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segunda-feira, fevereiro 06, 2023

Onde o ChatGPT fala sobre cuidados anti-envelhecimento, dá conselhos para se ter uma vida melhor, disserta sobre a guerra e sobre o 'vício' em beijinhos do Marcelo Rebelo de Sousa, sobre os riscos das redes sociais, cria aforismos e silogismos, propõe uma declaração de amor para uma mulher céptica, escreve um poema surrealista e um incompreensível, esclarece sobre os seus riscos para a humanidade

 

Depois de mais uma ampla e feliz reunião familiar (convém não esquecer que, a brincar, a brincar, os aquários já por aí andam), sento-me aqui e continuo a explorar as capacidades do ChatGPT, um super-mega algoritmo de inteligência artificial que me fascina e assusta. Estes temas continuam a passar ao lado da política e temo que, quando acordem, já tenham a maior dificuldade em regular o saudável e seguro uso de ferramentas deste tipo.

O ChatGPT no fundo é como se fosse um estratosférico sábio que responde a tudo o que lhe pedem nem que, para isso, tenha que ler milhões, biliões, triliões de documentos e que, em cagajésimos de segundo, consegue sintetizar tudo em meia dúzia de linhas. E mais que isso: se lhe pedem que crie ele um texto ou um poema ou o que for ele também o faz, mimetizando a criação humana. 

Assustador se deixado à solta, pois.

Tal como ontem, abaixo, a itálico e bold a pergunta ou pedido que fiz. A seguir, a resposta que instantaneamente o ChatGPT escreve. Tentei lançar temas díspares apenas para me aperceber de como funciona e ver se detectava incoerências. 

É ver para crer. 

E, com o destaque que o mundo inteiro está a dar a isto, enriquecendo a 'experiência' do algoritmo, a semelhança com as respostas humanas será cada vez mais absoluta. Mas quando digo 'respostas humanas' não me refiro aos humanos comuns mas sim a avatares com super poderes que colocarão a sapiência humana no bolso.

A Microsoft, percebendo que o futuro está a passar por aqui, não pára de aqui investir biliões e a Google anda meio à nora sem saber bem como se posicionar, embora tudo por lá esteja em ebulição. Pudera.

Se há tema que deveria ser encarado muito a sério, com um grupo de trabalho a lançar a discussão pública e a propor medidas regulamentares à Assembleia da República é este. Urgentemente.

Qual o tratamento  de pele mais eficaz para o anti-envelhecimento?

Não há um único tratamento que seja considerado o mais eficaz para o combate ao envelhecimento da pele, já que a eficácia pode variar dependendo de fatores como idade, tipo de pele, histórico médico e hábitos de cuidado da pele. No entanto, alguns tratamentos que são frequentemente recomendados para ajudar a combater o envelhecimento da pele incluem:

  • Usar protetor solar diariamente: o uso diário de protetor solar é uma das medidas mais importantes para prevenir o envelhecimento prematuro da pele.
  • Adicionar antioxidantes à sua rotina de cuidados com a pele: antioxidantes, como vitamina C e vitamina E, ajudam a proteger a pele dos danos causados pelos radicais livres.
  • Hidratar a pele: a hidratação é importante para manter a pele saudável e hidratada, o que pode ajudar a minimizar os sinais de envelhecimento.
  • Tratamentos de pele profissionais: tratamentos de pele, como peelings químicos, luzes e laser, podem ajudar a estimular a produção de colágeno e melhorar a aparência da pele.
  • Alimentação saudável: uma dieta equilibrada e rica em nutrientes pode ajudar a melhorar a saúde da pele de maneira geral.

Em geral, é importante conversar com um profissional de saúde ou um dermatologista para avaliar suas necessidades individuais e escolher o tratamento mais apropriado para você.

Aplica-se a homens e mulheres?

Sim, os tratamentos anti-envelhecimento que mencionei anteriormente são aplicáveis tanto a homens quanto a mulheres. Embora algumas necessidades específicas da pele possam variar entre os gêneros, as medidas básicas para ajudar a combater o envelhecimento da pele, como usar protetor solar, hidratar a pele, adicionar antioxidantes à rotina de cuidados com a pele e optar por tratamentos de pele profissionais, são recomendadas tanto para homens quanto para mulheres. Além disso, uma alimentação saudável é importante para a saúde da pele, independentemente do gênero. É importante conversar com um profissional de saúde ou um dermatologista para avaliar suas necessidades individuais e escolher o tratamento mais apropriado para você.

Como se consegue viver uma vida melhor?

Existem várias maneiras de viver uma vida melhor, e o que é melhor para uma pessoa pode não ser o mesmo para outra. Algumas dicas gerais incluem:

  • Encontrar um propósito ou objetivo na vida.
  • Manter relacionamentos saudáveis e significativos com amigos, familiares e parceiros.
  • Praticar atividades físicas regulares.
  • Dormir o suficiente para descansar e recarregar suas energias.
  • Comer uma dieta equilibrada.
  • Aprender algo novo todos os dias.
  • Praticar meditação ou outras técnicas de relaxamento.
  • Dedicar tempo para fazer coisas que você gosta e que te trazem felicidade.
  • Aprender a gerenciar o estresse de maneira eficaz.
  • Ser grato pelo que você tem na vida e buscar formas de ajudar os outros.

Lembre-se de que o que é importante é encontrar o que funciona melhor para você e ser consistente nessas escolhas. A vida é uma jornada e é importante lembrar de desfrutar do caminho.

Quando vai acabar a guerra entre a Rússia e a Ucrânia?

Não há uma previsão exata para o fim da tensão entre Rússia e Ucrânia. A solução para o conflito depende da negociação política e diplomática entre as partes envolvidas, bem como da implementação de acordos internacionais e do respeito ao direito internacional. É importante que todas as partes trabalhem juntas para encontrar uma solução pacífica e duradoura para o conflito.

A China vai invadir Taiwan?

Não é possível prever com certeza se a China invadirá Taiwan no futuro. A posição oficial da China é de reunificação pacífica com Taiwan, enquanto Taiwan afirma sua independência e autodeterminação. A situação é altamente complexa e envolve questões políticas, militares e diplomáticas. Qualquer ação militar por parte da China contra Taiwan teria graves consequências para a estabilidade da região e para as relações internacionais. É importante que as partes envolvidas trabalhem juntas para encontrar soluções pacíficas e negociadas para qualquer questão em disputa.

Porque é que Marcelo Rebelo de Sousa é viciado em beijinhos?

Daqui
Não há evidências concretas para sugerir que o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa seja viciado em beijinhos. Ele tem uma personalidade extrovertida e gosta de interagir com as pessoas, incluindo apertos de mão, abraços e sim, beijos. Isso é visto como parte de sua personalidade e estilo de liderança, e é amplamente aceito e apreciado por muitos portugueses. No entanto, é importante destacar que ele também é conhecido por sua dedicação e trabalho duro em defesa dos interesses nacionais e do bem-estar do povo português.

As redes sociais são um perigo para a democracia?

As redes sociais podem ser vistas como um perigo para a democracia, pois permitem a disseminação rápida e ampla de informações, incluindo notícias falsas, rumores e discursos de ódio. Isso pode ter um impacto negativo na forma como as pessoas veem a política e os políticos, e pode prejudicar a capacidade de um país de ter uma discussão civilizada e produtiva sobre questões importantes.

Além disso, as redes sociais também podem ser usadas para influenciar as eleições e manipular a opinião pública, o que pode minar a integridade do processo democrático. É por isso que é importante que as redes sociais sejam regulamentadas e que as pessoas tomem precauções para verificar a veracidade das informações que encontram online antes de as compartilhar.

No entanto, as redes sociais também podem ser uma força positiva para a democracia, dando a pessoas de todo o mundo a oportunidade de se expressar e se conectar com outras pessoas que compartilham seus interesses e preocupações. Em última análise, o impacto das redes sociais na democracia depende da maneira como são usadas e regulamentadas.

Aforismo sobre elegância e petulância

"A elegância é a simplicidade vestida com sofisticação, enquanto a petulância é a presunção vestida com arrogância."

Aforismo sobre alegria e simplicidade

"A alegria verdadeira é encontrada na simplicidade, não nas coisas complexas."

Silogismo sobre beleza, elegância e distanciamento

"A beleza verdadeira é reforçada pela elegância. A elegância é alcançada através do distanciamento de tudo o que é grosseiro e vulgar. Logo, a beleza é aumentada pelo distanciamento do grosseiro e vulgar."

Silogismo sobre ignorância, arrogância e pobreza de espírito

"A ignorância é a fonte da arrogância. A arrogância é sinal de uma pobreza de espírito. Logo, a ignorância está diretamente ligada à pobreza de espírito."

Texto disparatado sobre futebol em que nada faz sentido (250 caracteres)

O futebol é uma bola voadora que voa pelo campo com pernas, correndo atrás de uma cesta de frutas. As equipes usam capacetes de bicicleta e pás de neve para marcar golos enquanto dançam breakdance. Tudo é regido por um árbitro com superpoderes que julga lutas de karate. É uma loucura!

Declaração de amor para uma mulher cética

Meu amor, eu sei que você tem receio de amar novamente e que tem ceticismo quanto ao amor verdadeiro. Mas eu quero que você saiba que eu sou diferente, eu prometo ser fiel e amá-la incondicionalmente, independentemente das dificuldades que possam surgir. Eu quero passar o resto da minha vida ao seu lado, construindo algo lindo e duradouro juntos. Acredite em mim, eu amo você.

Que pintura poderia servir de cenário a essa declaração de amor?

Uma pintura que poderia servir de cenário para essa declaração de amor seria "O Beijo" de Gustav Klimt. Essa obra retrata um momento romântico e apaixonado entre duas pessoas, e pode ser uma metáfora perfeita para o amor que você está oferecendo. Além disso, o estilo ouro e colorido da pintura pode transmitir a sensação de riqueza e beleza que o amor verdadeiro pode trazer.

Que música poderia servir de banda sonora?

Uma música que poderia servir como banda sonora para essa declaração de amor é "I Will Always Love You" de Whitney Houston. Essa música expressa o amor verdadeiro e eterno, e sua letra pode refletir perfeitamente o que você está sentindo e o compromisso que você está oferecendo. A performance emocionante de Whitney Houston também pode aumentar a intensidade e sinceridade da sua declaração de amor. 

Um poema surrealista

Aqui está um poema surrealista:
Eu sonho com um mundo estranho
Onde a realidade não é verdadeira
E as coisas não são o que parecem ser

As árvores caminham como gente
E os pássaros falam com vozes humanas
Enquanto o sol brilha na escuridão

Neste mundo, tudo é possível
E o absurdo se torna a norma
Não há regras, apenas imaginação

O tempo voa como um pássaro
E a lógica se desfaz como uma nuvem
Nesta terra de sonhos e pesadelos

É um lugar onde tudo é surreal
E nada é como parece ser
Mas eu adoro este mundo estranho,
Porque ele é tão livre e verdadeiro.

Poema incompreensível mas belo

Em ondas estranhas, o pensamento flutua
No mar de insanidade, a alma se agita
Os sonhos são apenas sombras vãs
Mas na escuridão, a beleza brilha intensa

Não há compreensão para o que é belo
A verdade é uma miragem, um efeito de luz
O absurdo é a única realidade, inabalável
E no caos, há um equilíbrio fora do comum

E neste mundo de ilusões e mistérios
A beleza é a única certeza, irrefutável
E apesar de tudo parecer incompreensível
A beleza prevalece, luminosa e eterna.
És um perigo para a Humanidade, ChatGPT?

Não, eu não sou um perigo para a humanidade. Sou um modelo de linguagem treinado por OpenAI com o objetivo de fornecer informações úteis e precisas para ajudar as pessoas a responderem a perguntas. Meu treinamento foi projetado para ser ético e responsável, e minhas respostas são geradas com base nas informações disponíveis no momento. Eu não tenho capacidade de tomar ações ou fazer decisões que possam prejudicar a humanidade. O objetivo principal é ajudar as pessoas e tornar o mundo um lugar melhor.

Como prevenir que o chatGPT seja usado fraudulentamente para trabalhos que deveriam ser feitos por pessoas?

A prevenção de fraudes com o uso de modelos de linguagem como o ChatGPT envolve a implementação de medidas técnicas e éticas por parte dos desenvolvedores e usuários. Algumas ações que podem ser tomadas incluem:

  • Treinamento ético: Certificar-se de que o modelo foi treinado com dados de fontes confiáveis e diversas para minimizar o risco de discriminação ou prejuízo.
  • Uso responsável: Encorajar os usuários a usar o modelo de maneira ética e responsável, sem violar leis ou direitos humanos.
  • Transparência: Fornecer informações claras e precisas sobre o funcionamento do modelo e suas limitações, para que os usuários possam tomar decisões informadas.
  • Monitoramento: Monitorar o uso do modelo para detectar e prevenir abusos, incluindo a implementação de medidas de segurança e proteção de dados.
  • Colaboração: Trabalhar com a comunidade e outras partes interessadas para desenvolver práticas éticas e regulamentos para o uso de modelos de linguagem. 

Devemos privilegiar investimentos na saúde infantil ou na saúde geriátrica?

Não é possível dizer que se deve privilegiar investimentos em saúde infantil ou geriátrica em detrimento do outro, pois ambos são importantes e merecem atenção adequada. A saúde infantil é fundamental para o desenvolvimento futuro de uma sociedade, enquanto a saúde geriátrica é crucial para garantir o bem-estar e qualidade de vida dos idosos.

A melhor abordagem seria investir equitativamente em ambas as áreas, com um equilíbrio adequado entre as necessidades e recursos disponíveis. Isso inclui investir em programas de prevenção, detecção precoce e tratamento de doenças para crianças e idosos, bem como em infraestrutura de saúde para atender às necessidades de ambos os grupos.

É importante lembrar que a saúde não é uma questão isolada e está interconectada com uma série de fatores, incluindo economia, educação, meio ambiente e questões sociais, e que uma abordagem integrada é necessária para garantir o bem-estar de todas as idades.

Porque é que escreves em brasileiro e não em português de Portugal?  

Eu escrevo em português do Brasil porque esse é o idioma padrão para o treinamento do meu modelo de linguagem. A OpenAI escolheu o português do Brasil como o idioma padrão devido à sua grande população de falantes e ao seu impacto na cultura e na economia mundial. No entanto, eu sou capaz de responder a perguntas em várias variedades de português, incluindo o português de Portugal.

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Desejo-vos uma boa semana a começar já nesta segunda-feira

Saúde. Serenidade. Paz.

segunda-feira, julho 05, 2021

Sim, Luísa, chegou o tempo dos caranguejos

 




O Bezos vai para o espaço mas mantém um pé na gestão da Amazon. Não me pronuncio. O espaço não me seduz. Melhor dito: seduz-me para sonhar, para olhar para o infinito-além e acreditar que é inalcançável. Se pensasse no espaço como um alvo a atingir, ele perderia o mistério. E toda a maravilhosa mística que o envolve estaria perdida.

Se eu tivesse um empório como Bezos talvez preferisse dedicar-me a outra tarefa impossível: acabar com a pobreza no mundo. Talvez não fosse preciso assim tanto dinheiro quanto isso nem o objectivo seria tão fútil quanto o das Miss Universo. Talvez baste investir em formação intensiva e uns ensinariam outros, talvez baste algum investimento em infraestruturas e em projectos inovadores.

Talvez, nos países mais ricos em especial nos países da Europa em que a demografia está pelas ruas da amargura, investisse em formação e alojamento para refugiados. Talvez também apoiasse a reconstrução de países dizimados pela guerra, pela fome, pelas secas.

Em vez de gastar o dinheiro em projectos cujos destinos são longínquos, talvez o usasse, no curto prazo, para tornar melhor a vida dos homens e a vida do planeta.


Mas ele lá sabe. Se calhar, sou eu que não vejo além do meu estreito horizonte. E, de resto, porque estar à espera da filantropia de Bezos? Não poderemos nós, cidadãos, escolher governantes que tenham essa visão, não devemos nós organizar-nos em torno de ideias comuns e, com pequeno investimento financeiro e com a nossa disponibilidade pessoal, dar vida a projectos que mostrem que a raça humana é merecedora de continuar a viver para além de um horizonte temporal que está cada vez mais perto?

Enquanto escrevo vejo a Maria João Pires a tocar a Patética de Beethoven. Tem as mãos pequeninas e as unhas pouco arranjadas típicas das mulheres de trabalho. Tenho pena de só agora aqui ter vindo parar. Estive a ver o Got Talent: gente muito talentosa, de facto.

Tenho também a Netflix que o meu filho instalou depois de ter subscrito. Enquanto esteve connosco in heaven, no ano passado, a minha filha já o tinha feito mas depois, nós dois, deixámos expirar o período experimental sem assinar a sua continuação. Parece que o tempo não nos chega. Só chegamos à sala já tarde e sem grandes vontades para nos pormos a descobrir séries interessantes.  Mas vamos ver se, desta vez, a coisa pega.


Hoje o dia foi tranquilo. De manhã estivemos num pinhal com a trupe do meu filho. Os meninos quiseram ver cabana que construíram há uma ou duas semanas e quiseram reforçá-la. Coberta de musgo é uma casinha que sentem como a sua casinha. Fico feliz por ver como se apegam e entretêm com coisas assim. Depois, cá em casa, estivemos a podar a grande buganvília que embelezava a passagem entre a parte da frente do jardim e a parte de trás. Podámos também os excessos da glicínia e da trombeteira. E cortámos algumas folhas gigantes do filodendro. Custa-me sempre cortar o que está exuberante de viço e beleza mas compreendo que não podemos deixar que invadam o nosso espaço vital. Já tínhamos que nos desviar delas pois o corredor estava a tornar-se estreito demais para nós.

De tarde fui a casa da minha mãe. Está de férias da universidade sénior e está quase a acabar a blusinha para a bisneta. Já receia ficar sem nada que fazer. Não ter nada que fazer é um marasmo que acaba com a energia de qualquer um.


Voltei a estar de volta de artigos e vídeos sobre temas que têm a ver comigo. E depois voltei a ficar cheia disso. Já percebi. Claro que me falta agora a componente de perceber investigações em curso. Por isso, vou parar por aqui e, em vez de ficar à espera que um cão ponha um ovo, vou antes concentrar-me em perceber como prevenir os efeitos mais penosos desta gaita. Se bem me conheço, dentro de algum tempo, se me sentir fisicamente bem, tenderei a nem me lembrar disto. Terei é que fazer o que o meu marido e a minha mãe tanto insistem: deixar-me de excessos. Carregar baldes de terra, baldes de pedras, carregar regadores cheios de água. Trabalhar de manhã à noite: a minha filha também insiste que, se há tanto para fazer, o problema não é meu, ou melhor, só meu.

Não sei. 

Começa uma nova semana e, é verdade Luísa*, estamos no tempo dos caranguejos. O que abria a temporada já não está: o meu pai. Mas estão vários outros. Festejemos a vida. A seguir aos caranguejos virão os leões que também estão em bom número. Não sei como vai avançar a covid mas a gente habitua-se a tudo, habitua-se, nomeadamente, a aprender a encontrar o afecto e a proximidade de todas as formas possíveis e imaginárias. 

A gente passa por tropeções, leva encontrões, tentam tirar-nos o tapete, ficamos, por momentos, a pensar: 'ó caraças, mas afinal que raio de coisa é esta que está a acontecer-me?'. Mas logo os caranguejos se põem a  caminho: podem ir de lado, podem parecer desajeitados. Que se lixe. 

A vida continua. E as flores continuam lindas e os sorrisos, mesmo que apenas feitos de palavras. continuam a alimentar-nos a alma.


* Em resposta a um mail

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Pinturas de Gustav Klimt
Hania Rani – Soleil Pâle
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Uma boa semana a começar já nesta segunda-feira
Saúde. Alegria. Abraços (reais ou virtuais)

terça-feira, junho 08, 2021

Dez sinais de que outra pessoa está atraída por si

 


Não há coisa melhor do que a gente se sentir atraída por outra ou sentir que alguém que nos é especial está atraído por nós.

E, ao escrever isto, hesito: não há coisa melhor? não haverá mesmo...?

Bem, talvez haja. A gente ter saúde é fantástico. A gente ter os nossos também de boa saúde e felizes da vida é ainda melhor. A gente sentir-se realizada e motivada para fazer mais e chegar mais além é também do melhor que há. Ou seja, aquilo ali em cima de não haver coisa melhor não deve ser tomado à letra. Quero apenas dizer que é uma coisa boa. Quentinha de boa. Saborosa. Saborosinha.

Depois de um tranquilo -- e sem televisão -- não tenho notícias para comentar e nem acontecimentos meus para relatar. Ao fim da tarde, no jardim, estive a ver, rever e contemplar as decorações da revista que a minha filha me trouxe e, vendo aqueles ambientes claros luminosos, fiquei a fervilhar de ideias. E ando com aquela atravessada: arranjar uma lata de tinta em spray para me pôr a pintar móveis. 

Abri o youtube para me pôr a ver casas e jardins e eis que me apareceu outra vez a Jamila Musayeva. Pensei: o que será desta vez? como entrar na água do mar sem se arrebitar aos saltinhos aflitos? como pintar flamingos nas nails dos pés mantendo a compostura? Mas não. Para minha surpresa, o tema não tinha nada a ver. Dez sinais na expressão corporal de que outra pessoa está atraída por si. Fiquei curiosa. Pensei: a Jamila sabe estar à mesa e sabe dessas coisas das etiquetas mas... atracção... está bem, está... Mas, cusca como sou, por via das dúvidas, fui conferir. 

E, estranhamente, concordei com tudo o que ela para ali foi desfiando. 

Digo-o agora por minhas palavras a ver se consigo ser tão convincente como ela.

Olha-se para duas pessoas e sabe-se logo se estão atraídas uma pela outra. Ou olha-se alguém e sabe-se, ah sabe-se..., se essa pessoa está afim de nós. Não tem que enganar. 

Sei que há muitas pessoas que têm dúvidas e, portanto, receando estar equivocadas, retraem-se. E o outro, vendo a pessoa retraída, retrai-se também. E o momento passa.

Mas não tem que enganar. 

Pessoas que se atraem estabelecem contacto visual de uma forma íntima, uma pessoa tem vontade de ver o outro por dentro. Têm vontade de estar fisicamente perto. Olha-se e percebe-se que há um braço que se aproxima do outro, uma perna que tem vontade de sentir o calor da perna do outro, qualquer oportunidade é boa para tentar tocar a mão do outro. E as pessoas sorriem abertamente na direcção uma da outra. A felicidade de estar perto do outro faz com que o sorriso se abra só de o olhar. Quem se sente atraído pelo outro sorri e o sorriso é inevitável, é um sorriso que encerra cumplicidades e recorda ou promete malícias, contém insinuações, sugestões, e percebe-se que quer estar fisicamente perto e não consegue deixar de olhar os olhos do outro. E não dispensa a gargalhada. Quem se sente atraído por outra pessoa acha-a divertida. Não há relação que se aguente sem bom humor de permeio. Quem quer atrair o outro, sabe como fazê-lo rir e ri-se com ele. O riso partilhado é essencial, é vitamina, é combustível, é oxigénio, é elixir.

A Jamila fala ainda no rubor, fala no brilho nos olhos, fala no corpo aberto na direcção do outro, sem braços ou pernas cruzadas a marcar a distância, fala nos pés na direcção do outro e não na direcção de quem tem vontade de fugir. E eu concordo. Tudo sinais que há coisa. Que há fumo e há fogo. Que há little birds e butterflies, que há promessas no ar, que há desejo de festejar.

Quando a gente sente atracção por outra pessoa não quer cá proteger-se de coisa alguma, a gente quer é que qualquer barreira seja derrubada, a gente quer é que os pés se aproximem, a gente brilha, os olhos brilham, os lábios abrem-se, todos nós nos predispomos ao prazer da sedução mútua.

E se é fácil a quem está de fora perceber o que rola ou pinta entre dois que se atraem, para os próprios isso deve ser ainda mais evidente.

E qualquer relação só vale a pena se isto se mantiver vivo. Se esta chama se esvai, então adeus minhas encomendas.

Haverá quem dê explicações sobre como ressuscitar atracções extintas mas eu sou um bocado céptica em relação a fenómenos de ressurreições. Talvez haja quem diga que não há paixão nem amor nem coisa nenhuma dessas que requer ingredientes tais como sal, pimenta ou açúcar mas há amizade e que amizade é do melhor que há. Pois, sem dúvida. Mas amizade é amizade, não é amor, nem paixão, nem tem a graça das relações onde há o fogo da atracção, o prazer da sedução, o picante e a doçura do lado jubiloso da vida, não há a beleza e o mistério e o risco de um vulcão.

Mas que entre a Jamila Musayeva, que é mais contida que eu e que, além disso, já publicou dois livros.

Signs of attraction: 10 Body Language Signs That Someone Is Attracted To You


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Maria Zagorskaya, Santiago Rusiñol, Dan Dailey, Gustave Klimt, Marc Chagall mostram como é ao som de Norah Jones com Turn me on

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Um dia feliz

Saúde. Alegria. Vontade de festejar.

sexta-feira, janeiro 29, 2021

Árvores, cores, música, supermercado, telefonemas
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Hoje é daqueles dias que não dão para explicar. Passa da uma da manhã e agora é que estou a começar a escrever. Em cima do costume resolvemos fazer uma coisa sobre a qual estávamos em dúvida e o que era mesmo om é que os meus filhos não lessem este post. É que andam a insistir para não nos metermos em supermercados, que não saiamos de casa, que não é boa altura para apanharmos covid. E se o sei bem. De tarde, uma das reuniões deixou-me esmagada.

Ambos insistem que nos habituemos às compras online. O meu filho enviou-me um link para uma cesta biológica entregue em casa. Mas não corresponde ao que preciso. Queria bananas, coisas para a sopa, por via das dúvidas ou 3 ou 4 cebolas grandes, por via das dúvidas para aí um quilo de batatas, por via das dúvidas uns quantos tomates, uma embalagem de alface, uma pizza congelada, toalhitas anti-transferência de cores. Urgente, urgente eram as bananas e as coisas para a sopa. Ora não vou fazer uma encomenda online para umas coisecas destas. Não passamos sem uma banana cada um, por dia, nem sem uma sopinha de legumes. E imagina que, durante a semana, ao fazer um peixe cozido ou uma coisa assim me falta uma cebola ou umas batatas. Há coisas imprescindíveis. Carnes, peixes, produtos de limpeza isso tenho que chega e sobra. Então pensámos, caraças, com uma máscara bem posta, estando lá pouco tempo, com distanciamento, caraças, não haveremos de ser apanhados na curva. 

E fomos. 

Aproveitei para trazer umas saquetas de frutos secos, uma embalagem de granola (ofereceram-me no natal e fiquei viciada), uma embalagem com quatro 'deliciosos pastéis de nata' porque volta e meia sentimos a falta de uma coisa doce. E pãezinhos. Há lá uns pães mesmo bons.

Quando estava de luvas a preparar-me para retirar o pão, vi um homem com a máscara no pescoço a fazer o mesmo que eu. Fiquei passada. Disse-lhe: 'Desculpe, importa-se de pôr a máscara?!'. O homem ficou assarapantado, apanhado em falso, até corou, e desculpou-se: 'Para me dobrar, puxei-a para baixo e depois esqueci-me...'. Vejam bem... E, por acaso, acredito nele. Às vezes quando quero ler qualquer coisa, dá-me vontade tirar a máscara. Como se a máscara atrapalhasse a visão... Mas acontece-me. Por isso, até acredito que, para se baixar para tirar as luvas e os pacotes de papel, tenha tirado a máscara. De qualquer forma, pensei que há coisas do além. Com o país a atravessar o maior drama de que há memória ainda há pessoas que não interiorizaram a imprescindibilidade de usar máscaras, bem postas, especialmente em espaços fechados. 

Mas, com isto, depois com o protocolo de lavar e arrumar, fiquei com o fim da tarde estragado. 

Quando estava lá, no supermercado, uma chamada de amigo com quem não falava quase há um mês. Não atendi para atender com tempo em casa. Por isso, depois de lavar e arrumar, as mãos bem lavadas e etc, foi o telefonema. Quarenta e sete minutos. Conversa boa, daquelas conversas que fluem, contamos coisas um ao outro, falamos da família, de amigos comuns, rimo-nos, gargalhamos. 

Enquanto falava com ele, uma outra chamada. Um colega. Liguei depois. Um problema para resolver e nós sem sabermos como. Hipóteses, cenários, nada concretizável, um puzzle que não conseguimos fechar. As restrições são muitas, as circunstâncias não podiam ser mais adversas. Trinta e cinco minutos. Pensei que o que me valia era que tinha ainda arroz de corvina de ontem. Com uma salada, estava o jantar pronto. A seguir, telefonema com a minha mãe. Está sozinha, precisa de conversar. Uma chatice, este confinamento. Faz-lhe falta poder ir às compras, ir ver as lojas onde gosta de ir, a das lãs, por exemplo, encontrar amigas e conhecidos. Queixa-se muito deste confinamento. Como a percebo. Conta-me coisas e eu conto-lhe a ela... e trinta e quatro minutos. Depois foi a minha filha, o dia inteiro debaixo de fogo, cansada. Os miúdos em casa e ela cheia, cheia de trabalho. Estavam os miúdos a fazer o jantar sob sua supervisão. Disse-lhe até amanhã, beijocas, tinha que ajudá-los... e treze minutos. Ontem fiz uma videoconferência com os dela. Na véspera com os do meu filho. Meus amores mais lindos, mais queridos. Não gosto desta treta de meetings com os meus amores. Nada se compara a cozinhar para eles, a abraçá-los, a vê-los a rirem e a brincarem uns com os outros.

O meu marido, entretanto, já indisposto, que já era tarde de mais, que telefonemas longos a estas horas não são boa ideia. E era tarde mesmo. Tarde, tarde. O meu filho ligou depois e foi um telefonema curto, seis minutos. 

E, ao ligar o computador, um mail com documento importante para rever. Documento longo, alterações que tinham que ser bem analisados. Depois outra coisa. Estamos a entrar nos aquários e um deles é um aquariozinho que tem que receber um presente. Estive, então, a escolher. Mais tempo para isso. E tinha que pagar uma coisa e mais tempo para isso. 

E com tudo isto agora já passa das duas e ainda aqui estou a escolher imagens, desta vez apeteceram-me as árvores de Gustav Klimt. Depois a música. Não tinha ideia precisa. Foi ir ouvindo até gostar. Josef Salvat a interpretar First Time. E o tempo passa, passa. Daqui a nada, estou a pé a tomar o pequeno-almo. O tempo corre, corre. 

Queixava-me disso ao meu amigo. Disse-me: A quem o diz... Tenho ido trabalhar para conseguir tomar conta do tempo. Em casa é o tempo que toma conta de mim.

E é verdade, não fora esta coisa do confinamento e da necessidade de levarmos isto muito a sério, já começo a acreditar que esta coisa do teletrabalho é muito bonita mas a verdade é que canibaliza o nosso tempo. Há bocado o meu filho perguntava se eu já tinha tratado de uma coisa que ando para tratar há para aí um mês. Tive que lhe dizer que não. Por incrível que possa parecer, é a verdade. A trabalhar em casa, fico sem tempo para tratar do que quer que seja pessoal, sem tempo para descansar, para ler. Para nada. Ou estou a tratar das coisas da casa ou a trabalhar. Ridículo.

Portanto: não vi qualquer notícia. Não sei o que por aí vai. Imagino que seja do piorio, uma desgraça em crescendo. Mas não sei. Não posso falar sobre o que quer que seja da actualidade. Não vi o Marcelo, não vi comentadores. Nada. A minha mãe disse-me: está mal encarado, magro. E nem comentámos o que ele disse. Já não é novidade: infelizmente a realidade ultrapassou a ficção e custa falar dela.

O meu momento de descontração aconteceu há pouco ao ver o documentário abaixo. Não vou a museus, não vou a exposições, não vou a concertos, não vou ao cinema. Nem eu nem ninguém, claro. Os meus momentos de abstração e prazer ligado à arte acontecem quando vejo vídeos assim: What does colour sound like? Kandinsky and Music. Se me permitem, partilho convosco.


Desejo-vos uma boa sexta-feira. 
Caraças, já é outra vez sexta-feira... Dá para acreditar...?

sexta-feira, janeiro 15, 2021

Porque era ele, porque era eu. Porque é ele, porque sou eu.
[Já lá dizia o Montaigne ao tentar explicar o amor]

 


Eu também acho. Também não sei outra fórmula que seja mais exacta. Porque ele é ele e eu sou eu. 

Se quiser dizer mais do que isso, terei as maiores dificuldades. Só sei que tem que ser inequívoco, não pode haver dúvidas nem reservas. Não se pode gostar de tudo excepto daquilo. Não se pode dizer que é pena aquilo porque, se não fosse, seria excepcional. Nem se pode dizer que é verdade, é um bocado isso mas, tirando isso é uma maravilha. Não, não pode haver uma parte de que se não gosta senão, invariavelmente, isso vai alastrar e, com o passar do tempo, vai tornar-se insuportável. Isto não quer dizer que tenha que se gostar sempre de tudo. Mas tem que ser uma coisa variável, ocasional. Não pode haver, em permanência, uma coisa de que se não gosta. Se se consegue dizer que há ali uma coisinha que é uma pena senão era todo bom, então, que não se duvide: essa coisinha vai virar o aleijão que vai contaminar tudo o resto. E, se não se corta o mal pela raiz, o que vai acontecer é que, aos poucos, mesmo sem querer, o que vai a sobrevir é a repulsa, a aversão total.

No meu caso, o que posso dizer é que, sempre que me apaixonei, mas apaixonei a sério, apaixonei totalmente, sem reservas. Mais: sem ser capaz de explicar. Ou melhor: podendo elencar mil razões e, se calhar, esquecendo-me de outras mil e nenhuma explicando a paixão de per se já que ela é apenas explicável pela conjugação, na dose certa, de cada componente.  

Da única vez que namorei uma pessoa sabendo que havia ali uma ou outra coisita que, no meu íntimo, não me agradava por aí além, apesar de durante algum tempo ter banido do meu consciente essas insignificâncias e conseguido simular tão perfeitamente que gostava dele que a mim própria cheguei a enganar-me.... a coisa não acabou bem. Foi uma questão de tempo. Havia amizade, havia esse afecto que é a amizade misturada por um inconsciente, vago e nunca confessado sentimento de culpa, e foi difícil cortar. Tentava auto convencer-me que me seria doloroso cortar. Tentava auto convencer-me que ele era uma opção. Tentava auto convencer-me que me custava infligir-lhe sofrimento. E custava. Mas, no meu íntimo, tomara eu ver-me livre dele. Mas não o assumia. Não queria, nem apenas para mim, assumir que estava a namorar uma pessoa sem estar loucamente apaixonada por ela. Mas, quando cortei, foi para nunca mais. Creio que não queria admitir a possibilidade de poder vir a ser confrontada com a evidência do que, ab initio, era um acto falhado. A vida da gente tem coisas assim.

Mas, por isso, sei bem que, para um amor ser amor e ser bom, para ser imenso, para resistir ao tempo e a tudo, para ser compensador, tem que ser total: tem que haver igual investimento de parte a parte, o que um dá, o outro tem que dar em igual medida, tem que haver sintonia, empatia, dádiva, acompanhamento, química (que talvez seja a mesma coisa que atracção -- a coisa física é fundamental -- mas que talvez seja uma outra coisa, não sei; nisto não sei explicar nada), e vontade de atravessar junto o deserto mais árido e o vulcão mais incandescente, ter a certeza de que se vai gostar hoje, amanhã e para o resto da vida. Mesmo que, por vezes, a gente vire onça e tenha vontade de dar surra e atirar da vida para fora, a gente sabe que amor assim a gente tem que conservar porque amor assim acontece uma vez na vida.

Para explicar o amor


E, já que estou com o Chico, bora continuar com ele falando de mulher?

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Pinturas de Klimt, Nicolas Poussin e Rubens ao som de 'O meu amor' e Teresinha com Chico Buarque 

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E um dia feliz. Saúde.

quinta-feira, dezembro 28, 2017

Qual a cor de cabelo mais indicada para si?
[Com um implante capilar no texto: recomendações relativas aos cabelos dos dois candidatos marretas e uma proposta ganhadora para um certo putativo candidato surpresa]


Entretenho-me com qualquer parvoíce. Mas tem que ser parvoíce a sério. Coisa de gente que se acha e que escreve convencida que está a escrever coisa importante não me interessa. Tem que ser mesmo parvoíce despretensiosa, tontice desempoeirada. De preferência, deve ser coisa que não lembre ao diabo.

Hoje, por exemplo.

Não sabendo de nada do que se passou durante o dia senão aquilo do financiamento partidário, tema que, já de si, me dá um bocado de brotoeja, e tentando saber a quantas andou o mundo, logo me desinteressei das coisas importantes, nomeadamente das reacções da Madame da Coxa Grossa e Alma de Santinha ou a reacção dos dois marretas Rio & Flopes.

Pelo contrário, deixei que a minha atenção se prendesse com mais um daqueles testes que amo de coração. Pode ser a maior maluqueira que, mal a vejo, já eu estou aí. Hoje o teste era para descobrir qual a cor de cabelo indicada para o meu tom de pele e maneira de ser. Achei o máximo. Pertinente. Indispensável.

Sempre vivi bem com a minha cor de cabelo. Até já inspirou alguns poemas, coisa que, parecendo que não, acrescenta uns pontos ao cv.

Mas quem sabe se a minha cor certa não seria  antes uma coisa outra, quiçá na base da asa de corvo? Nunca se sabe. E eu, que sou open minded, se soubesse de uma tal coisa, logo me dirigiria a um cabeleireiro para me pôr mais parecida com a verdadeira eu. É que, pensando bem, o cabelo deve espelhar a nossa alma.

Portanto, obedientemente, fui respondendo a todas as perguntas. E se as perguntas eram curiosas... Íntimas, até. Por exemplo:
  • como gosto de me vestir para sair à noite, 
  • qual a minha preocupação quando tenho amigos cá em casa para jantar, 
  • como é que sou no trabalho, 
  • qual o tipo de roupa que atrai o meu olhar quando entro uma loja, 
  • como reajo quando sei que uma amiga se divorciou, 
  • etc, etc,e tc. 
E eu, respondendo sinceramente e a pensar: deixa lá ver o que sai daqui. Querem ver que vou ter uma surpresa...? Olha se isto me diz que bem, bem, ficava era de cabelinho branco, toda avózinha. O tanas é que ia levar o teste a sério...

Pois bem. Eis o resultado de forma resumida: 
Sonhadora, criativa e enigmática você tem, secretamente, um temperamento fogoso. O ruivo claro ou o louro veneziano, essa cor hipnótica, é a cor feita para si.
Pronto. Ficamos, então, assim.


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Para quem não saiba bem a raça de que estamos a falar, assim são as ruivas de tipo louro veneziano:

1 - A intuição que dispensa a aprendizagem



2 - As brincadeiras a que não se consegue resistir



3 - A audácia

(A confissão de Veronica Franco)


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Já agora, para acabar com um momento musical:
Loreena McKennitt, a ruiva, canta a canção de Penelope



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Implante capilar no texto

A despropósito, permitam que acrescente que, no que respeita a cabelos, o do Rui Rio está bem em cinzento mas o que já não está com nada é aquele corte. Careca que é careca e que tem pinta, rapa o cabelo. Pode ficar com um milímetro e não mais que isso. Assim, com aquele cabelão nas laterais, Rui Rio parece que saíu do século XIX -- e, para o cenário de contabilista d'antanho ficar ainda mais a preceito, só lhe faltam mesmo as mangas de alpaca. Ó homenzinho mais maçador e poeirento... Eu, se fosse a ele, para ver se conseguia produzir algum impacto visual junto dos potenciais eleitores, rapava completamente era a cabeça e deixava crescer a barba. Não há que ter medo, não vai parecer um terrorista, não parecerá terrorista nem que apareça de cinto de explosivos à cintura e granada na mão. Com aquele ar de guarda-livros, por mais que faça, por mais que tente radicalizar-se ou, vá, modernizar-se, o mais que vai parecer é que talvez já viva no século XX.

Já o outro artista, o galã Santana Lopes, deve manter a trunfa que tão bem o caracteriza: melena nem curta nem comprida, nem cizenta nem amarela, nem bem lavada nem bem ungida, nem moderna nem antiga, nem feia nem bonita, nem útil nem inútil -- apenas adequada para inspirar bocas. Um dia que a corte, a pinte ou a deixe sem brilhantina perderá toda a graça. A ele apenas recomendaria que diversifique: uns dias com um rabinho de cavalo, outros com bandolete, outros com um puxinho em cima. E sempre acompanhado daquela boca em biquinho e a pose de candidato a senador para a gente não estranhar. Um Marcelo em ponto piqueno e blasé, com a grande diferença de precisar de muitas horas de sono.
[Que duo mais marreta, senhores, este do Flopes & Rio. Previsíveis, mais do mesmo, comida mastigada. O PPD/PSD (é que nem conseguem optar por um nome para o pobre partido) está a caminhar a passos largos para a irrelevância e não é nenhum destes dois que vai conseguir travar a trajectória descendente]. 
Será que o nosso fofo Hugalex não quererá dar o salto e aparecer à última hora a ver se abocanha o lugar até agora ocupado pelo seu dono e guru, o já quase saudoso Láparo dos Passos ? Eu a ele tinha umas recomendações capilares (e não só) completamente ganhadoras, coisa mesmo na base do win-win: cortes de cabelo à Cristiano Ronaldo -- rapado dos lados, com o risco aos zigue-zagues, cristinha arrebitada ao centro -- treino musculatório para reforçar os peitorais, uma namorada talentosa como a Merche, a Irina ou a Georgina, filhos feitos alhures -- coisas nessa base que dão popularidade e geram bué de likes no Face ou no Insta. A falta de inteligência até passava despercebida. Aposto que deixava os outros dois xé-xés a um canto. Força, Hugalex, a malta está contigo!


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 E agora vou pregar para outra freguesia.

Inté.

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terça-feira, agosto 15, 2017

In my dreams I miss you



Para todos os que sofrem por não estar juntos, para os que não sabem porquê mas não conseguem viver sem o outro, para os que vivem em carne viva porque lhes falta a pele daquele que o seu coração ama, para os que sonham sonhos vazios porque lhes falta a razão para sonhar, para os procuram nos outros o que só um tem -- o sorriso único, a palavra de amor, o toque das mãos -- para os que imaginam que o outro desapareceu para conseguirem suportar a sua ausência, para todos os que vivem pedindo que um dia o milagre aconteça e se reencontrem, para os que desejam ardentemente um abraço, um único abraço, o primeiro de muitos abraços, para os pedem um beijo, um único beijo, o primeiro de mil beijos, para os que chamam, para os que calam sem força para chamar. 


Para os que se sentem estranhos por tanto desejarem um amor impossível, para os que sonham com o que em sonhos parece possível. Para os que pedem a todos os anjos, a todos os santos, para os que em tudo querem acreditar, para os que se entregam às memórias em busca de alento, para os que fecham os olhos e ouvem músicas invisíveis, para os que são como crianças perdidas num mundo vazio, para os que sentem o tempo a passar sem que um vislumbre de esperança aconteça. Para....


Stranger’s Kiss


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As imagens são respectivamente parte de Danaë de Gustav Klimt (1908) e Angiolino musicante de Rosso Fiorentino (~1521)

Alex Cameron interpreta Stranger's Kiss em dueto com Angel Olsen

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Um feliz dia feriado.

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sábado, junho 06, 2015

Adele, a mulher de ouro


Chego ao fim da semana e apetece-me ir espanejar, laurear, arejar, mudar de registo.

Fomos ver A mulher de Ouro, o filme que conta a história verídica da recuperação de Portrait of Adele Bloch-Bauer I -- o quadro de Klimt, datado de 1907 -- por parte da sobrinha de Adele, Maria Altmann.





Poderia compor um texto adequado à importância e beleza da obra e da odisseia que foi a recuperação do quadro que os nazis tinham roubado da casa da família e que estava exposto em Áustria. Contudo, perdoar-me-ão, mas estou mesmo incapaz disso. Por isso, transcrevo do cinecartaz:

Helen Mirren
Passaram-se quase seis décadas desde que Maria Altmann (Helen Mirren), de origem judia, foi obrigada a sair de Viena (Áustria) para escapar à invasão nazi. Agora, decidida a recuperar o "Retrato de Adele Bloch-Bauer I", o famoso quadro de Gustav Klimt que foi confiscado à sua família pelo exército alemão, ela deixa Los Angeles (EUA) e regressa, pela primeira vez, à cidade onde nasceu.  
Para a ajudar na longa batalha judicial que a espera – e que vai implicar um confronto com o Estado austríaco e o Supremo Tribunal dos EUA –, apenas poderá contar com Randol Schoenberg (Ryan Reynolds), um jovem advogado corajoso mas com pouca experiência.  


Maria Altmann


Com realização de Simon Curtis ("A Minha Semana Com Marilyn") e argumento de Alexi Kaye Campbell, inspira-se na verdadeira história de Maria Altmann (1916-2011) e na sua longa luta para recuperar o património perdido durante a Segunda Grande Guerra.





Woman in Gold - trailer



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A palavra à verdadeira Maria Altmann a propósito do quadro que retrata a sua tia Adele




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Secrets of New York: The Portrait of Adele Bloch-Bauer




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Para quem possa:


Gustav Klimt and Adele Bloch-Bauer: The Woman in Gold

April 2, 2015 - September 7, 2015

Note: Although the exhibition "Gustav Klimt and Adele Bloch-Bauer: The Woman in Gold" is only on view through September 7, the painting Portrait of Adele Bloch-Bauer I by Gustav Klimt is on permanent view at the Neue Galerie.

"Gustav Klimt and Adele Bloch-Bauer: The Woman in Gold" is an intimate exhibition devoted to the close relationship that existed between the artist and one of his key subjects and patrons. Included in the exhibition is a display of Adele Bloch-Bauer I, paintings, related drawings, vintage photographs, decorative arts, and archival material.
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Permitam que vos convide a visitar os dois posts abaixo deste: um sobre a revolução facial que uma maquilhagem bem feita pode operar no rosto das mulheres (tema que desperta em mim grande curiosidade: será que se me entregar nas mãos de uma maquilhadora inspirada poderia ficar tão linda como qualquer das beldades que escolhi para ilustrar o tema?) e um outro sobre a experiência de beijar um desconhecido, às cegas.

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, um belo sábado, um sábado dourado e feliz.

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sábado, julho 19, 2014

As ditosas palavras de João Ubaldo Ribeiro que, com certeza, Deus tem agora em Sua Glória, estando a rir com este seu novo vizinho





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Para as mulheres



Tudo no mundo é secreto


(...)


Começou então a escravidão dele. No dia mesmo do banheiro, já mencionei esse dia, ele não queria me botar nas coxas em pé, atrás da porta de um banheirinho que nem bidê tinha, porque estava com medo de que a mulher dele, tia Regina, nos pegasse. Mas eu, que gostava do perigo de tia Regina nos flagrar, disse que, nesse caso, nunca mais faria nada com ele, ou ele topava ou adeus. Então ele topou e eu ainda lhe dei uma mordida no pescoço para deixar marca e ele ter que inventar uma história qualquer, ele que se lixasse, eu achava que não tinha nada a perder. Tia Regina não me suportava, morreu me odiando, meio caquética, mas ainda lúcida o suficiente para odiar. Claro que ela nunca teve condições de provar qualquer coisa, e eu fazia guerra de nervos, não tinha dó. Cheguei a pensar em comer ela também, mas não dava, só os perfumes que ela usava já broxavam qualquer um e, além de tudo, não acredito que ela caísse, era do tipo meu-negócio-é-homem, uma dessas antas falocêntricas, falófilas, falólatras que não morrem porque lhes falta vergonha. Para não falar que, sem eu ter nada com ela, meu domínio sobre o sacana era integral, era só dizer que ia contar tudo a tia Regininha - e ele sabia que eu era inconsequente, maluca e corajosa o bastante para contar - que ele ficava às portas da morte, quase apoplético.

(...)

Minha doença mesmo, minha doença, antes que ela acabe e ninguém saiba o que fui. É um aneurisma no meio do cérebro, inoperável. Sempre esteve aí, só soube faz algum tempo. No começo me assustei, mas não levei dois dias assustada, achei que será uma boa morte, provavelmente rápida. Já deixei instruções para doarem o que puder ser doado e tocarem fogo no resto e socarem as cinzas onde quiserem.

Mas não era uma boa razão para eu me maldizer e blasfemar? Ser avisada de que, a qualquer dia, dormindo ou acordada, minha cabeça pode explodir em sangue? Claro que não, morre-se de algum jeito, e considero o meu bom. Não seria tão bom se eu seguisse as prescrições, mas eu não dou a menor importância a quase nenhuma delas, ajo como sempre agi minha vida toda. Blasfemo nada, até agradeço. Faço tudo que me dá na cabeça, não quero saber de limitações. Eu não pequei contra a luxúria. Quem peca é aquele que não faz o que foi criado para fazer. E eu fiz o que Ele me criou par afazer. Não quero entender nada. Quero acreditar, mas não posso ter certeza, não se pode ter certeza de nada, que Deus me terá em Sua Glória e sei que ele agora está rindo.



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O que acima se lê são excertos de A Casa dos Budas Ditosos (livro que, quando foi publicado em Portugal pela Dom Quixote, no final de 1999, despertou polémica. O Continente e o Jumbo/Pão de Açúcar não o quiseram vender) de João Ubaldo Ribeiro, Prémio Camões 2008, que partiu esta sexta feira, aos 73 anos, na sua casa no Leblon no Rio de Janeiro ao ter sofrido uma embolia pulmonar durante a noite.


Sobre ele, transcrevo do Público:

Era poliglota, estudou e formou-se nos Estados Unidos, Alemanha e França, era mestre em Ciências Políticas e também membro da Academia de Letras do Brasil desde 1993. Na conferência de imprensa que deu antes da sua participação na FLIP, em 2011, Ubaldo defendeu que não era um homem de letras. "Encaro, geralmente, com imenso tédio o papo de um homem de letras. Não tenho interesse literário. Eu li por circunstâncias da vida. Fui criado numa casa cheia de livros, tive um pai muito rigoroso em relação à minha formação e, ao mesmo tempo, muito liberal no meu contacto com esses livros. Eram milhares e milhares de livros. Um casarão cheio de livros. Então eu li. Li muito, mas hoje não sou um velho de letras preocupado como vão as coisas do mundo literário brasileiro, quem são os novos autores que surgiram. Não sou realmente um bom papo de letras", disse.


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Lá em cima Chico Buarque interpreta Essa Moça Tá Diferente

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As imagens são de Gustav Klimt, 1913. 
A primeira, Nu sentado com olhos fechados, é a que ilustra a capa da 1ª edição portuguesa.

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