A Leitora Antonieta disse que me imagina in heaven rodopiando cheeck to cheeck, eu qual Ginger, ele qual Fred.
Não sei se é só ela ou se mais alguém pensa a mesma coisa, mas, seja, como for, aqui fica a verdade.
Não sei se é só ela ou se mais alguém pensa a mesma coisa, mas, seja, como for, aqui fica a verdade.
Pois bem: a coisa não está a ser tão romântica assim. E nem eu sou a Ginger nem ele, muito menos, é o Fred. É um pé, ele. Acho, até, que é o seu grande defeito: não dança, nem se esforça. A única vez em que se sacrificou foi para dançar a valsa no casamento da filha. Tirando isso, esqueçam. Não dança. Gosta de fazer a irritante gracinha de, quando lhe pergunto se dança, responder que não, que joga futebol.
E, mesmo que fossemos de dançar, nestes últimos dias não teríamos tido tempo para isso. Se nos primeiros dias da semana, juntamente com o fim de semana anterior, vivemos dias de passeio e lua de mel, desde então têm sido dias de intenso trabalho braçal.
Depois de meses de chuva frequente, das pedras, aqui in heaven, brotam flores e plantas de toda a espécie.
O mato está denso, mais alto que nós. É curiosa a transformação desta terra. Quando aqui chegámos era pedra e mato rasteiro. Agora, haviam de o ver, as árvores crescem pujantes, a terra está coberta por um manto florido mas, pior: as silvas enleiam-se e crescem desabaladamente e o tojo que, no início da primavera, fica lindo, todo amarelo vibrante, depois perde a graça, cheio de picos, hostil.
Por isso, desde o 1º de Maio que temos andado os dois tentando domar esta natureza exuberante de forma a que possamos passear entre ela.
Claro que nisto o trabalho mais pesado não é o meu.
Eu sobretudo podo, desbasto a erva mais miúda e, o mais importante, guio e tento salvar algumas espécies que estão sempre por um triz quando ele anda de óculos de protecção e máquina em punho. (Para ele, com aqueles óculos, por exemplo o alecrim confunde-se com o tojo e eu não quero sacrificar o alegrim ou o rosmaninho)
Como poderão observar, ele é cuidadoso e anda de luvas quer quando anda com a máquina, quer quando anda a serrar pernadas de árvores.
Eu não consigo ser cuidadosa: não apenas tenho calor e não consigo andar de calças, mangas compridas e luvas como, por uma qualquer irracionalidade, gosto de mexer, de sentir.
Mas depois fico com arranhões, com bolhas. Não sei se é a azinheira se é o funcho que me faz bolhas como queimaduras. Tento evitar roçar quer numa, quer noutro mas, não sei como, acabo sempre com algumas alergias destas. Estou aqui cheia de fenistil em gel. E, nas pernas, penso que estou a andar com cuidado mas, no fim da jornada, dou por mim com elas numa lástima, todas arranhadas. Nos próximos tempos vou ter que andar sempre de calças pois já não está tempo para meias opacas.
Também aproveitei, agora que chegou o sol, para lavar tapetes.
Há sempre muitas entradas aqui no UJM por pesquisas do tipo Como se lavam tapetes de Arraiolos?
Já anteriormente expliquei mas volto a explicar. Tenho a sorte de ter espaço ao ar livre para o fazer. Passo a mangueira primeiro no chão, não vá haver alguma terra que, depois, se misture com a água e acabe por ser pior a emenda que o soneto.
Depois estendo os tapetes e, com a mangueira, encharco-os bem. A seguir espalho por cima detergente de lavar à mão.
Com uma vassoura bem forte, varro com força, esfregando. Faço-o durante um bocado, misturando água para fazer mais espuma e lavar melhor. Vou passando de um para outro, de modo que o detergente vai actuando.
No fim, ponho água, o próprio jacto forte ajuda a lavar e vou vassourando para sair todo o detergente. Quando já não sai espuma nenhum, estão lavadinhos e cheirosos.
Depois deixo-os ao sol a secar. Pelo meio, mudo-os um bocado de sítio pois o chão por baixo fica molhado e se os puser numa parte seca, ao sol, seca mais rapidamente.
No fim, estão direitinhos como se tivessem sido passados a ferro.
O que vos digo é que, depois desta ginástica toda, interrompida com actividades de culinária e alguma leitura a seguir ao almoço, chegamos ao fim do dia estafados, os dois, como se tivéssemos estado o dia inteiro no ginásio. Ainda há bocado, depois de jantar, adormecemos os dois aqui no sofá. Ele, que é normal, levantou-se daqui e foi-se deitar. Eu estou aqui a escrever.
Mas, enfim, se isto é muito cansativo, é também muito gratificante. Estar aqui, mesmo assim, em regime de trabalhos esforçados, é para mim como se estivesse de férias, sinto que rejuvenesço, livre, no meio da natureza.
E se ela é surpreendente.
A vinha virgem renasce. Eram apenas troncos secos agarrados à parede por pequenas patinhas. Agora as folhas rebentam e começam a cobrir a parede. Parece impossível, parece o milagre da ressurreição.
E as parreiras? Dos ramos secos rebentam folhinhas bebés, verde intenso, e depois as folhas crescem, viçosas mas mais maravilhosos são os cachos de uvas, pequenos pontos cheios de vida.
Daqui por uns meses serão cachos de bagos cheios, doces, suculentos.
Assim é a natureza, ciclos que se sucedem, o tempo que passa, a vida nas suas múltiplas formas. Diante disto só nos podemos sentir humildes, insignificantes.
Amanhã vai ser dia de varrer as folhas secas que se acumulam em todo o lado.
Por isso, voltando ao princípio e resumindo: I'm in heaven, sim. Agora... Fred e Ginger, lamento... mas não. Mas gostava.
E, mesmo que fossemos de dançar, nestes últimos dias não teríamos tido tempo para isso. Se nos primeiros dias da semana, juntamente com o fim de semana anterior, vivemos dias de passeio e lua de mel, desde então têm sido dias de intenso trabalho braçal.
Depois de meses de chuva frequente, das pedras, aqui in heaven, brotam flores e plantas de toda a espécie.
O mato está denso, mais alto que nós. É curiosa a transformação desta terra. Quando aqui chegámos era pedra e mato rasteiro. Agora, haviam de o ver, as árvores crescem pujantes, a terra está coberta por um manto florido mas, pior: as silvas enleiam-se e crescem desabaladamente e o tojo que, no início da primavera, fica lindo, todo amarelo vibrante, depois perde a graça, cheio de picos, hostil.
Por isso, desde o 1º de Maio que temos andado os dois tentando domar esta natureza exuberante de forma a que possamos passear entre ela.
Claro que nisto o trabalho mais pesado não é o meu.
Eu sobretudo podo, desbasto a erva mais miúda e, o mais importante, guio e tento salvar algumas espécies que estão sempre por um triz quando ele anda de óculos de protecção e máquina em punho. (Para ele, com aqueles óculos, por exemplo o alecrim confunde-se com o tojo e eu não quero sacrificar o alegrim ou o rosmaninho)
Como poderão observar, ele é cuidadoso e anda de luvas quer quando anda com a máquina, quer quando anda a serrar pernadas de árvores.
As árvores ficam com rebentos nos troncos e na base e têm que ser limpas |
Eu não consigo ser cuidadosa: não apenas tenho calor e não consigo andar de calças, mangas compridas e luvas como, por uma qualquer irracionalidade, gosto de mexer, de sentir.
Gosto de arranjar as árvores como gosto de cortar os cabelos das pessoas de quem gosto |
Mas depois fico com arranhões, com bolhas. Não sei se é a azinheira se é o funcho que me faz bolhas como queimaduras. Tento evitar roçar quer numa, quer noutro mas, não sei como, acabo sempre com algumas alergias destas. Estou aqui cheia de fenistil em gel. E, nas pernas, penso que estou a andar com cuidado mas, no fim da jornada, dou por mim com elas numa lástima, todas arranhadas. Nos próximos tempos vou ter que andar sempre de calças pois já não está tempo para meias opacas.
Também aproveitei, agora que chegou o sol, para lavar tapetes.
Há sempre muitas entradas aqui no UJM por pesquisas do tipo Como se lavam tapetes de Arraiolos?
Já anteriormente expliquei mas volto a explicar. Tenho a sorte de ter espaço ao ar livre para o fazer. Passo a mangueira primeiro no chão, não vá haver alguma terra que, depois, se misture com a água e acabe por ser pior a emenda que o soneto.
Depois estendo os tapetes e, com a mangueira, encharco-os bem. A seguir espalho por cima detergente de lavar à mão.
Com uma vassoura bem forte, varro com força, esfregando. Faço-o durante um bocado, misturando água para fazer mais espuma e lavar melhor. Vou passando de um para outro, de modo que o detergente vai actuando.
No fim, ponho água, o próprio jacto forte ajuda a lavar e vou vassourando para sair todo o detergente. Quando já não sai espuma nenhum, estão lavadinhos e cheirosos.
Depois deixo-os ao sol a secar. Pelo meio, mudo-os um bocado de sítio pois o chão por baixo fica molhado e se os puser numa parte seca, ao sol, seca mais rapidamente.
No fim, estão direitinhos como se tivessem sido passados a ferro.
O que vos digo é que, depois desta ginástica toda, interrompida com actividades de culinária e alguma leitura a seguir ao almoço, chegamos ao fim do dia estafados, os dois, como se tivéssemos estado o dia inteiro no ginásio. Ainda há bocado, depois de jantar, adormecemos os dois aqui no sofá. Ele, que é normal, levantou-se daqui e foi-se deitar. Eu estou aqui a escrever.
Mas, enfim, se isto é muito cansativo, é também muito gratificante. Estar aqui, mesmo assim, em regime de trabalhos esforçados, é para mim como se estivesse de férias, sinto que rejuvenesço, livre, no meio da natureza.
E se ela é surpreendente.
A vinha virgem renasce. Eram apenas troncos secos agarrados à parede por pequenas patinhas. Agora as folhas rebentam e começam a cobrir a parede. Parece impossível, parece o milagre da ressurreição.
A minha vinha virgem, agora na fase verde nascente No Outono estará rubra |
E as parreiras? Dos ramos secos rebentam folhinhas bebés, verde intenso, e depois as folhas crescem, viçosas mas mais maravilhosos são os cachos de uvas, pequenos pontos cheios de vida.
Uvas nascentes |
Daqui por uns meses serão cachos de bagos cheios, doces, suculentos.
Assim é a natureza, ciclos que se sucedem, o tempo que passa, a vida nas suas múltiplas formas. Diante disto só nos podemos sentir humildes, insignificantes.
Amanhã vai ser dia de varrer as folhas secas que se acumulam em todo o lado.
Para além de varrer, amanhã temos que desbastar o mato à volta do banco que está junto aos cavalos azuis que por aqui passam quando nos sentamos a olhar a montanha |
Por isso, voltando ao princípio e resumindo: I'm in heaven, sim. Agora... Fred e Ginger, lamento... mas não. Mas gostava.
3 comentários:
Ahahah, já me fez rir logo pela madrugada!
Aquilo era mesmo uma 'provocação', pois já nos tinha dito que o namorado não era lá muito dado a romantismos (além de ser pé de chumbo), mas lembrei-me daquele quadro da Paula Rego e daquela música e não resisti.
Ainda tinha escrito 'cuidado com os pedregulhos' mas depois apaguei...
Eu também sou pé de chumbo e nunca dancei uma valsa...uma grave lacuna, mas vai ter que ficar para outra vida...
Também não jogo futebol, enfim sou uma nulidade!
A propósito da Paula Rego, a crónica do valter hugo mãe no JL está fantástica.
Já vi que está cansada mas feliz, nem lhe digo para descansar, não vale a pena...
Ah e adormecerem os dois no sofá também tem o seu quê de romantico, não acha?
Bj e um belo fds.
Antonieta
ps: O post acima deixou-me entre 'angustiada e perplexa', afinal o que é um supositório de açorda???
LOL
Trabalho aí em Heaven deve ser "quase" um prazer!
Continuação de um bom fim-de-semana, com a natureza!
Parece que não há tempo para danças....nem par.
É muito curioso, estive a lembrar-me de todos os casais meus amigos, não há um em que dancem os dois elementos. Cá em casa, eu também não sou grande pé, em compensação o meu marido dança tudo e bem o que o fazia procurar outros pares.
Boa continuação de jardinagem, a melhor terapia para suportarmos esta cambada de vendidos a que estamos entregues, cuidando do seu paraíso.
Bom Domingo.
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