Isto, para mim, continua a ser inacreditável apesar de ser uma constante. E a verdade é que me vejo a mim própria atenta e a ouvir interessadamente as pessoas como se já as conhecesse e como se fosse normal uma pessoa desconhecida, sem nada que o provoque (que eu me aperceba), me relatar factos tão pessoais, tão íntimos.
A senhora de ontem – e sem que eu lhe tenha perguntado nada ou sequer ‘metido conversa’ – contou-me que antes, com o marido, se sentavam, em casa, os dois a fazer cerâmica, iam conversando, iam dando opiniões um ao outro. Agora ele morreu e ela continua a arte, até por razões económicas. A reforma é baixa e o complemento por morte dele baixo é. Mas custa-lhe estar em casa, sozinha, a fazer as peças, faz-lhe falta a presença dele ali ao lado. E, então, prefere vir logo ali para a lojinha da feira e trabalhar a ver as pessoas a passarem, sempre sente menos a falta dele.
Tinha lá mais uma Nossa Senhora que, apesar de ser maior e mais composta, estava a vender mais barata porque, segundo ela, lhe tinha saído com cara de velha. Também trouxe um Cristo que ela me recomendou, que tinha ficado melhor que os outros, que o fato era mais bonito. Fiz-lhe a vontade.
Nossa Senhora - autoria: Josafaz
À saída o NJ disse que estava chuva. Eu disse-lhe que não. Ele explicou-me: “chuva nini na boca”. (nini = pequenina). De facto, estava de novo a pingar.
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