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domingo, dezembro 23, 2018

Andam monstros cabeçudos in heaven?
Pergunto eu, a caçadora de orvalhos.




Ao abrir a porta, veio aquele ar gélido, quase húmido. Duas semanas sem virmos e a casa ressente-se logo. Escura, triste e muito fria. 

Arrumei a comida no frigorífico, fui abrir as janelas. 

Depois disse, como geralmente digo, 'vou dar uma volta'.  Peguei na máquina e lá fui. O ar bem mais quente do que em casa, um ceu azulinho com algumas nuvens, uma aragem muito leve, um perfume bom no ar, a terra ainda húmida das frescuras da noite. Tudo verdinho, tão bonito.


A perfeição da natureza é uma lição: não é preciso que tudo esteja alinhado, não é preciso que seja tudo da mesma cor para que o conjunto seja harmonioso. Vejo beleza na delicadeza das estrelinhas verdes e macias de que é feito o musgo, vejo beleza na caruma, nos líquenes, nos restos de folhinhas secas, vejo beleza nos contrastes cromáticos. Vejo beleza na paz e no canto dos pássaros que habitam in heaven

Aproximei-me. Comecei a ver manchas claras. Aproximei-me mais. Uma renda fina. Orvalho.


Fui andando e verificando que nos sítios mais escondidos, junto aos troncos, por debaixo dos arbustos, um pouco por todo o lado havia destas pequenas rendas brancas e delicadas. Pensei: sou ma caçadora de orvalhos. E agradou-me a ideia. Talvez um dia escreva um conto autobiográfico com este nome: a caçadora de orvalhos. Ou talvez a ideia me anime quando, entre vidros e paredes brancas, numa torre asséptica e sem janelas, me sentir aprisionada e cansada,


As gotinhas muito visíveis, a graça de se encontrarem suspensas na cama de caruma e musgo, tudo tão quase invisível.

Depois, uma pintinha branca. Aproximei-me, fui rente ao chão. Um cogumelo ínfimo. Como saem estes bichinhos perfeitinhos e tão frágeis do interior da terra é coisa que sempre me espanta.


Fui então em busca de mais. Desapareceram os gigantes, desapareceram os amarelinhos do outro dia. Aparentemente desapareceram todos com excepção daquele pequenino, ali refugiado junto ao orvalho.  Se calhar acabou a época deles.

Mas mantive-me atenta, deslizando silenciosa como uma gata, espreitando a terra. Até que descobri. Lindos, quase da cor da caruma, muito pequeninos, muito elegantes, quase irreais.


E ia eu assim, enlevada, quando ao fundo, na curva, junto ao cedro grande onde a terra é fofa e está coberta de musgo, umas grandes pegadas. E, ao longo do caminho, aquelas marcas. Que bicho grande por ali andou não faço ideia. Depois, em alguns locais, a terra um bocado revolvida. Um bicho a tentar encontrar comida enterrada? A desenterrar raízes? Não sei. Não coloco as fotografias pois não ficaram bem, não se percebem as pegadas pois, sendo tudo terra escura, ficaram com contraste insuficiente. Amanhã tentarei usar flash pois gostava de vos mostrar, talvez alguém perceba o que pode ser. 

Depois as marcas desapareceram. Ainda um dia gostava de deixar uma câmara a filmar o que se passa na nossa ausência, em especial de noite. São pegadas recentes, presumo que durante a noite.

Mais à frente, no chão, o que, num relance e vindo eu intrigada com as grandes marcas na terra, algo estranho.


Parecia a cabeça de um monstro vista de perfil, a cavidade do olho, a boca aberta com os dentes à vista.  Aproximei-me. Ah... não. A casca de uma árvore. O monstro que anda in heaven não deixou ali a cabeça. 

E mais à frente outro espanto. Afiadas como lanças dirigidas ao céu, umas pequenas pontas verdes. Será possível que as folhas das figueiras já estejam a querer despontar? Ou são espadas a que o monstro deita mão quando luta contra nuvens, fazedores de orvalho, pássaros invisíveis?


Também não sei. O que se passa aqui, in heaven, é um permanente mistério. E eu adoro isto, adoro estar aqui, faltam-me é as palavras para o dizer. 

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E queiram adivinhar qual é um dos lugares que o Guardian elegeu como um dos melhores lugares que descobriram em 2018 
[só digo que é no centro de Portugal, o resto podem ver no post abaixo]

terça-feira, agosto 11, 2015

Alô, alô Leitora Fantástica! Aqui está a o Caderno de Leituras sobre Maria Gabriela Llansol que pediu para ver. E vem com (quase) todos. Uma festa.


Num comentário ao post abaixo, a Leitora Fantástica, autora de A Matéria dos Livros, disse que não conhecia o Caderno de Leituras com textos de Maria Gabriela Llansol. E tem razão. Involuntariamente, induzi os Leitores em erro, pois, na realidade, trata-se de uma Selecção de artigos publicados na imprensa generalista portuguesa em torno de alguns livros de Maria Gabriela Llansol (e não textos da própria).

A Editora é a Mariposa Azual (e o livro custou-me 4.5€). Mais abaixo mostro a capa e algumas páginas interiores colocando ao lado o livro da Clarice Lispector para que se perceba a dimensão do Caderno de Leituras.






Para aguçar o apetite não apenas para este Caderno mas, sobretudo, para os livros de Maria Gabriela, transcrevo uns breves excertos do que alguns disseram, por exemplo de 'contos do mal errante'.


1. De Eduardo Prado Coelho in Expresso em 13.12.1986: o amor ímpar


(...) Esta sintaxe das imagens da atracção e da repulsa traça a moldura do que é o tema fundamental deste livro: a alquimia do encontro. Escreve Llansol: "como se fosse só a beleza das almas convergentes que fosse capaz de cativar e trazer acalmia à desordem do mundo, essa percepção está impregnada de nostalgia e de receio. Nostalgia do momento que há-de vir, em que será manifestada a beleza do encontro, o seu ponto culminante de elevação, como uma epifania vinda de outro lugar, e permitida pela renúncia das vontades; e receio, porque o jogo das forças é frágil quando a falta de habilidade e de rectidão interior provocam danos que podem ser - ou parecem ser - irreparáveis"

Deste encontro a três, na inumanidade cósmica de um amor ímpar, dá-nos Maria Gabriela Llansol páginas extraordinárias que transitam da luminosidade do fogo e da neve até à sabedoria aconchegada de um cântico invernal; mas nenhuma tristeza há neste percurso, antes uma alegria imensa e partilhável: "um cântico invernal não é a morte, nem a imobilidade: é o deixar espalhadas sobre a mesa todas as letras do nome Amor".





2. De Francisco Vale in Jornal de Letras, Artes e Ideias em 13.04.1987: Da atracção dos corpos em caso de amor ímpar


(...) Copérnico amava Isabôl e desde o início soubera que o "o seu corpo lhe interessava mais do que o seu rosto, e que ia dedicar-se a perscrutá-lo com atenção, liberando todos os sentimentos, para descobrir de que volúpia presente seria, no futuro, a causa".

Mas ambos esperavam "um terceiro" nesse tempo de Inverno que os isolava. Esperavam Hadewijch, "oculta" na sua própria ausência.

Olhando Copérnico, com o seu "peito nu, o rosto nu, os olhos abertos com um intenso sinal de vida", Isabôl deseja "poder deslizar do seu peito ao peito de Hadewijch e, um antes do outro, voltar a beijá-los"; e quando pensou em Hadewijch reconheceu que " ele devia poder vê-la naquele instante" e saíu do quarto "sem falar para não interceptar a sua vista"




3. De Maria Teresa Horta in Mulheres em 04.1987: "Contos do Mal Errante" de Maria Gabriela Llansol



É um livro de sabedoria; de uma androginia quase alquímica.

É ofuscante.
         E um livro sem brandura, ferino e obscuro ao mesmo tempo.

De um falso despojamento de escrita e de sexualidade, na mesma medida inventada.

        É um livro de fingimento total, num jogo contido e tenso, naquilo que é cerne e raiva e não se sabe mesmo se crueldade.

          É um livro labiríntico, de um egoísmo feroz. Egocêntrico e redondo, à volta de si mesmo.
(...)
        De onde nasce a paixão? - Não nasce: arquitecta-se a si milimetricamente, medida-escrita, pesada e descrita, até se ver o osso e a paixão, portanto, se extingue em si mesma.

          E se apaga.

      Tal como o desejo, curiosamente à aparência tão importante nesta obra de Maria Gabriela Llansol - desejo nascido com o único fim de logo ser negado?

        Extinto. - Pelo próprio corpo... da escrita.
(...)
....


E, agora, as fotografias do Caderno de Leituras de onde extraí os excertos que puderam ler acima e poderão continuar a ler mais abaixo.

Caderno de Leituras - organização de Helena Vieira/Espaço Llansol


"Meditava, pois, que não havia só seres com perfil histórico reconhecido, mas todos nós éramos seres apagados de um momento, e seres vibrantes do outro"

(Regina Louro in "A escrita errante de Maria Gabriela Llansol")


"Causa amante" é o mais frágil de todos os livros, como a escrita (ou o amor) é a mais frágil de todas as matérias

(Regina Louro in  'entre tudo e nada' em 1984)
....



4. E sobre Um beijo dado mais tarde, de António Guerreiro in Expresso em 06.04.1991: 'Na margem da língua, fora da literatura' 


(...) As palavras podem então ir à frente, como batedores em busca de mundos possíveis, ensaiando um itinerário de conhecimento. 

(...) Numa formulação mais breve, dir-se-á num dos seus livros: "Não há literatura. Quando se escreve só importa saber em que real se entra, e se há técnica adequada para abrir caminho a outros". A língua tem de ser um mecanismo que permite a aproximação extrema entre os seres e a travessia de diferentes épocas históricas sem outro fim que não seja o de conhecer. Então, "todos os livros, limites e indícios da vida quotidiana me parecem pequenos microcosmos justapostos com o mesmo fim, ou a mesma origem". Como se tudo estivesse em tudo. O Livro pode ser prolongado infinitamente, como uma virtualidade aberta a todos os recomeços.
(...)
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Para acompanhar os excertos usei imagens do fotógrafo russo Anton Belovodchenko que descobri no Bored Panda. E para acompanhar todos escolhi a Buika com o seu Por el amor de Amar.

Sobre o belíssimo bailado do final - que espero que até os mais distantes da arte não deixem de ver porque garanto que sentirão maravilhados - transcrevo o texto de apresentação do vídeo:

New York City Ballet presents NEW BEGINNINGS on September 12, 2013. Filmed at sunrise on the 57th floor of 4WTC in lower Manhattan, this short film captures an extraordinary and moving performance of Christopher Wheeldon's After the Rain. It is a testament to the resilience of the human spirit, and a tribute to the future of the city that New York City Ballet calls home.
Música: Spiegel Im Spiegel de Arvo Part. Coreografia: After the Rain de Christopher Wheeldon; Bailarinos: Maria Kowroski, Ask la Cour
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma dia muito feliz. 
E muita saúde para os que estão assim-assim e esperança para os que estão com medo, e boas notícias para todos. 
E alegria.

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domingo, dezembro 16, 2012

A Leitora Fantástica descobriu: é Ovídio e a sua Arte de Amar (Ars Amatoria)


Está desvendado o mistério!



A autora de A Matéria dos Livros na sua fase de Leitora Fantástica


A Leitora Fantástica, autora d' A Matéria dos Livros que sempre visito, voltou a acertar. O autor dos poemas em itálico nos últimos textos que publiquei é, de facto, Ovídio e os excertos pertencem à obra Arte de Amar



Ovídio e a Ars Amatoria


Ovídio, poeta romano, nascido 43 anos antes de Cristo e que viveu 63 anos, escreveu Ars Amatoria sobre o qual transcrevo da Wikipedia:

A Arte de Amar ("Ars Amatoria", em latim) é uma série de três livros do poeta romano Ovídio.

Escrita em versos, tem como tema a arte da sedução. 

Os primeiros dois volumes da série, escritos entre 1 a.C. e 1 d.C., falam 'sobre conquistar os corações das mulheres' e 'como manter a amada', respectivamente. 

O terceiro livro, dirigido às mulheres e ensinando-as como atrair os homens, foi escrito depois. 

A publicação da Arte de Amar pode ter sido ao menos em parte responsável por Ovídio ter sido banido de Roma pelo imperador Augusto. A celebração do amor extraconjugal pode ter sido tomada como uma afronta intolerável a um regime que promovia os 'valores da família'. Para o leitor moderno, parte do interesse no poema está nos vívidos registos da vida quotidiana da Roma Antiga.


O livro, que recomendo, do qual extraí aqueles excertos é uma edição da Biblioteca Editores Independentes, com tradução, introdução e notas de Carlos Ascenso André e custa a módica quantia de 6€ - ou seja, o preço, neste caso, não pode ser considerado factor dissuasório.

Começa assim:


Se alguém das nossas gentes não conhece a arte de amar,
    leia este canto; e, depois de o ter lido, entregue-se com sabedoria ao amor.


e é assim que acaba (antes da conclusão):


E não permitas que a luz invada o quarto a toda a largura da janela;
   é melhor que no teu corpo muita coisa fique às escuras.


Parabéns, Leitora, e muito obrigada pelas suas leituras sempre tão atentas.

sexta-feira, novembro 16, 2012

Sobre uma carpete de Arraiolos feita por mim, os meus últimos livros. Aqui refiro em particular Kafkiana de Agustina Bessa-Luís com prefácio do marido, Alberto Luís.


Quem não esteja para ler sobre os meus últimos livros, pode descer mais um pouco e ir já até ao meu post seguinte onde vos falo de um sonho do além e vos falo das últimas de Passos Coelho, Gaspar e Cavaco e, ainda, de uma teoria da conspiração que por aí corre envolvendo Rui Rio, quiçá Rui Moreira e, ainda, o já referido Presidente.

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Fui à procura de um livro sugerido por uma Leitora, Botas do sargento, um livro de contos de Vasco Graça Moura com imagens de Paula Rego. Não havia mas não estava esgotado pelo que o encomendei. De caminho, passei outra vez pelos escaparates. É uma tentação. Quando conseguirei eu ler todos os livros que vou comprando?

Ainda no outro dia, tinha comprado uns quantos, até vos mostrei. Depois fui atrás do último do José Riço Direitinho, o Breviário das Más Inclinações, conforme sugestão de uma certa Leitora Fantástica e acabei trazendo, para além desse, também Contos Escolhidos de Carson McCullers, numa tradução de Ana Teresa Pereira, Rómulo de Carvalho/António Gedeão, Príncipe Perfeito de Cristina Carvalho e o Ruben A., Uma biografia, de Liberto Cruz e Madalena Carretero Cruz.

Gosto imenso de biografias, correspondências, diários.

Hoje, foi outra vez a mesma coisa, uma incapacidade de resistir a uma tentação que é forte demais. Trouxe o 2º volume da Poesia Completa de Vasco Graça Moura, o Kafkiana de Agustina Bessa-Luís e o Próximo Outono de João Miguel Fernandes Jorge e Pedro Calapez, um diário. E, ainda, a última Ler que já comecei a digerir (digo 'digerir' para não repetir a palavra 'ler') na fisioterapia. Mas hoje não foi um bom dia para leituras. O gabinete em que eu estava enquanto me aplicavam os ultra-sons e as ondas-curtas estava à meia luz e eu ali, deitada, sossegada, parte do tempo a levar uma massagem... Pois, estão a ver, não é? um sono... por pouco não adormeci. Por isso, hoje não progredi muito na leitura.

A ver se não volto à livraria nos próximos tempos. O que me alivia a consciência é pensar que mais vale comprar já carradas de livros - mesmo que nem tão cedo os consiga ler - do que esperar para o ano que vem e o dinheiro me ir todo para o Gaspar-não-acerta-uma. Assim como assim, mais vale ficar já com os livros.




Desta vez, na instalação que fiz para a fotografia, não usei écharpes. Comecei por escolher duas, e agora estão aqui ao meu lado deixando um cheirinho a Nº 5 na sala. Mas acabei por optar por colocar os livros em cima de uma carpete de Arraiolos que aqui tenho, feita por mim, claro, um modelo original do século XVII, com 1,70 m de largura por 2,5 m de comprimento. Esta é a da águia bicéfala, cujo original está no Museu das Artes Decorativas em Paris.

Mas o que queria era dizer-vos que o livro da Agustina, Kafkiana, me enterneceu. Tem a abrir uma 'Advertência à presente edição' de Alberto Luís, o marido de Agustina.

E como há pouco gostei de ler o que ele escreveu... Objectivo mas de uma ternura implícita que me tocou, tanto mais quanto se sabe o cuidado que ele sempre pôs na revisão dos originais da mulher, das brigas que tinham, ele querendo que ela limasse as incongruências e ela sem paciência para esses pormenores.

(E só estou a escrever no passado porque é sabido que Agustina já não escreve.)

Transcrevo apenas um parágrafo desta advertência.

Um menu souvenir que Agustina guarda deste encontro memorável de Kafka com os actores é a fotografia que eu lhe tirei nos princípios de 1974, entregue à leitura dum livro do futuro Prémio Nobel Isac Bashevis singer, Um amigo de Kafka, onde um velho actor da trupe nómada lhe conta, nos primeiros anos trinta, a história da paixão de Kafka pela bela Tchissik.

Afinal vou transcrever também os dois últimos parágrafos:

Assim, não estamos impedidos de remeter as reflexões fragmentárias, quer de Kafka, quer de Agustina, para o Aggadah talmúdico, no seu livre questionamento do estado do homem no mundo.

Eis como interpreto o pensamento que se encontra suspenso nos textos de Agustina, à excepção do último, um passeio por Praga - gesto de verdadeira comunhão dela com o humor demoníaco de Kafka.


Promete, este livro. A ver se o consigo ler no fim de semana.


*

A música é de Jean-Philippe Rameau que esta semana tem estado presente no Ginjal, e o que ouvimos aqui, Chaconne, faz parte de Les Indes Gallantes. A interpretação está a cargo de William Christie e de Les Arts Florissants e é um prazer.

*

Já agora, porque não convidar-vos de novo a um passeio até à beira do rio? No meu outro blogue, o Ginjal e Lisboa, a love affair, as minhas palavras elevam-se sobre as águas acompanhando os que pensam viver para sempre, ao som da lira de Vasco Graça Moura. A música, como vos disse, é de Rameau e tenho gostado tanto que acho que vai haver prolongamento.

*

E já chega, não é? Já escrevi outra vez como se não houvesse amanhã, credo. 

Desejo-vos um belo dia. Saúde e alegria é o que vos desejo.

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Tal como se refere nos Comentários abaixo, aqui coloco, depois de devidamente autorizada pela Leitora Antonieta, imagens de livros seus que vêm a propósito do que acima se escreveu. Também estão sobre uma carpete de Arraiolos.







Obrigada!

domingo, novembro 20, 2011

Palavras ao espelho


No Ginjal, uma gata olha outra gata - como se estivesse a ver-se ao espelho
(foto minha, hoje de manhã)


Vamos pela vida, apressados, distantes, eficientes, e, na voragem dos dias, percebemos que esgotamos o tempo, esgotamos a paciência, esgotamo-nos.

Vamos pela vida e desencontramo-nos de quase todos - daqueles que não conhecemos nem nunca conheceremos, daqueles que um dia conhecemos e que esquecemos, vamos pela vida e vamos quase sozinhos.

Vamos pela vida, escondendo-nos dos outros, de nós próprios, escondendo afectos, escondendo palavras.

Vamos pela vida, vamos indo pela vida, vamos indo.

E, de repente, umas palavras inesperadas, um pequeno gesto, um sorriso que apenas se imagina.

E, de repente, o calor de uma imagem, a cintilação de um olhar.

Reflexos num espelho, fugazes reflexos? Ou alguém do lado de lá, alguém que nos olha do outro lado do espelho?



[Texto inspirado pelos Espelhos Repentinos, inspirado texto da Leitora Contemplativa, autora do excelente A Matéria dos Livros]