossos governantes de meia tigela, estupefacta com a falta de profissionalismo que denotam, com a falta de ética e de palavra.

Quando, antes, tínhamos comentado que Paulo Portas ia falar, a minha mãe disse que nem valia a pena ouvi-lo porque já estamos todos fartos de saber do que a casa gasta, que ia tentar sacudir a água do capote que é o que sempre faz, que nunca se aproveita nada. E que ele ou o Passos Coelho ou os outros são todos a mesma coisa.

Nenhum de nós a rebateu. E quando, com algum tempo de atraso, ele apareceu, e, pelo princípio da conversa, se percebeu ao que ia, o meu marido levantou-se e declarou: 'Não 'tou para ouvir este gajo. Vamos embora'. 

E viemos. Claro que, tirando o bocado das despedidas e, depois, um bocado de falta de rede, acabámos por vir a ouvi-lo no carro. 



Paulo Portas e Passos Coelho, co-responsáveis pelo naufrágio a que estão a submeter o País


Faria sentido eu dizer que me desiludiu? Claro que não. Paulo Portas nunca me iludiu. Paulo Portas é um artista. Basicamente é isso que ele é: um artista. Só que, em vez de actuar no teatro ou na televisão, escolheu a política como palco. Provavelmente, lá no seu íntimo é capaz de ter alguns princípios e acredito que, bem lá no fundo, muito fundo, até sejam uns bons princípios.

Só que, por cima desses bons princípios, estão muitas camadas de manha, muitas camadas de palavreado vazio, muitas camadas de vã ambição, muitas camadas de oportunismo político... e por aí fora. São muitos anos de floreados, de truques, de rasteiras, de habilidades de toda a espécie, de aguçar o instinto de sobrevivência política, de deslealdades. São muitos anos a usar o dom da palavra para escapar, para seduzir, para tornear. 

Infelizmente não se pode dizer que sejam muitos anos de serviço público. 



Paulo Portas e Passos Coelho, duas faces da mesma má moeda


Paulo Portas é membro do Governo, é ministro de Estado, é o responsável pelo segundo partido da coligação governamental. E, ao sê-lo, é solidariamente responsável pelo descalabro que está a acontecer a Portugal.

E qualquer coisa para além disto é conversa de treta a que Paulo Portas nos deveria poupar. Se quer estar no Governo deve assumir-se responsável pelo que lá se passa e pelo que o Primeiro-Ministro anuncia oficialmente. Se não concorda e se não consegue resolver as divergências na intimidade do Governo, então, em vez de vir fazer 'números' em público, deve agir como um homem de bem: demitindo-se.



Paulo Portas, acima de tudo um artista


Paulo Portas, quando fala como hoje falou (que é como geralmente fala), dirige-se a pessoas que sabe que têm menos instrução, que são facilmente manipuláveis. E, usando artifícios e espuma, está a ser pouco sério, muito pouco honesto.

Passos Coelho talvez acredite no que diz, vê-se que não sabe nada de nada, que não diz mais porque não sabe dizer mais do que aquilo. Gaspar impinge-lhe uma receita e ele, fraco líder e sem quaisquer conhecimentos, tenta papaguear o que o outro quer. Mas Paulo Portas é diferente, Paulo Portas é esperto. Portanto, quando camufla a verdade, quando rodeia os assuntos, quando atira areia para os olhos de quem não tem capacidade para o perceber, está a agir de forma consciente, consciente e lamentável.

O que se passa, neste momento, com este Governo, é que não foram capazes, até aqui, de levar a cabo uma só reforma estrutural. Tudo o que fizeram foi tomar medidas ad hoc, e todas no mesmo sentido: escorraçar a camada mais jovem e melhor preparada da população, empobrecer o país, fazer sentir como inúteis os mais velhos, atacar a dignidade dos portugueses em geral, levar o país no caminho da destruição económica, aumentar a dívida até níveis insustentáveis.



Paulo Portas e Passos Coelho,
uma dupla que vai ficar para a história
como a dupla responsável pelo pior governo do Portugal democrático


Com um buraco cada vez maior, este governo persegue um alvo em movimento, pois a cada medida que toma o buraco aumenta.

Há medidas que já deviam ter sido equacionadas desde o início da legislatura. Convergir os horários de trabalho da função pública e do privado, convergir os sistemas de pensões público e privado, convergir os sistemas de saúde geral com a ADSE e os sub-sistemas das Forças Armadas ou das Forças de segurança, tudo isso é correcto e desde há muito o defendo. 

Mas uma coisa é fazer convergir - o que pressupõe um caminho, um faseamento, um percurso negociado e ajustado por forma a dar tempo a tudo e a todos para que a convergência seja justa e compreensível para todos - outra é impor de supetão, como uma ameaça.



Paulo Portas e Passos Coelho,
sorridentes e felizes pelo lindo serviço que andam a fazer
Riem eles, chora a população


E uma coisa é fazer estas convergências num período que não seja recessivo e outra, muito diferente, é fazê-lo numa altura em que o desemprego é avassalador e não se vê como voltar a empregar quem tem a desgraça de perder o emprego. É que todas estas medidas têm como consequência directa, entre outras, o aumento do desemprego. Quando o horário de trabalho aumenta, são menos as pessoas necessárias para o cumprir; quando a idade de reforma aumenta, são menos as pessoas que têm oportunidade de entrar, quando os diversos subsistemas de saúde convergem é muita gente que vai para o desemprego.

Baixar os custos dos ministérios na aparência também parece uma boa ideia. Mas só na aparência, pois tudo se vai traduzir em mais gente a ir para o desemprego, quer as que trabalham no ministério quer as que abastecem os ministérios.

E fazer convergir os sistemas de pensões o que é senão cortar uma parte das pensões do público para as igualar ao privado?

Tudo isto, em abstracto, poderia não ser mau desde que feito como deve ser. Mas, tudo junto e num período de elevado desemprego e de recessão, é uma desgraça.

É sobretudo também uma desgraça porque não há, ao lado, um plano já posto em prático que permita ir absorvendo a mão de obra que vai sendo dispensada ou estimulando a procura interna para compensar a quebra induzida pelas medidas. O que há é um papel cheio de banalidades e abstracções a que o Álvaro deu o nome de memorando para o desenvolvimento, uma mão cheia de nada. 

Ora, como diz o Papa Francisco (conforme transcrevi dois posts atrás), é obrigação dos governantes criar novas fontes de trabalho. 

No caso português em que a raiz de todos os males é a debilidade da economia, em vez de terem começado por se ocupar do reforço económico, o que este governo fez foi o oposto: atacou a economia. Se tivessem assumido o relançamento económico como prioridade, à medida que se faziam reformas do lado público, haveria onde absorver as pessoas que saíssem do Estado.

Agora, da forma como este governo está a agir, em que tudo o que faz, tudo, tudo, tudo, vai no sentido da destruição, mesmo as medidas que poderiam fazer sentido se tornam nefastas.

A actuação deste governo é criminosa: destrói empresas, destrói empregos, destrói a vida de muitas pessoas, destrói a esperança, destrói a segurança, destrói tudo. E a responsabilidade é de todos os membros deste Governo, em especial, dos líderes dos dois partidos da coligação.



Paulo Portas e Passos Coelho,
 unidos no mal que andam a fazer ao País


Por isso, Paulo Portas, ao aparecer com ar muito importante, muito idóneo, demarcando-se de uma medida, uma única medida, a da sobretaxa sobre as pensões de reforma - como se usando palavras como cisma grisalho ou fronteira que não pode deixar passar ou lá o que foi que ele disse, pudesse libertá-lo da responsabilidade de ser co-responsável por essa e por todas as outras medidas - está apenas a fazer mais uma das suas estéreis encenações. É uma ofensa à inteligência das pessoas. É um mau serviço à democracia. É um mau serviço a Portugal.

Paulo Portas foi apenas, e mais uma vez, desleal para com Passos Coelho, desleal para quem o elegeu, e desleal para com os portugueses a quem falou nesta sua encenação. E mostrou que está bem para Passos Coelho, um fulano que não sabe sequer pôr na ordem os seus ministros (e, se nem isso sabe fazer, como haveria de ser capaz de gerir um País?).


Nota escrita a posteriori: Sobre este mesmo assunto, sugiro também a leitura deste outro texto. Clique aqui, por favor.
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As fotografias usadas foram encontradas na net e desconheço a respectiva proveniência original

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Caso queiram descansar a alma e acompanhar-me noutras paragens, é com todo o gosto que vos convido a virem comigo até ao meu outro blogue, o Ginjal e Lisboa onde hoje sou levada pelas brancas e leves palavras de Maria Andresen. A música hoje é música do Mali, uma provocação de um Leitor a que com muito prazer, e agradecida, correspondi.

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Desejo-vos, meus Caros leitores, uma grande semana a começar já por esta segunda feira.


4 comentários:

JOAQUIM CASTILHO disse...

Olá UJM

Foi excelente a sua definição do Paulinho:"Paulo Portas é um artista. Basicamente é isso que ele é: um artista".
Será que Rui Tavares, cronista do Público leu o seu "post"?

Transcrevo parte do que ele hoje escreveu:

"Mas com Paulo Portas, ele próprio, já estamos no teatro francês. Como ficou demonstrado no seu discurso de ontem, desde as primeiras palavras sobre o protetorado, até chamar "esses senhores" à troika, até se despedir dizendo que queria ir a tempo "de celebrar o dia da mãe", Paulo Portas tem o talento de fingir que é uma simples personagem no meio de uma intriga governativa que ele não domina, mas com cujas peripécias vai lidando conforme pode. Com algumas medidas do Governo - as boas - ele concorda; quanto às más medidas, ele encontrará maneira de ver se as consegue evitar.

Pode ser teatro talentoso, mas não deixa de ser teatro. E esconde duas coisas.

A primeira é que Paulo Portas não é uma personagem nesta peça: é um dos autores. Ele é responsável por todas as medidas do Governo e, se não concorda com elas, tem o remédio fácil: votar contra no Parlamento. Não o fazendo, cai a máscara da sua personagem.

A segunda é que, por mais que isto pareça uma farsa, é de uma tragédia que se trata. E uma tragédia no sentido antigo, em que toda a gente foi avisada para as consequências inevitáveis das suas ações, mas prosseguiu, tomada pela arrogância."


um abraço

Anónimo disse...

Portas encenou uma das mais miseráveis peças políticas de sempre. É um político repugante. Inqualificável. Desleal com quem trabalha e aceitou trabalhar, e sempre pronto a sacudir a água do capote, como não fizesse parte deste governo, ou lá esteja em part-time. Sabendo como é fácil enganar muito zé-povinho, ignorante da política, encena estas patacoadas para povo ver e, deste modo, procurar manter os 2 dígitos eleitorais. Estão bem, ele e Passos, um para o outro. Duas figuras lamentáveis, abjectas. Sem princípios, sem moral, sem valores. Um é desleal, o outro aceita e engole a deslealdade do parceiro. A todo o custo, o que ambos querem é perpectuar-se no Poder. A cena de ir celebrar o dia da mãe ainda é mais escabroso. A dar-se ares de santo. A política está a atingir níveis nunca imagináveis. Este governo e estes governantes são todos da mesma escola: “Relvas e &”. Este Governo, onde Portas tem lugar de destaque, é uma agressão a tudo e todos. Empresários, contribuintes, trabalhadores, Funcionários Públicos, etc. Portas tem pena dos reformados? E dos Deempregados também tem? E dos funcionários públicos? E dos contribuintes? E dos agricultores que tanto defendeu no processo eleitoral, com aquele seu boné de alentejano na cabeça? E dos empresários, sobretudo dos médios e pequenos?
Isto é um país sem esperança! Que fazer? No quadro do sistema democrático como mudar esta “trampa”?
Revoltante e repulsivo!
Tenha uma boa semana, que, ao que dizem, será de sol. Nós teremos a alegria da visita do filho mais velho para nos animar, a chegar esta noite. E com o mais novo e neto por cá, o pirralhito, ou cisquito de gente, está sensacional, cá nos vamos animando, apesar de tanta porcaria e hipocrisia política.
P.Rufino

jrd disse...

O homem transformou-se numa excrescência.
Pudera, com o percurso que teve e que, ao que tudo indica, vai prosseguir com a complacência dos do costume.

lino disse...

Para mim é mais um artolas armado em artista!
Beijinho