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segunda-feira, julho 08, 2024

França agora e na hora de tomar decisões sobre o futuro

 

Não sei bem o que vai sair daqui mas, para já, os franceses levantaram-se e formaram uma muralha contra a extrema direita.

Espero bem que tudo se componha e recomponha no bom sentido. A Europa quer-se democrata, desenvolvida, civilizada, humanista, tolerante, inclusiva. Por muito que se apregoe, que se grite e se blasfeme ou prometa, estes são os valores que as pessoas de bem (seja lá o que isso quiser dizer...) devem preservar a todo o custo.

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A Marselhesa

segunda-feira, maio 08, 2017

Macron em França.
Eu, mãe-galinha, num piquenique com os pintos e pintainhos e não só.
[E, com vossa licença, uma pitada de gastronomia para a caldeirada ser completa]





Claro que Macron ganharia pois, embora a Europa esteja pelos cabelos, nomeadamente a França que já mostrou não aguentar mais os galaruchos pimpões que lhes calharam na rifa nas últimas eleições, ainda não se atingiu o grau zero em que vale tudo -- tal como aconteceu nos EUA, ao elegerem a mais estúpida das criaturas.

Portanto, embora os partidos 'normais', 'históricos' e 'sérios' tenham desaparecido do radar eleitoral, entre a xenófoba Marine le Pen e o civilizado Macron, claro que a França iria optar por Macron.

Terão votado, sobretudo, na maman Marine aqueles que mais teriam a sofrer com ela. O populismo tem destas coisas: sabendo dizer o que as pessoas mais vulneráveis querem escutar, chega-se à perversidade suprema que é ter o antigo eleitorado de esquerda, os mais pobres, os mais desamparados, os mais explorados e indefesos a votar naquela que, se eleita, representaria para eles o maior perigo.

Contudo, não há qualquer garantia de que Macron seja antídoto para o marasmo em que a Europa se encontra ou que consiga levantar o orgulho francês, que anda de rastos. Embora pouco saiba dele, temo que não tenha estaleca cultural e política para mobilizar um país como a França para conseguir dar um pontapé no feudo burocrático em que a Europa se tornou. 

Os chefes de secção de antanho, prepotentes, mangas de alpaca, burocratas empedernidos que, na prática, quase controlavam as organizações, parece terem-se travestidos em eurocratas, tiranetes obscuros que se têm mostrado surdos e cegos aos anseios do povo e, com arrogância e em roda livre, têm imposto verdadeiras torturas a quem mais precisaria de apoio. Sem líderes políticos fortes, sem visionários humanistas e cultos, a Europa tem andado a reboque dos interesses alemães (onde Merkel reina como a governanta insubstituível) e a toque de caixa das cinzentas figuras que ocupam infinitos edifícios em auto-gestão.

Que os povos europeus se querem ver livres disto e de quem lhes cheire a gente fraca que se vergue e se deixe ir na onda e anseiam por ter à frente dos destinos da nação alguém com coluna vertebral, com pulso firme, com a cabeça no lugar, com algum coração e que saiba estar à mesa, isso é mais do que óbvio. 

Portanto, sem ousar pedir muito mais (porque não há muito mais), os franceses escolheram Macron.


O que se irá seguir, é uma incógnita. Pior do que Hollande não deve ser. Portanto, é desempenho a observar com atenção. Optimista como sou, ainda espero que venha dali algum sopro de modernidade. Sendo formado em filosofia, espera-se que saiba pensar, ver as diferentes perspectivas, Também já mostrou ser pessoa determinada e respeitar os valores sagrados da França livre. Portanto, aguardemos, façamos figas. Pode ser.

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E este domingo não foi só dia das eleições em França. Enquando num corredor, o mais largo, vai desfilando a grande História, nos outros corredores, mais estreitos, vão desfilando muitas outras pequenas histórias. E há ainda os corredores só nossos, que mais ninguém vê, onde vai andando a nossa vida.

Este domingo foi dia da mãe. Não ligo nada a ser dia da mãe. Mal fora. Um dia da mãe para mim que sou mãe-galinha todos os dias? Mãe e filha. Todos os dias ligo duas vezes à minha mãe para saber se está tudo bem. E todas as semanas lá vou a casa. E, com os meus filhos, se passa uma semana em que não lhes ponha os olhos em cima já eu ando numa saudade que só vista. E falo todos os dias com eles. Todos. Ou eles me ligam ou eu lhes ligo. E se estou muito ligada a eles, estou-o também à família que eles formaram e, em especial, aos meus cinco lindos pimentinhas, sangue do meu sangue, amores lindos do meu coração. 

Calhou hoje podermos estar, outra vez, todos juntos. Dia de piquenique num pinhal com campo de futebol por perto, parque infantil, terreno atapetado de caruma, espaço à larga, bom tempo, sem pressa. Depois, juntaram-se-nos outros muito queridos a todos.

De manhã, foi a correria habitual nestes dias pois o catering ficou a nosso cargo. 
  • Levámos duas pizzas gigantes que comprámos numa pizzaria de forno de lenha: uma com frango, queijo de cabra e nozes e outra com salmão fumado, mozzarela, sumo de limão e manjerição. 
  • Depois levei dois tabuleiros de massa 
(massa de desenhos diversos cozida à qual misturei bifes de frango e perú, que antes tinha assado no forno a 160º com tomate, alecrim e azeite, cortados finos, juntando também os tomates assados, mais presunto fatiado desfiado, e tomate cherry, tudo regado com o caldo de assar a carne e um pouco de azeite fresco, e, no fim, polvilhei com orégãos) 
  • e empadas fofas, umas de espinafres e presunto e outras de salmão 
(leite com ovos e farinha com uns grãos de sal batidos até fazer um líquido homogéneo e espesso, depois o recheio -- espinafres salteados com presunto ou, então, apenas, salmão -- depois natas light batidas com ovos e, por cima, queijo ralado e polvilhadas com sementes. Posto em forminhas antes lambuzadas com Planta e farinha e para o forno a 180º até estarem com ar dourado e saboroso)
  • E, no fim, morangos frescos (sem açúcar)
Mas, depois disso, queixaram-se que não havia nada doce e o meu filho foi comprar gelados para todos.

Claro que, para mim, levei comida separada. Afinal a dieta ainda vai no início, não ia já prevaricar à descarada. Mas como não nasci para obediente, muito menos para santa, não resisti e tasquinhei para lá umas quantas coisas. Azarinho.


E foi o de sempre. Conversa, cantorias, brincadeira de miúdos e graúdos, futebolada da grossa, uns descalços, outros preparados para marcar golos, luvas de guarda-redes e tudo, o bebé todo palrador e a dar às pernas e aos braços dando mostras de querer avançar para o meio dos outros, ela a brincar com a tia, e tudo tranquilo e em paz.

Quando me vi de regresso, mal o carro arrancou, caí num sono profundo. O meu marido não conseguiu fazer o mesmo, teve que esperar até chegar ao sofá,

Cá em casa, tratei do que tinha a tratar e, depois de roupas e comidas despachadas, vim passar as fotografias para o computador. 178. Depois a minha filha pediu que mandasse as melhores e então fiz uma selecção e enviei para os piqueniqueiros.

E, portanto, para mim foi isto. Antes tinha estado a falar ao telefone com a minha mãe com quem tinha estado no sábado. Estava tudo bem. Tirando isso, mais uma ou outra coisa, e nada de mais. Concluindo: um dia bom.

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E viva a França.


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[E, se ainda não estiverem fartos de me aturar, queiram descer, por favor, saber das minhas sósias e das sósias de Lúcia, também conhecida por Doris].

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sexta-feira, maio 05, 2017

A primeira e a última vez que o casal Macron foi visto na praia
-- E a questão da diferença de idades e de quão precocemente (para ele) a coisa começou --


Tem razão o Leitor P. Rufino ao admitir que eu não teria gostado que a minha filha, quando tinha 15 anos, se tivesse embeiçado por um professor de 39. De facto, não, nem um bocadinho. Acho que ficaria passada, furiosa, danada da vida com ela e capaz de ir à cara ao prof. E, se soubesse que a coisa ia um milímetro para além de platónica, apresentaria queixa na polícia. Logo. E queixa na escola e no ministério, E sentir-me-ia tentada em mantê-la, a ela, presa em casa, sem telefones nem acesso ao correio em papel, sem poder assomar à janela, não fosse o marmanjão pôr-se especado na rua para ela o ver. Um problema gravíssimo.

Se se passasse com o meu filho, o mais provável é que não soubesse de nada pois, enquanto a irmã era de paixões avassaladoras que não podiam passar despercebidas -- que tinham que ser vividas a 150% sem intervalos para respirar e sem qualquer hipótese de serem contrariadas, nem que isso gerasse guerra fracturante em casa -- ele sempre foi de fazê-la pela calada, sem ondas. Quando eu sabia de alguma coisa, o facto estava mais do que consumado, era público, se calhar até já pertencia ao passado. Mas, admitindo que eu sabia, então ficaria furiosa e ele ficaria furioso comigo por achar que eu não tinha que me meter nas coisas dele e eu ficaria receosa que ele ficasse a fazer o mesmo que fazia antes mas com mais cuidado para eu não descobrir. E eu ameaçá-lo-ia e tentaria dar-lhe uma valente bofetada e ele, mais alto que eu um bom par de palmos bem aviados, faria aquilo que fez toda a vida: defender-se-ia com as técnicas de defesa que tinha aprendido no judo, no karate e mais não sei em quê e eu, nem que tentasse apanhá-lo sentado e à traição, nunca conseguiria assentar-lhe a mão em cima. Um problema grave.

Contudo, o amor tem destas coisas. Recebi um mail onde alguém diz que ela o violou quando ele era menor e que deveria era ter ido presa. Não sei se é verdade. Sei, isso sim, que Emmanuel e Brigitte esperaram vários anos até que ficasse claro para ambos que estavam perante uma inevitabilidade. Para ela, então, não deve ter sido nada fácil. Com três filhos e um marido, ao que consta, estimado, uma vida confortável e uma situação familiarmente estável e, certamente, enfrentando a censura social e a preocupação familiar, acredito que Brigitte tenha passado uns anos complicados até se divorciar e assumir um relacionamento com Emmanuel. 

E agora parece que continuam a gostar um do outro e que formam um casal que mutuamente se apoia e, portanto, face aos factos actuais conhecidos, o que desejo é que assim continuem, solidários e amantes.

Mas, não sejamos ingénuos: a diferença de idades entre eles será sempre motivo de conversa, quando não de chacota. Presumo que já estejam calejados mas, ainda assim, por muitos anos que passem, alguém aparecerá sempre a recordar o início do romance e o facto dela ter idade para ser mão dele.

Faz agora um ano, o casal foi passear para a praia de Biarrtiz e a coisa, no Paris Match, saíu curiosa pois as fotografias mostram o casal, timidamente vestido, a passar ao lado de um denodado nudista.



E, claro está, as gracinhas não se terão feito esperar. Uma dessas imagens chegou-me hoje e aqui a partilho convosco e, como se vê, mostra a primeira vez que o amoroso casal Macron se passeou na praia, desta feita em Saint Tropez.



A bon entendeur, salut!

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Ter Marine le Pen e Macron na última volta das presidenciais francesas é qualquer coisa de assaz perturbador mas, uma vez que a mediocridade dos últimos anos a isto levou, pois que ganhe o mais sensato e o menos bronco e perigoso dos dois: o petit garçon de Madame Brigitte. 


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Já agora, imagens do debate que, ao que parece, não correu lá muito bem à Marine. 
Mas nunca fiando porque esperteza não lhe falta.




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segunda-feira, abril 24, 2017

Emmanuel e Marine


Marine le Pen (21.7%) e Emmanuel Macron (23,9%), agora é com eles.
 2ª volta das eleições em França



Não tenho muito a dizer sobre o resultado das eleições em França. Apenas um breve apontamento e só para aqui deixar o registo do momento. Pouco sei sobre o tema que me leve a achar que devo aqui botar faladura.

Sei apenas que compreendo a grande percentagem de votos em Marine le Pen.

Hollande foi uma lástima, um frangote que não consegiu afirmar o orgulho francês, a quem não se conhecem ideias que fiquem para a história, que deixou que a França andasse a reboque das vontades de Merkel. Com ele, o PS esvaziou-se. A falta de liderança dá nisto, desgasta as forças dos que os circundam. Uma abulia que alastra.


Do lado conservador, depois do carisma de Sarkozy que se foi diluindo entre o charme da mulher e as acusações em que anda envolvido, nada sobreveio. Fillon foi um tiro de pólvora seca que, ainda por cima, se viu desgastado com as situações de favor à família.

Depois Mélenchon. Pouco sei dele. À esquerda dos socialistas, foi uma surpresa. Fui sabendo das sondagens mas, mea culpa, não tive vontade de saber mais. Qualquer coisa nele me pareceu torná-lo pouco credível para a função. 

Para além de outros não relevantes em termos de expressão, fica Emmanuel Macron e Marine le Pen.

Quando as pessoas vão votar em alturas de perturbação social, insegurança e medos querem natural mente alguém que lhes inspire confiança. 

E, do pouco que conheço, estes dois eram os que inspiravam mais confiança.


Para as comunidades rurais ou mal informadas, Marine é a maman, a mãezinha que afirma querer restabelecer o orgulho francês, repôr as fronteiras, abolir a baderna europeia, lutar contra imigrantes e terroristas. Marine é a figura que se apresenta firme, peito feito, sorriso protector. E, para além da imagem de lutadora destemida, adoça o conjunto, mostrando-se em fotografias em casa, num ambiente simples e acolhedor, com gatos passeando na secretária onde escreve ou com ternurentos gatinhos ao colo, Para quem vota escolhendo quem se lhe afigura mais capaz de domar os medos e ser a maezinha protectora, Marine aparece como a escolha certa.



Depois há Macron.


Para quem quer mudar mas mantendo os valores europeus da liberdade, do humanismo inclusivo e de uma certa acalmia social, Macron aparece como uma escolha sensata. Acresce o lado romântico que, diz-me a minha intuição, influenciará o eleitorado feminino. O facto de Emmanuel, aos 15 anos, ter caído de amores por Brigitte, uma professora de 40, casada, com 3 filhos, e de ambos terem escondido o amor até ele ter 18, e o facto de ela se ter divorciado para se casar, anos depois, com o seu ex-aluno, sendo um casal inseparável, orgulhoso e elegante, de certeza toca, digo eu, o coração de muita gente.



Portanto, para resumir. Os partidos, essa massa amorfa que se mantém unida à custa de interesses tantas vezes desarticulados e egoístas, deveriam ter a inteligência de saber repensar-se, reorientar-se, aproximar-se e perceber os anseios populares. Da forma como estão, máquinas anquilosadas, os partidos mantêm-se a marcar passo sem sair do mesmo lugar enquanto o eleitorado evolui ao sabor das crises económicas, das ameaças externas, das preocupações pessoais e sociais. E, assim sendo, a condução dos países vai caindo, cada vez mais, nas mãos daqueles que, de uma forma ou de outra, conseguem perceber a linguagem que diz alguma coisa aos eleitores. Terreno fértil, pois, para a demagogia. Com alguma sorte, aparecerá alguém minimamente equilibrado que não dê cabo do país. Parece que, pelo menos por agora, França conseguirá livrar da populista chauvinista Le Pen. Mas, enfim, reconheçamos que o consolo não é extraordinário.

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E, enquanto Juncker e Merkel desejam "boa sorte" a Macron, os media começam a debruçar-se sobre o estilo da sorridente e elegante Brigitte Trogneux, a mais do que provável Primeira Dama francesa.


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E, sobre galos, queiram descer até ao post seguinte.
Não é do coq gaulois mas de galos jeitosos que ali se trata mas saibam que é com garbo que eles se apresentam.

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terça-feira, dezembro 08, 2015

Marine Le Pen não tem culpa. Culpa temos nós, os amiguinhos do politicamente correcto.


No post abaixo falei da entrevista do candidato Marcelo que, a meu ver, está a milhas do meu preferido de sempre, o fantástico candidato Vieira. E, porque me deu para as confidências, contei entre quem é que o meu coração, a esta altura do campeonato, balança. Ainda não comecei a pensar a sério no assunto mas, logo que me decida, de tal aqui vos darei conta.

Mas sobre isso falo a seguir. Aqui, agora, a conversa é outra. Falo dos riscos que representa a subida da Frente Nacional nas preferências eleitorais dos franceses ou melhor, falo daquilo que, em minha opinião, leva a uma coisa destas.





Nas eleições, vota-se em quê? Nos programas dos partidos? Que percentagem da população os lê? Baixíssima, imagino. Então, vota-se a partir da publicidade dos partidos? Talvez, mas, em minha opinião, não tanto quanto o investimento em cartazes e folhetos e em comícios poderia levar a crer.

Portanto, sobretudo, em que é que se vota? Nos líderes - digo eu.
Não fiz nenhum estudo pelo que apenas posso falar com base na minha intuição: 
  • uns quantos votam por comportamento tribal (votam no partido de sempre, esteja quem estiver à sua frente, tal como apoiam ferreamente o clube de futebol de sempre, mesmo que detestem o treinador e não conheçam nenhum jogador) e, portanto, constituem a base mínima de apoio; 
  • e outros votam em função da personalidade do seu líder e de uma ou outra figura de proa.
Cá em Portugal, tivemos recentemente a prova disto. As eleições trouxeram uma novidade que ajudou a virar o tabuleiro do jogo: Catarina Martins mostrou-se convincente, inspiradora, forte. A sua liderança é eficaz: congrega em torno das ideias que defende um número de eleitores que conduziu o Bloco de Esquerda ao terceiro lugar. Um site americano coloca-a entre as 28 personalidades que estão a mudar a Europa. E parece-me uma análise acertada.

António Costa, é outro caso recente. Depois de uma campanha eleitoral débil, mostrou igualmente ser um líder guerreiro, daqueles que, mesmo perante a derrota, se levanta, reúne as tropas, e avança, sem medo, para a frente de batalha como se fora um fortalecido ganhador. Tal como a sua experiência anterior já o demonstrara, está a mostrar ser um indómito lutador, um incansável negociador, um ganhador.


Em França, na esquerda, temos um líder do PS que não tem mostrado outra coisa senão que é uma amostra de gente. Fraco, fraco. Com isto do atentado de sexta feira 13, teve um incremento de popularidade -- tempos perversos, estes --  mas coisa pouca. Numa Europa desidratada e anémica, à mercê dos abutres financeiros, goraram-se cedo as expectativas: em vez da promessa que se aguardava, Hollande logo mostrou ser mais um dos caniches amestrados da Merkel.

O tweet de Valérie que, recentemente,
inflamou as redes sociais --
Valérie com uma tshirt que diz:
I'm too sexy for my ex
O interessante testemunho da sua ex-companheira, Valérie Trierweiler, deixou a nu a sua personalidade pouco firme, piegas mesmo, pateta até, como, por exemplo, quando a imprensa divulgou o seu affaire d'amour com Julie Cayet e ele continuou a fazer declarações de amor ou a perseguir com mensagens tontas a ex, Valérie. 

Mas, enfim, todos os males fossem os comportamentos adolescentes e os croissants do Presidente e a forma aviltantemente arrogante como, na intimidade, se refere aos menos favorecidos, tratando-os por 'os desdentados', ou a forma como Valérie se vinga, gozando com ele, menorizando-o aos olhos dos seus concidadãos. O problema não está aí: está em tudo o resto. O orgulho francês de grande nação fundadora do grande ideal europeu tem sido ferido com as actuações titubeantes de Hollande face aos desafios que os tempos presentes têm colocado a França.

O espírito truculento de Sarkozy, apesar de tudo, apesar dos escândalos financeiros e dos casos judiciais em que se viu envolvido, parece ser, junto da opinião pública, mais consensual do que Hollande. Não obstante se ter também colado à Alemanha, conseguiu ser visto mais como igual do que Hollande, que aparece quase subserviente, um galinho-galador que baixa a cabeça quando uma galinha gorda, como a Merkel, se acerca dele.

"A pègre marron, de forma quase compacta,
ocupa a orla e o interior mediterrânico
e o norte da França até à Lorraine e à Alsace
 e avança da fronteira com a Alemanha
em direcção ao Atlântico.
Dá frio na espinha.
Em França vive-se na luta contra o FN
 também um estado de urgência.
Domingo o voto no (informal) "Front républicain"
impõe-se, mesmo contra a vontade de chefes
 de facção como Nicolas Sarkozy."*

Face a esta ausência de uma liderança inequívoca, surge Marine Le Pen. As classes mais desfavorecidas e menos dadas à leitura do programa da FN ou à discussão dos princípios pelos quais se rege, apoiam-na. Os desempregados, os emigrantes portugueses, as classes mais baixas apoiam-na. Foi em Calais, o território apátrida, onde se juntam em condições desumanas milhares e milhares de imigrantes, que a FN teve a votação mais expressiva.

Imagino (ou melhor, não imagino) o que será viver em Calais.
Lembro-me de ter estado, há um par de anos, no sul de França, numa pequena cidade onde havia, na altura, romenos por todo o lado. Estacionávamos o carro e apareciam mulheres com os filhos ao colo e pela mão a pedir dinheiro, puxavam-nos pelo braço, andavam ao nosso lado, colados a nós até que lhes déssemos dinheiro, mais à frente apareciam homens a pedir, mais à frente apareciam outros, havia romenos pelos passeios, por todo o lado. Senti verdadeiro incómodo, apetecia-me mudar de passeio a toda a hora para fugir à insistência deles. Algum tempo depois, ouvi que o presidente da câmara de lá queria expulsá-los e pensei que, face ao que os habitantes da terra deveriam queixar-se, até o compreendia. Não é politicamente correcto dizê-lo mas é humanamente compreensível. E eu tive a experiência como turista: imagine-se o que será viver todos os dias numa cidade em que as ruas, as praças, os jardins e todos os lugares estão pejados de gente faminta, suja, desesperada. Imagino que se esqueçam os sentimentos de solidariedade para ficar, sobretudo, a rejeição pelo incómodo desconhecido.


Ora, são sobretudo estas pessoas que apoiam a FN. E, em minha opinião, apoiam-na porque Marine Le Pen aparece como a líder forte, a protectora, a mãezinha que, acreditam eles, se levantará para lutar pelos necessitados, pelos revoltados, pelos franceses, pela França. As bandeiras que Marine Le Pen agita soam bem aos que receiam perder os seus empregos, aos que receiam que as hordas de imigrantes lhes tomem as casas, as ruas, o sossego – legítimas preocupações, convenhamos.

Pode a cura que ela propõe levar a males maiores do que a doença que combate mas isso, para os que a apoiam (e é se reflectirem nisso - o que duvido), será se e a la longue. No que eles pensam é no agora, no . Sendo preciso que uma voz se levante e fale alto a vontade de defender a França e a segurança dos franceses, segundo uma percentagem grande de votantes, é Marine que a tem. Por isso, para ela foi o expressivo voto de grande número de franceses. E sempre que, para a frente de um partido, for alguém fraco, especialmente nestes tempos de incerteza e receios que atravessamos, logo a população se desviará para onde encontre um líder forte.

Não culpemos, pois, quem assim vota. Culpemo-nos, antes, a nós que condescendemos em termos líderes frouxos, líderes que vivem bem de gatas, que se agacham perante quem acena com dinheiro fresco, culpemo-nos a nós que consumimos jornais e televisões que dão voz a líderes vendidos, palhaços, fantoches, culpemo-nos a nós que damos ouvidos a pequenos arautos do politicamente correcto, a comentadores de meia tigela que apaparicam os pequenos líderes que nada fazem para fracturar este marasmo em que a Europa se transformou. Culpemo-nos a nós que defendemos que se enviem para a Europa os políticos mais inaptos, os que não queremos cá, e que, no momento de votar, nos portamos como uns vulgares cobardes elegendo, para nos representar, figurinhas de quarto e quinto plano que não têm visão, que não têm coragem, não têm mundo, experiência, conhecimentos, gentinha sem qualidades. Culpemo-nos a nós por aceitarmos ser governados por burocratas que impõem sofrimento aos povos por via da austeridade excessiva a troco de nada (ou melhor, a troco da salvação dos bancos), eurocratas que não conseguem reagir atempadamente perante os mais graves problemas, sejam eles um ataque desenfreado dos especuladores financeiros, sejam entradas de avalanchas de refugiados, sejam o avanço crescente de movimentos xenófobos, seja, ainda, a construção de muros que cercam e cerceiam os mais nobres ideais de liberdade e humanismo. Não nos queixemos, nós, os letrados, os ilustrados, os que sabemos tudo, os que sabemos que, por detrás das promessas populistas se escondem riscos totalitários e perigosos, porque, sentindo-se desprotegidos, os mais fracos procurarão sempre a mão forte de quem prometa defendê-los -- e não seremos nós, os bem comportadinhos, que poderemos defender quem quer que seja.


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Lá em cima, Jussi Makkonen no violoncelo e Nazig Azezian no piano interpretam Impromptu op. 5/5 de Jean Sibelius.

As imagens são do fotógrafo abstracto Kim Keever: Random Events
"It took me about two years of imagining what it would look like to totally simplify my working process. When I finally tried just dropping paint into water and photographing the results through a 200 gallon aquarium wall, to my amazement, the paint dispersed in so many interesting ways.
Timing of the shots is crucial and short-lived, as the process of releasing the dyes and pigments quickly transforms into a random event. It is a very freeing process. I can explore color and form like never before.
Even after 20,000 shots I can't predict which will be completely successful and only a fraction are printed. But I have accepted the lack of control and embrace the randomness." – Kim Keever, 2015
* A capa do Le Monde bem como o texto que coloquei como legenda foram-me enviadas por Leitor, a quem muito agradeço.

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E, caso vos apeteça mergulhar na realidade nacional, queiram, por favor, descer até à música celestial do Comentador Marcelo.

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