Por razões que não vêm ao caso, a abertura do novo canal Now passou-nos um bocado ao lado. Não vêm ao caso mas posso referi-los: futebol em barda, estadias assíduas no campo (sem cabo), outras coisas em que pensar.
Por isso, só no outro dia apanhámos, e percebemos depois que era repetição do que tinha passado antes, se calhar na véspera à noite, o 'Otimista' com António Costa e Pedro Mourinho que, do que percebi, teriam convidado o Almirante Gouveia e Melo. Ficámos os dois a ver, interessadíssimos. E já recomendei ao meu neto mais velho que visse. E recomendo-vos a vós também caso não tenham visto. Muito, muito, muito interessante. De facto, temos valências e saberes no País que, atolados na lama e anestesiados pela espuma dos dias lançadas pelos media viciados em maledicência, nos passam completamente ao lado. Não foi só a surpresa ao descobrir o muito e incrível que se faz na Marinha, foi também a surpresa de alguns temas que me deixaram a pensar (nomeadamente os que se referem com a nossa soberania, nomeadamente no mar). Muito interessante mesmo.
Esta noite apanhei Rui Rio, também com Pedro Mourinho e com dois médicos, Manuel Pinto Coelho e, creio, Ana Miranda, na rubrica que tenho ideia que se chama 'Sem hipocrisia'. E, também aqui, gostei de ver. Também não vi de início mas passaram ainda um vídeo com a nutricionista Conceição Calhau de quem tenho um livro bastante interessante. Gostei imenso da postura do Rui Rio. Programa interessante, muito diferente do que é habitual.
E ontem apanhei, e percebi que já foi perto do fim, o Luís Paixão Martins com a Judite de Sousa. Como sempre, gostei do LPM mas, já no que se refere à Judite de Sousa, fiquei um bocado desconcertada. Apesar de ser pessoa experientíssima no jornalismo, parecia nervosa e não sei se estava com uma pastilha elástica na boca ou se tinha uma prótese solta pois não parava de deglutir em seco ou de ajeitar a boca. Ou, se não é isso, não será que não está com baton e gloss a mais e os lábios colam-se e dificultam-lhe a agilidade bucal...? Não sei. Fiquei um bocado solidária com a pilha de nervos em que ela estava e acabei por nem prestar bem atenção ao que disse.
Para terminar devo ainda confessar que, quando soube deste canal da propriedade do saco de lixo que é Correio da Manhã que já desfez tanta gente, julgando, condenando e apedrejando na praça pública ao arrepio dos mais elementares direitos obrigatórios e imprescindíveis num Estado de Direito, fiquei mais do que de pé atrás. Na verdade, com os dois pés atrás. E ainda estou.
Mas isto pode querer dizer que, na volta, o que vai começar a dar dinheiro é a decência e que as pessoas (leia-se, os espectadores) se agoniaram de tanta lixeira a céu aberto e agora vão passar a procurar a honestidade, a dignidade. Depois de serem valores arrastados pela lama, às tantas, vão agora passar a ser o novo hit. E, com o faro comercial que os donos do Correio da Manhã e do Now já demonstraram ter, quem sabe se não estão apenas a dar lugar ao que vai passar a ser o 'novo normal', o que vai passar a 'dar'.
Durante algum tempo, os mais dados a teorias da conspiração diziam que a boa da Melania vestia-se assim ou assado para mandar recados ao Trump. Sugeriam que, furiosa com as macacadas do marido, desafiava-o publicamente com as mensagens subliminares que as suas toilettes enviavam. Nunca percebi tal coisa. Sempre me pareceu isso ficção fajuta em torno de uma realidade simples: volta e meia Melania desatina na escolha das toilettes. Para ela, isso do dress code é coisa complexa que, volta e meia, lhe sai ao lado.
Enquanto escrevo, a espaços -- entre os zappings que o meu marido vai fazendo -- aparece-me a Judite Sousa. O meu marido comenta: 'Mas esta mulher não se vê ao espelho?'. De facto. Nada ali bate certo: a blusa, o casaco, as calças, tudo em azul de tons diferentes e em excesso; e, a desestabilizar ainda mais o conjunto, o cabelo. Pura falta de jeito.
Penso que Melania padece do mesmo mal.
Depois, ponhamos as coisas em perspectiva: mulher com os cinco alqueires bem medidos e com coluna vertebral em bom estado, não se casaria com um animal como Trump. Mesmo que tivesse ido ao engano, pouco depois estaria em condições de reparar o erro, mandando-o dar uma grande curva. Mas, enfim, este mundo está longe de ser perfeito e as coisas são o que são.
Enquanto primeira-dama, o que retemos dela é que é bonita, vistosa. Foi modelo, sabe posar. Sabe engolir sapos, sabe sorrir mesmo quando deve sentir vontade de vomitar os sapos que engoliu. Já discursou usando palavras plagiadas de Michelle Obama, já foi desfeiteada em público pelo marido, já cometeu gaffes, já viveu longe da Casa Branca, já aturou a preferência do marido pela filha e por outras mulheres, já tudo.
E se umas vezes aparece elegante, quase irrepreensível, outras vezes aparece ridícula. Não que as toilettes lhe fiquem mal. Não ficam: com a sua estatura, silhueta e beleza qualquer trapinho lhe fica bem. O que acontece é que frequentemente não fazem sentido naquele contexto. Ir visitar vítimas de um furacão ou ir plantar uma árvore com sapatos altíssimos, de salto de agulha, ou ir ver crianças separadas dos pais na fronteira e levar um casaco estampado nas costas com 'I don't care. Do u?' não revela bom senso.
Agora fez a sua primeira visita a solo a África... e foi um fartote. Ao estilo colonialista ou a querer imitar Meryl Steerp em África Minha, ou, de novo, de saltinho agulha onde menos se esperaria, houve de tudo.
Aqui uma excepção: simplesmente mal jeitosa, uma verdadeira maria-mijona
Se estes sapatos fazem aqui, neste contexto, algum sentido...
Um estilo colonial completamente descabido e que causou algum incómodo no Gana
Olhem para isto. Um puro nonsense
Finalmente uma toilette bonita.
Mas, lá está, um pouco too much na altura dos saltos e, para festim dos media, no desabotoamento da saia.
Mas, enfim, todos os males fossem esses. Isto é apenas o toque de humor que condimenta a coisa.
Sobre a entrevista que acabei de ver, primeiro na TVI e depois na TVI 24, tenho algumas coisas a dizer:
1 - O António Costa continua com má dicção e com roupa que parece sempre uns números abaixo. Apesar de tudo, notei que tentou não deglutir mais do que uma sílaba de cada vez e notei que desta vez era apenas um número abaixo (na fotografia acima até parece bem). Modestos mas, apesar de tudo, alguns progressos.
2 - O Sérgio Figueiredo está bronzeado de uma maneira tal que fiquei na dúvida sobre qual dos dois ali era o verdadeiro chamuça* (e isto, claro, carinhosamente dito até porque me pelo (do verbo pelar) por chamuças, especialmente quando quentinhas; e, com isto, que ninguém pense que estou com vontade de dar uma trinca em qualquer dos dois cavalheiros; não estou, especialmente porque duvido que sejam estaladiços)
[* Usei a metáfora das chamuças para as virgens ofendidas não me acusarem de racista caso tivesse dito monhé -- que isto uma pessoa já nem sabe como falar para não ofender ninguém. Na volta, mais valia ter dito 'marron glacé' que a corzinha estava lá mas sem o picante que condimenta a conversa]
3 - A Judite estava com um penteado e uma maquilhagem que, de cada vez que se punha a rir para o Costa, aqueles sorrisinhos cheios de subentendidos, só me fazia lembrar uma pomba lesa. Cabeleira loura de tipo oxigenado com ondulação tombando sobre os ombros e sobre a testa, maquilhagem acentuada. Uma cena...
4 - Digna de registo também a toilette da dita loura. Com sapato de baile, perna ao léu, toda ela parecia uma madame nem eu digo de quê. Ou isso ou uma cantora pimba já na fase vintage. Ou mulher de futebolista, igualmente vintage. Aquela ali não atina com o visual. Ora vai de Dartacão, ora de Carochinha, ora de Majorette, ora de Gótica. Não sei se aquilo é obra dela ou se o que ali vemos não passa, afinal, de uma instalação da mediática Joana Vasconcelos, quiçá numa de produzir a entrevistadora mais kitsch das televisões de todo mundo, conseguindo mesmo superar a carismática senhora do robe cor-de-rosa da Coreia do Norte.
5 - Tirando isso, retive a observação do Costa a propósito da magna questão do possível apoio a Marcelo, caso ele se recandide. Depois de se esquivar, dando uma resposta de circunstância sobre os hábitos do PS, a Judite tentou a sorte de perto, apelando ao bom entendimento entre ambos -- e vai o Costa, macaco de rabo pelado, saíu-se com uma muito boa: que não é por as pessoas se darem bem que forçosamente votam umas nas outras; que ele, por exemplo, não dá por adquirido que o Marcelo vá votar nele nas próximas eleições.
6 - Para finalizar: ou foi distração minha ou não vi um único pavão a espreitar à janela. Será que os pavões não se pavoneiam à noite? Ou será que receou ficar ofuscado pelo brilho da outra ave, a dita pomba lesa?
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E é isto. Nada mais tenho a dizer até porque, para dizer a verdade, só vi um bocado da entrevista. Só espero é que, um dia, algum maluco me contrate para comentadeira televisiva. Quando os outros começassem a dizer coisas inteligentes, eu só me saía com observações deste calibre. Mas ditas com ar superior. Uma pose, por exemplo, à Raquel Varela, misto de bué inteligente e de castigadora. Ou isso ou um ar sofredor de quem vislumbra borrasca no horizonte, como a Helena Garrido. Ou seja, ar de comentadora a sério mas só a dizer parvoíces. Oh pá, adorava.
Estou na minha casa na cidade. O ar condicionado está ligado. A temperatura aqui na sala é agradável. Na televisão vejo carros queimados, ouço pessoas contando a sua angústia. O calor dos incêndios que ainda lavram não chega aqui. O cheiro a cinza e desolação não perturba a tranquilidade que me rodeia.
Limito-me a sentir o calor do inferno através das imagens que a televisão não se cansa de mostrar. Começaram a chegar os comentadores mas, felizmente, pelo menos do que tenho visto, têm tido a decência de chamar gente que sabe de florestas. Engenheiros, gente que fala uma linguagem técnica, que parece fazer sentido.
Não deslizo facilmente para as conversas de efeito, não adiro instantaneamente a movimentos de massas em que todos choram ou gritam ou cantam em uníssono. Não sou de andar em procissões com velas na mão e orações na boca ou em manifestações com bandeiras e palavras de ordem. Tendo a pensar por mim e tento guardar algum distanciamento das situações em que a exponenciação emocional facilmente tolda o discernimento, tentando que a racionalidade sobreviva à efervescência imediatista que, não raramente, é péssima conselheira e, frequentemente, produz efeitos nenhuns ou efémeros.
Episódios climatéricos extremos e conjugados dificilmente se controlam com meios dimensionados para situações normais. Esquecer isto é esquecer a luta contra o aquecimento global e a favor da defesa sustentada do planeta. É do domínio da bipolaridade ser um defensor do ambiente e de outras causas nobres e justas e, ao primeiro sinal de que o aquecimento extremo começa a aparecer com alguma frequência, atribuir culpas à ministra ou ao senhor que atira foguetes na festa da aldeia.
Também de nada serve olhar para o mato na beira da estrata e querer tirar consequências que são banalidades mil vezes repetidas. Ordenar territorialmente um país composto por pequenas parcelas não é coisa sobre a qual se fale com ligeireza, camuflando a ignorância com pedidos de demissão ad hoc. Falar à boca cheia da incúria de quem não cuida do seu mato é não saber que grande parte dos pequenos proprietários é gente que herdou parcelas mas que vive longe, nas cidades, gente remediada, sem dinheiro e sem conhecimentos para saber como melhor limpar ou organizar os pedaços de terra que, mais do que riqueza, são um peso e uma fonte de problemas.
Não posso falar do que não conheço mas sei o suficiente para poder afirmar que parte do mal do meu país é ter sido governado, vezes de mais, por gente impreparada, ignorante. E refiro-me não apenas ao governo propriamente dito mas também às autarquias, frequentemente nas mãos de interesses partidários do mais primário que se possa imaginar, gente viciada em jogos de interesses de baixo calibre, caciquismo iletrado e estúpido.
Ordenar territorialmente um país não é coisa para meses, sequer para meia dúzia de anos: é coisa para uma geração, talvez até mais. E requer inteligência, liderança, conhecimento, amor ao país, elevação de espírito -- e persistência, muita, muita persistência. Não é coisa para ser discutida nas redes sociais onde se pede a demissão de alguém entre selfies e fotografias de saladas, para comentadores que comentam tudo o que vem à rede, para jornalistas que fazem reportagens orgásticas no meio de escombros e famílias apavoradas. Organizar territorialmente um país e, nomeadamente, pensar a gestão de florestas e de baldios é assunto sério e muito pouco mediático.
Tomara que este Governo e este Presidente da República percebam isso e saibam transmitir a um país em estado de comoção que não é apontando o dedo a um ou outro bode expiatório que se resolve o que quer que seja: é, por uma vez, introduzindo seriedade e ponderação na reflexão que é preciso levar a cabo, com vista a traçar um plano plurianual que coloque o interesse de Portugal acima do interesse dos partidos.
As fotografias provêm do Público. A última é de Adriano Miranda.
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Post scriptum
Não tenho vontade de comentar a atitude de alguns jornalistas que exploram ad nauseam os sentimentos de perda da população ou o efeito de devastação que um incêndio desta dimensão forçosamente deixa para trás. Vi imagens patéticas que diminuem a já de si débil imagem do jornalismo que se pratica em Portugal e apenas posso dizer que lamento que as estações não transmitam instruções aos seus funcionários para respeitarem a situação e não se portarem como abutres à solta.
No entanto, apesar de não me apetecer falar nisso -- porque me incomoda demais e porque penso que esta comunicação social desenfreada na busca de shares tem sido em grande parte culpada pela mediocridade que se instalou na maneira de pensar das pessoas -- não posso deixar de me referir, ainda que brevemente, a Judite de Sousa.
[Vídeo mostrando Judite de Sousa junto a um corpo queimado
-- o exemplo de quão baixo o jornalismo pode descer]
Depois de a ter visto de microfone em punho mostrando que vale tudo, junto de corpos sem vida e sobre amontoados de paredes ruídas e a andar, histericamente, de marcha atrás pela fatídica estrada, sempre a puxar à reacção emotiva, vi-a, num absoluto despropósito e com total insensibilidade, a fazer a contabilidade comparativa de mortos face ao caso da ponte de Entre-os-Rios, perguntando à exausta ministra Constança Urbano de Sousa se, caso o número de mortes aumente, não faz como o Jorge Coelho e não se demite. Acho que a falta de ética, de decoro, de respeito pela situação e pela sua própria dignidade atingiu, nesse momento, um nível demasiado baixo.
Como sempre, apanhei o programa sem querer e a meio mas, do que vi, tenho que dizer que gostei muito, que me emocionei, que pensei que tanto do que hoje vivemos se deve a quem generosa e abnegadamente abdicou da sua vida familiar, se afastou dos filhos, sofreu torturas, viveu em situações indignas -- e sempre com coragem, com força, com esperança num mundo melhor.
A minha família sempre foi de gente defensora da democracia mas não a ponto de sacrificar a vida. Apenas um tio, irmão da minha avó materna, foi deportado, viveu anos creio que em S. Tomé, e, ao regressar, passou à clandestinidade. Aparecia sem aviso, de noite, e, não sei como, a coisa corria e a família arranjava sempre maneira de que ele conseguisse rever os seus.
Era alto, moreno, bonito. Tenho ideia de que se curvava ligeiramente como por vezes fazem os homens muito altos. Mas talvez se curvasse para me prestar atenção, a mim que, então, era muito pequena. E fiquei com a ideia de que era um homem silencioso, que falava como se murmurasse mas, se calhar, isso era também porque teria medo que o ouvissem.
Morreu pouco antes do 25 de Abril, não me lembro como -- até porque ainda seria relativamente novo -- e, quando foi a revolução, toda a gente lamentava que ele não tivesse vivido o suficiente para ver que tinha acontecido aquilo por que ele tanto tinha lutado.
Também antes do 25 de Abril vivia perto da casa dessa minha avó um rapaz que tinha uma vida misteriosa. Ninguém sabia bem que vida era a dele. Mas também ninguém perguntava nada. Provavelmente desconfiavam. Ou então não falavam ao pé de mim. Volta e meia o Palma Inácio ia lá, não sei que relação havia entre ele e esse rapaz. Eu era miúda pequena e ouvia falar estas coisas sem perceber bem. O meu tio, que era todo de esquerda (embora não dado a lutas), conhecia-o e acho que conversava com eles e, em casa, falava deles e da LUAR e a minha avó e a minha mãe mandavam que se calasse ou que, pelo menos, falasse baixo.
Com o tempo todas estas memórias se hão-de perder porque vão morrendo as pessoas que o viveram. Neste caso em concreto, já morreu a minha avó, já morreu a avó desse rapaz, já morreu esse meu tio, já morreu o Palma Inácio e não faço ideia de quem é o rapaz de que falo.
Penso que, em vez de enxamearem as televisões e os rádios com tanto comentador, uma coisa aflitiva
(ia eu no carro perto da hora de almoço e na TSF lá estavam eles a fazer a autópsia aos discursos, em especial ao (muito bom!) discurso de Marcelo, e tudo é revirado do avesso até quase deixar de fazer sentido),
mais valia que recuperassem testemunhos, experiências de vida de todos quantos sofreram às mãos da PIDE ou de como era cinzento, retrógrado e asfixiante o ambiente durante o negro e longo período antes de Abril de 74.
A todos os palermas que gozam com quem festeja o 25 de Abril como se não houvesse motivos para alegrias, eu acho que faria bem saber como era a vida nesses tempos.
Por isso, eu que tantas vezes sou crítica com a falta de qualidade dos programas de televisão, desta vez tiro o chapéu à TVI. Bela reportagem. Foi bom ver que corajosas foram aquelas mulheres, valentes, verdadeiros exemplos de convicção, força, determinação. E foi boa a ideia de levar duas dessas mulheres e Fernando Medina a falar em directo. Gostei muito.
Agora, ao procurar fotografias para ilustrar este texto, ao fazer uma pesquisa genérica, fui parar à notícia de que Helena Pato criou uma página no Facebook, Antifascistas da Resistência que já conta com 400 biografias.
Tenho que ver se consigo lá chegar sem ter que me 'filiar' no facebook. Parece-me uma excelente ideia.
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Como referi, as fotografias não têm directamente a ver com o que escrevi. Foram obtidas na net ao procurar 'Mulheres presas pela PIDE'
Lembrei-me de aqui colocar a música lá de cima porque imagino a dor imensa das mulheres que tinham que se separar dos seus filhos para poderem prosseguir a sua luta e para pouparem as crianças. Quantas vezes desejariam ter o seu filho nos braços para o embalar e, em vez disso, estavam nos calabouços ou a viver na penumbra, cheias de medo de serem descobertas. A música é uma canção de embalar e é de Arvo Part, Estonian Lullaby, numa interpretação a cargo da Estonian Philharmonic Chamber Choir, Tallin Chamber Orchestra.
...
Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela terça-feira.
Depois do bocado que vi, sinceramente não sei o que há para comentar
-- O vestidinho branco da Judite Sousa? A maneira esdrúxula como se apresenta de pé, sem saber bem onde pôr as pernas, as mãos e as incomentáveis toilettes que lhe arranjam?
-- O hábito insuportável que aquele enfastiado Jorge Jesus tem de tratar por tu os que estão à sua frente quando, afinal, parece que se está a referir a si próprio?
-- O dinheiro indecente que ele, tal como numa escala superior, o seu amigo 'José', ganham?
Pois não sei. Do pouco que vi, só isso chamou a minha atenção. E, mesmo assim, uma atenção mínima, incapaz de dizer uma palavra mais sobre o tema.
E cheguei a ele, foragida do golden boyMarques Mendes na SIC que agora critica o anterior governo como se, antes, não tivesse sido seu acérrimo defensor.
Paulo Macedo, o ex-Ministro da Saúde
que os comentadores levaram ao colo
(muito competente! - incensavam os papagaios)
Se quisermos ter a personificação a la minute de um vira-casacas podemos olhar para ele. Descarado, ar ladino, sempre lampeiro, não há incómodo que o moleste. Agora todos têm que se justificar: o Passos que parece ter estado a empurrar o medonho buraco do Banif para depois das eleições, a ministra Maria Luís, incompetente mas incompetente de uma incompetência nunca vista, oito vezes chumbada por Bruxelas, o Carlos Costa que só fez porcaria desde que está no BdP, o ministro Paulo Macedo que cortou mais que devia e que não soube organizar a coordenação entre hospitais e serviços.
Tudo varrido pelo catraio Mendes. Língua de palmo, a dele.
A vizinha comentadeira não quer cá saber de misérias: apoiou essa gente? Ah, sim, talvez, mas isso foi antes, agora as circunstâncias são outras.
Se nunca antes teve vergonha e medrou no insano panorama político português, porque haveria agora de mudar de feitio? Nada. Está tão bem assim: moldável que dá gosto, sempre pronto para uma mãozinha.
Hoje, como quem não quer a coisa, gabou a PT, que debaixo da Altice, está a modernizar a rede e mais não sei o quê - como se ele percebesse alguma coisa disso. Devem ter-lhe soprado que dava jeito que, en passant, deixasse cair essa. E deixou. Isso para ele é canja de galinha. Diz o que for preciso.
E vir'ó milho.
E agora aqui está, na TVI 24, um painel de comentadeiros a opinar sobre o Jesus. E só não peço para mudar para outro canal porque ouvi que na TVI está a dar a final ou a semi-final da Quinta das Celebridades, coisa fina. Só tretas. Talvez na Dois esteja a dar alguma coisa que se aproveite.
De qualquer forma, acho que não tarda aqui o camarada vai ter um assomo de fúria, porque acho que ele pensa que o homem é bom treinador, mas ainda não conseguiu engoli-lo como treinador. Volta e meia acha que ouvi-lo é tratamento agressivo demais para a sua boa vontade. Ouço-o sempre a falar com desagrado dele. Dele e do Bruno de Carvalho. Também não pode com esse. Acho que ele pensa que o Sporting, com estes dois, perdeu um bocado daquela velha mística na qual ele se revê.
Enfim: temas que não me interessam.
E, entretanto, boas notícias: já mudou de canal. Eu não disse? Foi rápido: há coisas que ele não aguenta mesmo.
....
Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa semana a começar já por esta segunda-feira.
Estamos na última semana do ano. Tomara que a próxima seja a primeira de muitas, muitas, muitas, mil vezes melhores do que as deste 2015 que tão desengraçado foi.
Judite Sousa e Marcelo Rebelo de Sousa: o casalinho do Verão 2015? Pombinhos...? Pré-noivinhos...?
What...?!
Estou afastada da cidade durante três ou quatro dias e é isto...?
Mal viro costas e logo a Judite Sousa se põe nestes preparos, armada em sexy girl, sorriso deleitoso, olhar tentador, haste dos óculos na boca, toda derretida...? E, por trás, ar de conquistador, o Professor Marcelo de Sousa...? E que estão mais próximos do que nunca...? Mas quão próximos, virgem santíssima...?
E, leio na capa, que ele faz questão de lhe dizer que ela está muito bonita.
Sério?! Uau...! O prof até já solta a franga...? Piropinhos fofinhos e tudo...?
O que será que se segue? Piscar-lhe o olho à descarada enquanto fala com ela em frente às câmaras, na missa dominical na TVI? Quiçá, mesmo, trepar o pé pelas pernas dela acima...? Ui.
Bem. A verdade é que, na maneira como aparecem ali na capa da revista, ou aquilo é montagem, ou então, de facto, dá ideia de que, se ainda não pintou, pelo menos já rolou...
Outra notícia da capa da Flash! que me fez espécie é aquela do CR7, o machão que papava todas, modelos nacionais e internacionais, tudo, tudo. Então não é que a fotografia o mostra com um barbudo, supostamente numa selfie, a dizer que são inseparáveis e que o outro também deixou a namorada. Mas o que quer isto dizer...? Que o Ronaldo, mais dia menos dia, vai sair do armário? Mas o moço não era um garanhão encartado...?
Ai minha nossa. Ou:
isto são os vulgares epifenómenos da silly season; ou
já vale tudo para vender revistas; ou
eu devo ter estado em Marte enquanto esta gente saíu da casca.
Alguma das três deve ser.
Ou será que há uma quarta? Será que esta do Marcelo é a versão presidencial do mergulho no rio aquando das eleições para a Câmara de Lisboa?
Mas e aquilo do Ronaldo, senhores...? Trocou a Irina por um urso barbudo? Pode lá ser uma coisa destas...?
Bem, bem...
Sempre quero ver o que vai acontecer durante a próxima semana.
(A Marilú aparecer às cavalitas do Poiares Maduro, em brincadeirinhas marotas? E a seguir o maridão mauzão partir os dentes à Poiazita? A ministra Anabela aparecer a passar revista às tropas de shorts esfiapados e botim pelo meio da perna? O misericordioso Santana aparecer com a santinha Maria de Belém ao colo? O treinador Jesus aparecer numa selfie comprometedora com o Bê de Carvalho?
Pergunto. Porque dizer, dizer, eu já não digo nada)
....
(Ai! Olha outra...! Ai. Quem me acode?
Então não é que, agora enquanto escrevo, estou a ver na televisão o Rangelito, acho que na universidade dos pequenitos, camisa preta, um look a la Portas, a dizer parvoíces à força toda, bolsando maluquices sem tamanho...? Sandices que metem a justiça, o Sócrates... se bem percebo, diz ele, todo inflamadão, que a Justiça está refém do poder político... A dieta fez-lhe mal à cabeça? Ou foi o sol? Ou terá sido a camisa a la Portas que o contagiou? Ou é o estar no meio das pequenas laranjas que o transtorna?... Ai...
Mas o que é isto, senhores? O que deu nesta gente?)
Sócrates, afinal, está a ser investigado porque o PSD está no Governo...?
Sócrates, afinal, é um preso político...?
(Parece que sim, a julgar pelo que diz o Litinho aos jotinhas).
....
Está tudo grosso ou quê?
Anda tudo a fazer pouco da gente.
Este país perdeu o tino.
Está tudo grosso, está tudo grosso.
...
Permitam, agora, que vos convide a irem até ao meu outro blog, o Ginjal e Lisboa, a love affair. Catarina Nunes de Almeida e Borodin, levaram-me pela mão, bailando na minha imaginação.
...
Desejo-vos, meus Caros Leitores, um belo dia de domingo.
Ia para contar como os meninos hoje correram, brincaram, felizes da vida como sempre. São inocentes, não lhes ocorre que os adultos não estejam a cuidar de lhes garantir um mundo sem perigos onde possam ser sempre felizes.
O tempo estava frio, o ar cheirava a eucalipto, e a alegria das crianças é sempre contagiante, aquece-nos a alma. E são surpreendentes, dizem coisas que nos divertem. O ex-bebé (que não tarda fará quatro anos e ainda pronuncia algumas palavras à bebé), ao ver os multi-coloridos patos deslizando na ribeira, disse peremptório: 'eu góto de comê patinos'. Ficámos banzados. 'Patinhos?!'. Ele confirmou: 'Sim, eu góto da cáne dos patinos'.'. Uma heresia perante a beleza daqueles lindos patinhos. Lembrámo-nos que deveria estar a referir-se a arroz de pato. A minha filha disse-lhe 'Mas os patinhos que se comem não são estes'. Ficámos assim.
Mas depois, quando nos vínhamos embora, o meu filho perguntou-lhe se ele queria que ele fosse apanhar um para o jantar e ele disse que sim, pelo que o tio se pôs a andar sobre as pedras como se fosse entrar na ribeira. Os rapazes todos divertidos. Por fim, já queriam atirar pedrinhas aos patos, coisa que naturalmente impedimos. Tivemos que tirá-los rapidamente de lá.
Depois, ao ver os patos a irem todos nadando apressadamente na mesma direcção, afastando-se de nós, o mais crescido (seis anos e meio) perguntou 'Os patos vão migrar?'. Espantámo-nos também, tem um vocabulário rico que nem sabemos onde o adquire. A minha filha disse 'excesso de informação'.
A princesinha, cada vez mais linda, cada vez mais ágil e afoita (quatro anos e meio), já começa a perder o medo às alturas e já alinha com os rapazes a subir a casinhas de madeira através de escadas periclitantes ou a fazer equilíbrio em cordas. Hoje, a ocasião não se proporcionou para a sua brincadeira preferida: distribuir papéis pelos outros. Tu és a mãe do capuchinho, tu és a avó, tu és o lobo, tu és, o caçador. No sábado à noite, cá em casa, no meio daquela encenação, o irmão chegou-se ao pé dela: 'E eu? Sou quem?', ao que ela o despachou garrettianamente: 'Ninguém!'. Dissemos todos: 'Coitado...' e tentámos resolver a situação para não marginalizar a criança mas já não me lembro como, talvez tenha ficado a ser o cão. O bebé (dois anos e meio), um sabe-tudo, falador, bem disposto, quando me vê, vem de longe a correr na minha direcção numa tal velocidade que só penso qual será o dia em que caio de costas com ele em cima? Dá-me uns beijinhos e uns abracinhos que me consolam de todos os males do universo.
Tenho fotografias deles esta tarde, lindos, bem dispostos, na maior brincadeira.
Mas estava eu a preparar-me para entrar numa de ternura quando começa a falar o Marcelo. Ou sou eu que já estou cansada dele ou é ele que já cansa.
Ao falar do artigo de Paula Lourenço, a advogada de Carlos Santos Silva, na revista da Ordem, onde relata, sem referir nomes, a pouca vergonha que foi a detenção do seu cliente e a do advogado que também foi constituído arguido, descrevendo as arbitrariedades, as irregularidades, a violência, 30 agentes a entrarem pela casa e a rebuscarem tudo à frente da mulher e dos filhos, dando conta dos atentados de toda a ordem que seriam um verdadeiro escândalo em qualquer Estado de Direito, Marcelo Rebelo de Sousa limita-se a referir um dos aspectos desse artigo: que ambos os detidos foram impedidos de tomar banho durante cinco dias. Pegou nisso, disse que não lhe parecia bem e ponto. Conversa de cabecinha oca, daquelas manicures que se ficam pelo lado mais lúdico e fútil dos acontecimentos, passando ao lado de tudo o resto. Não é que a proibição de banho não seja grave. Mas, caraças, e o resto?
E dissertou com prazer sobre o declínio da popularidade e do poder de José Sócrates, como se Sócrates já tivesse sido condenado por mil crimes. Ora Sócrates não foi condenado de crime algum e, que eu saiba, nem sequer foi acusado. Como é que um professor de direito para ali se põe a perorar sobre coisa alguma, bocas, acusando-o de nunca se ter defendido de tudo aquilo de que foi acusado. Mas acusado por quem? Pelo Correio da Manhã? Acaso houve algum processo judicial?
Depois, sobre o papelão a que Maria Luís Albuquerque se propôs - ao bajular e servir o senhor Schäuble que gosta de humilhar os outros depois de os ter vergado, esquecendo os interesses e a dignidade de portugal para defender a sua própria pele - Marcelo Rebelo de Sousa basicamente limitou-se a referir que este Governo tem que aprender a comunicar melhor. E para ali esteve a falar da atitude do Governo português relativamente à Grécia e, em vez de referir que foi ignóbil, inqualificável, prejudicial, etc, tudo o que foi capaz de apontar foi que não sabem comunicar. Disse que o Governo não acerta uma - mas não em relação ao que faz mas sim à forma como comunica. E deu-lhes como bom exemplo Paulo Portas, que esse, sim, com a sua tarimba nos jornais, sabe comunicar bem.
Pelo meio, aproveitou para esnobar de Varoufakis, para gozar com os gregos, para se armar em superior. Deplorável.
E a única coisa que eu tenho a dizer ao Prof. Marcelo é que ele é cada vez mais a vizinha que a Judite leva ali para fofocar sobre a actualidade. Parece uma comadre, ele, cheio de inflexões na voz, a alcoviteirar sobre o que o que este disse, o que a outra disse, e sobre quem é que esteve bem, dando dicas para que os seus amigos se apresentem melhor. Fútil, ficando-se pela espuma, manipulador. Não há paciência para esta maneira de ver a política.
A minha avó, sobre uma sua vizinha que estava sempre de janela para depois poder opinar sobre tudo o que se passava na rua, dizia que era uma calhandreira. E é essa palavra que me ocorre depois de ver as actuações semanais de Marcelo Rebelo de Sousa na TVI.
Uma palavra para Judite Sousa: hoje estava outra vez vestida de minhota, toda ela brilhos e de grandes arrecadas penduradas nas orelhas. Claro que todos os males fosse esses. Mas, caraças, tanto arrebique só faz acentuar ainda mais o exercício de representação e vacuidade a que ali se assiste.
Chegada a casa vinda do campo, com dois dos pimentinhas a pernoitarem cá, mal consegui ver as notícias com o cuidado que a aberração mediática em curso justificaria.
Felícia Cabrita, a dama do jornalismo de sarjeta
Enquanto eles jantavam querendo a minha atenção, o meu marido fazia zapping e, às tantas, parou na TVI. A Judite Sousa com um cabelo ondulado, bastamente aberto e espalhado sobre os ombros, perguntou qualquer coisa que não ouvi à pessoa que tinha a seu lado. Então, para meu espanto, estava uma com um cabelo que a Judite parecia imitar e que aparece sempre que lhe cheira a tema que facilmente pode atear a fogueira do primarismo emocional: a pseudo-jornalista Felícia Cabrita.
Sempre ouvi dizer que Felícia é muito dada, que entre ela e alguns investigadores tende a haver uma empatia especial, um autêntico sistema de vasos comunicantes onde se trocam segredos de toda a espécie. Ela não investiga, não processa a informação, não pensa nem se esmera na escrita, ela limita-se a divulgar o que lhe chega aos ouvidos seja lá de quem for. Pessoas como a Felícia Cabrita têm abrigo certo em jornais como o SOL (tal como poderia alojar-se no Correio da Manhã).
Não tendo ouvido a pergunta que a Judite fez à Felícia, mal consegui também ouvir o que esta respondia mas vi que ria com ar quase alarve, que estava eufórica, e apenas a ouvi falar em abrir champanhe. O meu marido retirou-a do ar e ainda bem pois gente assim não deve poluir o ar que os meus queridos pimentinhas respiram.
José Sócrates em bolandas pelas ruas da cidade, num carro da polícia, à mercê de uma Justiça prepotente
Entretanto, vi que fizeram deslocar Sócrates num carro da polícia seguido por mais 3 carros com luzes e sirenes, coisa aparatosa, e, claro, com as televisões, os fotógrafos e demais jornalistas a apontarem as câmaras para a sua cara.
E ouvi que, depois de estar detido há mais de 24 horas, ainda não foi ouvido e que está a passar mais esta noite na prisão.
E, agora que os meus meninos dormem descansados - depois de lhes ter contado histórias inventadas que meteram uma princesa que se chamava Margaret e vivia num castelo perdido no meio da floresta, esquilos marotos, e amigos brincalhões - dei uma vista de olhos pelos jornais.
E leio coisas como que a mãe de José Sócrates transferiu dinheiro para a conta dele. E daí? Se a mãe tem dinheiro, e é sabido que sim, porque não há-de ajudar o filho? É proibido uma mãe transferir dinheiro para a conta do filho? A minha mãe passa a vida a dizer que está farta de chatices e preocupações com as crises dos bancos e que, um dia destes, se desfaz do dinheiro todo que amealhou ao longo de uma vida e o transfere para mim e para os meus filhos. Poderemos nós, eu e os meus filhos, vir a ser sujeitos a estas humilhações por isso, caso ela venha a levar a dela avante? Ora abóbora.
Felícia Cabrita, a biógrafa oficial de passos Coelho grande especialista em casos mediáticos, dos quais geralmente é mais a parra do que a uva
E li outras coisas igualmente surpreendentes tais como as que a dita Cabrita publicou e que exemplifico:
As autoridades foram a casa de Sócrates, no edifício Heron Castilho, no centro de Lisboa (na rua Brancaamp, ao pé da praça Marquês de Pombal) e a uma empresa em Alvalade, onde o ex-primeiro-ministro tem arrendada uma boxe de 12 metros quadrados e guarda documentação, pagando da sua própria conta 160 euros por mês.
Como é que ela sabe isto tudo? E sabe em tempo real, já viram? Alguém lhe passa todas as informações. Mas, à parte isso, que raio de informações relevantes são estas? O homem tem uma box numa garagem alugada onde guarda os seus papéis e que paga da sua conta. Mas que é que isso tem? Tem mal? Que devassa nojenta da vida pessoal do homem, credo, que coisa doentia, que obsessão.
Tudo o que leio me repugna. Agora, enquanto escrevo, vejo imagens na televisão, mostram os carros da polícia a entrarem no prédio onde Sócrates vive, os carros a apitarem, não sei quantos polícias na rua. O anterior Primeiro-Ministro a ser tratado como se de um perigoso assassino se tratasse... Que vergonha o estão a fazer passar, que vergonha a forma como esta Justiça se está a portar.
Face a isto o que tenho a dizer, uma vez mais, é o seguinte:
Um cidadão foi preso para ser interrogado quando poderia ter sido simplesmente mandado apresentar-se para prestar declarações. Mal vai a nossa Justiça, mas mesmo muito mal, quando querendo ouvir um cidadão, o prende. E isto aplica-se a Sócrates, a Ricardo Salgado, ao director do SEF, a qualquer pessoa de quem se sabe à partida que se apresentará se a tal for instada. Imagine-se o Leitor na mesma situação. Imagine que alguém suspeita de si e que, com base em suspeições e escutas ou sabe-se lá de quê, a Justiça resolve que a coisa deve ser investigada. Acharia bem, o Caro Leitor, se um dia, em público, se visse cercado por polícias, levado num carro da polícia, com as televisões a filmar e isso não porque tivesse sido apanhado a matar ou a roubar mas apenas porque um juiz queria interrogá-lo sobre a sua conta bancária ou sobre a casa onde vive?
Ou seja, os investigadores, uma vez mais, em vez de mostrarem respeito pela pessoa que querem ouvir (que, ainda por cima, não está ainda acusada de nada), mostraram um desrespeito absoluto, chamando as televisões, humilhando-a perante o mundo inteiro.
A haver qualquer coisa de errado no comportamento da pessoa em causa, isso provar-se-á no decurso das averiguações e do julgamento. Aí e só aí. Não na praça pública, não no pelourinho, não no circo mediático.
Antes da Justiça ter feito o papel que se espera dela, só mesmo gente muito nhurra, estúpida e perigosa pode insistir na acusação de alguém com base em notícias veiculadas por pessoas como a Felícia Cabrita ou o Dâmaso.
É fácil à Justiça prepotente que temos atacar os direitos de um cidadão, deixando-o indefeso, à mercê da súcia que pulula nos jornais e televisões, à mercê da turbamulta que ulula de torpe prazer sempre que assiste à pública humilhação de alguém que já teve poder. Mal de nós, qualquer um de nós, se tem a infelicidade da cair nas malhas desta Justiça que envergonha a democracia e alimenta a gosto pelos julgamentos populares e linchamentos na praça pública.
Se é verdade que a Justiça deve ser para todos, então ela deve mesmo ser igual para todos. Não pode ter mão leve para uns e agir devastadoramente sobre outros. Não é por ter sido ministro, director da polícia ou banqueiro que deve ser tratado com prepotência, indignidade, desrespeito, tal como algumas bestas tratam os animais indefesos.
Clara Ferreira Alves, jornalista
Nos antípodas de Felícia Cabrita está Clara Ferreira Alves. Pode, por vezes, ser arrogante ou superficial mas nada, nada, nada que se compare com a mediania dos falsos jornalistas que por aí abundam. Li agora 'A Justiça a que temos direito', o seu artigo no Expresso em que ela fala de coboiada cinemática e em que mostra temer esta perigosa forma de fazer justiça e abominar a insuportável promiscuidade com o falso jornalismo.
Concordo, ponto por ponto, com o que ela diz.
Este domingo teremos novo circo mediático. Uma vez mais Sócrates se verá transportado, indefeso, exposto ao primarismo irracional de uns quantos fanáticos, exibido pelas televisões e jornais. Uma tristeza.
E o Um Jeito Manso receberá, certamente e de novo, vários comentários de uma violência verbal assustadora, comentários escritos por gente maldosa que fica feliz com a infelicidade e a humilhação dos outros.
Em relação aos posts anteriores publiquei alguns e apaguei os que continham ordinarices, insultos estúpidos. Assim continuarei a fazer. Confesso que o meu primeiro impulso é não publicar nenhum dos comentários que revelam que quem os escreve padece de um ódio irracional, de má formação ou falta de chá. Contudo, porque o mundo é mesmo habitado por gente de toda a espécie, publico alguns até para lhes poder responder. Quem não consiga controlar as suas emoções e queira vir para aqui destilar ódios fundamentalistas ou exibir falta de educação, já sabe que vem de carrinho.
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Para não acabar mal, partilho convosco um momento que tem uma beleza que não se vislumbra em nada do que tem vindo a invadir a nossa realidade. Mitsuko Uchida interpreta o Concerto Nº 3 para Piano de Beethoven. Dedico-o a José Sócrates e a todos quantos se vêem esmagados pelo poder triturante desta nossa peculiar Justiça, pelos vistos praticamente toda concentrada nas mãos de um único homem, o Juiz Carlos Alexandre.
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Nos dois posts abaixo falo também da detenção de Sócrates, transcrevo o comunicado da PGR (o único documento credível que, até à data, existe) e divulgo uma opinião que importa ler, a de Eduardo Costa Dias.
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, um bom domingo
(e desejo-vos também, meus Caros, que nunca tenham a pouca sorte de cair nas malhas da Justiça)
Judite Sousa conseguiu, uma vez mais, mostrar a profissional de fibra que é. Depois de mais uns dias de provação, eis que voltou a conseguir estar à altura da ocasião. Bonita (o vestuário discreto e o cabelo com um corte mais solto favorece-a), atenta à conversa e com intervenções oportunas, esteve muito bem. Os debates entre os dois candidatos à liderança do PS começaram com pé direito e Judite Sousa aqueceu logo o ambiente com uma pergunta directa e incómoda: o carácter de António Costa e António José Seguro ficaram logo bem à vista na primeira resposta.
Quanto à atitude dos dois candidatos no debate: em todo o lado, o que faz a diferença são as pessoas e um debate não é excepção. Pode haver uma pessoa que defenda uma coisa e outra que defenda a mesma coisa mas que tenha um feitio intragável - e isso faz toda a diferença. É de La Palice dizer isto, eu sei,mas parece que ainda há muita gente que o não percebeu. Acham que os líderes partidários são robots programados para executarem um programa e, se o programa é idêntico, então não vale a pena escolher entre os dois robots. Ora, justamente, não são robots e, sendo pessoas, é da maior relevância conhecê-las e perceber se podemos ou não confiar nelas.
Face a isto, em minha opinião, ficou bem patente que António José Seguro tem uma visão administrativa e fria das coisas. Traçou um percurso, conseguiu meter-se nesse caminho e agora fica ofendido e enfurecido se alguém o quer tirar de lá.
É a mesma coisa que eu querer estar no Porto a uma certa hora e meter-me num táxi. Contrato o táxi e lá vou. Mas, à medida que vamos avançando, eu vejo que o taxista é muito cumpridor, muito certinho, mas guia de uma maneira que toda a gente nos ultrapassa e começo a temer não chegar a tempo e horas. Se passar um táxi que me inspire mais confiança, pagarei o que tiver a pagar ao primeiro e mudo para o segundo pois o meu objectivo não é ir de passeio com o taxista mas, sim, chegar ao meu objectivo. Ponto final.
É isto que está a acontecer no PS. António José Seguro, com a sua maneira de ser, é uma muleta para Passos Coelho e quem quer tirar Passos Coelho da frente do Governo a ver se se interrompe o caminho de devastação que vem levando a cabo, não acredita que o Tozé seja capaz de travar o láparo nem acredita que seja capaz de afirmar uma política diferente perante uma Europa insensível. António José Seguro não é taxista que alguém queira contratar para uma viagem de longo curso e com um destino preciso. Pode ser, sim, um condutor para se ir num cortejo fúnebre ou de passeio a ver as vistas, devagar, devagarinho.
O Tozé é um pequeno burocrata da política. E, como todos os burocratas, é mesquinho, agarra-se com unhas e dentes ao lugar que tem e que, segundo ele, o ia levar a primeiro-ministro. Começou por se armar em santinho, nos primeiros 3 anos, para agora, que se sente acossado, se armar em cão raivoso.
António Costa notoriamente não está muito à vontade neste jogo do vale tudo, chegou a dizer que não queria ser desagradável. António José Seguro apostou no descrédito pessoal, acusou Costa de deslealdade e traição. Fez biquinho e foi demagogo na conversa, falou de 'os do costume', fez promessas inconscientes quando está a um ano das eleições.
António Costa conseguiu aguentar todas as ofensas, rebatendo-as sem pagar com a mesma moeda, conseguiu demonstrar que o que espera um futuro primeiro ministro é um caminho de escolhos e dificuldades e não um prémio.
Depois há uma outra coisa: António Costa, apesar de algum nervosismo ou falta de à vontade no registo da peixeirada no qual o Tozé mostrou estar como peixe na água, mostrou ser um líder, uma pessoa empática, alguém que não perderá facilmente a elegância na forma de estar ou se anulará durante 3 anos para depois virar cachorro.
Em toda a forma como se afirma há uma segurança que inspira confiança. Há inteligência e há firmeza na forma como resiste ao populismo fácil de Seguro. Há decência: sabendo que alguns eleitores preferem ouvir promessas mesmo que vãs do que palavras contidas, manteve-se fiel aos seus escrúpulos e consciência. Será um opositor firme de Passos Coelho, tal como o será em relação a Merkel se necessário for. Pelo menos, é o que eu acho, quando o ouço. É o que me diz a intuição e é na minha intuição que eu acredito, antes de mais.
António José Seguro, pelo contrário, em minha opinião, mostrou o lado mau e mesquinho da natureza humana ao falar como fala com um camarada de partido; e mostra que tem uma personalidade muito moldável. E, frequentemente, faz uns esgares que fazem lembrar uma cobra cascavel, só falta ouvirmos um assobio.
E tem uma característica que me desagrada: não é muito inteligente, faz análises sempre ao lado. Um perigo para o País. Se os simpatizantes forem afinal simpatizantes do PSD e elegerem o Tozé, não sei o que farei nas próximas legislativas. Terei muita dificuldade em votar no PS com este Tozé à sua frente.
Claro que, desde o início, a minha opinião está formada e acho estas primárias um perfeito disparate. Não estava à espera deste debate para formar opinião: tenho desde sempre expressado a minha opção. Prefiro Costa à frente do PS e acredito que é pessoa capaz de mobilizar o País e de fazer valer a opinião de Portugal no seio da UE.
Mas, se estivesse hesitante, olhando um e outro, não me restariam dúvidas. Prefiro pessoas que olham de frente, sem raivas incontidas, sem rancores, olhando para os interesses do Pais, e não pessoas que olham de lado, que não conseguem esconder rancores pessoais e que pensam em si próprias antes de pensarem no País.
De resto, claro que este formato e esta duração para os debates impedem qualquer análise mais profunda ou séria. É até uma coisa ingrata: parece que ganha quem for mais agressivo, quem marcar mais pontos dizendo coisas afirmativas (mesmo que de conteúdo nulo) e que perde quem for atacado e não responder taco a taco ou quem se recusar em alinhar numa política de sound bites.
Por estas e por outras é que eu jamais me sujeitaria a situações destas, a ouvir acusações infames, a ter que responder em dois minutos e a ter que medir as palavras para respeitar os segundos em falta. Há temas que requerem tempo de exposição suficiente para se poder explicar alternativas, para deixar que as pessoas que ouvem tenham tempo para acompanhar o raciocínio.
Este é um tempo em que tudo se decide na comunicação social, em que o tempo de antena é curto, em que a imagem prevalece sobre a substância. Este é um tempo propício a que a má moeda expulse a boa moeda. Este é um tempo que recompensa os fúteis ou os falsos, este é um tempo perigoso.
Agora que as questões pessoais ficaram evidenciadas, a ver se no debate da SIC é dada aos candidatos a possibilidade de explicarem melhor qual a sua visão para o País porque é importante que isso fique claro. Quanto ao carácter de cada um estamos esclarecidos, obrigada.
Judite de Sousa, muito bem vestida e maquilhada, no retorno ao comentário semanal de Marcelo Rebelo de Sousa
Estou a ver Judite com o Prof. Marcelo. Depois de um noticiário construído de modo a poupar-se, com vários apontamentos de reportagem, o que posso dizer é que esteve bem. Na altura em que falou na despesa com o material escolar de cada filho, pareceu-me notar um tremor ou então fui eu que pensei que tomara que ela estivesse suficientemente drunfada para não desabar quando tivesse que usar a palavra 'filho'. Aguentou-se e eu fiquei feliz por ela. É preciso coragem e ela tem-na.
Agora com o Prof. Marcelo, à medida que a conversa avança, a Judite interventiva, que se anima com as questões, está a reaparecer. Ainda bem. Acho notável como se mostra bem informada. Não há dúvida que a televisão lhe corre nas veias. É uma profissional de se lhe tirar o chapéu. Disse ela há pouco, Quando não há mais nada, fica o trabalho. É verdade. Mas há mais: há a admiração dos espectadores que lhe dedicam estima e há a vida em si, que há-de encontrar maneira de reinventar apesar da imensa dor.
Achei ainda piada que, quando falaram na entrevista que ela fez a Cristiano Ronaldo, ela tenha esclarecido que era uma conversa pedida pela TVI há já seis meses.
Tal como se espalhou nas redes sociais que, no Mundial, o penteado do CR7 era uma homenagem a um menino que tinha sido operado e ficado com uma marca idêntica, menino esse cuja operação tinha sido paga por ele, coisa que veio a provar-se ser falsa de ponta a outra, também agora se espalhou que tinha sido o CR7 a oferecer-se para a entrevista, como forma de dar a mão a Judite. Não há dúvida que as redes sociais são pasto para toda a espécie de boatos, desinformações.
Marcelo Rebelo de Sousa louvou com admiração a sua entrevistadora e amiga Judite de Sousa comovido com a coragem da mulher que tinha à sua frente
No final, no seguimento de umas palavras de Marcelo que nitidamente apelavam ao sentimento, Judite de Sousa, com a voz embargada, agradeceu a todos quantos lhe enviaram mensagens de apoio e destacou a solidariedade amiga de José Alberto Carvalho. Não sei como não se desmanchou a chorar. Pessoas assim, que têm que ser fortes em público, devem merecer todo o nosso respeito.
Daqui deixo os meus parabéns a Judite de Sousa e os meus votos de que se sinta bem, reconfortada, estimada neste seu regresso à sua actividade normal que é tão exigente, sempre sob os holofotes, sem resguardo. Não deve ser fácil mas pode contar com o apoio dos que a admiram e estimam.