quarta-feira, dezembro 15, 2010

O stress e o cérebro, segundo Nuno de Sousa. Oscar Neimeyer faz hoje 103 anos, Manoel de Oliveira fez 102 há dias atrás.


Um trabalho de investigação da equipa liderada pelo médico e neurocientista Nuno Sousa da Universidade do Minho, publicado pela exigente revista Science, comprova o efeito nefasto que o stress prolongado tem no cérebro. A equipa tem estudado a correlação entre o stress e várias formas de doenças demenciais, entre as quais ao doença de Alzheimer.


Na entrevista a Carlos Vaz Marques, na TSF, deu-nos conta desses trabalhos. Um cérebro submetido a frequentes estímulos de stress atrofia, como que bloqueia, passa a reagir de forma repetitiva, não relacionada com os estímulos casuísticos que recebe. Pelo contrário, um cérebro não sujeito a stress frequente é capaz de reagir de forma adequada, criativa, digamos assim.

Claro que há que distinguir entre o stress negativo e o positivo - o positivo é aquele que associamos à adrenalina, ao entusiasmo, ao desafio que, esse, é estimulante e benéfico.

Por outro lado, é sabido como a actividade física e intelectual regulares são essenciais para uma longevidade de qualidade.

Hoje faz 103 anos um dos maiores arquitectos de sempre a nível mundial, Oscar Niemeyer, o arquitecto de Brasília e de tantas obras em que a arquitectura assume formas escultórias, em que o betão armado é esculpido como uma obra de arte. Neymeyer sempre disse que a sua principal fonte de inspiração são as montanhas do Brasil e, sobretudo, as curvas das mulheres.


 Neste aniversário, ao inaugurar mais um edifício, justamente a Fundação Niemeyer, ele explica: “Enquanto eu puder trabalhar eu trabalho, porque o trabalho me distrai, não é sacrifício. Cada problema que aparece é um esforço para resolver que me agrada muito e que ainda consigo fazer”.


A mulher, cerca de 40 anos mais nova, com quem se casou há 4 anos, confirma que ele está bem, com saúde, cheio de projectos, tem aulas semanais de cosmologia, desenha, faz fisioterapia, lê, edita uma revista e gosta de desafios. Diz que está agora a fazer um aquário dentro de água, coisa que nunca ninguém fez. ‘Isso me distrai’, diz ele.


Neste pequeno livro de 1993, em que o autor do texto é Oscar Niemeyer e o autor da capa, dos desenhos e da paginação é... Oscar Niemeyer, leio: " De um traço nasce a arquitectura. E, quando ele é bonito e cria surpresa, ela pode atingir, sendo bem conduzida, o nível superior de uma obra de arte. [...] Na cúpula do Senado, desprezando a característica autoportante que oferece o empuxo que criaria, inclinei em rectas sua linha circular de apoio, tornando-a mais leve, como preferiria. Na Câmara, depois de invertê-la, a estendi horizontalmente como a visibilidade interna exigia, procurando uma forma que a situasse como simplesmente pousada na lage de cobertura. E tudo isso fazíamos com tal empenho que lembro Joaquim Cardozo me telefonando: 'Oscar, encontrei a tangente que vai permitir a cúpula solta como você deseja.'. [...] Um dia, Carlos Drummond de Andrade escreveu num dos seus versos:' Oscar desenha na areia seu edifício.' E tinha razão o nosso amigo. De um risco inicial nasce a arquitectuta e até na areia isso pode acontecer."

É um prazer ler as palavras de Neimeyer, sentir o prazer supremo de alguém que nasceu para fazer o que tão bem tem feito ao longo da sua longa vida.

Daqui, deste lado do Atlântico, envio-lhe os parabéns, Arquitecto Niemeyer!

Manoel de Oliveira, que completou recentemente 102 anos, é feito da mesma fibra: tem dois filmes em fase de financiamento, tem vários projectos em mente, diz não temer a morte mas não querer perder tempo pois, com ironia, diz não saber por quanto mais tempo ainda cá andará.


Pessoas sem stress, pessoas boas, pessoas motivadas, pessoas do mundo, do futuro, pessoas felizes.

Uma lição para os comuns mortais.

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