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sexta-feira, junho 02, 2023

Azul, sem dúvida a cor mais quente

 

Alguém caminha por dentro do azul. 

Não tem pressa. Um lobo suave prescrutando a noite. Ou rasgando a madrugada. 

Timothée Chalamet é o homem perfeito para dar corpo ao perfume quente do azul. Mario Sorrenti faz o filme.

Bleu de Chanel

(ao som de Nights in white satin, pelos Moody Blues)

sexta-feira, agosto 29, 2014

Por quem os lobos uivam. Uma história muito estranha. [Ou, talvez, mais um conto erótico numa quente noite de verão]


No post a seguir falo em Judite de Sousa que está de regresso à televisão e que reapareceu pela mão de um jovem de 29 anos, um menino de sua mãe: Cristiano Ronaldo.

Mais abaixo ainda falo também na entrevista que António Costa concedeu a Fátima Campos Ferreira, uma entrevista que ficou bem aquém da personalidade e carisma do candidato à liderança do PS.

Mas isso é a seguir. Aqui, agora, a conversa é completamente diferente.


Cuidado. Cuidado que eles andam aí.



Cry Wolf

(o som não muito alto, por favor)





Há pouco já o referi. Estive em paz durante o dia, entregue ao prazer de nada fazer, a pele à disposição da doçura do sol que me chega coado através da ramagem fresca da grande figueira. Li, preguicei, estive de olhos fechados a ouvir os pássaros, a aragem nas ramagens, os sons amáveis desta natureza que aqui me acolhe.

Ao fim do dia, a luz fica dourada e há um calor macio que prenuncia o outono. Gosto do tempo assim, apazigua-me, há suavidade no ar e é esse ar suave que eu respiro e que se espalha sobre a minha pele. Posso estar nua para melhor sentir esta doçura pois aqui ninguém passa, a rua fica longe, 

Depois fui a casa buscar um sumo e deixei o livro em cima da espreguiçadeira. Quando cheguei, escurecia, o sol tinha entrado na montanha que me cerca. Não vi o livro. Estranhei. Depois ouvi um som, assustei-me, instintivamente peguei no vestido e encostei-o ao corpo. Reparei então que o livro estava no chão. Intrigada, olhei em volta. Atrás de um tronco, o gato espreitava-me. Ah, o safado do gato. Já nem me lembrava dele, ultimamente não tem aparecido.

Chamei-o, Bchbchbch... Ele arqueou o corpo. Perguntei-lhe, Olha lá, foste tu que vieste aqui deitar o livro ao chão, não? Ele inclinou a cabeça. Não disfarces, gato atrevido, sei que foste. Estou para saber é há quanto tempo estavas aí a espreitar-me, ó gato descarado.

Peguei num figo seco e atirei-lhe. Fugiu. Espreitei. Claro, estava em cima do muro, o muro que separa a paz da minha casa da misteriosa casa onde acontecem as coisas mais inesperadas.

Disse-lhe, Olha, hoje não vou, não me quero meter em aventuras arriscadas. Ele miou longamente. Depois saltou para o lado de lá.

Tinha anoitecido. Enfiei o vestido, enfiei umas sapatilhas e subi à árvore junto ao muro. O gato espreitava-me como se me esperasse. Olha lá, está para lá aquela gente bizarra dos outros dias? Não me quero meter em cenas estranhas, ouviste?

Não me respondeu mas olhou-me com ar desafiador. Hesitei mas depois respirei fundo e saltei. Esta minha maneira de ser, por um lado tão bem comportada e cautelosa e, por outro, tão temerária, com tanto apetite por situações de risco.

Pé ante pé lá fui. As luzes apagadas, tudo escuro. Senti uma ponta de desapontamento mas, logo depois, senti um certo alívio. Nada de mistérios e sustos, desta vez. Sentei-me naquela cadeira onde no outro dia tinha visto a mulher secreta a ser penteada por outra. Deixei-me ficar ali, olhando o muro atrás do qual está a minha casa. Pensei se quem costuma vir a esta casa sabe que do lado de lá vive uma mulher arisca que gosta de se deitar nua ao sol. Olhei em volta, o céu estrelado, a noite quente, os sons dos pássaros da noite, o rastejar de animais entre o mato. Sentia algum receio, aquele receio que me deixa alerta, quase paralisada. O gato veio deitar-se no chão perto de mim e isso sossegou-me, senti que me protegia.

Depois devo ter adormecido. 

Quando acordei ouvi sons estranhos. Saltei da cadeira. O gato tinha desaparecido. Olhei em volta, assustada. De dentro da casa vinha agora luz, uivos abafados. Um arrepio percorreu a minha pele. Ai...

Pensei que devia voltar para casa. Quando comecei a ver se tinha luz suficiente para encontrar o caminho, o coração num sobressalto, vi o gato à porta de casa. Parecia chamar-me.

Estive uns segundos a hesitar mas depois, sem pensar, segui-o. Pareciam uivos o que vinha lá de dentro. Comecei a ficar aterrada mas, quanto mais medo tinha, mais vontade tinha de saber o que se passava.

O gato ia avançando à minha frente, arqueado, alterado, percebi que ia assanhado. Pensei que algo se passava e que tomara que o gato não se virasse a mim.

Então, à medida que, pé ante pé, me aproximava do sítio de onde vinha a luz, os uivos iam sendo mais nítidos. O gato parou e eu ouvi o seu arfar assustador, parecia pronto a saltar. Fiz-lhe um sinal, para que ficasse ali.

Avancei sozinha. Nunca tinha estado naquela ala da casa.


Pela frincha da porta espreitei. 




Numa cama, uma rapariga, cabelos espalhados pela almofada, descansava abraçada ao que me pareceu ser um lobo. Estavam tranquilos. ela parecia olhar um ponto indistinto e o lobo aninhava-se docemente nos seus braços.

Que visão mais estranha.

Mas os uivos continuavam.

Espreitei por outra porta. Depois desviei o olhar. Não percebi mas também não quis perceber.




Era uma mulher quase igual à outra, mas coberta por um casaco de peles, casaco que parecia ter aberto, deixando exposto o belo corpo nu. O grande cão gania, parecia faminto. A mulher olhava-o e não se percebia se era medo, se era neutra aceitação ou se era, mesmo, provocação.

Assustada, o coração numa inquietação, que coisas tão estranhas se passavam sempre nesta casa, dei meia volta, pensei que tinha que sair dali o mais rapidamente possível. Um ambiente de perversão parecia materializar-se nestes estranhos casais. Não queria testemunhar aquilo.

Mas então ouvi um som. Parei. Tu!, ouvi mas era apenas um sussurro. Não fui capaz de me mexer. Tu, sim!, um sussurro de novo

Espreitei.




Não percebi se era um rapaz, se era uma rapariga. O corpo envolto em peles, um quase lobo, olhos claros, lábios desenhados. Olhava-me e não se percebia se era um olhar inocente, se era a pura encarnação do pecado. Quando viu que eu estava a olhar, começou a afastar devagar as peles. Era um jovem quase imberbe, imponente na sua virilidade. Fugi impressionada, cheia de medo.

Mas então, à minha frente, apareceu-me um outro. Quase nu, as calças descaídas, meio coberto por peles. Olhava-me com olhar fixo. Depois uivou.




Um arrepio de medo e não só percorreu todo o meu corpo. Começou lentamente a empurrar as calças para baixo. Depois segurou gentilmente a minha mão. Não sei se estava aterrorizada, se estava mortificada de desejo. Uivou baixinho junto ao meu ouvido. Toda eu estremeci. Despiu-me e eu deixei que me despisse. Não quis saber quem era, se era um lobo de verdade, se era alguém que me mentia, que fingia ser um lobo sedutor numa quente noite de verão. Não quis saber.




Olhei em volta com medo que o gato aparecesse e nos atacasse, mas não o vi. Do outro lado do corredor, vinha agora um uivo que era mais um estertor, o som de la petite mort.

O meu lobo, agora nu, apenas coberto de peles, abraçou-me e eu senti o seu corpo jovem e viril e ele beijou-me e a sua boca sabia a bagas silvestres e eu deixei que ele me beijasse e abraçasse e afagasse. Depois deitou-me e deitou-se ao meu lado e afagou o meu cabelo e beijou-me mais e as suas mãos de jovem fauno percorreram o meu corpo. De vez em quando ele uivava baixinho junto ao meu ouvido, depois pediu que eu uivasse também e eu uivei mas o uivo saíu-me rouco e ele beijou-me com mais força e eu senti-me bem, senti-me bem até ao fim, muito bem. 

A seguir, quando me levantei e disse que tinha que me ir embora, ele separou-se da sua pele e cobriu-me com ela. Depois vestiu-me as suas calças, Depois foi buscar um pano preto e passou-o em volta do meu pescoço.




E disse-me, Fico aqui à tua espera. Vai e volta, traz-me a minha pele que agora é a tua pele, traz-me o teu corpo, o teu olhar, vem que quero ensinar-te a uivar. E beijou-me uma vez mais.

Não sei quem ele é, não quero saber se me mente, se me faz promessas que não vai cumprir, não sei se vou voltar a vê-lo. Não sei se os seus uivos sussurrados no meu ouvido são verdadeiros ou se são puro descaramento. Não quero saber. E, se me está a mentir, pois que minta, que minta para eu me sentir ainda mais livre.


Quando saí, o gato estava à porta. Dormia. Tentei acordá-lo. Ignorou-me. Assustei-me, temi que não estivesse vivo, bati-lhe ao de leve com o pé. Arfou, ameaçador, e voltou a enroscar-se sem me olhar.

Atravessei o caminho que levava até ao muro, a luz das estrelas quase me deixava ver ou talvez estivesse já a raiar o dia. A boca sabia-me e ainda me sabe a amoras.

E aqui estou para vos contar como esta noite dancei com lobos e como me estou a preparar para aprender a uivar.

Uhuuuu, uhuuuuu.......

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Para os mais sisudos, que não apreciam estas minhas derivas nocturnas e tresloucadas, aqui vos deixo um filme maravilhoso. Mete lobos mas não mete maluquice. 


Como os lobos mudam os rios






[When wolves were reintroduced to Yellowstone National Park in the United States after being absent nearly 70 years, the most remarkable "trophic cascade" occurred. What is a trophic cascade and how exactly do wolves change rivers? George Monbiot explains in this movie remix.]


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A música lá em cima é Melody Gardot interpretando Cry Wolf


A rapariga com lobos é Lara Stone fotografada por Mario Sorrenti.

O primeiro rapaz-lobo é David Fair fotografado por Milan Vukmirovic. O segundo, o eleito, não sei quem é mas sei que foi fotografado por Mario Testino.

As duas últimas fotografias mostram Kate Moss fotografada por Patrick Demarchelier

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Relembro: se continuarem por aí abaixo encontrarão referência a duas entrevistas: em primeiro lugar o regresso de Judite de Sousa depois do seu período de luto, entrevistando Cristiano Ronaldo; depois a morna entrevista de Fátima Campos Ferreira a António Costa.


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E, assim sendo, por agora por aqui me fico.

Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela sexta-feira. 
E cuidado com os lobos. 
(....Uhuhuuuuuu.... uhuhuuuuu....)


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sábado, junho 01, 2013

Depois da Miss Prada na AR a falar de dissolução e de revolução e do Pedro Lomba a lançar o Miranda Calha para as autárquicas, uma coisa com interesse neste dia de verão: Sauvage. Belos, sensuais, hot, hot, tempo quente, praias, piscinas, um fotógrafo que dá gosto (Mario Sorrenti de seu nome) - é o 'making of' da Vogue de verão. Para adultos, dizem eles. Toda a nudez será perdoada, digo eu.


Para temas divertidos, como os da Miss Prada na Assembleia a usar palavras curiosas e como aquela 'cena' do inteligente Pedro Lomba no seio dos socialistas a lançar um autarca (por engano, diz ele), é seguir para os dois post abaixo.


Agora, aqui, e enquanto o youtube não vedar esta versão do filminho a menores de 18 (há algumas que já requerem a data de nascimento), aqui vos deixo o behind the scenes do sessão fotográfica do Mario Sorrenti com Andreea Diaconu e Anja Rubik nas praias de St Barths. Sauvage (chama-se a série). 

Uma inspiração. Pelo menos para mim, é.



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A Miss Prada está no post a seguir e o Lombinha debaixo dela.

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Como é Dia da Criança, quer no Ginjal quer nas Historinhas da Tá temos A Menina do Mar da Sophia, em versões diferentes.

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E é isto. Desejo-vos um bom Dia da Criança. 
Que sejam crianças toda a vida para serem capazes de ver a vida com olhos inocentes e cheios de esperança - é o que vos desejo, meus Caros Leitores.


quarta-feira, agosto 29, 2012

Quem sou eu? Sou o que vocês pensam que sou? Sou o que oculto? Sou o que desvendo?


Love me like a river does
Melody Gardot

*



A mulher vira-se de frente, a cabeça coberta por uma espécie de véu, olha nos olhos os que, incrédulos, a olham. Sem maquilhagens, a cara lavada, os olhos bem abertos, é, um rosto talvez carente que ali se mostra. 

Por baixo da capa branca que lhe serve de véu está nua e, no entanto, olhando-a, é uma nudez virginal, imaculada, que ninguém se atreve a desejar, de tão ausente parece ser esta mulher.

A mulher tem um rosto de criança mas os lábios revelam que gostará, um dia, de beijar. Bastará apenas que experimente, que saiba como é irresistível o sabor húmido de uma outra boca aberta em desejo. 

O olhar da mulher parece puro, descoberto, parece branco como o véu que a cobre. Não terá segredos nem ocultos desejos, nem pensamentos indecentes, nem invejas a esconder. Apenas bondade, inocência.

As outras mulheres têm vontade de a proteger dos perigos desta vida, os homens têm vontade de lhe dizer que tenha cuidado, que se cubra mais, que outros há que não a compreenderão, vai menina, vai para casa enquanto é dia, vai menina cobre o corpo, baixa os olhos, sela os lábios.

E a mulher a todos ouve, com atenção e abandono, olhar puro, toda ela inocência.

Depois roda devagar, retira-se. Vai cautelosa, segue os conselhos. 

Os homens e as mulheres sorriem, piedosos, recompensados. Ainda há mulheres capazes. E tão ingénua que esta ainda é, tomara que ninguém a faça sofrer. E acenam com a cabeça, concordam, tomara, tomara, tem ar de ser tão boa moça. Pois é e sorriem, ainda há quem dê ouvidos à voz da experiência. Pois é, e sorriem, superiores, sabedores.

Quando chega a casa, a mulher olha-se ao espelho e tenta perceber a reacção dos outros. Tenta ver-se com os olhos dos outros. O que viram eles? Esforça-se. Semicerra os olhos, olha-se bem de frente. Tenta , tenta perceber. Mas não consegue.

Olha-se nos olhos e vê malícia, olha-se na boca e vê sedução, olha-se nas narinas abertas e vê cio, olha-se na simulação de véu nupcial e vê desafio, olha-se na nudez descarada de tão oculta e vê paixão, mas uma paixão tão ardente, que não percebe o que viram os outros.

Retira a capa de renda branca e fica nua perante si própria.

Esta sou eu.

Mas quem sou eu? A mulher ingénua e carente que os outros vêem ou a predadora que me conheço?

Veste-se, então, com folhos, com jóias, toda ela brilhantes, enfeites, toda ela um excesso, um foco de atenção. Poderia ser uma jovem vestida com um qualquer fato regional ou uma noiva, ou podia estar vestida para uma festa. Incomum.

E volta a sair à rua. Apesar do rosto lavado, sem uma única pintura, apesar do corpo coberto, sente-se provocante, e sabe que o seu olhar é o de um felino e sabe que os lábios se arqueiam prontos para uma qualquer palavra molhada, para um qualquer beijo acidental. E anda como se escolhesse a presa e, enquanto anda, sente o corpo a impacientar-se, na urgência de qualquer coisa.




Mas quem por ela passa não a vê, quem ela olha nem repara no laço que é o seu olhar. Ela avança, lenta nos passos, coração acelerado, olhos em fogo, e todo o corpo num frémito. Mas ninguém se vira para a olhar ou, se o fazem, é com a estranheza de quem vê alguém desrespeitando o dress code.

E, de novo, chega até onde estão as mulheres e os homens e, de novo, os olha de frente. E, de novo, nota neles um contentamento incompreensível. Ah, assim sim, assim já está mais tapadinha, assim está mais bonita. E olham como quem olha uma criança com um lindo vestidinho.

Ela sustém o olhar. Força-se a pensar que entre aquelas pessoas de olhar beatificado está o homem que quer conquistar. Quer que ele a ame com a simplicidade de que gosta: palavras francas, sorriso aberto, boca desperta para os sentidos, olhar descarado, mãos silenciosas e meigas, rápido no gatilho. Mas ele é um dos que a olham sem a verem.

Insiste no olhar que trazia e que viu no espelho antes de sair. Sabe que é um olhar que é um poço de tentações, sabe, sabe. 

E, no entanto, as velhas comentam umas com as outras que sai à mãe, é bonita como a mãe e outras, caridosas, acrescentam que tomara que tenha mais sorte que a mãe. E os velhos sorriem matreiros e dizem baixinho a mãe era mais cheia, tinha curvas, um corpo que apetecia ver. E outros, entredentes, ver e mexer... E as mulheres mais novas perguntam-se, agora, onde será que ela arranjou aquele vestido? E as jóias? Serão coisas da mãe? E os homens mais novos, entre os quais aquele que ela queria para si, sorriem, é bonita, mas falta-lhe qualquer coisa, é muito pãozinho sem sal, falta-lhe maldade

Até que a mulher não consegue manter por mais tempo a expressão e a determinação e, devagar, vencida, volta para casa.

E, de novo, se vê ao espelho. Quem sou eu? Quem sou eu, senhores...?

E, então, despe também esta indumentária, retira-se até ao recanto mais sombrio da sua casa, funde-se com a parede, fecha os olhos, fecha as mãos, baixa os braços, e as lágrimas caem. Sem que ninguém a veja, escondida até de si própria, ela desiste de si própria, sem saber como unir os bocados de que se julgava feita.

Depois, num desespero, vai até ao quarto, vai até ao espelho e pinta-se, pinta-se toda, os olhos, muita sombra à volta dos olhos, as maçãs do rosto cobertas de rouge, os lábios de um encarnado quase negro, e uma cruz na testa e flores e véus negros e veste-se toda de negro, veste-se com uma renda aberta em negro, toda ela sombras, escuridão. Olha-se ao espelho e não se reconhece. Tenta captar o olhar mas o seu próprio olhar foge-lhe. Há um negrume em torno de si que desconhece. Tenta abrir os lábios mas não consegue, estão colados, incapazes de um sorriso. Quem ficar com ela, terá uma mulher desconhecida.




E sai de novo. 

Quando vai a chegar perto daqueles homens e daquelas mulheres que antes não a reconheceram tal como ela ela se via, vai aflita, sem saber como se comportar. Sente que perdeu espontaneidade, que perdeu a sua habitual joie de vivre. Já não sabe se quer aquele homem, ou qualquer outro, ou sequer que olhem para ela. E, baixinho, um nó na garganta, interroga-se Quem é esta mulher dentro do meu corpo? Serei ainda eu, esta agora que quer ser vista como antes me sentia? 

Mas agora já não se me sente a mesma. 


*

As fotografias são respectivamente de Mario Sorrenti, Annie Leibovitz e Mert And Marcus e a mulher é sempre Kate Moss.

*

E, se ainda tiverem um pouco mais de paciência para me aturar, teria todo o gosto em que me visitassem também no meu Ginjal e Lisboa. Hoje as minhas palavras soltam-se das estátuas feitas de distância e de segredos para voarem em volta de um poema de Natália Correia. A música é de Shostakovich interpretada pelo Quarteto Lopes Graça com Olga Prats.

*

Tenham, Caros Leitores, um belo dia (...e, se possível, sem grandes problemas de identidade).

sábado, janeiro 28, 2012

Coisas boas para os sentidos: poemas de o Quarto Azul de Rui Caeiro; fotografias de Mario Sorrenti; dança de Jirí Kilián; e Maria Teresa Horta falando sobre os livros da sua vida


Palavras que fossem
claras  róseas e macias
como a tua pele

para dizerem o sol
ou a sede que fazia
ou nesse lugar havia

by Mario Sorrenti

Há um tempo para estar só
há um tempo para estar nu
há um tempo que falta para ser
o bastante uma coisa e outra
há uma ponte em direcção ao tu

que é necessário atravessar e que
é necessário, coragem, minar
e há um ponto sem chão
nem ponte em que só é preciso
abrir os braços e voar


La Bela Figura
Les Grands Ballets Canadiens
Coreografia de Jiri Kylián


Um deus benovolente atribuiu-nos
uma morada

Disse: só pode ser ali
e por pouco tempo

Que a invasão das águas
o calor e as chamas

não tardam
E assim foi




Houve caminhos fora do quarto
traçados fora da cama, houve

Os principais, porém, foram percorridos
no teu corpo, laboriosamente





Um bom sábado! Divirtam-se! Descansem! Sejam felizes!

&

[PS: A quem, ainda assim, gosta de uma boa e saudável polémica ou a quem se interessa por economia, dívida pública e gosta de reflectir sobre a situação portuguesa, permito-me convidar a ver não apenas o primeiro comentário de hoje mas, também, a descer até ao post abaixo e ver a troca de comentários, agradecendo eu, muito sinceramente aos dois leitores que tão fundamentadamente apresentam as suas razões relativas a este tema]


sexta-feira, dezembro 09, 2011

Como não sei o que vai sair da Cimeira Europeia de hoje, vou já aqui deixando um calendário de 2012 para, ao menos, sabermos a quantas andamos. Mario Sorrenti fotografa, a Pirelli sponsoriza e um grupo de belas mulheres proporciona fotografias de grande qualidade. Vejam o making of.


Dá gosto ver Mario Sorrenti em momentos de grande cumplicidade, intimidade mesmo (a 'cena' com a Kate Moss é espantosa, aquela troca de olhares é uma coisa...), dá gosto ver a encenação, ver como ele se transforma num caçador ao qual as presas, fascinadas, se oferecem. O filme é longo, cerca de vinte minutos, mas vale bem a pena, especialmente para quem gosta de fotografia.

Mario Sorrenti tem 40 ano, é napolitano, mas vive em Nova Iorque  e é um talentoso fotógrafo, podendo os seus trabalhos ser vistos na Vogue e na Harper's Bazaar. É conhecido por gostar especialmente de fotografar nus e por captar a alma dos corpos que fotografa.

Kate Moss, Lara Stone, Malgosia Bela, Joan Smalls, Saskia de Brauw, Milla Jovovich, Guinevere Van Seenus, Isabeli Fontana, Rinko Kikuchi, Margareth Mad são as modelos que figuram no calendário Pirelli 2012.




Tenham uma boa sexta-feira!