segunda-feira, maio 31, 2021

O interesse atónito que o mal inspira numa alma nobre

 



Continuo quase sem ver televisão, em especial notícias. Não consigo. Há futilidade, leviandade, tendência para o alarmismo e para a maledicência. Portanto, ando um bocado por fora do que por aí se passa. Obviamente, se passo pelos Chegas, pelos Rios, pelos zeros que por aí pululam, fujo a sete pés. Não sou de comer o que me dão a comer. 

E ultimamente pouco encontro que me dê vontade de comer (televisamente falando, claro). Por isso, lamento mas sobre a actualidade pouco ou nada tenho a dizer. 

Tragam-me caminhos por entre recantos desconhecidos, escaladas até mosteiros abandonados no alto de cumeadas, tragam-me quem saiba encantar flores, quem saiba dançar com melros, quem saiba bordar de olhos fechados, quem invente histórias nunca acontecidas, quem guarde segredos em grutas invisíveis. Isso, eu veria de bom gosto. Agora o resto... Não, obrigada.

Se ontem foi um dia entre o campo e as pinturas e a visita à minha mãe, eu com a mobilidade bastante condicionada, este domingo o dia foi mais descansado, de perna no ar, gelo, agora já não o pé mas o joelho empanado. Não sei se esforcei alguma coisa sem dar por isso, se tenho mesmo uma perna mais curta que provoca desequilíbrio nas cargas, se são sapatos cambados em piso irregular, isso não sei. Sei que não estou bem.

Mas tive a visita de quem traz alegria, boa disposição, risos. Desta vez não fui eu que preparei o lanche. Os meninos a queixarem-se de fome, a minha filha a dizer que ia ajudar mas o chef que não, que dava conta do recado. O menino mais crescido já dizia: o avô deve estar a fazer ciência...

Mas, finalmente, lá apareceram os comes e os sumos e foi tudo apreciado. E o avô ficou contente por ter cumprido. E a minha filha trouxe uma deliciosa tarte de amêndoa. E comeram mini-geladinhos. E eu gosto imenso de vê-los em volta da mesa, com apetite, conversando, rindo. 

Não me juntei a eles, claro, mas só de observá-los já me dei por feliz.

E jogaram à bola, e vólei e raquetes e fizeram palhaçadas e eu, apesar da minha condicionante e misteriosa lesão, estive a vê-los de gosto. Sempre uma fonte de vitalidade, todos eles.

Esteve um calorzinho bom. Envoltos em verde e flores, cercados pelo canto dos passarinhos, estivemos felizes da vida.

Antes de terem chegado, estive a ler um livro cujo prefácio me agarrou. Jorge Luis Borges fala com admiração e estima de Silvina Ocampo. Desse prefácio extraí o título deste post. Depois, entram os contos e, a começar, a lebre dourada.

No seio da tarde, o sol iluminava-a como um holocausto nas gravuras dos escritos sagrados. As lebres sã todas diferentes, Jacinto, e não era a pelagem, acredita, o que a distinguia das outras lebres, não eram os seus olhos de tártaro nem a forma inusitada das orelhas : era algo que ia muito além daquilo a que nós, homens, chamamos personalidade.

(...)

Os cães desataram a correr e a lebre ficou imóvel por um instante «, sozinha, no meio do prado. Mexeu o focinho três ou quatro vezes. como se farejasse um objecto afrodisíaco. Deus, ou alguma coisa parecida com Deus, chamava por ela, e a lebre, talvez revelando a sua imortalidade, fugiu num único salto. 


E é isto. Os vasos foram regados mas não fui eu que os reguei e as nêsperas estão dulcíssimas mas também não fui eu que as apanhei. 

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 As pinturas são de Kanō Hideyori e vieram ouvir a Cinematic Orchestra com Patrick Watson a interpretar To Build A Home 

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Partilho ainda um vídeo muito bonito, o género de coisas que gosto de ver

Dance With Life

Even if you can't or don't want to leave your comfortable urban life, get out there and be wild every now and then. By regularly doing that, you will be reminded of how much nature means to us, how much solace it can bring, how much joy and peace and hope.   You will be reminded of how deeply we are connected to all living things.  Dance with life!


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Uma boa semana a começar já por esta segunda-feira.

Saúde. Boa disposição.

domingo, maio 30, 2021

100 anos de celebridade

 


Há uma coisa que sempre se ouve dizer: que o odor de um perfume depende da pele que o acolhe. Eu, por exemplo, não gosto de perfumes doces, parece que, em mim, o sinto enjoativo. Aliás, em mim e em toda a gente. Mas, lá esta, provavelmente o meu olfacto também difere do das outras pessoas pois não acredito que tanta gente use cheiros enjoativos sem que tal lhes agrade. 

Gosto de florais e cítricos. Sinto-os leves, frescos e agradáveis ao longo de todo o dia. Sou também muito sensível ao nome dos ingredientes e à poética da sua promoção. Por exemplo, se leio que contém tangerina de Marraquexe. lírios do deserto, bergamota colhida ao romper da aurora ou outras coisas assim (e estive a inventar porque não me apeteceu ir ler o descritivo dos perfumes de minha eleição) é certo que me deixaria tentar. Escrevo isto a pensar num tempo passado. Tenho perfumes que provavelmente durarão até ao fim dos meus dias (até porque em casa ou em ambiente informal não costumo perfumar-me), a menos que tenham prazo de validade inferior a cem anos.

A elegância dos frascos também não me deixa indiferente. Mas nâo é determinante: atrai-me mas é como os livros em que sentia, na outra vida, a necessidade de folhear antes de me decidir. Nos perfumes é idêntico, tenho que experimentar. 

Gosto de muitos perfumes e tenho uma certa hierarquia. Se, por exemplo, vou para reuniões no 'terreno', ambiente que me parece poder derrapar para a 'pesada', aí escolho um Lowe ou um Marc Jacobs, por exemplo. Parece uma coisa mais informal, menos comprometedora.

E isto em mim é recente. Recente de alguns anos. Até lá era sempre Chance para o dia a dia e Nº 5 para os momentos com o seu quê. Depois inverteu-se: Nº 5 para quase sempre e o Nº 19 ou o Cristalle ou o Chance para intercalar. Parece que, em mim, apenas os perfumes Chanel respeitavam a minha idiossincrasia. Até que comecei a experimentar e gostei. Tornei-me desleal na maior ligeireza. Talvez isto resulte de estar muito claro para mim que, por muitos que experimente, sempre voltarei ao Nº 5. Esse está num outro patamar. Intemporal, eterno.

E não é por mais nada: é que, em mim, ao longo do dia, o perfume se modifica e, na minha imodesta opinião, para melhor. Vai ficando subtil, íntimo, um cheirinho único que não identifico em mais ninguém mesmo se também o usam. 

Dizem que a principal característica do Nº 5 é que não se parece com nenhum outro nem fica parecido entre as mulheres que o usam.

Muitas vezes, quando o uso, chega-me um aroma tão especial, tão pessoal que me intriga como se transforma desde que o ponho até se tornar um perfume tão meu. Por vezes diziam-me que sabiam por onde eu andava porque ficava um suave perfume a flores no ar. Mas o Nº 5, ao longo do dia, não tem nada a ver com flores. Eu achava que tinha a ver comigo. Uma vez mais falo no passado pois, no último ano, nunca me pareceu que houvesse ocasião que o requeresse ou merecesse. Tenho destas coisas.

Um que trabalha na empresa de onde saí há cerca de um ano também usa um perfume característico, um Dior. Conheço-o há uns vinte anos e sempre o usou. Por vezes, eu chegava ao meu gabinete e parecia sentir o seu odor no átrio junto à entrada. Perguntava se ele lá tinha estado e diziam-me que sim, que tinha lá estado à minha procura.

O meu marido também usa o mesmo perfume desde que me lembro. Não quer outro. Põe muito pouco mas o seu cheiro é também inconfundível e muito bom. 

Pessoas que usam um mau perfume estão para mim ao mesmo nível das que dão pontapés na gramática ou das que não sabem estar à mesa. Sei que os bons perfumes são muito caros e ao alcance de não muitas bolsas. Mas um bom creme corporal ou um bom sabonete são preferíveis a perfumes vulgares que transmitem a sua vulgaridade a quem os usa.

Mantendo o glamour sofisticado da publicidade de sempre, em que se mistura romance, independência e um visão poética do mundo, a casa Chanel vem divulgando testemunhos pessoais, em que se sente aquela serenidade e respeito pela beleza, aquela quietude sofisticada, aquela simplicidade elegante que se tenta que seja também a imagem da marca, a imagem da obra de arte que veste uma mulher, revelando-a em todo o seu mistério.

Marion Cottillard é o rosto do Nº 5 para os atípicos dias de hoje. E eu gosto bastante de a ver nesse papel.

N°5, 100 Years of Celebrity


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Desejo-vos um feliz dia de domingo.
Saúde. Ânimo.

sábado, maio 29, 2021

Diário de uma coxinha

 



Só para dizer que não torci o pé, nem no passeio nem noutro lugar. Também não caí e também não me caiu nada em cima dele. Quer o enfermeiro da despistagem quer o médico olharam para mim a ver se detectavam algum segredo que eu estivesse a querer esconder. Quando fui fazer o rx, a senhora, vendo o estado do dito, voltou a fazer as mesmas perguntas. E eu nada, sem explicação. Pensei: deve ser isto que acontece quando alguém quer esconder um episódio de violência doméstica, querendo que não adivinhem mas percebendo que estão a suspeitar.

Lembrei-me de quando há mais de mil anos, num dia em que estava estafada e me reclinei no sofá da sala, a minha filha que deveria ter, se tanto, uns dois anos, ainda não existia o meu filho, pequenina, rolicinha, bem disposta, toda alegre, pegou numa peça das Loucas da Fábrica de Sant'Anna que estava numa mesinha ao lado do sofá, o lado onde eu tinha a cabeça, e, numa de brincadeira, a atirou ao ar. Felizmente não caiu ao chão, senão eu teria muita pena. Ainda lá está, sobrevivente, in heaven. Mas não caiu no chão porque me caiu em cima, em cima da cara, mais concretamente em cima do nariz. Tive uma dor violenta, daquelas dores em que as lágrimas involuntariamente escorrem, e o nariz imediatamente começou a inchar, especialmente entre os olhos. Num instante os próprios olhos estavam inchados e tudo negro. Parecia que tinha apanhado uma valente pera, acho que aquilo que se diz uma pera nos cornos. Aflita, aflita, cheia de dores no nariz, pensando que ele estava partido, lá fomos para o hospital. Quando lá chegámos, a pergunta e suspeição: 'Como é que isso aconteceu...?' e olhavam de lado para o meu marido. Quer eu, quer ele, dizíamos: 'Foi ela...'. Eles olhavam para ela, uma quase bebé, e dificilmente imaginariam como é que uma coisinha fofa daquelas poderia esmurrar-me a ponto de me deixar naquele estado. O meu marido explicava: 'Acertou-lhe com uma peça de louça'. E o olhar cada vez mais intrigado. Expliquei: 'Eu estava deitada...' Mas até ao fim, acho que ficou a suspeita. Já não me lembro bem o que deu o rx mas a verdade é que passei vergonhas, que aquilo custou a desparecer e toda a gente desconfiava da explicação. E o que doía...

Pois bem. O rx ao pé não detectou nada, nada nos ossos, nada nas articulações, mas as análises assinalaram uma inflamação cujo valor era mais do dobro do limite superior do intervalo. Mas essa indicação pouco acrescentou pois a inflamação estava (e está) patente: inchaço, um vermelho escuro, a pele lustrosa e quente. 

No fim, perante o rx e as análises, voltaram as questões: nada que explique isto? não se lembra de nada? uma entorse...?

Se, na altura, já soubesse, poderia ter respondido que talvez mas por simpatia, os efeitos sem ter havido a causa física. Mas não sabia pelo que me limitei a encolher os ombros.

Portanto, pé elástico, em cima de uma banqueta, gelo, analgésicos. Não pode haver carga, disseram. Sem problema, pensei. Há um par de canadianas cá em casa. Os miúdos gostam de andar a brincar com elas. Afinal não conseguimos ajustá-las, parece que desapareceu a peça que permitia rodar a parte de dentro para pô-las maiores ou mais pequenas. A ver se amanhã conseguimos passar por uma farmácia a ver se algum truque nos está a passar.

Portanto, o meu dia foi assim: reuniões, telefonemas e análises de documentos gigantes, mal estruturados e confusos sem a atenuante de poder andar enquanto telefono, sem caminhada à hora de almoço, sem tempo para respirar. Acontece que, de dia, não tomei o ben-u-ron e a dor começou a ser mais incomodativa. Ora uma pessoa com dores fica impaciente. Eu, pelo menos, fico. Provavelmente alguns dos meus interlocutores acharam que eram eles ou os seus assuntos que estavam a irritar-me e, afinal, era o pé a doer-me. Ainda por cima, estando inchado (na parte de cima do peito do pé, de lado a lado, e na ligação à parte da frente da perna), não consigo enfiar as sapatinhas que uso em casa. Portanto, às tantas estava também com frio nos pés, em especial no pé coxo. 

E depois há aquela coisa enervante. Vou buscar um copo de água e, como levo séculos a chegar à cozinha, levo o telemóvel não vá o diabo tecê-las. Quando regresso, instalo-me e... toca o telemóvel na cozinha... E lá vou eu outra vez, coxinha... Ou lembro-me que preciso de ver uma coisa e... a coisa está sempre longe de mim. Para não me fazer de inválida lá vou devagar, a arrastar o pé. O meu marido vê-me, fica fulo porque, segundo ele, gosto de me armar em valente... Um desatino.

Ou seja, é esta a triste descrição de um dia dolorido e sem história. 

Claro que, durante o dia, aconteceram mil coisas, algumas dos diabos. Mas são coisas que não são para aqui chamadas, Portanto, com vossa licença, fico-me por aqui. Vou descansar que esta semana não foi pera mole. 

E estamos quase a entrar em Junho, ou seja, no verão. Que aceleração do tempo é esta? Está a acontecer isto com toda a gente ou sou eu que ando distraída?

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Os lábios artísticos são obra de Andrea Reed e estão aqui para ouvir David Gilmour a interpretar Hickory Wind

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E não deixem de saber da mais recente novidade: 

a última vítima da vacina contra a Covid -- uma perda para a humanidade

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Um belo sábado.

E toca a saltar para festejarem a sorte de não estarem coxos...!

Última hora!
William Shakespeare morreu depois de ter levado a vacina COVID!
Uma perda irreparável para as letras.

 

A ver se o vídeo se consegue ver. Como não tenho conta twitter não sei se apanhando isto por aí, aqui o vídeo vai funcionar. Espero que sim. É do mais extraordinário que ultimamente tenho visto.

Transcrevo do Guardian: 

Bard timing: Argentinian TV reports death of Shakespeare after Covid jab

Newsreader confuses Bill Shakespeare, 81, ‘the first man to get the coronavirus vaccine’ with ‘one of the most important writers in the English language’

In what can only be described as a comedy of errors, an Argentinian TV news channel delivered a stunning, if slightly flawed, scoop on Thursday night when it reported that William Shakespeare, “one of the most important writers in the English language” had died five months after receiving the Covid vaccine.

The gaffe of, well, Shakespearean proportions happened after Noelia Novillo, a newsreader on Canal 26, mixed up the Bard with William “Bill” Shakespeare, an 81-year-old Warwickshire man who became the second person in the world to get the Pfizer vaccine. (...)


William Shakespeare died in 1616, while his namesake – an inpatient in the frailty ward at University hospital, Coventry, at the time of his first vaccination – died this week from a stroke unrelated to the jab. (...)

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Venham mais notícias destas, não necessariamente a ver com mortes. Podem também noticiar o nascimento de Jesus Cristo ou a ida de Gauguin para melhores climas agora que o desconfinamento está a acontecer. 

sexta-feira, maio 28, 2021

Boas maneiras à mesa

 

Não sou dada a grandes etiquetas nem sou muito preconceituosa. Contudo, há coisas que me custam a suportar. Pessoas que dão pontapés na gramática estão, à partida, fadadas ao insucesso junto de mim. Quem tem a pouca sorte de deixar sair um quaisqueres ou um faria-se ou um haviam vezes é como se fosse direitinho para a casa de partida e já de lá não conseguisse sair.

À mesa também há coisas que me custam muito a suportar. Disfarço, faço de conta que nem reparo, forço-me a relevar. Mas, dentro de mim, a coisa fica complicada.

Uma das que me custam é quando, em ambiente não estritamente caseiro, alguém se senta à mesa, se serve e, sem olhar para o lado, começa a comer. Não lhe ocorre que os outros ainda não se serviram e, que obviamente, nem pensar pôr-se a comer antes dos outros. É preciso a pessoa ser um narcisista do pior que há, ter qualquer coisa de autismo ou, simplesmente, ser um mal educado da pior espécie para fazer tal coisa. Pior ainda, claro, se não estiver em sua própria casa.

É certo que, quando a refeição é volante ou em regime de self-service, não é preciso esperar que a pessoa certa dê o sinal de partida. Mas, entre isso e marimbar-se para a dinâmica do grupo e sentar-se no seu canto a comer como se estivesse sozinho, vai uma grande diferença.

Outra que me deixa a pensar de lado na pessoa (e falo em 'pensar' e não 'olhar' pois a boa educação obriga-me a fazer de conta que não vejo) é quando alguém, acabando a refeição, dobra o guardanapo usado muito dobradinho e o coloca ao lado do prato. Qual será a ideia? Fazer de conta que não o usou..? 

Uma que é também uma lástima é quando algumas pessoas que querem fazer-se muito apreciadoras de vinho pegam no copo segurando-o na parte bojuda e não no pé. Não lhes ocorre que o pé do copo tem uma função? 

E já nem falo nas pessoas que se encostam completamente à mesa, debruçando-se sobre o prato, esquecendo-se da regra básica de que é a comida que vai à boca e não a boca que vai à comida. Também nem vale a pena falar dos infelizes que enfiam a faca na boca, esses, coitados, parece que estão mesmo a pedi-las.

E há ainda outra que me tira do sério: quando alguém, tipo marrãozinho, notoriamente um wannabe. decora as regras todas e está à mesa a querer exibir o que acabou de aprender, sem naturalidade, preocupado em que os outros percebam que leva os ensinamentos à risca. Geralmente, ficar com uma pessoa dessas na mesa é um desastre: são uns chatos, não dão uma para a caixa, não têm uma ideia na cabeça, só estão focados em fazer boa figura.

Estar à mesa tem que ser uma coisa natural, em que a boa educação não atrapalha. Pelo contrário, as boas maneiras facilitam a vida a toda a gente.

Jamila Musayeva, de uma maneira muito simples, percorre as regras mais básicas para se estar bem à mesa (e, não menos importante, para pôr bem a mesa). Gostei de ver e é com gosto que aqui partilho este vídeo convosco.

Dining Etiquette: how to master the basic table manners



E nada de sorrisinhos maliciosos a achar que isto não interessa para nada. Interessa, sim senhores.


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Dias felizes.
Saúde. Boas paparocas. Sorrisos.

quinta-feira, maio 27, 2021

Será que é desta que isto vai sem título...?

 



Foi um dia muito atípico, em parte por razões minhas que agora não vêm ao caso. Felizmente o pé parece que está melhor. Digo que parece porque não vá o diabo tecê-las. Nestas coisas estou a tornar-me supersticiosa: não gosto de dizer que estou bem antes de ter a certeza que estou. Cantar de galo parece que atrai. Às vezes calha-me festejar: há já montes de tempo que não tenho nenhuma tendinite. Pois é certo e sabido que nessa noite ou no dia seguinte estou com uma. Não sei o que é isto mas, por via das dúvidas, faço por manter reserva.


Mas o dia teve diversas componentes com deslocações pelo meio, algum nervoso miudinho e, a seguir, alívio.  Ao fim da tarde, uma reunião para a qual fui descontraída. Contudo, ao chegar, faltava o colega que ia acompanhar-me. Sem grande confiança com os outros três, para ali estive a alimentar conversa de circunstância, sem saber o que tinha acontecido ao outro. Finalmente, chegou. E, então, aconteceu o imprevisto: um dos outros tinha um ego maior do que um elefante e o que ia comigo começou a deixar-se picar. Às tantas, a coisa desandou, um a falar alto, outro a dar mostras de não querer ficar-se atrás, um a querer fazer-se ouvir e o outro a querer falar por cima, um a teimar e o outro a dizer que ele estava a ver mal as coisas. Um crescendo. Ao assistir àquilo ocorreu-me: mas porque é que tenho que estar a aturar isto? E pensei: e se disser que, por mim, a reunião acaba aqui? Imaginei a surpresa que se abateria sobre eles e o conflito 'diplomático' que iria causar. Não, acabar a reunião, não poderia ser. Mas fiquei, durante um bocado, a pensar que alguma coisa tinha que fazer. E fiz. Ouvi-me a falar em tom seco, a pôr ordem na mesa, a passar por cima da briga que estava ali a armar-se. Calaram-se, ouviram-me. Quando acordámos nos próximos passos, acabei a reunião um bocado abruptamente. Vi que ficaram como que atrapalhados com a forma como atalhei a conversa e terminei a reunião. Estava francamente impaciente. Há pessoas que têm o dom de levar o seu feitiozinho pessoal para ambientes em que o que interessa é de ordem profissional, criando um desnecessário mau ambiente. E há os que se deixam picar e acham que devem dar o troco, quando tudo é escusado e desconfortável. Isto acontece sobretudo com homens. Nestas circunstâncias, achando-se os maiores, são, na prática, uns bobalhões.

A reunião durou mais do dobro do tempo previsto para chegarmos a conclusões a que poderíamos ter chegado ao fim de meia hora. 


Durante a reunião, recebi duas chamadas uma das quais de alguém que queria comentar comigo a reunião da véspera. Começa a estar impaciente e a perceber a minha impaciência. Disse-me: não estou disponível para ter reuniões daquelas em que aqueles dois não abrem a boca. Disse-lhe: concordo, mas o que podemos fazer? Ele, furioso: não sei mas alguma coisa temos que fazer. Está na altura de uma remodelação ministerial e aqueles vão borda fora. Fiquei calada. Num mundo ideal, seria o aconselhável. Mas, num mundo real, não sei como. E o que for terá implicações e provavelmente não muito agradáveis. 

Estas coisas, de tão permanentes e intensas, por vezes abatem-se sobre mim como uma carga pesada demais. Mas depois vem outro dia e depois outro e outro. E, assim, os dias vão passando.


Ao início da tarde, acabada de chegar da rua e de ter tomado banho, já a correr para a primeira reunião da tarde, ouço tocar furiosamente à porta. Fui ver. Era dos CTT. Uma caixa na mão e o meu nome gritado do portão. Confirmei. Eram os livros e o sabonete. Só quando cheguei a casa é que reparei que não tinha posto máscara. Mas, enfim, foi na rua e o senhor estava de máscara. 

Levei o sabonete e coloquei-o numa mesinha pequenina que está ao lado da pequena secretária onde faço as minhas reuniões. Assim, agora, quando estiver a ouvir discutir, a aturar chatos ou troca-tintas, estarei a sentir o cheirinho bom do sabonete. Amanhã a ver se vejo a composição para perceber de onde vem aquele perfume tão fresquinho e tão inocente.


Há bocado, ao fazer uma tangente à parte final de um noticiário, ouvi que hoje é daquelas luas grandes e ensanguentadas, ainda por cima, a jogar às escondidas com os lunáticos. Fui lá fora. O jardim às escuras, apenas com as pequenas luzes dos muros, fica meio misterioso. Há sombras, há segredos.

Não a descobri. Ainda pensei dar a volta à casa a ver se estaria do outro lado mas temi acordar os pássaros e sobretudo temi que, se eles se soltassem das árvores, apanhasse eu um susto dos grandes. Os pássaros dormem no interior das copas das árvores, nas conchinhas dos troncos, não é? Não sei mas imagino que sim.

No outro dia estava a espreitar para dentro da cameleira a ver se ainda havia por lá restos de flores. Como sempre, ando em silêncio. Quando afastei um ramo para ver melhor, um súbito e violento adejar, toda a folhagem a acompanhar o susto dos pássaros, eu a quase dar um salto para trás. Nessas alturas arrepio-me toda. Já deveria saber que são pássaros e que os pássaros são inofensivos mas assusto-me como se houvesse o risco de sair de lá um monstro. Uma irracionalidade.


E agora estou a ver o House, um dos pontos altos destes meus dias. Gosto de ver a inteligência materializada. É estimulante. 

Tendo a perdoar a insolência à conta da inteligência. É um dos meus pontos fracos. Ponham-me um inteligente pela frente e tenderei a perdoar-lhe tudo. Ponham-me um burro ou um parvo e não lhe tolerarei nem a respiração. 

Mas adiante que se faz tarde.

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Querem ver este vídeo? 
Quando aqui chego ponho-me a ver coisas assim e também me sinto muito bem


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Eu que, enquanto andava na escola, odiava botânica (que está para a natureza como a gramática está para a literatura) agora maravilho-me com tudo o que seja planta. Obtive as fotografias num artigo sobre Botanical Wonders

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Dias felizes

quarta-feira, maio 26, 2021

O que é preciso para termos um dia bom?

 



No domingo passado olhei para a agenda desta semana e pensei que a semana ia ser mais calma. Afinal surgiram marcações diversas, incontornáveis, que se juntaram a outras minhas e o final acabou por sair sobrecarregado.

Hoje, em cima disto, apareci com uma dor num pé que não sei a que propósito veio. Deitei-me bem e acordei assim. Como geralmente durmo o sono dos justos, uma verdadeira pedra, não sei se estive horas a dormir em cima de um pé mal posto. O que sei é que não fui fazer a minha caminhada da hora do almoço. Agora estou com gelo. Ao fim do dia, enquanto telefonava, estive a andar lá fora mas devagar e a coxear. Coisa bonita, esta. 

E, agora aqui no sofá, voltei ao mesmo de ontem. Talvez devido ao conforto que o gelo proporciona, sentei-me e logo adormeci. 

No fim de semana não deu para descansar. No sábado fomos ao campo e não foi obra mole. Esta semana entrámos em pinturas. Para meu desgosto vamos mesmo manter as paredes rugosas. O pintor disse-me no outro dia: uns a quererem pôr as paredes assim, para darem um ar rústico, e a senhora a querer pô-las lisas. Pois é. A única pessoa que encontrámos que poderia fazê-lo, tentou tudo para me dissuadir e, no fim, nem orçamento apresentou. Os meus filhos e o meu marido não desgostam de as ver assim. O meu filho, então, achava um verdadeiro disparate metermo-nos num trabalho tão difícil para um resultado tão pouco diferenciado. Acabei por desistir, claro. 

Mas, para além das paredes pintadinhas de novo, todas as portas vão ficar branquinhas. Os tectos de madeira da zona mais antiga também vão ficar brancos. Perguntei ao senhor, que é uma simpatia, se poderia pintar também o aparador da sala de jantar e a cómoda e as duas mesas de cabeceira do meu quarto. Torceu-se todo, que é muito trabalho, que não lhe rende. O meu marido avisou-o: 'ela é sempre assim, começa com uma coisa mas depois não pára...'. Ao ouvir isso, o senhor deve ter tido pena de mim e disse: 'depois trago o mostruário das cores'. Portanto, se calhar vai mesmo adiante.

As janelas também serão novas e espero que, para além do conforto, fique tudo muito mais claro e bonito.

Os tapetes de arraiolos que fiz, com o generoso colorido da época, réplicas tão exactas quanto possível, provavelmente vão para a tal zona mais antiga da casa, a que tem as mezzanines e escadas em pedra. E, para a sala de jantar e de estar, a que há quem chame sala-comum, que é também, entre nós, chamada por sala da lareira, a ver se arranjo tapetes claros. Tenho muitas ideias e estou desejando pô-las em prática. Fecho os olhos e imagino-me lá, rodeada de luz e de paz. A minha filha enviou-me links para tapetes claros muito bonitos. Se for adiante com aquela mesa em branco patinado e tampo em carvalho cerusado que ando a namorar e se sempre pintarmos o aparador num cinza mate muito claro, acho que ficará bonito. Penso que toda a casa ficará ainda mais luminosa do que já é. 

Só gostaria de ter tempo para me atirar a vários outros móveis que lá tenho. Já vi umas latas de spray em lindas cores em tons pastel a matizar o branco. Há brancos de todas as cores. Tenho vontade de experimentar. Aquele frisson gostoso que sentia quando começava a pintar um quadro, sinto-o agora quando me ponho a pensar nisto e a imaginar-me a pintar alguns dos meus móveis.

No sábado retirámos e arrumámos as últimas coisas, as últimas roupas, os últimos quadros. O estúdio está cheio que nem um ovo. Com a casa quase vazia, só móveis, parte deles afastados das paredes, fiz uma limpeza. O meu marido achou um disparate: diz que a casa precisará de limpeza depois das pinturas, não antes. Mas faz-me impressão que alguém esteja em minha casa e a veja com algum cotão à vista. 

Mas, com isto, vim cansada. Salvou-me o geladão de que já falei

No domingo, vieram todos cá para casa. Não me canso de os cá ter. Todos: grandes, pequenos e a minha mãe que fomos buscar e levar à noite. O meu marido não estava tão convencido. Dizia que precisava de descansar e que queria ver a final da Taça (ou lá o que era). Mas depois também fica feliz. Já se sabe que é sempre aquela festa, aquelas brincadeiras, conversas, lanches reforçados. Estava vento e fazemos questão de estar na rua e isso foi o pior. Só a minha mãe é que está vacinada. Por isso, há que ter cuidado. Tivemos que nos agasalhar, claro. 

A minha mãe até andou de baloiço. Diz que quando cá está, ainda por cima a andar de baloiço, lhe parece que está num espaço zen. 

Mas, com isto, a verdade é que não consegui descansar. Às vezes sinto que uma sestazinha me cura de cansaços pretéritos e me previne de cansaços futuros. Mas não deu. Claro que foi infinitamente melhor assim. Gosto tanto de estar com eles. Acho que, para os meninos, o estarem juntos, na brincadeira, em total liberdade, é uma grande felicidade. E eu também sinto uma felicidade imensa na companhia de todos deles.

A minha mãe tricotou uma blusinha de fio fininho para a minha filha. Trouxe-a e fica-lhe lindamente. Nem a provou enquanto estava a ser feita. Apesar disso, assenta-lhe como uma luva e tem umas cores que lhe ficam mesmo bem. Vai fazer uma igual para a bisneta que, logo ali, provou a da tia para a minha mãe calcular as malhas que terá que retirar. Estava-lhe quase boa. 

Com as aulas na universidade sénior, com as suas caminhadas, com os seus tricots e com as suas leituras, a minha mãe está sempre ocupada. Ninguém diz a idade que tem, nem pelo aspecto físico nem pela energia e total independência que tem. Espero que os seus bons genes cheguem ainda melhores a toda a descendência. 

Tirando isso, estamos quase a entrar no verão. A nespereira grande está carregada e não temos como lá chegar. A romãzeira está a ficar com as suas belas florzinhas carnudas. Todas as flores estão a abrir em toda a sua alegria. Há pássaros por todo o lado. 

Pensando bem, isto pode ser uma caminhada feliz.


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As fotografias foram feitas aqui em casa  e vêm aqui na companhia de Lascia ch'io pianga (da ópera Rinaldo de Händel), com as Voices of Music e com Kirsten Blaise como soprano

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E antes de me ir, deixem que partilhe convosco um vídeo que achei muito bonito com um encantador de falcões.


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Gostava que todas pessoas do mundo pudessem ficar felizes a ver as flores a romperem a caminho da luz e do verão. Mas esse é um desejo para as misses dos concursos de beleza. No mundo real há guerra, terrorismo, raptos, ameaças, refugiados que arriscam a vida na esperança de dias melhores, que entregam os filhos ao desconhecido e a todos os riscos do mundo certos que o desconhecido será melhor do que a miséria e o medo em que vivem. No mundo real há mesquinhez, maldade. Há secas, vírus, poluição. Há doenças e sofrimento. Sei de tudo isso. Mas como também há coragem e valentia e beleza e generosidade, pode ser que, no cômputo geral, valha a pena.

Um dia bom para si que está aí a ouvir-me a respirar.

terça-feira, maio 25, 2021

Hoje não dá para escrever à vontade. Muito menos à vontadinha

 



Se calhar, aos poucos, começo a dar mostras de querer reentrar naquilo a que quem goste de aspas poderá chamar, com dedinhos circunflexos ao lado, o velho normal.

No sábado, reincidi: haveria de voltar tentar o melhor gelado de Lisboa. E à tardinha lá fomos: duas big balls, uma de chocolate e laranja e outra de arroz doce. Ao compor o exagero, a menina perguntou: 'Canela?' e eu, sem pensar, 'sim, pode ser'. Se me tivesse perguntado se queria nozes, pinhões, passas, rum, lascas de banana, pedaços de abacate caramelizado, whatever... a tudo teria dito que sim. Tudo de que estive privada nos últimos tempos. Consolei-me. Coisa mais boa.

Hoje tinha um sms a anunciar uma promoção da Fnac. Durante o novo normal (e toca a coçar os dedinhos no ar para fazer as aspinhas) bem poderiam chover promoções de tudo e mais alguma coisa: a nada prestava atenção, tinha a alma fechada ao consumo. Hoje não: hoje fui espreitar e sabia que ia predisposta ao vício. Encomendei cinco livros e, para rematar, ainda aceitei o gift por 1€. Escolhi um sabonete literário. Não o usarei para lavagens mas, se cheirar bem, para pôr algures no quarto. Um quarto com cheirinho a sabonete parece-me o suprassumo da leveza lavadinha.

Mas o pior da minha recaída nem foi isso: no outro dia fui trabalhar presencialmente. Cheguei a casa mais cedo do que antes chegava. Presencialmente não trabalho tanto. As pessoas vêm conversar, querem saber coisas, dar opiniões, falam, falam. Mostro-me disponível mas, por dentro, contabilizo a improdutividade. Em casa, é trabalho de seguidinha. Vim, portanto, mais cedo. Pensei: vou para casa, pôr o trabalho em dia. Mas, a caminho, ao passar pelo supermercado, deu-me vontade de ir olhar para as prateleiras, com tempo, sem ninguém a puxar por mim. Então, trouxe três vasinhos com suculentas e, não contente com isso, vi uma blusinha na promoção do dia que me pareceu um graça: algodão alinhado em verde azeitona. 7,99€. Tentei repescar o raciocínio do último ano e picos: 'Preciso?'. No 'novo normal' dir-me-ia 'Claro que não'. Mas agora a resposta foi: 'Que se lixe'. E trouxe a blusinha. E, no parapeito do escritório, tenho os vasinhos. O meu marido, quando chegou, ficou passado. Flores no parapeito..., coisa mais insólita.

A semana, uma vez mais, está sobrecarregada. Só que desta vez, aos trabalhos do costume, juntei outros que agora não vêm ao caso. 

Há bocado, ao sentar-me aqui, adormeci. Tiro e queda. Isto resulta de ter acordado com um telefonema que me obrigou a puxar pelo raciocínio quando os neurónios ainda estavam em posição fetal, sonhando com coisas boas. Todo o santo dia o sono me agarrou pelas pálpebras, puxando-me para o descanso, para a horizontalidade. 

Por isso, agora estou aqui que não posso. Há os que não me compreendem e, quando lêem isto, saltam para o meio da rua, mão na anca, para me gritar: mas, ó mulher!, então porque é que escreve? E eu dou a resposta de sempre: porque sim, porque gosto, porque me descansa a cabeça, porque os dedos gostam de dançar sobre o teclado mesmo quando os olhos já dormem.

Queria escrever uma coisa toda pipi, toda misógina, mas o tema puxava para o meu lado may west e isso não é compaginável com a pancada de sono com que estou. Mas me aguardem que guardado está o bocado para quem o há-de comer.

Ao fim do dia, enquanto andava a telefonar à minha filha e à minha mãe, tirei fotografias em especial aos brincos de princesa que adejavam ao sabor do vento. 

Andam todos poéticos por aí e eu estava também a pensar que haveria de homenageá-los, em especial por um dos mais belos textos que ultimamente tenho lido. Cécias, o vento. Uma maravilha, uma maravilha. Já para não falar de quem, homenageando a repórter da natureza, teceu mais uma das suas múltiplas belas peças em que se adivinha o rasto da sua perdida penélope. E fotografei umas flores lindas que apareceram do dia para a noite para oferecer a quem ousa despedir-se da sua darling, deixando um rasto de decepção, um caminho que parece manchado de sangue.

Mas hoje não é o dia para nada disso. Ainda por cima, recebi há pouco um mail que me deixou verde. Verde no mau sentido, claro. Tive vontade de soltar os cachorros, de partir a louça, de bater com a porta. E só pensei: misógina o escambau, deveria era arranjar uma mulher para o lugar dele. Uma mulher pode ser pérfida ou burra mas tem sempre os pés na terra e mãos para amassar a massa. Quando um homem é burro é mil vezes pior, é um atraso de vida. Mil vezes o tenho dito: se mais mulheres houvesse em lugares de poder, o mundo seria outro, muito melhor. Os homens, se são poucachinhos, não atam nem desatam, mastigam mas não engolem, não dançam nem saem na pista, não procriam nem saem de cima. Um castigo. Este que me enviou o mail que me tirou do sério é daqueles que mesmo que se fossem dez iguais a ele fariam dez vezes menos do que uma só mulher, fosse ela como fosse.

Portanto, apesar das minhas boas intenções, deixo as boas ideias para um dia em que consigam espraiar-se à vontade e à vontadinha. Hoje, agora, vou mas é pregar para outra freguesia.


Fui

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Ilustrações de CarrieAnn Truitt na companhia de Stacey Kent com How insensitive

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Um dia bom

segunda-feira, maio 24, 2021

Dia grande no Um Jeito Manso:

presentes da Sta. UJM para os devotos da Serva-Mor, para a própria Serva (a célebre Agente também conhecida por Ministra dos Porquinhos), para os assim-assim e para todos.

Ámen

 

Diz o Víctor que sou dada a tendências ocultas e eu, como forma de recompensa por ele ter conseguido descobrir um segredo que trazia tão bem escondido há tanto tempo, acho que tenho que aqui atribuir-lhe um presente. Isto, claro, porque, devido ao confinamento, não posso organizar a cerimónia que estava planeada para festejar o grande momento. Não fora o corona e teríamos o Pavilhão de Portugal à pinha para a atribuição da medalha ao Leitor que primeiro descobrisse o tão bem guardado segredo.

Mas o corona ainda não deu as desejadas tréguas totais e, portanto, os festejos têm que ser aqui mesmo.

Assim, não é a gold medal que aqui tenho para lhe oferecer, fantástico e veloz Seco Gaspar, mas é um vídeo feito em sua homenagem por ser o mais rápido dos Leitores a descobrir o meu grande segredo: "a UJM tem tendências ocultas". 

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Para o Paulo B por quem tenho grande apreço, que tem um sangue na guelra que dá gosto e que vibra com a vontade de fazer justiça (nem que seja às mãos da Agente Mortágua) e que, ao mesmo tempo, tem um gosto invulgar e exigente pelas artes do espectáculo e pelo reino do absurdo e extraordinário, iria a medalha de prata. Como não há como, aqui deixo um apontamento de circo que espero que receba com um sorriso equivalente ao que tenho ao dedicar-lho. E espero que a vida e as suas agruras não lhe retirem a energia tão boa que a sua juventude põe em destaque. Este presente, que vai em vez da medalha, seria entregue com um abraço ao bravíssimo Paulo B. 


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O ilustríssimo P. Rufino, ultimamente, de cada vez que aqui vem e lê qualquer coisa de menos abonatório para a sua guru, a Agente Mortágua, não apenas fica tão enraivecido por eu o tirar do sério que fica totalmente descontrolado como todas as suas entranhas se reviram de tal maneira que não consegue evitar as náuseas. Para ele, iria a medalha do servo mais devoto da Serva-Mor mas, não podendo eu agraciá-lo com a devida pompa e circunstância, deixo-lhe um pequeno filme com a Maggie, outra bacana que padece do mesmo mal, o de não conseguir controlar as náuseas em público. 

Mas o vídeo tem um outro propósito: o de lhe dar esperança. Se a Maggie volta e meia dava estes tristes e embaraçosos espectáculos, a verdade é que conseguiu recuperar-se. Vejo-a agora transformada em David Walliams e em grande forma. É agora um homem simpático, cortês, bem disposto. Ponha os olhos nele, P.Rufino. Acredito que também conseguirá regenerar-se.


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Para o grande João a quem nada escapa, que tudo conhece e que denuncia tudo o que se passa aqui e além mar, desde as cabeças de cavalo até aos betolas com cabelinho à f...-se e caquinha na cabeça, e que obviamente merece todas as medalhas -- ouro, prata, bronze ou cortiça -- não tenho presente à altura. Na sua arca já residem todos os tesouros do mundo, nomeadamente as melhores músicas, as melhores vozes, as melhores interpretações, as melhores histórias. 

Por isso, o que aqui lhe ofereço mais não é do que uma tentativa de lhe dizer que muito sinceramente acho que, apesar de todas as divergências, importa a gente relativizar, divertir-se, improvisar, não levar muito a sério o que não passa de espuma. Somos efémeros. Apenas a arte é eterna.

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E para o VN que queria que eu contasse mais uma história envolvendo a Serva-Mor tenho a dizer que ainda não é desta. Este blog, como é sabido, é um blog de família e as histórias que envolvem a personagem seriam mais dadas à bolinha encarnada ao canto do ecrã do que a serem lidas pelos inocentes que frequentam esta casa. Portanto, só se um dia eu estiver tão a dormir que perca toda a censura interna... Só posso adiantar que acho que a Serva-Mor, para melhor compor a personagem, quando inquire os seus suspeitos deveria apresentar-se a preceito, quiçá com um hábito como o da pura Madre-Superiora que aqui almoça com o João de Deus.


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E ainda tenho aqui uma coisa para outra pessoa, alguém que é todos e nenhum, mil nomes, mil personalidades, alguém que paira por aí, que aparece e desaparece, que é assim e assado, poético e prosaico, quase normal umas vezes e muito malvado outras, erudito e ignorante, humano e desumano, absurdo e racional, consistente e inconsistente. Para ele, o chameleon man, aqui vai um vídeo com um dos seus alter-egos. Não é um presente, não é um bye, não é um smile, não é nada: é apenas uma forma de reconhecimento. Estamos cá. Há coisas que não se explicam e esta é uma delas.


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Para a Serva-Mor, a intragável e temível Agente Mortágua, a inquisidora que passa a pente fino os freaks do regime, vai o prémio de honra, um que aqui chegou pela mão do Paulo B., sempre inteligente e oportuno, a quem agradeço a lembrança pois a verdade é que, no meio de tanta generosidade, estava a esquecer-me de presentear justamente a inspiradora de toda a esta série.

Ei-la aqui, em versão loura e glamour, a estragar a festa a um grupo de pândegos. Mas, como sempre, a estragar é como quem diz pois na sala ao lado ou no dia seguinte, a festa prosseguirá. Mas, ok, não estou para tretas, estou mesmo é para me divertir, para ser uma mãos largas e distribuir presentes à direita e à esquerda. 

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E para todos e para todas os que aqui me acompanham, para os que riem e para os que choram, os que rangem os dentes e os que batem o pé, os que têm fair play e os que atiram pratos à parede, para os que acham tudo muito grave e para os que se estão a marimbar, para todos, aqui vai o meu convite: bora lá furar o esquema e dançar?


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Desejo-vos uma boa semana
Saúde. Alegria.

domingo, maio 23, 2021

Mariana, a Mortágua que Louçã gostava de ter como Ministra dos Porquinhos, e as suas bizarras Comissões de Inquérito em que se inquirem clientes de empresas privadas.

[E o comentário de MPDAguiar]

 



Há coisas que sabemos que não estão bem. Por exemplo, uma pessoa ir no carro e, esquecida que aquilo é um habitáculo envidraçado, pôr-se a tirar macacos do nariz é do mais embaraçoso e censurável que há. Alguém dizer quaisqueres é muito mau. Dizer há-dem também. Dar puns num local público não é lá muito bem-educado. Comer ruidosas pipocas no cinema é igualmente mau. De cuspir para o chão, então, nem se fala. Roubar creme anti-rugas na farmácia ou chocolate no supermercado, uma vergonha. Entrar à cara podre numa fila de trânsito, muito reprovável. Estacionar em segunda fila, impedindo os outros carros de saírem, é um abuso. Um homem coçar as partes pudibundas em público ou levantar a perna de lado como se estivesse com os pelos púbicos presos no elástico das cuecas também é altamente desagradável, especialmente para quem assiste e tem que fingir que não está a ver.

Tudo coisas que, pensando bem, deveriam merecer não apenas veemente censura pública como é óbvio que os seus autores estão mesmo a pedir para ser expostos debaixo dos holofotes e à frente das câmaras da televisão para levarem um valente aperto da Agente Mortágua. 

Tanta coisa a saber:

não pensou no que fazia, quando fez? 

quando é que disse? 

porque é que disse? 

ao pé de quem é que  disse? 

quando fez? 

onde fez? 

não viu que não devia fazer? 

desde quando faz? 

nunca ninguém lhe disse para não fazer? 

esqueceu-se? esqueceu-se como...? 

Claro que haverá uma ou outra ujm, os desmancha-prazeres desta vida, que dirão que a Assembleia da República não é lugar para inquirir sobre aqueles temas -- mas é certo e sabido que logo saltarão para a arena os que acerrimamente dirão que ora essa, que é ali mesmo, que é bom que saibamos quem são os espertalhões, os relapsos, os trapalhões, os porcalhões, que assim, quando os virmos por aí, já saberemos do que são capazes.

Mas eu -- lamento dizê-lo -- não concordo. 

Acho que à política o que é da política, à justiça o que é da justiça, à escola o que é da escola, à psicologia o que é da psicologia. E etc. Acho que quando aceitamos que haja uma entidade que se sinta acima de tudo e de todos e ultrapasse toda a separação de poderes e saberes para que, do alto da sua cátedra, julgue e condene tudo e todos, estamos a abrir a porta a poderes ditatoriais e, talvez sem nos darmos conta, a minar a democracia e, en passant, a estender a passadeira a todos os populismos.

A propósito do que escrevi sobre a inquisidora Mortágua, o Leitor MPDAguiar deixou o seu comentário que eu não apenas agradeço como vou permitir-me repescá-lo para o corpo aqui do blog.

E faço-o por uma razão muito simples: acredito que não basta a gente, segundo os nossos próprios princípios, achar que uma pessoa não agiu da forma mais correcta, seja em que vertente da sua vida for, para aceitarmos que uma qualquer pessoa, sem que nada a autorize a tal, se arme em justiceira, inquisidora, polícia de costumes, e, de forma castigadora, sujeite o outro a interrogatório público, a pressão, a humilhação.

Cada um deve responder pelos seus actos mas deve fazê-lo nos termos e nos locais em que a legislação o determine e não conforme nos passe pela cabeça.

Por exemplo. Um banco é uma instituição financeira, no caso uma empresa privada, que tem gestores. Os gestores respondem em última análise perante os accionistas. A gestão é auditada por entidades independentes. E há depois as entidades reguladoras.

No BES falharam algumas coisas, quiçá algumas bastante graves. Provavelmente falhou a política de crédito, provavelmente falhou a gestão de risco, provavelmente falhou a gestão de topo no seu todo. E falharam as empresas que auditaram as contas e a gestão. Falhou a CMVM e falhou sobretudo o Banco de Portugal. E falhou Cavaco que incentivou à participação popular no aumento de capital numa altura em que os sinais de alarme já tinham disparado. E falhou, de novo, o Banco de Portugal e falhou o Governo de Passos Coelho ao partir para uma suicidária resolução do banco que, mal feita e nunca antes testada, só poderia conduzir ao buraco que se viu.

Os gestores levarem uma empresa para a beira de um precipício não é inédito, acontece quase a toda a hora. Contudo, a quase totalidade das situações de crédito malparado, de incumprimentos, de insolvência, passa à margem da política -- e é natural que assim seja. 

Passa para dentro da esfera política quando está em causa um dos grandes pilares financeiros do país e, sobretudo, quando todos os reguladores e poderes que poderiam e deveriam agir estavam entregues a nabos, a totós, a nódoas que nada fizeram e que, quando finalmente agiram, foi para fazer porcaria. E passa quando o poder político chama o zé-povo a tapar o buraco.

E, aí chegados, haveria que perceber o que falhou tão estrondosamente. Era a altura da política agarrar o assunto. Muitas questões sobre as quais reflectir e decidir. Muitas. Infelizmente, aos dias de hoje, grande parte ainda sem resposta.

- Como é que ninguém deu por nada, desde os auditores aos reguladores? 

- Os mecanismos que usam são os mais adequados? 

- E como é que um grupo de ignorantes encartados chefiados por um desqualificado láparo  tem margem de manobra para, na maior leviandade, fazer a resolução de um banco daquela dimensão sem que o regulador os tenha obrigado a pensar duas vezes antes de atirarem tudo o que estava envolvido, e era muito, precipício abaixo?

- Que cenários foram estudados pelo Governo e pelo Banco de Portugal? Que estudos de impacto foram feitos? Mostrem-nos. Ou nem se lembraram de os fazer...? Ou fizeram-nos e estavam todos errados?

Isso, sim, deveria ter sido percebido pelos deputados. E não para causar um festival público mas para ver como impedir que um desastre destes pudesse ter acontecido sem que antes houvesse mecanismos de prevenção que tivessem actuado. Isso, sim, tem que ser percebido.

- Como são feitas as auditorias? Quem audita as auditorias?

- Para que serve o Banco de Portugal se não dá conta de nada? Quem vigia o que faz (ou não faz...) o Banco de Portugal?

- O que foi feito, desde então, para garantir que não volta a acontecer? 

Isto é o que interessa. E interessa para que possamos estar descansados de que isto não volta a acontecer.

O resto é puro carnaval. É poeira. É circo pour épater les bourgeois.

Se o banco emprestou dinheiro sem exigir garantias suficientes, a culpa não é do cliente, seja quem for o cliente. Se o cliente deu como garantias bens que não eram sólidos, a responsabilidade é da gestão de crédito e da gestão de risco do banco e das auditorias e dos reguladores que não exerceram as suas funções. Não é um tema político.

(Nota: E caso se suspeite que os fanfarrões que por aí andam e andaram com a boca cheia de empreendedorismo, todos cagões a darem lições de liberalismo, não passam de uns chico-espertos então que a comunicação social faça o seu papel -- a comunicação social, não a Assembleia da República.

E se o cliente, seja ele quem for, faltou às suas obrigações de forma fraudulenta, então estamos perante um caso de polícia e aí a coisa deve passar para o patamar judicial -- não para o político!)

Os deputados estarem a chamar clientes de uma empresa privada é de uma estupidez sem precedentes. Está a entrar-se num registo pidesco. Digo-o com todas as letras: pidesco. 

E isso é muito perigoso. E tanto mais perigoso quanto parte da população acha bem que isso aconteça.

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Mas passo, então, à transcrição do comentário do MPDAguiar 

Nos termos da lei 5/93 os inquéritos parlamentares têm por função vigiar pelo cumprimento da Constituição e das leis e apreciar os actos do Governo e da Administração. 

Ora, se bem entendi o post da UMJ, ela insurge-se contra o facto de a deputada Mariana Mortágua parecer empenhada em apurar, por exemplo, quanto é que LFV (ou o NV) devia ao BES, e como conseguiu que lhe emprestassem dinheiro (BES sociedade de direito privado, e com accionistas privados, note-se), e que garantias deu, e para que serviu o dinheiro, e porque não pagou ( fazendo-o para mais com uma cara e uns modos de directora de escola primária dos anos 40 a tratar com alunos relapsos) em vez de se empenhar em saber porque razão é que o BES foi objecto de resolução em 2014 (Passos Coelho PM) antes da directiva DRRB. 

Isso é que era! e já agora, também seria interessante que a senhora deputada procurasse saber porque razão o então PR se arvorou em garante do BES e da tutela do BP sobre o mesmo, e porque razão causaria alegadamente tanto dano ao sistema financeiro deixar o BES falir (afinal na Islândia faliram diversos bancos e a ilha não se afundou...), e já agora, porque não foi assegurado um mecanismo de controle público sobre determinadas decisões (prémios aos gestores, por o banco "conseguir" ter prejuízos, p.ex.), em contrapartida dos "empréstimos públicos" (Costa dixit). 

O estilo Mortáguas/Martins é insofrível, e o único consolo é que de vez em quando levam um banho de humildade quando lhes cai em cima um caso Ricardo Robles, ou um caso Luís Monteiro. Mas não aprendem, pois aquelas cabeças acham que foram ungidas com todas as virtudes e são o reservatório moral, ético e jurídico da nação, sempre prontas a apontar a dedo aqueles que não correspondem a tão altos valores. 

MPDAguiar

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Conto-vos um segredo: estou aqui com uma vontadinha de escrever mais uma historinha da Serva-Mor e do seu pequeno servo... O pior é que a inspiração me está a querer levar para maus caminhos... A ver se consigo resistir

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A bicharada que aqui está a assistir às Comissões de Inquérito é da autoria de Linda Bouderbala e o que lhes vale é a companhia de Jorge Palma, apesar dele estar

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Pode ser que seja até já