sábado, março 17, 2012

A arte da sedução desde os tempos de Madame Pompadour até aos dias de hoje - breves apontamentos para um dia desenvolver


Madame de Pompadour, maitresse en titre, no tempo dos grandes horizontales 

Música, por favor

Pedro Abrunhosa - Viagens
(a parte final em inglês era escusada mas, enfim, não arranjei uma versão sem essa cauda desnecessária.)

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Volto ao tema da sedução.

A vida pode ser cheia de erudição, cheia de sucessos profissionais, uma agenda preenchida com contactos dos mais úteis que há, belos ordenados, contas bancárias recheadas, grandes casas, futuro garantido e o escambau e, no entanto, apenas será recompensadora se tiver o tempero dos afectos.

E pode até ter também o tempero dos afectos mas faltar-lhe o sal e o picante e, por isso, ser uma boa vidinha mas morna, chata, um tédio.

Assumindo, por facilidade de exposição, que a vida já tem a segurança, o conforto e a base de afectos que confere estabilidade e qualidade à vida, falemos, portanto, do que dá salero à vida, do que a torna sexy, do que lhe dá graça.

Sedução, inteligência, sex appeal, enlevo, charme, malícia, humor, tudo coisas essenciais a uma vida bem vivida.

A questão estará em perceber-se se sedução é um conceito abstracto que abrange os restantes ou se são coisas distintas e se é coisa que se aprende ou, se não nasceu com ela, nada a fazer.

Procuro definições. Priberan: Atractivo irresistível; tentação; Wikipedia: Sedução é a capacidade de encantar o outro com fins de atingir determinados objectivos. 

Ou será apenas 'Gostar de dar e receber' como ontem vos contei?

A minha opinião é que sedução é o dom natural de atrair o interesse do outro de forma irresistível, sendo, para tal, normalmente usadas ‘ferramentas’ tais como a inteligência, o sex appeal, o enlevo, o charme, a malícia, o humor.

No acto de seduzir tem que estar subentendido, de forma inteligente, que por detrás das meias palavras, de uma possível malícia elegante, escondida sob uma capa de fino humor, há uma promessa implícita de prazeres múltiplos e variados, proibidos de preferência. Ou, mesmo que não seja tudo isto, tem que se imaginar que, para além do que está à vista, ou do que é dito, haverá mais, tem que apetecer descobrir, perseguir, sondar, arriscar - porque se antevê que valerá a pena.

E não tem que ver directamente com o aspecto físico embora pessoalmente ache que tem que haver uma qualquer química, seja lá o que isso for.

Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre - um amor multifacetado, incomum, aberto, diríamos  hoje
Ele, um incorrigível sedutor à volta de quem as mulheres borboleteavam

Sartre ou Picasso por exemplo eram homens baixinhos, não devendo muito à beleza, (Sartre, então, era mesmo fisicamente pouco dotado) e, no entanto, que fascínio exerciam nas mulheres. No primeiro, seriam as fascinantes palavras, no segundo, o fascinante olhar. As mulheres queriam mais, queriam perceber que promessas se esconderiam por detrás disso, queriam estar por perto para não perderem pitada que fosse.

Transcrevo do livro que ontem referi ('Seduction, a celebration of sensual style') a citação de Jean Baudrillard: 'To seduce is to render weak'. Leio também que Jane Billinghurst dizia que seduzir era criar 'an expectation of delight'. 

Aprende-se isto? Não sei. Mas talvez se possa tentar, exercitar.

Em minha opinião, há factores essenciais para o exercício da sedução: a auto-segurança e a autoestima são dois deles. 

Gabriela Canavilhas: música, ministra e, imagino eu, uma sedutora em lato sensu


Quando uma mulher olha sabendo que há desejo implícito de parte a parte, deve estar segura de que conseguirá manter o olhar até onde quiser, interrompendo-o ou levando-o até a um possível desfecho. E tem que estar confiante de que o homem a está a olhar pelo puro prazer do olhar e não para ver se é uma borbulha que tem disfarçada por creme, junto ao nariz. Inseguranças desse tipo anulam qualquer acto de sedução, por mais simples que seja. A mulher deve estar-se nas tintas para os pormenores, deve estar segura de que, se desperta interesse, é por si mesma e que não é um qualquer insignificante pormenor que anulará isso.

E a mulher deve também saber que o que estimula o interesse é a vontade da descoberta e da conquista. Se tiver comportamentos demasiado óbvios, vulgares, se mostrar (ou disser ou o que for) tudo às primeiras, não havendo já nada a descobrir numa próxima, provavelmente não haverá próxima.

Marília Gabriela, inteligente, vibrante de vitalidade e argúcia, bem humorada,
 uma sedutora com provas dadas

Outra coisa que acho que é uma importante arma de sedução é o controlo (ou o aparente controlo) da situação. Acho que o que desperta o interesse de uma pessoa noutra é saber que tem ali um adversário não negligenciável, que vai dar luta, que vai ser uma coisa mano a mano. A inteligência é fundamental, é quase tudo A sedução, é sabido, é una cosa mentale.

Outro aspecto: pessoas carentes, oferecidas, perdidas, indefesas, geralmente não dão grandes sedutores ou, então, acabam mal, tornam-se demasiado vulneráveis, a cabeça não acompanha o corpo. 

Mil fotografias, mil belas imagens, a câmara amava-a, ela emanava luz e sedução
mas era tão frágil, dava tudo e sentia que recebia tão pouco

O caso mais paradigmático disso é Marilyn Monroe - sedutora até mais não poder mas insegura, indefesa, frágil. Os homens desejavam-ma mas acabavam por cansar-se das suas inseguranças, das suas tristezas, abandonavam-na, e ela não resistia, caía, afogava-se em tristeza, em ansiolíticos. E assim se foi: um dos casos mais tristes da história da sedução.

Claro que o que vale para a mulher, vale para o homem com as devidas especificidades comportamentais.

Jack Nicholson - um mestre na arte da sedução e a prova mais que provada que a arte sedução
tende a refinar com a idade. O olhar não engana e o sorriso ajuda. 


Aqui chegados tenho que vos confessar que, afinal, acho que não vale a pena continuar com isto. Para quê tentar descodificar a sedução através de mais palavras, gestos, subentendidos?

Concordo que a fórmula é simples: seduzir é, acima de tudo, sim, gostar de dar e de receber - dar a ilusão de que muito mais há para dar e receber com prazer o retorno da sedução, porque gostar de receber e mostrar que se gosta é um dos mais poderosos 'instrumentos' de sedução.

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Convido-vos agora a ver o seguinte documentário sobre Madame Pompadour que ilustra bem o que é a sedução, a sedução qualificada.



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E tenham, meus Caros, um belo sábado e, se puderem, que seja repleto de sedução.

8 comentários:

Maria disse...

Querida Jeitinho:
Antes de mais, acho que a sua definição é a mais certa.
Quanto a mim, o físico não é a parte mais importante da sedução. Claro que é agradável ver uma mulher ou um homem, fisicamente bonitos. Mas sedução é outra coisa.
Os casos de Picasso, Sartre, Bogart, Jack Nicholson e outros, prova-o.
Há mulheres, que nada tendo de bonitas, são extremamente sedutoras.
Penso que a sedução, vem de dentro e se reflecte num gesto, num olhar, num sorriso, numa frase.
Nem sempre os belos ou belas, são inteligentes. Os sedutores e sedutoras, são.
Voltando ao Jack Nicholson, é feio, faz papéis de maluco, mas tem inteligência. Nos filmes aparece, como anti-galã, mas seduz. Seduz sempre.
Dizem que Carlota Joaquina, era horrorosa. No entanto, possuía uma tal sedução, que tinha os homens aos pés.
Isto é um assunto que dava uma tese de doutoramento.
Nem sempre o sedutor é feliz. Por exemplo, a pobre, bela e parece que muito menos estúpida do que a fazem, era uma sedutora. Seduziu homens de letras, políticos, incluindo os manos Kennedy, por acaso outros sedutores, acabou mal e foi infeliz.
Esta é a minha opinião.
Beijinhos
Maria

Anónimo disse...

Sempre me fascinaram as aventuras das “Demi-Monde”, ou “Grande Cocottes”, as Grandes Cortesãs de épocas passadas. Há vários livros, muito interessantes, sobre a “matéria” que merecem leitura atenta e divertida. Da Antiga Grécia, à Renascença, até aos Séculos XVIII e XIX, muitas se destacaram, sobretudo pelas relações que mantiveram. E uma boa parte delas distiguiu-se ainda, a par da Beleza, pelas suas qualidades intelectuais e seus contactos políticos e culturais.
Pompadour, tendo tido, todavia, um percurso de algum modo diferente de muitas outras da sua época e da que se lhe seguiu, tem pois o meu apreço.
Boa escolha a de Pedro Abrunhosa. Excelente, como sempre. Muito interessante tudo o que aqui Jeito Manso escreveu sobre o tema “Sedução”.
Um bom exemplo de uma mulher sedutora, dos tempos de hoje (“e ainda por cima” inteligente e culta), a ex-Ministra Canavilhas.
Entre as grande sedutoras do passado, a vida da “La Castiglione” (enviada pelo Cavour para seduzir Napoleão III) dava um bom filme.
Este se Blogue constitui uma belíssima catarse para o meu dia a dia.
Seu incondicional admirador e leitor,
P.Rufino
Ps: dentro o género masculino, Franz Liszt foi, no seu tempo, igualmente um grande sedutor (a Condessa Marie d’Agoult e Marie Duplessis, que influenciou a figura da Dama das Camélias, foram algumas das suas “vítimas”).

Um Jeito Manso disse...

Olá Maryzinha!

Nestes dias chatos de crises, desempregos, coisas assim, só me apetece falar de outras coisas e falar de amor, paixão, afectos ou sedução é sempre uma coisa que predispõe bem.

Gente interessante, boa onda, que gosta de agradar, seduzir, estar de bem com a vida é sempre gente que faz boa companhia. E, se nem sempre podemos estar rodeados de gente assim, porque não trazê-los para aqui, falar deles, fazer com que se juntem a nós, não é?

Concordo com tudo o que diz, Mary. Todos esses casos se referem a gente que cativa ou cativava os outros, sedutores a sério. Quando o são nem a gente repara na beleza.

Quanto a Marilyn, acho que é o que eu digo. A sedução deve ir a par de auto-estima pois, caso contrário, começará a gerar-se a sensação de que se dá tudo e pouco se recebe, a pessoa sentir-se-á usada.

A Marilyn era culta, lia muito, era divertida mas não se sabia fazer impor, entregava-se demais, sonhava, e depois tentava compensar a frustração com comprimidos e acabou sem poder passar sem eles.

Morreu e foi uma pena para ela mas a verdade é que sempre a recordaremos nova e bela. Nunca a chegámos a ver velhota, gordinha (porque ela tinha tendência para isso).

E tem razão os manos Kennedy eram uns sedutores, especialmente o John, um verdadeiro galã (e incontinente sexual, ao que parece).

Enfim, este é um tempo bom para a gente falar dele.

Um beijinho, Mary!

Um Jeito Manso disse...

Caro P. Rufino,

Um prazer ler as suas palavras, acrescentam luz ao que escrevi.

Sedução sem inteligência é um exercício vulgar, esgota-se em si mesmo. Mas se à inteligência juntarmos cultura (e, se possível, uma cultura polvilhada com conhecimentos políticos - como refere), teremos condimentos que, aliados ao natural sex appeal, tornarão um homem ou uma mulher consideravelmente interessantes. Os grandes sedutores da história comprovam-no.

Este é um tema, de facto, mobilizador e e inesgotável.

E, Caro P. Rufino, já me despertou a curiosidade no aprofundamento do seu estudo pois fiquei a achar que tenho que conhecer melhor algumas figuras que refere. Lizst é uma delas. Obrigada pois se há coisa que aprecio é sentir-me motivada para ir descobrir o que ainda não conheço bem.

E obrigada pela gentileza das suas palavras, sabem-me bem.

Um bom domingo!

Anónimo disse...

Cara UJM:
Sempre tão diversa, sempre interessante, hoje tão sedutora .
Concordo totalmente com a sua explanação. Depois do fascínio da descoberta, o difícil é mantê-lo para que a sedução permaneça. E na vida afectiva, a única que vale a pena, não posso estar mais de acordo com a sua fórmula de que “o dar e o receber” são os “ingredientes” que garantem que a sedução perdure.
Passei hoje o dia a seduzir os meus homens com sorrisos, miminhos e um robalo da costa, fresquinho, ao sal.
Um abraço da
Leanor formosa e segura

Um Jeito Manso disse...

Leanor que vem pela verdura e, percebo agora, bem segura,

Segurança, sorrisos, miminhos e peixe fresco (com sabor a mar e um leve travo a sal) - quatro infalíveis ingredientes para que o clima de sedução não se esfume.

Espero que os seus homens se tenham rendido e que assim se mantenham para que a vossa vida tenha sempre o gostinho bom de uma aventura que vale muito a pena ser vivida.

E tenha, Leanora-a-Segura, um belo domingo!

Maria disse...

Jeitinho amiga
Se começamos a falar de sedutores, a lista é longa.
Balzac e Victor Hugo, nada bonitos, pouco cuidados, parece que pouco delicados, eram grandes sedutores.
Wagner, cuja música adoro, era insuportável, interesseiro, graxista,
conseguiu tudo o que quis de Luís da Baviera, conquistou uma das filhas de Lizt, Cósima, que tratava abaixo de cão e o adorava.
Ava, a linda Ava, mais uma sedutora infeliz. Conquistou e perdeu tudo o que amou. Mesmo Elisabeth Taylor, com aqueles olhos violeta, linda, mesmo velha e gorda, seduzia, para perder.
É o que eu digo. Isto dava um tratado.
Beijinhos
Mary

Um Jeito Manso disse...

Mary,

As coisas que eu aprendo convosco e que me dão vontade de partir à descoberta. Tal como disse ao leitor P. Rufino, também agora alguns dos grandes nomes que referiu não os conhecia de serem grande sedutores. Mas não admira, a inteligência e o gosto e o dom pelas artes fascinam. Ouvimos uma pessoa inteligente a falar e ficamos presos, não é?

Dava uma tese, de facto. E não tenho ideia de haver livros sobre muitos, pois não? Vou agendar para quando tiver tempo, daqui por uns anitos, acho que será tema que me vai 'seduzir'.

Um beijinho, Mary (e hoje sou eu que tenho que agora ir ali às minhas lides domésticas.)