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quinta-feira, agosto 14, 2025

Bestiário


Nos intervalos, ponho-me em modo de férias, sobretudo mentais. Hoje quase não houve televisão nem leitura de jornais. Poupei-me, no que pude, dei descanso à mente. 

De vez em quando, não consigo evitar, sinto uma angústia que tenta, de forma certeira, esquartejar a minha disposição, e, nessas alturas, vou espreitar o mapa dos fogos. Um horror. Muita aflição, certamente. Muita área ardida e, quando ardem tão grandes superfícies é parte da natureza que morre, árvores, flores, muitos animais. Isto quando não ardem casas ou, em casos mais dramáticos, vidas humanas. Destruição pura. Temperaturas a rebentar, um calor que não se aguenta, e, em cima disso, gente doida, sem cuidado ou com perturbações.

Mas tenho tido outros assuntos, outras preocupações, outros compromissos. E, no tempo que sobra, tento pôr-me em modo de pausa, descontrair.

Claro que, ao longo do dia, vou tendo contacto com algumas bestas (pardon my french). Esforço-me para não dar respostas tortas, exercito a condescendência. Mas chego a esta hora a pensar que bem podia enfiá-las a todas num zoo, criar um bestiário.

Mas não vou para aqui pôr-me a destilar arrelias ou a gastar o meu latim com gente parva. Adiante, pois, que para a frente é que é caminho.

E, bestiário por bestiário, antes este aqui abaixo, surreal como gosto das coisas -- as demasiados reais cansam a minha beleza. 

David Szauder -- Bestiarium:


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Desejo-vos uma boa quinta-feira

quarta-feira, maio 28, 2025

Tudo conspira, e muito, contra a inocência

 

Imagino a invejinha que quem ainda trabalha sente quando me lê a relatar o meu dolce fare niente. Espero é que seja daquela invejinha boa, inocente, não daquela que vem sob a forma de olho gordo. 

Lembro-me bem daquela ex-colega de quem toda a gente dizia que apenas se realizava através do trabalho e que um dia, uns meses depois de ter saído da empresa, apareceu lá a visitar-nos. Vinha remoçada, muito bem vestida e penteada. Quando lhe perguntámos como estava a adaptar-se à condição de 'desocupada', riu de gosto e disse: 'Penso muitas vezes que se as pessoas soubessem como não trabalhar é tão bom, ninguém queria trabalhar...'

E é mesmo. Não percebo como é que há tanta gente que faz de tudo para se manter a trabalhar até estar quase a cair da tripeça. Mas, enfim, cada um é como cada qual.

E o que eu ia dizer é que estava numa espreguiçadeira, à semi-sombra, completamente em paz comigo e com o mundo, a ler e a ouvir os passarinhos, e pensando que devia ter ali um lápis para ir assinalando algumas frases com piada. Nisto, reparei que o cãobeludo estava freneticamente a espreitar para uns vasos que estão num nível abaixo e que estão separados daquela zona por uma pequena rede. Entre a rede e os vasos costuma juntar-se farta caruma. E era para ali que ele olhava, saltava, agitado como se tivesse descoberto coisa. Tremo quando isso acontece pois antecipo que o passo seguinte seja o cometimento de um crime.

Chamei o meu marido. 

Nessa altura já ele (ele, o cão) tinha ido para essa zona rebaixada e já andava agitadamente em volta dos vasos. O meu marido pegou numa cadeira dobrada e colocou, na parte de baixo, junto aos vasos, tentando impedir que ele lá chegasse.

Em sobressalto, fui buscar a mangueira e abri a água para tentar evitar que o predador se atirasse ao que quer que fosse que ali estava. Então, do monte de caruma que ali estava, monte que mais parece um ninho, saiu um pássaro espavorido, a correr. Parecia um pássaro ainda criança, que ainda não sabia voar, mas de um porte grande, digamos que do tamanho de uma palma de mão aberta. Desatei a chamar o meu marido para impedir que houvesse um desastre e, ao mesmo tempo, a dar mangueiradas de água para afastar o cãomaluco. 

O aflito passarito foi a correr, ladeira abaixo, indo encostar-se a um canto do portão da garagem. 

O meu marido foi então com uma pá para tentar que ele se pusesse lá em cima para o pôr a salvo. Mas foi o bom e o bonito pois, apesar de estar a levar mangueiradas de água, o cão queria, à viva força, ir atirar-se ao frágil serzinho. E o meu marido gritava com ele para ele se ir embora. Só que, com tal reboliço, o passarito abalou a correr ladeira acima, atravessou o jardim e foi refugiar-se junto à sebe. Só que o cão foi mais rápido que o meu marido e que eu com a mangueira. Em menos de um segundo saltou, implacável. 

Quando o meu marido lá chegou, já o passarinho estava deitado de lado, sem se mexer. O meu marido deu um grito ao cão e eu apontei-lhe a mangueira. Mas, aí, ele deve ter percebido que tinha feito um mal irreparável pois afastou-se e ficou como se paralisado, sentado, a olhar para o pobre defunto. 

O meu marido foi resgatar a vítima. O cão-marado afastou-se, pesaroso.

Fiquei atordoada com tudo aquilo. E francamente arreliada por não termos conseguido evitar tão infeliz desfecho. 

Mas a vida na natureza tem destas coisas. 

Depois fui apanhar nêsperas e, como sempre, foram quase tantas as que comi, in loco, como as que coloquei na taça. É congénito: não desfazendo... mas estou mais para Rubens do que para Giacometti.

E agora estou aqui sossegadamente a ganhar coragem para ir à procura de algumas frases de que gostei.

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E, depois de ter feito uma rápida pesca à linha, aqui estão algumas frases transcritas do gostoso 'Uma última pergunta - Entrevistas com Mário Cesariny'

- Tudo conspira, e muito, contra a inocência, contra a linguagem verdadeira.

- O que eu sinto é que a partir dos 50, por exemplo, uma pessoa sabe demais, não era preciso saber tanto. E muito do que se aprende é triste.

Como define a poesia?  - A técnica mais proibida da mágica mais procurada 

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Imagens geradas pelo Sora (IA)

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Dias felizes

sábado, abril 22, 2023

Teimosia, determinação ou maluquice? Como se distinguem os defeitos das virtudes?

 




Nas entrevistas de emprego há ainda quem tenha o costume de fazer uma pergunta muito parva: 'qual é o seu maior defeito?'

Claro que a malta que se prepara ou que já está batida nestes números já tem a resposta engatilhada e sai-se com um defeito que, vendo bem as coisas, até pode ser uma virtude. Um muito usual é o da teimosia em que as pessoas tendiam a descrevê-lo como se fosse sinónimo de determinação.

Sempre detestei perguntas destas. Quando assistia a entrevistas, o que acontecia geralmente na recta final, deixava-os fazer as cenas que entendessem e, no fim, fazia eu perguntas que tinham a ver com o que tinha conseguido perceber da personalidade do candidato. Podia até perguntar como era para eles um bom fim de semana ou porque é que tinham trabalhado nisto ou naquilo no início da sua vida profissional. E ouvia-os com atenção e estabelecia uma conversação assente no que eles dizendo. Acima de tudo interessava-me perceber se era uma pessoa com bom trato, que percebia facilmente questões inesperadas ou como é que reagia quando não compreendia o que eu lhe dizia. 

Felizmente tenho ideia que nunca ninguém se lembrou de me perguntar tal coisa. Tenho tantos defeitos que não saberia eleger o pior. Claro que responderia de forma honesta e não trabalhada. Mas, a sério, não saberia mesmo o que dizer. Só se fosse, talvez, padecer de uma grande e indisfarçável impaciência perante gente burra. Este reconheço como um grande defeito pois, volta e meia, traz-me alguns constrangimentos, especialmente, porque é um defeito pouco discreto.

No entanto, a propósito do tal defeito que toda a gente não se importa de confessar, tenho que reconhecer que também sou teimosa. Mas é uma teimosia que não sei se é teimosia ou se é mesmo determinação. Por isso, não acho que a minha teimosia seja defeito. Mas não o digo com absoluta convicção.

Vou dar um exemplo para explicar.

Já aqui contei que o computador que usava foi à vida. Por isso, tenho andado a tentar recuperar o que posso mas, ao mesmo tempo, aproveitando para limpar inutilidades. E também já contei aquilo das disquettes e dos ficheiros em formatos ilegíveis. Mas agora vou falar num caso concreto.

Há mil anos já eu me punha, noite adentro, a escrever. Eram os meus filhos pequenos quando me deu para escrever um livro. Mas essa era uma altura em que, entre ocupar-me deles e trabalhar, pouco tempo me sobrava. Portanto, deixei que acabasse o programa de escrita que usava e deixei que acabassem as disquettes. E, ao longo de todos os anos, sempre dei o trabalho por perdido. 

Até que agora descobri um ficheiro com o dito livro mas num formato meio desconfigurado. Algures no tempo, há outros mil anos, devo ter tentado converter o ficheiro num ficheiro word e aquilo saiu todo descabelado, letras trocadas a torto e a direito. Quase não há uma palavra direita. E não dá para usar o corrector automático senão ainda seria pior. Assim, pelo menos, estão assinaladas. Mas, imaginem a palavra que aparece como 'pana'. É o quê: pata, pala...? Ou 'xeu'? É o quê: seu, meu, teu, leu...?

Mas nada que me tenha assustado. Ao longo de dias, horas a fio, revi o texto, puxei pela cabeça, resolvi as charadas. Até que, tendo conseguido perceber o que ali estava, cheguei à conclusão que aquilo era apenas meio livro. Fiquei passada. Tanto trabalho para afinal ser apenas metade...? Fiquei mesmo desconsolada.

Então, uma noite, a meio da noite, lembrei-me de uma coisa (não sei como me lembrei mas lembrei-me). Naquela longínqua altura, imprimi o texto para melhor o rever e corrigir. E, ao longo de toda a vida em que mudei de empresa e de instalações, transportei meia dúzia de tarecos, nada mais que meia dúzia de tarecos desimportantes, entre os quais o dossier com essas folhas, um dossier azul berrante. E, pelo meio, mudei de casa e, por fim, deixei de trabalhar. Portanto, ao acordar a meio da noite, ocorreu-me que, se encontrasse esse dossier, talvez conseguisse melhor recuperar o desgraçado do 'livro'. Puxei e puxei pela cabeça e não me lembrava. Temi que tivesse ido para o lixo, que lhe tivesse perdido o rumo, ou, na melhor das hipóteses, que estivesse nalgum dos caixotes que ainda está na garagem à espera de melhores dias. 

Pois, não sei como, não faço mesmo ideia, mal me levantei fui direitinha a uma estante, olhei para baixo e, no meio de dossiers da treta, lá estava aquele, o velhinho dossier azul. Abri-o num stress. Era mesmo ele. Folhas impressas, cheias de emendas a lápis, algumas folhas já coladas umas às outras.

Portanto, enchi-me de esperança. A partir dali daria para reconstituir. seria preciso 'dactilografar' as páginas que faltam no ficheiro janado que já emendei. 

Olhei e pensei que nunca mais. Lembrei-me então de pedir ajuda ao meu marido. Eu dactilografo umas e ele outras, eu muito mais que ele pois sou muito mais rápida que ele. 

Podem imaginar... protestou, protestou, protestou. Mas quando me viu, sozinha, atirada a tão ingrata tarefa resolveu fazer essa caridade. Agradecida, dei-lhe uma dúzia de folhas. 

Pois bem. Ao fim de um bocado disse-me que é um trabalho estúpido porque aquilo não vale nada. Uma história banal, muito palavroso. Uma xaropada.

Fiquei um bocado desmoralizada. Tanta trabalheira para recuperar... uma porcaria...?

Poderia desistir. Se calhar é o que faria sentido. 

Mas não desisto. É como se fosse uma prova de respeito por aquela que fui escrevendo até de madrugada, depois de tratar dos meus filhos, de pô-los a adormecer, e antes de me levantar cedo para ir trabalhar para outro dia repleto de canseiras. 

E penso que, depois de ter o texto inteiro, poderei revê-lo, eliminar adjectivações desnecessárias, limpá-lo de advérbios de modo sem os quais as ideias possam passar bem, dar um jeito.

Portanto, não sei se é teimosia, se é determinação ou se é, simplesmente, maluquice mas, caraças, hei-de voltar a ter o meu 'livro' de volta. Depois logo vejo o que fazer com ele.

Entretanto, ando a coser as pontas, os rasgões, a aplicar remendos, num trabalho de paciência e teimosia que não sei onde vai desaguar mas que, até lá, me ocupa os dias e os neurónios. 

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As pinturas são da autoria de Mimi Parent, pintora surrealista e acompanham Batzorig Vaanchig que canta os guturais cantares mongóis com a sua filha

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Desejo-vos um bom sábado

Saúde. Paciência. Paz.

sexta-feira, março 17, 2023

A caminho de me pôr fit -- dia 1.
Isto em dia de grande alegria sportinguista cá por casa.
Com surrealismo gostoso à mistura

 



O dia foi bom. O pior foi que, andando eu distraída da meteorologia, a meio da tarde fui surpreendida com o dia a escurecer e a chuva a cair. Pensava que ia estar um dia de sol e, afinal, descambou daquela maneira. 

Ia começar a rever a minha obra literária mas tive que me deixar disso e ir apanhar a roupa que tinha estendido pouco antes. 

Entretanto, as coisinhas de que falei no outro dia já estão penduradas, bonitinhas e a piscarem-me o olho para me deixarem feliz da vida. Olho para a parede e fico toda contente.

E, como tinha pensado, fui inscrever-me nas minhas actividades hídricas. E, quando a menina da secretaria ia começar a explicar-me a dinâmica do local e o que eu devia trazer, disse-lhe que já vinha equipada e pronta para entrar em acção. 

E assim foi. 

No balneário estava atrapalhada com o cadeado (levei um de código) quando uma parceira foi em meu socorro. Pouco depois já uma segunda se nos tinha juntado e, simpaticamente, começado a explicar-me o funcionamento da coisa, não só dos cacifos mas de tudo.

Depois foi a aula. Gostei imenso do professor. Jovem, alegre. Música a bombar. 

Claro que tive alguma dificuldade em sincronizar-me. E salta, e levanta o joelho direito e toca com a mão esquerda no calcanhar direito. E troca. Levanta o joelho esquerdo e toca com a mão direita no calcanhar esquerdo. E troca. E etc. Sempre em acção. 

Estar a olhar para ela e conseguir aguentar o ritmo, movimentando braços, pernas, ancas e ombros, foi um desafio. Mas lá me esforcei para me manter alinhada. 

Foi bom. Sempre a bombar. Contudo, devo confessar que, para o fim, já me sentia um pouco cansada. Com a prática e com mais uns dias de pós-covid em cima espero ficar mais em forma.

No fim, fiz sinal ao professor para saber se podia dar umas braçadas. Como gosto muito de nadar, uma piscinona ali ao dispor era para mim um convite irrecusável. 

Disse-me que sim. Fui. Mas aí percebi que não estou mesmo em forma. Os vinte e cinco metros para lá ainda foram bem. Agora os vinte e cinco metros para cá já foram em esforço. Nessa altura é que me lembrei: gaita do corona. Ainda me canso mais do que é normal, essa é que essa. Por isso, fiquei-me por aí.

A este nível tenho contudo uma outra dificuldade que, esta, não sei se é transponível: não consigo pôr-me nua a ensaboar-me por dentro e por fora, tudo na maior fraternidade, todas conversando e rindo na maior naturalidade, tudo ao léu na maior descontra. Não consigo. Não sei se diga que ainda não consigo ou se diga que não consigo nem conseguirei. Não sei.

Enquanto eu estava lá, o meu marido andou a fazer uma caminhada com o urso-fofo. Eu bem tento mostrar-lhe os benefícios da coisa. Não consigo. Irredutível. Aquilo não é número para ele.

Ao fim da tarde fomos fazer o nosso passeio de fim de dia e já estamos a começar a retomar as distâncias anteriores.

E a nível de actividade física foi isto. 

Também aproveito para andar enquanto estou ao telefone. Sempre assim foi, mesmo quando estava circunscrita ao gabinete.

E hoje, para além das chamadas diárias normais, tive uma bem longa, e agradável, com um ex colega. 

Ou seja, ao ver agora o comentário do Ccastanho, fui ver qual o meu score, convencida de que andava bem modesto. E até fiquei admirada... Depois de dias de sono e borreganço, hibernação covídica pura e dura, eis que voltei a ver os meus usuais 15.000 passos.

Fiz uma captura do ecrão do telemóvel para eu própria não duvidar.


A ver se esta sexta-feira vamos avaliar o tema do ginásio para ver o que nos recomendam e se nos agrada. 

O meu marido avisa-me: não te estiques. Mas, depois da chatice do joelho e da covid, só me apetece é partir para a acção. Fartinha de dormir e de pouco fazer, fartinha, fartinha.

E estou focada na escrita. E, também, a fermentar a vontade de me atirar às tintas. Só que tal como ao escrever não consigo pensar em escrever 'para nada' e só penso em como conseguir publicar, também ao pintar penso logo em como fazer para vender o que pinto. Ora, como são meios que em absoluto desconheço, sinto-me um bocado às escuras. No entanto, esta sensação é, para mim, parte do processo de encantamento em que gosto de estar (não saber no que me vou meter, estar na mais absoluta ignorância... e desejosa de partir à descoberta, ignorando dificuldades, sem medo de bater com a cabeça na parede, toda eu atirada para a frente, ansiosa por arriscar)

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Falta-me dizer que reina a alegria aqui por casa e que, a certa altura, até me assustei tal a intensidade do grito. Quando tentei perceber, só ouvi: que golaço!

Muita alegria. De casa da minha filha veio logo um vídeo. Outro sportinguista aos saltos e transbordante de alegria. Aliás, o avô estava a dizer que ele deveria estar radiante. Um outro, mais novo e com treinos e jogos às oito da manhã e ao fim do dia, já tinha adormecido.

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Como ando a pensar em pintura, aqui o algoritmo do YouTube -- que me adivinha os pensamentos --, apareceu-me, todo lampeiro, a oferecer-me o vídeo que qui agora partilho (e, desta vez, com legendagem em português)

O mundo surreal de Rene Magritte 

(autor das pinturas que ilustram este texto)
 

Art History School

Aprenda sobre o mundo bizarro de Rene Magritte, nesta biografia de Rene Magritte. Ele foi um artista surrealista belga e um dos mais famosos pintores surrealistas. As suas pinturas eram caracterizadas por símbolos particulares – o torso feminino, o “homenzinho” burguês, o chapéu-coco, a maçã, o castelo, a rocha, a janela e outros objetos comuns, frequentemente colocados em situações inusitadas ou inesperadas. Como outros pintores do surrealismo, a sua obra é misteriosa e deliberadamente difícil de decifrar. Casou-se com Georgette Berger em 1922 e fez amizade com Andre Breton, Paul Eluard, Hans Harp, Joan Miro e Salvador Dali do grupo surrealista parisiense.

As obras mais importantes de Rene Magritte incluem The Menaced Assassin, The Red Model e The Enchanted Domain, um mural que ele criou para o Knokke Casino na Bélgica. O trabalho de Magritte teve um grande impacto desde sua morte. Pop art, conceitualismo e a pintura dos anos 1980 podem apontar para a sua influência e o seu trabalho ainda inspira arte comercial e designers gráficos em todo o mundo. O Museu Magritte, inaugurado em Bruxelas em 2009, possui mais de 200 pinturas, desenhos e esculturas de Magritte, que merecem uma visita.

[Traduzido pelo Translate do Youtube]


Um dia bom
Saúde. Ânimo. Paz.

segunda-feira, outubro 10, 2022

Começar de novo?

 


Quando escolhi a área no secundário (ciências e não económicas ou letras ou [não me lembro do nome das outras]) não fiz testes psicotécnicos nem conhecia todas as possibilidades que tinha ao meu dispor. Foi muito pelos gostos imaturos de miúda de catorze anos. Dois anos depois, quando escolhi o curso superior também estava mal informada e não sabia como informar-me. Hoje, com a informação disponível, omnipresente, este desconhecimento parece improvável. Mas era assim. 

Tinha várias vocações, muito opostas, e outras que não sabia que poderiam ser concretizáveis e, certamente, outras que desconhecia. 

Aboli a psiquiatria, que seria a primeira escolha, porque não conseguiria ver mortos nas aulas de anatomia do curso de medicina. Só de pensar nisso sentia terror. Aboli, depois, psicologia porque o curso não era reconhecido ou, pelo menos, aquele a cuja porta fui bater, à época, não era. Acresceu a isso o facto de ter lido o currículo do curso e me ter parecido embaraçosamente básico. Arquitectura estava fora de questão pois tinha enveredado pela alínea de ciências e porque achava que era muito assente em desenho e em geometria descritiva e isso pareceu-me, por um lado, fora das minhas competências e, por outro, uma seca. Não pensava, na altura, na profissão em si mas nos escolhos que o curso me traria. Identicamente não optei por economia pois forçosamente teria história e, pelos péssimos professores tidos até aí, abominava história. E em gestão também não pensei pois parecia-me uma coisa às três pancadas, um pot pourri de matérias em que nada seria aprofundado. E, na minha cabeça e segundo os meus conhecimentos, não haveria outras possibilidades.

Acabei por optar por um curso que me garantiram que dava para tudo e que, segundo me diziam, eu faria com uma perna às costas pois assentava na disciplina em que tinha notas mais altas. Foi, na verdade, um curso horrível, pesado, com colegas marrões, sensaborões. Não me revia em nada daquilo: professores que carregavam, sem prazer, o peso desmedido da sua cátedra e alunos precocemente envelhecidos que ansiavam por ser génios. A ausência de companheirismo e de gosto pelo lado lúdico da vida por parte deles quase me faziam atirar a toalha ao chão. Os primeiros anos daquele curso eram uma máquina trituradora que deixava a maioria dos alunos para trás. Aguentei-me e, felizmente, os dois últimos anos foram aliciantes, um grande desafio. Como arranjei logo emprego e foi para fazer uma coisa que adorava e ainda por cima com o melhor acompanhamento que poderia esperar, nunca me arrependi. Sempre senti que estava na profissão certa apesar de ter mudado algumas vezes. Fui fazendo sempre coisas novas, fui sendo posta à prova, fui sentindo que estava sempre a aprender, fui formando equipas, e, por isso, fui sempre sentindo a motivação de que necessito para me mover. O mundo das empresas provou ser a minha praia.

Contudo, um dia destes, esta minha jornada profissional estará a chegar ao fim. Poderei, nessa altura, não fazer nada. Depois de uma intensa vida de trabalho, talvez seja mais do que justo que me conceda a mim própria o direito ao descanso e à liberdade de movimentos.

No entanto ocorre-me que, em vez disso, poderei experimentar outras praias.

Já pensei: porque não vou tirar o curso de psicologia? E, depois, trabalhar nessa área? Porque não? Ou porque não vou aprender a fazer joias, por exemplo? Arquitectura já não dará, já é tarde demais para começar arquitectura. Mas para psicologia acho que vou a tempo, tenho experiência de vida que, se calhar, ajudará. A psicologia sempre me atraiu, sempre.

Claro que há aquilo de escrever. Gostaria de ter a concentração, a disciplina e a disponibilidade mental necessárias para escrever... mas não sei se as tenho. Escrever continua a aparecer na minha cabeça como quase um hobby. E, na minha cabeça, parece que continuo a pensar que devo ter uma ocupação 'a sério', uma profissão. 

Sei que isto, para quem me lê, deve soar muito parvo. E, se calhar, é mesmo parvo. Mas estou formatada para trabalhar e para ser remunerada a partir do meu trabalho. Ficar sentada a olhar para o boneco ou ocupar-me com frescuras e depois receber uma pensão, parece-me uma coisa que não tem a ver comigo.

Portanto, tenho que pensar nisto.

Hoje, cá em casa, ao falarmos nisto, na perspectiva de um dia vir a reformar-me, a minha neta disse: Ah, boa, depois podes ir buscar-me à escola... Ao ouvir isso, senti mixed feelings. Por um lado, fico contente que ela goste que eu vá buscá-la à escola. Mas, por outro, não me imagino a não ter ocupações a 'sério' para além disso. Penso que me sentiria frustrada se passasse o dia na maior indolência tendo por única ocupação ir buscar as crianças à escola. 

Por isso, acho que tenho algumas coisas em que pensar nos próximos tempos. Tenho, tenho.


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Pinturas de Wolfgang Letti na companhia de Leonard Cohen com Anthem 

The birds they sang
At the break of day
Start again
I heard them say
Don't dwell on what
Has passed away
Or what is yet to be
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Desejo-vos uma boa semana a começar já nesta segunda-feira
Saúde. Bons recomeços. Paz.

sexta-feira, dezembro 03, 2021

As moçoilas do cabelo às cores dizem: escute os sinais e respeite seu momento.
E eu não posso estar mais de acordo.
E claro que a culinária aqui vem completamente a despropósito. Mas fazer o quê...?]

 


Estes dias estão a transbordar. Muito trabalho e, em cima de uma agenda demasiado preenchida, há a campainha a tocar com entregas, telefonemas das mais diferentes proveniências, o urso cabeludo a precisar de atenção -- e eu sozinha em casa. 

Chego ao fim do dia com a cabeça feita em água. Por vezes, aqui à noite, penso que, no dia seguinte, deveria pensar nos presentes de natal. Uns já despachei mas, na verdade, uma ínfima minoria. Mas depois, durante o dia, falta o tempo. Claro que agora, em vez de estar para aqui feita carpideira, bem podia estar a puxar pela cabeça e a navegar, de site em site, escolhendo presente para um, presente para outro. Só que esta cabeça aqui, a esta hora, já não deita sumo, só palavras desasadas. E escolher presentes sem inspiração nem energia não é boa coisa. A escolha de presentes requer uma boa vibe, uma boa onda, a good mood, senão vira burocracia, coisa falha de validade.

Há-de aparecer a vontade. Portanto, adiante.

Ao fim da tarde, num ápice, fui até ao supermercado. Não tinha bananas em casa e isso é coisa que não pode faltar. Desde que me lembro, ao pequeno almoço, uma banana não me escapa (entre outras coisas). E não sabia o que fazer para o jantar. Então vi um lombo de salmão à provençal, congelado. Fiz como recomendado e acompanhei com um arroz com muitos legumes. Ficou bom. Vou dizer como fiz o arroz:

Num tacho, coloquei azeite, uma cebola aos bocados, um alho francês, uma folha de louro e salsa em boa quantidade. Refogou ao de leve. Quando estava tudo molezinho, juntei três tomates maduros aos bocados, um molho de feijões verdes também cortados aos bocados, metade de uma courgette cortadas aos bocadinhos, um pouco de sal, pouco, sempre pouco. Ficou tudo a cozinhar devagarinho. Quando estava tudo bem cozinhadinho, juntei um bocadinho de abóbora também aos cubinhos. Juntei dois copos de água, deixei ferver, Juntei um copo de arroz basmati. Quando ficou quase sem caldo disponível, desliguei e deixei o tacho tapado a apurar. Modéstia à parte, estava bem saboroso. Saborosinho. Inho, inho (que isto hoje está a dar-me para os inhos -- deve ser do frio, uma pessoa até encolhe, incluindo das ideias).

O salmão foi assim: claro que, primeiro, descongelou. E a seguir:

Numa frigideira coloquei um pouquinho de azeite e cobri o fundo com uma cebola grande cortada aos bocados. Sobre essa cama generosa coloquei o lombo que tinha cortado às postas.  A pele do peixe ficou para baixo. Para cima a parte com as ervas aromáticas. Ficou para ali em fogo leve e brando, até que a cebola quase caramelizou, o peixinho cozinhou e o perfume a boa comidinha encheu a cozinha.

Quando o jantar já estava ao lume recebi um telefonema da empresa, o último do dia. Ao contrário do que é costume, boas notícias. Várias boas notícias num único telefonema. Fiquei toda contente. De repente, parece que todas as situações complicadas do dia se tinham dissipado.

E agora aqui, ao ver os vídeos do dia, uma vez mais, o das Avós da Razão chamou a minha atenção. Falam de períodos da nossa vida em que parece que estamos num impasse, improdutivas, desinspiradas, abúlicas. Uma mulher de trinta e quatro anos perguntava se as Avós já se tinham sentido assim e, em caso afirmativo, o que fizeram. E a resposta que elas deram é a que eu daria: claro que sim. Quem nunca? E, numa situação assim, não se faz nada. Espera-se que passe. A menos que a pessoa esteja doente -- com uma depressão, por exemplo, e aí deve tratar-se -- passa sempre.

Falo por mim. Sou avessa à monotonia. Essa coisa da velocidade cruzeiro não funciona comigo. Prefiro mar encapelado sem saber bem o que fazer com ele. Gosto de me sentir a desbravar caminho, a construir, a enfrentar as dificuldades do que se faz de raiz, a criar coisas, a formar equipas, a deitar obstáculos abaixo. Depois, quando está feito e apenas há que manter, eu começo a roer-me de impaciência, doida por saltar para outra. Mas nem sempre há para onde saltar. E, nesses compassos de espera em que me sinto sem pachorra para o mar flat e sem saber se me vai aparecer lugar para onde me pirar, sinto-me a aboborar, a criar raízes quando gosto é de sentir as asas a romperem das costas, impacientes por me levarem nem eu sei bem para onde.

Mas, com o tempo, aprendi. Nessas alturas, não vale a pena fazer nada. Um dia tudo se vai resolver por si. O melhor é arranjar um qualquer entretenimento mental para ajudar a aguentar. Porque é apenas uma questão de tempo. Não vale a pena forçar. Tenho para mim que o que tem que ser será. Mas só o é na altura que tiver que ser. 

A nível profissional ou pessoal sempre me aconteceu isto: depois de estar como que em hibernação mental, o próprio corpo a pedir descanso, um belo dia, sem saber porquê, acordo e aparece-me uma decisão que me vira a vida noutra direcção. Por vezes, uma ideia anda por aqui a pairar, indefinida, inconcreta, impalpável, vaga, vaga, como uma ilusão longínqua. E, do nada, aparece a cola que liga as peças, une as pontas. E, aí, é só ir atrás que a coisa se dá.

Mas eu sou eu e pouca graça tenho para falar das coisas. Agora as moçoilas aqui abaixo têm toda uma sabedoria, graça, irreverência e cabelo às cores que é impossível a gente não pensar que quando for grande quer é ser como elas. 

[Relembro: Gilda tem 79 anos, Sonia 83 anos e Helena 92 anos] 

E mais nada. O resto é conversa.

Avós da Razão: Escute os sinais e respeite seu momento


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Ao longo do texto, fotografias e montagens de Grete Stern na companhia do violinista Augustin Hadelich a interpretar Dvořák: Humoresque No. 7 in G-Flat Major

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E bora lá curtir mais uma sexta-feira
Boa disposição, boa sorte e boa saúde.

domingo, novembro 07, 2021

Crónica de um sábado tranquilo

 



Fui conhecer a peixaria em que, supostamente, o peixe vem do mar, comprado na lota. Contudo, hesitei bastante pois o que lá vi daria para grelhar ou para uma caldeirada e eu estava com ideia era num belo peixinho cozido. Quando estava a vir-me embora, a peixeira falou-me nuns chocos muito frescos. Abriu o frigorífico e mostrou-mos. Vi-os e deixei-me tentar pois pareceram-me mesmo a escorrer frescura. 

Fi-los cozidos com tinta. À parte, cozi batata normal, batata doce, feijão verde e uma cebola. Cozi os chocos sem colocar sal. Cozeram rapidamente. Depois de cozidos, retirei o pequeno saco da tinta, os olhos e os dentes. De resto, aproveitei tudo. Cortei-os, temperei com cebola crua, salsa e azeite. Estavam óptimos. Mérito deles pois sabiam a mar. Uma pessoa depois fica com a língua preta... mas paciência. Depois vai ao sítio.

Fiz duas máquinas de roupa e algumas arrumações. O meu marido esteve outdoor: limpou a caruma e as folhas secas.

A caminhada foi ampla. Tínhamos tempo. A temperatura estava baixa mas, como havia sol, o frio ficava disfarçado de agradável.

Encontrámos várias pessoas. Tenho ideia que, desta vez, de bicicleta apenas um casal. Os outros todos a caminhar.

A pessoa mais curiosa foi um rapaz muito alto e magro que vinha ao telefone, falando numa língua que não reconheci. Creio que seria nórdico. Trazia ao colo, numa daquelas cadeirinhas, um bebé que ia virado para ele, quase espalmado. Só se viam as perninhas e o gorro com dois pompons. O meu marido achou que devia ser um boneco, por ser tão pequeno e ir tão espalmado. Mas não faria sentido um homem daquele tamanho andar a passear um boneco. Quando passou por nós sorriu e disse bom dia. Em português mas com um sotaque curioso que fez soar o bom dia quase imperceptível e divertido. 

É muito frequente cruzarmo-nos com pessoas que estão a caminhar ou a cuidar dos seus jardins e que percebemos que são estrangeiras e que, agradavelmente, nos cumprimentam na nossa língua. 

Contei ao meu marido que ontem, quando vinha a chegar a casa me tinha cruzado na rotunda lá mais ao fundo com aquela mulher jovem que costuma caminhar apressadamente, de calções e top de alças e com um bebé no carrinho. Com o frio que estava ela ia, na mesma, de calções curtinhos. Não com o top de alças (por vezes praticamente apenas um soutien), mas uma tshirt de manga curta. Não sei como aguenta o frio assim vestida. O meu marido diz que se calhar no país dela as temperaturas são muito mais baixas.

Numa casa muito bonita, espectacular mesmo, uma obra de arquitectura de se lhe tirar o chapéu, onde antes já vi um homem a apanhar sol na sua espreguiçadeira mas nunca uma mulher, hoje vi-o a ele com uma mulher. Estavam curvados a plantar flores junto a um dos lados. Estavam encostados, numa cumplicidade partilhada, ambos dispondo pequenos pés de flor.

Numa outra rua, passaram por nós duas mulheres a caminhar a muito bom ritmo. Não eram especialmente jovens mas estavam vestidas de uma maneira jovem e tinham o cabelo apanhado de uma forma displicente e também juvenil. Conversavam de forma muito viva, como se falassem de alguma coisa que as indignava. Falavam em francês. Tão focadas iam no tema que nem nos viram. 

Cheirava a lareira junto a uma das casas e gostei imenso de sentir esse cheiro. Fiquei mesmo com vontade de acender a nossa.

Quase todas as casas têm pelo menos um cão. Há cães de todas as raças. Hoje vi um belíssimo, com um porte imponente. Não percebo nada de raças. O meu marido disse que lhe parecia um pastor belga. 

Passou por nós, uma rapariga com um grande pastor alemão. A rapariga quase voava, tal a força com que ele a puxava. Quando regressávamos a casa, voltámos a cruzar-nos com ela. Ia na mesma, sem conseguir impor a sua vontade, simplesmente a voar atrás dele.

O nosso ursinho ficou no jardim. Quando puder sair, virá connosco. 

Há bocado fez uma coisa que só vista. Aliás, ao fim do dia voltou a ficar com as pilhas todas e as rotações a mil. Fez trinta por uma linha. 

Antes de o pormos para dormir, o meu marido leva-o à rua. Por vezes, vai e vem com sono. Mas ultimamente esperta e volta a ser o fim da picada para conseguirmos que fique sossegado e calado. Vira e revira a sua caminha, tira a mantinha, tira o peluche que a minha filha trouxe. Aparece tudo virado do avesso no meio da cozinha. Ouvimos aquele estrafego à mistura com os seus latidos. Hoje estava de mais, ouvia-o raspar e raspar.

Acho que já o contei: da cozinha para o corredor há uma porta mas para a sala não. Então fizemos uma barreira com uma mesa de cabeceira virada com as costas para a cozinha e um aquecedor (porque a mesa de cabeceira é mais estreita que a passagem) e, para ele não ter força para empurrar o aquecedor, atrás põe-se o saco de 15 kg de ração. Quando o saco estiver menos cheio temos que encomendar outro, senão não resulta. 

Foi o que aconteceu hoje. O meu marido foi-se deitar e eu vim para a sala. E ouvia-o a fazer aquela barulheira toda. Mas o truque é não irmos lá nem dizermos nada porque ele acaba por se cansar e adormecer. E estava eu aqui a começar a escrever isto quando deixei de o ouvir. Pensei: finalmente cansou-se. Eis senão quando senti uns passinhos e... me aparece ele aqui, todo animado, a dar ao rabinho. Até me assustei. O saco da ração não devia estar a fazer suficiente pressão no aquecedor que ele tanto o empurrou que conseguiu abrir uma pequena abertura entre o aquecedor e a mesa de cabeceira. Não me perguntem como é que ele conseguiu caber por tão estreita abertura porque não consigo perceber, dir-se-ia impossível. 

E mais outra: agora tenho que chamar o meu marido para me ajudar a raspar-me da cozinha pois a irrequieta criatura, mal me vê a dirigir-me para a porta, até salta para se empoleirar em mim e, mal abro a porta, esgueira-se para o corredor. E o pior é que depois não se dá apanhado... O meu marido diz que não posso deixar que ele faça o que quer. Mas a verdade é que não consigo impedi-lo. O meu marido dá-lhe com o pé e ele quase voa. Não é um pontapé, é um empurrão com o pé. Mas claro que não consigo fazer isso, Recearia magoá-lo. Não há explicação para as coisas que ele faz, um pequeno terrorista. Mas uma graça, uma inteligência. Só que teimoso, teimoso, teimoso. 

Tomara que tenha as vacinas todas para ver se se cansa com as caminhadas. O que vale é que depois dorme até de manhã. 

Enfim. Nada mais tenho a dizer sobre este sábado tranquilo. E desculpem ter tomado o vosso tempo com coisas tão de nada.


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Flores de Salvador Dali ao som de Motherland por Natalie Merchant

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Desejo-vos um bom dia de domingo

segunda-feira, setembro 20, 2021

O dia antes de.
[Penso eu de que]

 


Vou ver se consigo, a seguir, ir responder aos comentários. Passou o fim de semana e, até ao momento, não consegui pôr nem os comentários nem o sono em dia. Entre caminhada, supermercado, ida a um sítio de que hoje não quero falar, vinda para casa, estar com parte da família depois de ter estado com outra parte um bocado antes, jantar, tratar de coisas e outras ainda por tratar, pouco tempo me sobra. Não sei como consigo esta proeza. Há cursos de gestão de tempo e eu, se calhar, deveria frequentá-los. Iriam ensinar-me a gerir prioridades. Se calhar deveria não ir a todas como agora tento ir. Mas vou porque quero e não porque seja obrigada. Portanto, abóbora.

Tenho estado aqui a fazer umas pesquisas para ver se mudo de opinião em relação a um certo tema ou para ver se reoriento os meus interesses noutro sentido. Mas como sou de amores à primeira vista não há racionalizações que me salvem. O meu marido chegou aqui e disse-me para eu validar algumas alternativas. Não me agradaram. 

Entretanto, cá em casa, constatei que o meu menino mais velho já está declaradamente mais alto do que eu. E já está com voz grossa. E senta-se já à homem. Tem vontade de viajar. Falei-lhe no interrail e ficou interessado. Mal possa, far-se-á à vida. Tem um espírito independente e o apelo por ir conhecer mundo. Disse-lhe que tem que merecer confiança e mostrar que é responsável para poder ir sozinho ou com amigos para o estrangeiro. Diz que claro que sim. Acredito que sim e acredito que proramará tudo com minúcia.

O irmão candidatou-se a delegado de turma. Perguntei-lhe qual a sua proposta e porque haveriam os colegas de votar nele. A mãe perguntou-lhe se não ia haver debate e, se houver, se já pensou no que vai dizer. Virou-se para nós e, com ar de quem se vê forçado a dizer coisas óbvias, disse: 'É domingo, ao domingo não se pensa nisso...!'. E acrescentou que logo verá o que dirá. É intuitivo, emotivo e muito boa onda. Toda a gente gosta dele. A escola é nova mas já está como se toda a vida lá tivesse andado.

De manhã, tínhamos recebido fotografia da menina num jogo de equipa. Mal a reconhecia. Estava de costas o que dificultava, mas também está crescida. Cresceram todos nas férias. Agora à noite foi o mano do meio com o pai, que ele tinha batido novo record, 5,5 km em 45 minutos sem parar. Estava todo contente na fotografia. Meu menino querido. De tarde, enviaram uma outra fotografia. Estavam com a bisa a lanchar, a bisa toda contente com o programa de festas. Contou-me que, depois, ainda foram lá para casa pois tinha feito crepes e bolo mármore. Estava toda contente com a alegria e inteligência dos meninos. Diz que o mais novo disse aos pais: 'fiz bem em programar este passeio'. De facto, já há algum tempo que andava a querer lá ir.

Tirando isso, também li a entrevista da Ana Cássia Rebelo que, em boa hora, aqui me sugeriram. Há qualquer coisa de surpreendente nela por, tão aberta e quase candidamente, se expor em toda a sua intimidade, não hesitando em revelar aspectos sensíveis da sua vida, incluindo a nível sexual ou das suas mais privadas vulnerabilidades. Mas ela fala disso como se falasse de banalidades. Deve ser desconcertante lidar de perto com ela. Lembro-me de quando revelava as mais incríveis intimidades, revelando até o nome da pessoa com quem partilhava esses momentos. Imagino que deve ter causado alguns dissabores a alguns dos envolvidos. Mas, na sua franqueza, ela parece ser como aqueles inocentes ou aqueles seres inimputáveis a quem tudo se deverá perdoar.

Diz ela na entrevista que gosta muito de ler e que, para ela, ler é mais relevante do que escrever. Senti alguma nostalgia pois também eu gosto tanto de ler e, no entanto, não ando a conseguir tempo para ler. E essa ausência cava um fosso dentro de mim. Mas, na minha deficiente gestão de prioridades, tenho cortado a leitura para conseguir acorrer ao demais. Ando a ler pouco, pouco, pouco. Tenho que ver se consigo corrigir isso pois sinto muita falta. 

E agora vou ver se consigo ir aos comentários. E, a seguir, a ver se ainda vou passar alguma roupa a ferro. 

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Mas, antes, partilho convosco a actuação de Léa Kyle que sempre me deixa parva a tentar perceber como é aquilo possível. Não sei se é magia, se é ilusão de óptica, se é coisa do outro mundo. Mas é do caraças.

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As fotografias são de Izumi Miyazaki que aqui vem na companhia da Garota Não com o seu Monstro

Nada como um bom surrealismo.

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Desejo-vos uma boa semana a começar já por esta segunda-feira


segunda-feira, setembro 06, 2021

Escrever na ressaca

 

Acho que devo estar de ressaca. Nada de mais mas, ainda assim, de ressaca. 

E, calma, não é do punch. 

O meu filho, quando lhe disse que o cocktail que o pai me tinha arranjado estava uma delícia, avisou-me para o teor de álcool do rum não é brincadeira; mas o meu marido disse que de rum tinham sido apenas dois dedos. Informei que não me tinha dado qualquer abalo. Já não me lembro se foi o meu filho ou a minha filha que, no gozo, me disse que estou uma verdadeira esponja. Mas ainda não. 

Mas, portanto, a ressaca não é do punch  Ou é coisa da PDI ou tem a ver com o culminar de obras, trabalhos, limpezas, arrumações, aventuras diversas incluindo passagens pelo hospital, exames médicos e consultas, reuniões, reorganizações e, sobretudo, sobretudo, sobretudo, falta de férias. O que sei é que hoje não apenas estou podre de sono como com a sensação de que não vou conseguir escrever sobre o que quer que seja.

Diria o bom senso que, não havendo nada a dizer, me mantivesse calada. Mas não. Bom senso não é comigo, pelo menos nestas paragens. Portanto, a espaços, dormitando in between, vou tentar.

O dia foi sossegado, bom, agradável. Conversa tranquila no jardim. Depois, o tempo toldou-se a meio da tarde. 

Viemos para o campo e, a contragosto do meu compagnon de route, desviámo-nos até ao centro da cidade para eu ir satisfazer o meu capricho habitual. O de sempre: cone de duas bolas. Gianduja (que sabe a chocolate e que tem avelãs ou amêndoas e passas), e, desta vez, um novo. Tenho ideia que se chamava Taermina. Mas poderá não ser bem isso. O que sei, e disso não tenho dúvida, é que é excelente. Perguntei de que é e agora já não sei tudo. Tenho ideia que tem nozes de macadâmia, licor de flor de laranjeira e outra coisa de que não me lembro. Tão boooommm. Claro que em vez de um modesto cone de duas bolas deveria era ter pedido um copo com o equivalente a dez bolas. Uma de caramelo salgado, outra de ananás, gengibre e hortelã, outra de arroz doce, outra de cheesecake de frutos vermelhos, outra de chocolate preto com laranja... e por aí vai.

Não sei quanto mais tempo viverei nem em que circunstâncias morrerei. Mas de uma coisa eu gostava: quando chegar a hora -- que, tal como nos partos, era bom que fosse pequenina --, se der tempo, se eu ainda estiver capaz para engolir e se não for um grande transtorno, muito agradeceria que alguém fizesse a delicadeza de me levar um belo geladão. E aí, livre da chatice de não comer demais para não engordar, poderia mesmo ser um copão a deitar por fora. Isso é que seria morrer regalada. Quanto ao resto, também agradeço que não se ponham a dizer que gostam muito de mim senão vou logo perceber que o momento é de despedida. Prefiro que contem piadas ou se desatem a rir porque, comigo, o riso é contagioso. Morrer a rir à gargalhada depois de uma barrigada de belo gelado, isso é que era. Direitinha para o céu, santa, risonha e consolada.

Hesito entre o enterro tradicional, debaixo de terra, ou ser transformada em cinza. Se calhar é mais rápido e melhor para toda a gente se a coisa se resolver logo ali. Lareira com ela. Assim nem haverá a dúvida sobre o que escrever na lápide. Podia ser: aqui jaz a maluca que morreu a rir depois de uma barrigada de gelado mas já sei que haveria sempre um bicho careta que acharia que isso não me representaria bem. Assim, apenas teriam que atirar as cinzas para um lugar qualquer. Claro que gostava que fosse aqui, in heaven. Mas às tantas, se um dia quisessem desfazer-se disto, não se sentiriam com sentimento de culpa: será que, ao vendermos isto, não vamos estar também a vender a maezinha? (ou a avozinha, consoante quem fossem os vendedores). É certo que haveria de aparecer uma voz pragmática; Eh pah.. mas onde é que a maezinha já lá vai...  Mas há sempre os românticos, os que achariam que a alma da maezinha (ou da avozinha) ainda andaria por ali a pairar e far-lhes-ia impressão que o espírito da maezinha, quando quisesse atazanar a cabeça a alguém, já só desse de caras com desconhecidos. Portanto, o como, quando e onde não sei, que resolvam como acharem melhor. 

Agora que o escrevo, penso que, na volta, no mar é capaz de ser a solução mais prática. A malta à beira de água, a comer um gelado, e, na maior descontra, a atirar as cinzas da maezinha ao mar. E a dizerem simplesmente: ...Já foste! E, no maior folguedo e despautério, tudo a desatar a rir e a fugir das ondas.

Bem. Isto vinha a propósito de quê? Ah, já sei do gelado.

[É que, a sério, uma coisa que me chateia é pensar, quando for desta para melhor, se for coisa com tempo e não de repente como deveria ser, em vez de fazerem com que vá divertida, ainda se lembrem de me porem com vontade de chorar ou com vontade de me pôr a consolá-los a eles, os que cá ficam. Não haveria pachorra. É que posso não ter força para os mandar irem carpir para outro lado e ter que ficar ali a gramar com a choradeira. Seca maior não deve haver.]

(Se bem que seca das valentes devem ter que gramar os que tiverem que dar destino à tralha que por cá vou deixar. Coitados. )

Bom. Adiante que esta desconversa não aproveita a ninguém..

A questão é que praticamente não vejo televisão nem leio notícias. Por isso, não tenho assunto que interesse aos outros. 

Há bocado, ao entrar no youtube constatei aquilo que parece ser a prática corrente. Excertos de programas de televisão, os mais variados, em que os entrevistados vão fazer confissões: uns foram drogados, outros sofreram depressões, outros estiveram desempregados, outros têm baixa autoestima,  outros são homossexuais mas só se assumiram dois dias antes, outros foram obesos, outros magros demais. Parece que os produtores de televisão em Portugal andam por aí a farejar desgraça ou mania da grossa ou parvoíce aguda. E a malta, desde que tenha um microfone ou uma camara apontada, confessa tudo, se calhar até empolando ou dramatizando a infelicidade ou a macacada. Provavelmente há quem ache que isto é bom, que exorcizar fantasmas ajuda e que, sobretudo, encoraja os que escondem a exorcizar também. Eu tenho muitas dúvidas. A malta que for de miolo mole vai é ficar com pena por não ter um segredo ou uma desgraça para contar. Aos poucos pode criar-se a ideia que o normal é ser psicopata, alcoólico ou drogado, ter batido na mãe, ter sido abandonado pelo pai, ter sido violado pelo senhor padre, comer raspas todos os dias a todas as refeições, tomar banho num alguidar e, não menos importante, ter sido casado com a mulher do primo da cunhada e, aos sessenta anos, descobrir que, afinal, o tal não era primo mas avô e que não casou com uma mulher mas com um homem com uma pilinha tão pequenina que durante uma vida inteira nunca deu por ela.

Volta e meia aviso a minha mãe para se livrar desses programas não vá, algum dia, converter-se ao culto da parvoíce encartada. Diz que não mas tenho para mim que, volta e meia, deve lá estar caída pois, a propósito de banalidades, vem com medos sobre coisas terríficas e, quando lhe digo que está a viajar na maionese, diz que não, que ouviu na televisão relatar caso idêntico. 

Fazer o quê? É assim a vida. Ou, pelo menos, é assim que a vejo quando estou ressacada e a cair de sono. Portanto, com vossa licença, por ora vou pregar para outra freguesia.

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Pinturas de Cruzeiro Seixas ao som de In hell I'll be in good company numa interpretação de Nice Price Acoustic Band 

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E, mal por mal, vai um pezinho de dança, pessoal?


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Desejo-vos uma bela semana a começar já por esta segunda-feira

sexta-feira, junho 25, 2021

A verdade é que sobre tudo isto não há muito a dizer

 



Pouco a dizer. Manhã muito atarefada. Tarde atípica, fora de casa, com algumas decepções pelo meio e alguma improdutividade indesejada. Chegámos a casa lá para as dez e meia da noite. 

Banho. Para jantar o que apanhámos pelo caminho. 

Depois pus-me a ver televisão, nomeadamente o House. Sempre aquela máquina de desconcerto, sarcasmo e inteligência. 

Agora, abri o computador à espera de uma informação que, afinal, não está cá. E não tenho novidades para partilhar ou notícias para comentar. Para além da grande Lisboa continuar a marcar passo, Lisboa propriamente dita retrocedeu. 

Não sei se isto é por tanta gente já se portar como se não houvesse covid ou se por o teletrabalho ter abrandado e muita gente estar de volta aos escritórios, ou seja, a espaços fechados. Espaços não ventilados são ratoeiras. E, se muita gente volta a espaços fechados, mais gente anda de transportes e mais gente vai a restaurantes (espaços também mais ou menos fechados com pessoas sem máscara). Não sei. O que sei é que esta não estava no programa. Sempre imaginei que com tanta gente já a ter estado infectada e tanta gente vacinada, com a vida a poder ser feita ao ar livro ou de janelas abertas, esta droga tivesse esmorecido. Afinal não.

Continuamos sem estatísticas sobre como e onde as pessoas estão a ser infectadas e acho que, sem essa informação, não se conseguem ter medidas dirigidas e eficazes.

Também ouvi, no carro, alguma polémica em torno do entusiasmo futebolístico do Ferro Rodrigues e da suposta divergência entre o Marcelo e o Costa sobre a gravidade da situação. Nada disso me interessa muito. Poeira. Mais chato é que este vírus seja diabólico, se transmute, troque as voltas a toda a gente, deixe sequelas, dê cabo da vida a muita gente. Isso, sim, é trágico e incontrolável. Quem abriu a caixa de pandora talvez não tenha percebido o que ia acontecer. E até acredito que a não tenha aberto de propósito. Coisas assim acontecem. Deus gosta de brincar aos dados, não é? 

Chato também que, fruto desta tragédia, toda a gente seja forçada a aceitar coisas que, em situações normais, não aceitaria. Só prova que somos vulneráveis e que valemos zero. 

No outro dia, está a fazer três semanas, pude viver na primeira pessoa a prova provada de que a nossa vontade vale zero, o nosso suposto controlo sobre as situações que nos envolvem e sobre o nosso corpo vale zero. Não temos voz activa para coisa alguma quando as circunstâncias nos tiram o tapete. 

Bem podem mil filósofos desde a antiguidade até aos dias de hoje ou uma legião de gregos antigos ter inventado a pólvora e todas as tragédias do mundo muito antes de alguém ter sonhado na nossa existência que nada disso contribui para a nossa segurança ou felicidade.

Quando chega a hora, só nos acontece uma coisa -- olhar para dentro de nós e para o que nos rodeia e pensarmos: mas que raio nos está a acontecer?

Li que as últimas palavras da Princesa Diana, pouco antes de morrer, quando estava no carro, aparentemente sem ferimentos de maior mas, efectivamente, prestes a entrar em paragem cardíaca, terão sido Oh my God, what's happened? Também ela, perante o acidente e perante quem, perto dela, já se tinha ido, mostrou a estupefacção de quem não percebe o que lhe está a acontecer.

Mas, enfim, nada de novo. Tudo é um acaso. E a única coisa ajuizada é festejar a vida enquanto ela parece estar à nossa disposição. Tudo o resto, maldizer os outros ou a vida, acusar este ou aquele, arranjar tricas sobre futilidades ou desperdiçar um minuto que seja da nossa vida é uma estupidez sem explicação.


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Nos últimos tempos, um post que escrevi em janeiro de 2015 tem recebido diariamente um número inusitado de visitas. Trata-se de um post que escrevi com a alegria possível quando o meu pai teve alta depois de umas semanas complicadas. Depois disso, voltou a estar hospitalizado mais algumas vezes. Sofreu bastante, sobretudo por assistir ao declínio do seu corpo, da sua independência, do seu orgulho. Já fez um ano que se foi. E faria hoje anos. Todos os anos festejávamos o seu aniversário mesmo quando, acamado, já não participava nos festejos nem tinha grande consciência de que lá estávamos a festejar que estivesse vivo. 

Faz-me um bocado impressão constatar como o tempo passa de uma forma tão inexorável. O seu bisneto mais novo não chegou a ter consciência da sua existência. E qualquer dia os outros acabarão por se esquecer daquele bivô ausente, entubado, que não os via e mal falava. A vida da gente esvai-se de nós e, com o tempo, esvai-se da memória dos que nos conheceram. E é assim mesmo, nada a fazer. 

E isto só é mais uma razão para aproveitarmos enquanto podemos. Tirando isso, batatas.

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As fotografias cheias de surrealidades são da autoria de Ellen Sheidlin
E June Tabor faz-nos companhia com Love Will Tear Us Apart

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Dias felizes.
Saúde