De vez em quando há por aí teorias. Quando se tornam virais, geralmente são bobagem, fake, tontice. Uma delas, sobre a qual há artigos, vídeos e discussões é que a vida e o mundo e nós todos não somos reais, somos uma ficção, personagens de uma cena imaginada, que tudo o que se vê e vive não passa de uma simulação.
Lá mais abaixo, Michio Kaku fala do assunto mas, já mesmo aqui abaixo, acredito que quem seja surpreendido com o que se vê fique sem perceber o que é o quê.
After movies like "The Matrix" (1999) posited the existence of a superficial world layered over our own, human imagination has run abound with theories about the nature of our reality. To a small but passionate minority, the red pill that can awaken us to this illusion is right at our fingertips.
World-renowned physicist Michio Kaku isn’t quite ready to take that pill. In fact, he’s skeptical that the pills even exist. He explains why.
O meu marido quis arrancar a hera que tinha trepado por duas paredes e que eu adorava ver. Tentou convencer-me, mostrando que é uma bicha invasiva (ele não disse isto assim, claro), alegando que vai para os algerozes, que atrai animais. Com o coração já sentindo o peso das decisões fatais, observei com atenção e acabei por concordar. Ele cortou mas ela continuou agarrada, teve que ser puxada. Tem patinhas com ventosas. Agarra-se à vida com vigor. Tive muita pena. Gosto de ver as paredes cobertas por hera. Aliás gosto de ver a natureza em toda a sua pujança.
Mas reconheço que a natureza, quando não impedida, absorve, devora, tudo. Há que tentar manê-la controlada.
Também foram cortados viçosos e ousados rebentos ladrões das buganvílias.
E é certo: há ratos a devorarem as romãs. De longe parecem inteiras, penduradas, a criar açúcar nos ramos. De perto, pode ver-se que algum animal lhes abriu um buraco e se banqueteou com os sumarentos bagos. Sinto-me revoltada. Não é tanto pensar que anda por ali um ou mais ratos pois até li que é um animal limpo, inteligente e que dão óptimos animais de estimação, é mais por pensar que, a continuar a este ritmo, não terei romãs para comer.
Não queremos pôr veneno e custa-me pensar em ratoeiras pois gostava era de os afugentar sem ter que lhes fazer mal. Mas não sabemos como fazer isso.
A árvore das limas, que se chama limeira mas que, por algum motivo que desconheço, não me dá jeito chamar assim, está tão carregada que vergou uma pernada. No outro dia, ao chegarmos a casa nem percebemos bem, parecia que a árvore estava caída no chão. Depois é que percebemos que era apenas uma pernada, a maior. O meu marido foi à horta buscar um tronco com um V na ponta e os dois conseguimos levantar o grande ramo carregado e ampará-lo por aquele tronco.
E fiz sopa de legumes, que já não fazia desde antes do verão. Soube-me mesmo bem.
Fiz ainda outras coisas mas não vou estar para aqui a maçar-vos mais com estas minudências.
Por isso, vou antes partilhar um vídeo de que gostei. Espero que também gostem.
Physics’ greatest mystery: Michio Kaku explains the God Equation | Big Think
"It's no exaggeration to say that the greatest minds of the entire human race have made proposals for this grand final theory of everything," says theoretical physicist Michio Kaku.
This theory, also known as the God Equation, would unify all the basic concepts of physics into one. According to Kaku, the best, most "mathematically consistent" candidate so far is string theory, but there are objections.
"The biggest objection is you can't test it," Kaku explains, "but we're getting closer and closer."
[ Dr. Michio Kaku is the co-founder of string field theory, and is one of the most widely recognized scientists in the world today.]
Hoje, dia feriado, durante a tarde, estávamos todos juntos cá fora quando os meninos começaram na brincadeira. O mais velho, um refilão do mais refinado que existe, queria ir comprar um jogo que não dava para encomendar online. Preparando o terreno para a persuasão, começou, então, a derreter-se em simpatias com a mãe. Creio que foi nessa altura que a conversa divina começou. Tenho ideia que já dizia que a mãe era uma deusa. O mais novo dizia que antes estava eu, a mãe da deusa.
Dizia ele, o mais crescido, que era um contrassenso ter sido batizado e não acreditar em deus.
[A propósito do batizado surgiu, então, a conversa dos padrinhos. A minha filha lembrou que o pai é o padrinho do neto. O avô ficou muito admirado. E eu também, já não tinha nem ideia disso. Ela explicou que, na altura, tinha querido que fosse o irmão mas que, como o irmão não é batizado, o padre disse que, se era o que ela queria, então na prática era como se fosse... mas que oficialmente tinha que ser alguém batizado. Ela, então, quis que fosse o pai. Com esta explicação, lembrei-me. É verdade, tinha sido isso.
Mas lembrei-me só de metade pois, nessa altura, ela recordou-me que também eu embarquei numa assim: ou seja, sou a madrinha do mais novo. Também não me lembrava. Ela explicou que, nessa altura, a ideia é que fosse a prima a madrinha do menino. Mas a madrinha era quase tão bebé como o bebé a batizar. Tem uns quantos meses a mais. Para além disso também não é batizada. Portanto, neste caso avancei eu. Mas avancei nesse dia e nunca mais de tal me lembrei. Ou seja, quer eu quer o meu marido somos uns padrinhos desnaturados.
Isto dos batizados foi coisa do pai das crianças. Já o casamento foi pela igreja para ele e, para a minha filha, na igreja. Uma nuance que faz a diferença. Ele fez questão e ela não se importou. A mesma coisa com as famílias. A família dele é praticante e a nossa não está nem aí. Excepção talvez para a minha mãe que não frequenta a igreja mas tem a sua fé e faz as suas orações. Aliás, não sei se foi no casamento da neta ou num dos batizados dos bisnetos que, para minha surpresa, foi comungar. Perguntei-lhe se se tinha confessado antes. Na minha cabeça, a confissão era premissa indispensável para a comunhão. Respondeu-me que não tinha pecados. Lembro-me que o sogro da minha filha ouviu a conversa e achou muita graça, tendo-me dito: 'Pois, certamente que não tem'].
E tenho a impressão que foi nessa altura que a conversa derivou para a metafísica pura e dura. O menino mais crescido, catorze anos recém-feitos, já todo peludo, com voz grossa e dúvidas existenciais, perguntou-me se eu acreditava em deus. Disse-lhe que há muitos deuses, cada um acredita no seu deus ou no que quiser, que há quem queira encontrar uma explicação para as coisas e que eu acredito na natureza, na superioridade da natureza. Desatou a rir. Pôs-se a imitar-me, disse que ainda viro uma avozinha hippie, que qualquer dia chega lá, in heaven, e estou eu, toda peace and love, a adorar a natureza, numa caravana, a enrolar uns charros, envolta em cheiro a erva. Claro que o avô, ao ouvir isso, derivou para a paródia e, portanto, uma conversa que tinha tudo para ser elevada degenerou na gozação do costume.
Mas eu, gozem ou não comigo, curvo-me perante a beleza, a magia e a inteligência da natureza, mesmo nas suas mais ínfimas manifestações. Por exemplo, maravilho-me com a existência de esquilos nos nossos pinheiros e azinheiras. Não sei como lá apareceram mas o facto de lá terem aparecido parece-me milagre do melhor que há. Haver tantos pinheirinhos a nascerem a partir daqueles que o meu pai plantou há dezenas de anos é também daquelas que me faz sentir abençoada. E não sei se sou eu ou se é a terra que é abençoada mas para o efeito tanto dá. Ou que as árvores e os arbustos resistam a tanta secura, tanto tempo sem chover, parece-me outro fantástico milagre.
Os cedros, os ciprestes, os pinheiros, as aroeiras estão verdes, verdes, como se a seiva corresse fresca nas suas veias. Os verdes guardam a memória das chuvas e parecem preservar-se até que elas regressem. Acho isto uma coisa superior. Já para não dizer 'do além'.
Mas alguns arbustos estão com pouco viço, as figueiras daqui a nada estão a deixar cair as folhas, muitas florzinhas estão secas, a terra está ressequida, uma dor de alma. Tenho esperança que, mal venha o outono e comece a cair alguma chuva ou comecem a descer as primeiras névoas matinais, a terra se volte a cobrir de musgos e os cogumelos voltem a rebentar do chão.
Mas claro que estes calores e estas secas continuadas me preocupam. Como não?
Quando aquele terreno era apenas pedra e mato ralo e rasteiro, imaginava que conseguiria transformá-lo nom bosque onde os meus filhos e os filhos dos meus filhos e os filhos dos filhos dos meus filhos (e por aí afora) haveriam de passear e desfrutar as delícias das sombras das árvores e dos cheiros campestres.
Nessa altura não se falava nas alterações climáticas nem na situação de emergência em que iríamos entrar. Nessa altura jamais me ocorreu que, anos mais tarde, eu haveria de estar preocupada com as condições de vida na terra para os meus filhos, para os filhos dos meus filhos, para os filhos dos filhos dos meus filhos... E, no entanto, estou.
As notícias que chegam de todo o lado não podem deixar ninguém tranquilo.
E, claro, as previsões de Michio Kaku não me sossegam. Pode ser que o futuro da humanidade resida nos outros planetas. Mas quando? Mesmo que, até que isso seja possível, sobrevivam os exemplares suficientes para se reproduzirem em condições mais viáveis... o que acontecerá a tantos milhões de outros...?
E isto, claro, se até lá um asteroide qualquer não nos mandar a todos desta melhor ou o planeta não secar, não mirrar, não ficar murcho e irrelevante.
Preocupações...
Michio Kaku: The laws of physics doom Planet Earth
Humans won’t survive if we stay on Earth. Michio Kaku explains.
On Earth, extinction is the norm: 99.9% of species eventually go extinct. Even worse, the laws of physics have destined our planet for destruction. Whether it be from a planet-killing asteroid or the death of our Sun, Earth is doomed.
Humanity needs an insurance policy. Ultimately, if we want to survive long-term, we need to inhabit other planets.
We are entering a new Golden Age of space exploration, but there are obstacles we must overcome.
Por exemplo: gosto de ver às outras mulheres mãos com nails em vermelho rubi, carmim, bordeaux, grenat ou mesmo em quase negro. Além do mais, sei que a saison, talvez para espantar as pesadas nuvens negras que por aí andam a pairar, requer nails multicores, uma unha de cada cor, e cores alegres, cor de laranja, verde pistachio, azul turquesa.
Em abstracto tudo isso me agrada. Melhor: seduz-me.
Mas depois vem o lado prático. Não consigo ter unhas compridas nem consigo paciência para as pintar ou retocar frequentemente. Além disso, há que ter precisão para que o colorido não transcenda a pequena superfície que lhes é destinada. Debato-me, pois. Imagino que vendam pequenos estojos com frasquinhos multicores, pincelinhos pequeninos, e sinto-me tentada a experimentar. Mas, depois, já sei que acabarei sem aplicar nada ou, quanto muito, apenas um brilhozinho transparente, quanto muito um discretíssimo nude.
Dilemas.
Se não trabalhasse, também ousaria uma maquilhagem divertida. Sombras nas pálpebras também em cor-de-laranja. Ou em verde-alface. E lábios em morango suculento e brilhante. Assim, trabalhando, não dá. Não seria levada a sério se me apresentasse assim a discutir propostas que, já de si, deixam alguns com os cabelos em pé. Tenho que me reservar para um dia mais tarde.
No domingo, quando fomos passear com a minha mãe, estava fresca, colorida e jovial: calças justas, alinhadas, em branco, uma tshirt justinha em verde seco e uma blusinha de lã fina em cor-de-laranja sobre os ombros. Ténis brancos. Completava a toilette com um chapéu de palhinha e de abas largas. Elogiei-a, disse-lhe que finalmente se veste como lhe fica bem, sem se preocupar se a toilette é adequada à idade ou com o que amigas e vizinhas pensam. Riu-se. Disse que finalmente tinha começado a libertar-se. Pensei -- mas não disse -- que já não era sem tempo.
Pode parecer futilidade -- e quem sou eu para o negar -- mas a forma com a gente se arranja é meio caminho andado para a forma como a gente se sente. Se estamos com roupas tristes e desiluminadas, vai ser difícil sentirmo-nos especiais. E claro que é importante sentirmo-nos especiais. Pode haver quem pense que não quer sentir-se especial, quer apenas sentir-se vivo/a, e tudo bem -- só que não é a mesma coisa.
Há também a questão das flores. Vi umas florzinhas lindas, delicadas, em suave lilás. Estavam nas areias, nas dunas, junto à praia. Estou com vontade de ir colher umas quantas e pôr numa jarrinha. Hoje, nas reuniões, pensei que aquelas florzinhas ali ao meu lado fariam toda a diferença. Mas o que gostava mesmo era de apanhar com raiz e plantar um canteiro por aqui. Mas será que flor de beira mar vai dar-se bem em terra? Não sei. Nem sei se tente. Não quero fazer coisas contra natura mas, por outro lado, quem garante que elas não gostariam de mudar de ares?
Dilemas.
E depois há os pássaros. O meu marido reclama da gaiola grande que trouxemos da garagem para pôr aqui no jardim. Diz que está ali para nada, que não sabe porque quis eu trazê-la para aqui. Expliquei que pensava que, tendo a portinha aberta, os passarinhos entrariam e dali fariam a sua casa, podendo sair sempre que quisessem. Mas toda a gente me explicou que era uma armadilha, que os passarinhos que entrassem não conseguiriam sair. E a verdade é que a gaiola ali está de portinha aberta e nem um pássaro lá entra. Mas aí lembro-me de uma coisa. A anterior proprietária tinha periquitos. Nunca prestei atenção a essa ideia. Mas no outro dia lembrei-me de uma vez ter falado ao telefone com uma amiga e só ouvir uma orquestra de pássaros por trás. Ela disse: são os periquitos que a minha mãe aqui tem, são muitos, às cores, cantam que só visto. E era uma alegria. Sou muita contrária a pássaros prisioneiros. Mas será que os periquitos não se tornaram bicho de gaiola? E sendo a gaiola grande e estando no meio de árvores, não será para eles um resort que apreciem? Não sei.
Dilemas.
E estou com esta conversa nem sei bem porquê. Será que fico com vontade de me remeter à maior simplicidade sempre que ouço falar de temas que me deixam as entranhas num frenesim?
Estive a ouvir três previsões muito prováveis para os próximos tempos. Algumas são-me, à partida, um pouco incómodas. Robots que se auto-fabriquem parece-me coisa meio assustadora. Mas se isso acontecer em Marte talvez não seja mau de todo. Robots que construam fábricas e enviem o fruto da sua produção para a Terra. A Terra transformada em paraíso, sem poluição, sem esforços, só desfrute. Talvez a vida ainda possa vir a ser uma coisa boa e o mundo um lugar feliz e pouco perigoso. E também me é estranha a ideia de fazer download do cérebro e pôr máquinas a usarem as ideias e memórias. Ou a perspectiva de se transmitirem emoções ou sensações e não apenas informação. Não sei bem o que pensar nisso. Mas parece-me provável e potencialmente estimulante. E depois há a promissora ideia de aprendermos, ab initio, se temos células que vão degenerar em cancro. Termos em casa sanitas com auto analisadores que detectem sinais de alerta que permitam que não se formem tumores -- o fim do cancro. Uma maravilha. Um alívio para todos.
Michio Kaku: 3 mind-blowing predictions about the future | Big Think
Carl Sagan believed humanity needed to become a multi-planet species as an insurance policy against the next huge catastrophe on Earth. Now, Elon Musk is working to see that mission through, starting with a colony of a million humans on Mars. Where will our species go next?
Theoretical physicist Michio Kaku looks decades into the future and makes three bold predictions about human space travel, the potential of 'brain net', and our coming victory over cancer.
"[I]n the future, the word 'tumor' will disappear from the English language," says Kaku. "We will have years of warning that there is a colony of cancer cells growing in our body. And our descendants will wonder: How could we fear cancer so much?"
Esta semana, o domingo desdobrou-se. Esta segunda-feira não foi segunda-feira, esta segunda-feira foi substituída por um domingo que nasceu como um bónus.
Deu para lavar e estender roupa, cozinhar, arrumar, varrer, apanhar caruma, preguiçar.
Quando andava de ancinho a raspar a relva, vi uma bola gorda a sair da terra. Pensei que era uma romã caída e meio submersa em caruma. Joguei-lhe a mão. Uma bola grande, macia, castanha. Enchia-me a mão. Puxei. Cedeu. Fiquei com a coisa redonda e gorda na mão. Mais à frente, outra que tal. Apanhei umas seis. Umas não. Uns. Cogumelos esféricos, grandes, pesados. Nunca vi coisa assim. Fui logo deitar fora, numa urgência. Não sei como saber se são inócuos ou perigosos. Passado um pouco, um minúsculo, branco quase transparente, um pé alto e fino, uma campânula mínima, fina como seda. Arranquei com pena de, em vez de sacrificar, não estar é a fotografar. Mas a segurança do bichinho peludo que come tudo está em primeiro lugar. Depois fui logo, à pressa, lavar bem as mãos. Sei lá. Não sei nem me apetece ir saber como funciona isso dos cogumelos adversos. Portanto, pelo sim pelo não, lavo e relavo as mãos que os arrancaram e pegaram.
O dia deu para tudo. Deu também para uma caminhada alargada. Gosto muito de caminhar. Vamos sempre conversando. De vez em quando, calo-me e, aí, a conversa abranda. Geralmente sou eu que puxo a conversa mas preciso de atenção e contra-fala para a conversa ter alimento e se manter viva. Não sou de monólogo. Caminhar, ver os pássaros, as árvores, os jardins e ir falando devagar, na maior paz. É bom. Mais ainda num dia que caiu de oferta, sem horários ou obrigações a cumprir.
Desta vez há motivos adicionais de interesse. Várias casas têm decorações alusivas ao dia das bruxas. Nos muros, nos jardins ou nas portas há teias de aranha, tarântulas, caldeirões, esqueletos, feiticeiras, abóboras com luzes dentro, objectos assustadores pendurados nas árvores.
São hábitos que se importam. Mas resisto: digo dia das bruxas e não halloween.
Exorcizam-se medos, travestindo-os de carnaval.
Quando eu era pequena, ouvi uma vez uma rapariga contar histórias de facas que atravessavam paredes, deixando-as em sangue, murmúrios que desciam pelas portas. Fiquei com medo de estar sozinha em casa durante algum tempo. Acho que nunca o confessei aos meus pais pois, no fundo, sabia que a história era lorota. Mas não deixava de ter medo, na mesma. Depois, quando li as histórias do Allan Poe fiquei igual, com medos nascidos das mais lúgubres ilusões. Agora não, agora penduram-se bruxas nas árvores e enfeitam-se sebes com facas sujas de sangue e transformam-se os medos em brincadeiras. Melhor assim.
O almoço foi cozido à portuguesa e gostei de estar a lavar os legumes, a preparar as carnes e os enchidos. Apuradinho e cheiroso. Como sempre, saiu comida a mais. Mas não faz mal. Menos vezes terei que cozinhar. Como cozido ou aproveitando para fazer um arroz de carnes e legumes, nada se perde, tudo se aproveita.
Também andei a regar os vasos que estão a coberto, sem possibilidade de beneficiarem da chuva.
E pensei que bem podia pôr-me a ler ou a escrever. Mas, em dias assim, caídos do céu, o meu corpo pede descanso. A seguir ao almoço e a seguir ao jantar dormitei. Coisa breve. Mas não foi tanto o tempo de ausência, foi mais o tempo em volta. Sono, preguiça, necessidade de descanso. Tento não me sentir digna de condenação por fazer tão pouco e tento aprender a não sentir necessidade de estar sempre a fazer alguma coisa: não fazer nada é um direito e, sabendo-o usar com inteligência, acredito que há-de saber muito bem.
Ouvi há pouco Michio Kaku sobre o futuro. Falava ele naquilo que é mais que certo, que a terra um dia será atingida por uma coisa qualquer. Como já não há dinossauros para irem à vida, iremos nós. Ou eu mesma ou uns descendentes meus lá bem mais para a frente -- e espero que sejam uns bons milhares ou milhões de anos lá para a frente. Mas a gente sabe lá.
Tanto plano que se faz e desfaz, tanta coisa de que abdica contando que se desfrutará lá mais no futuro. Como se a vida fosse eterna, como se o próprio planeta fosse eterno. E não apenas estamos nós a destrui-lo como sabemos lá o que as grandes forças dinâmicas do universo nos reservam.
Não tenho acompanhado as notícias da Cop26. Se apanho uns fiapos pela rama, apercebo-me que fixam metas para quando metade do mundo estiver debaixo de água e o que resistir acima dela estiver a arder. Por isso, abstenho-me de me desiludir e apenas me consinto apanhar umas e outras pela rama.
... & ...
A prosa vai esparsa e eu não tenho por hábito dar rumo às palavras que se juntam de forma aleatória. Mas tenho o bom senso suficiente (pelo menos, gosto de pensar que o tenho) para saber que devo parar.
Permitam apenas que, antes de me ir, termine com uns vídeos que me agradam muito, trabalho de Sadeck Waff, um coreógrafo que sabe fazer diferente. No primeiro, dança e brinca com a filha, no segundo com Oxandre Peckeu e com mais de cem performers. Muito bonito, muito bom.