domingo, maio 05, 2013

"O trabalho outorga dignidade. Por isso, é muito importante que os governos dos diferentes países, através dos ministérios competentes, fomentem uma cultura do trabalho, e não da dádiva.", palavras de 'Jorge Bergoglio, padre', o Papa Francisco. Alô, alô, Paulo Portas! Devia meditar profundamente nestas palavras antes de hoje tentar iludir os portugueses com mais um exercício de retórica oca, fútil, oportunista. [E, neste contexto, como um pequeno bónus, algumas das preferências pessoais de Jorge Bergoglio]





Às vezes interrogo-me se não caminhamos, em certas circunstâncias da vida da nossa sociedade, como um triste cortejo, e se não estaremos a insistir em pôr uma lápide na nossa busca, como se caminhássemos para um destino inexorável, com uma série de impossíveis e nos conformamos com pequenas ilusões desprovidas de esperança. Devemos reconhecer, com humildade, que o sistema caíu num amplo cone de sombra: a sombra da desconfiança, e que algumas promessas e enunciados parecem um cortejo fúnebre: todos consolam os parentes, mas ninguém levanta o morto.




- Certamente, a longo da sua vida sacerdotal, muita gente desempregada o deve ter procurado. Qual a sua experiência?

É gente que não se sente pessoa. É que, por mais que as suas famílias e os seus amigos os ajudem, querem trabalhar, querem ganhar o pão com o suor do seu rosto. É que, em última instância, o trabalho unge a dignidade a pessoa. A unção de dignidade não é dada pelos antepassados, nem pela formação familiar, nem pela educação.

A dignidade, enquanto tal, só vem pelo trabalho. Comemos o que ganhamos, mantemos a nossa família com o que ganhamos. Não interessa se é muito ou pouco. Se é mais, melhor. Podemos ter uma fortuna, mas se não trabalharmos, a dignidade vai-se abaixo. 

Por isso, é muito importante que os governos dos diferentes países, através dos ministérios competentes, fomentem uma cultura do trabalho, e não da dádiva.

É verdade que em momentos de crise há que recorrer à dádiva para sair da emergência (...). Mas depois é preciso ir fomentando fontes de trabalho porque, e não me canso de o repetir, o trabalho outorga dignidade.


- Mas a escassez de trabalho implica um desafio enorme. Alguns até falam do 'fim do trabalho'...

Vamos lá ver... na medida em que menos pessoas trabalham, menos pessoas consomem. O homem intervém cada vez menos na produção mas, ao mesmo tempo, é ele quem vai comprar os produtos. Parece que se perdeu um pouco de vista este facto. Acho que não se está a explorar,a procurar trabalhos alternativos. Inclusivamente, há países com uma previdência social elaborada que, ao considerar que não é possível dar trabalho a todos, diminuem os dias laborais ou as horas de trabalho, com o argumento de que as pessoas possam ter mais 'ócio gratificante'. Mas o primeiro passo é a criação de fontes de trabalho. Não nos esqueçamos que a primeira encíclica social (a Rerum Novarum) nasceu à sombra da Revolução Industrial, quando começaram os conflitos e faltavam dirigentes com capacidade para criarem alternativas.


- Na outra ponta está o problema do excesso de trabalho... Será necessário recuperar o sentido do ócio?

O seu sentido mais recto. O ócio tem duas acepções: como desocupação e como gratificação. Dizendo de outra maneira: uma pessoa que trabalha deve ter tempo para descansar, para estar em família, para ter prazer, ler, ouvir música, praticar um desporto. 
(...) 
Quando o trabalho não dá lugar ao ócio saudável, ao repouso reparador, então escraviza, porque uma pessoa já não trabalha pela dignidade, mas sim pela competitividade. Está viciada a intenção pela qual estou a trabalhar...
(...)
A Igreja sempre disse que a chave da questão social é o trabalho. O homem trabalhador é o centro. Hoje, em muitos casos, isto não é assim. Facilmente se é despedido, se não render como previsto. Passa a ser uma coisa, não é tido em conta como pessoa. (...) Não nos esqueçamos que uma das principais causas do suicídio é o fracasso laboral no âmbito de uma competitividade feroz.  Por isso, não se pode olhar para o trabalho apenas pelo lado funcional. O centro não é o lucro, nem o capital. O homem não é para o trabalho, mas sim o trabalho para o homem.

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(Neste contexto, como um bónus, mais um pequeno excerto)


- Como se apresentaria a um grupo que não conhece?

Sou Jorge Bergoglio, padre. É que gosto de ser padre.


- Uma composição musical?

Entre as que mais admiro está a abertura Leonora número três, de Beethoven, na versão de Furtwängler, que é, no meu entender, o melhor maestro de algumas das suas sinfonias e das obras de Wagner.





- Uma obra literária?

Adoro a poesia de Hölderlin. Também muitas obras da literatura italiana.

- Por exemplo?

Terei lido umas quatro vezes Os noivos. Outro tanto A divina comédia. Dostoiévski e Marechal tocam-me.

- Borges? O senhor conheceu-o.

Nem é preciso dizer" Além disso, Borges tinha a genialidade de falar praticamente de tudo sem se vangloriar disso. Era um homem sapiencial, muito profundo. A imagem que tenho de Borges perante a vida é a de um homem que arruma as coisas no seu sítio, que organiza os livros nas prateleiras, como o bibliotecário que ele era.


- Um quadro?

A Crucificação Branca de Marc Chagall.


- Há algum filme que recorde especialmente?

A Festa de Babette, mais recente, tocou-me imenso. (...)




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Os textos acima fazem parte do livro Papa Francisco, conversas com Jorge Bergoglio, da autoria de Francesca Ambrogetti e Sergio Rubin, de quem são as perguntas a itálico. Sem ser a itálico, encontram-se as respostas do agora Papa Francisco. O título original do livro era El Jesuita e foi publicado pela primeira vez em 2010.

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O meu conselho a Paulo Portas relativamente à comunicação que vai fazer às 19 horas deste domingo de que leia com atenção e honestidade intelectual e moral as palavras do Papa Francisco deve ser lido como complemento ao conselho que ontem transmiti no post abaixo)

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Resta-me desejar-vos, meus Caros Leitores, um domingo muito feliz. 
E que a luz deste sol de domingo, aqueça o vosso coração e ilumine a vossa vida.

(Desculpem. Sei que soa mesmo piroso, mas queria dizer, queria mesmo desejar-vos isto)

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