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segunda-feira, julho 14, 2025

Dois Homens com H

 

Foi um domingo calmo, intercalando a leitura e os banhos de sol por períodos de alguma sonolência. Também andei a regar, pois se há coisa que gosto de fazer é de regar, de preferência descalça para sentir os pés molhados.

Não tive que cozinhar: comemos restos e mais um ou outro complemento. 

Ao almoço ligámos a televisão, mas não suportámos as más notícias. Bem sei que nos alienamos se nos afastarmos do que se passa no mundo. Só que se passam milhões de coisas boas mas se, no meio desse milhão, vier uma rajada de vento que levante uma telha, é nisso que os jornalistas se vão focar esquecendo tudo o que de bom aconteceu. O noticiário estava a ser uma sucessão de infelicidades, uma colecção de acontecimentos nefastos -- desistimos. 

Agora à noite, depois da nossa caminhada, o meu marido quis ver o futebol, era uma final, parece que tinha que ser nesta televisão. Fui para a outra sala. Posicionei-me nos Casados à Primeira Vista. E adormeci. Não sou capaz de dizer se vi alguma coisa pois, se vi, varreu-se-me instantaneamente.

De tarde pensei que hoje poderia escrever sobre o livro que estive a ler pois, lendo aquelas crónicas, uma opinião se vai formando sobre o que é a motivação, o móbil de vida de um editor, em particular aquele que ali vai desfiando memórias, Manuel Alberto Valente. Creio que o que dali depreendo explica muita coisa. Mas ando com um espírito que não sei se é vadio, se é veraneante, se é simplesmente preguiçoso... Por isso, deixo essa conversa para outro dia. E talvez seja mesmo melhor adentrar-me mais na leitura para não correr o risco de tirar conclusões precipitadas.

À noite, geralmente depois de escrever aqui, como escrever me obriga a estar de olhos abertos, aproveito para ver alguma coisa antes de ir dormir. Nos últimos dias tenho visto o Homem com H. Dado ser sempre tarde e dado estar com sono, tenho visto pouco de cada vez pelo que ainda me falta um bocado para acabar. Mas tenho estado a gostar de mais. 

Ney Matogrosso é um personagem extraordinário. E quanto mais o tempo passa mais extraordinário o acho. Há uns anos, embora gostasse muito de o ouvir, havia ali qualquer coisa que era tão extravagante que eu não sabia se era totalmente genuíno ou um certo gosto em provocar e essa dúvida levava-me a não aderir a cem por cento. Gostava, ouvíamos bastante, mas parece que ficava sempre ali a pairar a questão: ele é mesmo assim, tão superlativo e tão fora da caixa, ou há ali uma encenação que exagera o que ele é? Mas, quando evoluí, fui percebendo que isso era de somenos e que a dúvida, que era minha, não podia levar-me a olhá-lo com alguma reserva. Tinha era que aceitar sem questionar. 

Ney era um bicho, um bicho extraordinário, cantava maravilhosamente, tinha um reportório também fantástico -- e tudo isso tinha que ser suficiente para gostar dele sem qualquer reserva. 

E escrevi que ele era, escrevi no passado, só mesmo por burrice, pois ele está vivo, bem vivo, em forma, jovem, ninguém diria tratar-se de um octogenário. Aliás, olha-se, ouve-se e não se acredita. Afinal tantos excessos não lhe causaram danos, parece que bem pelo contrário, deram-lhe foi saúde.

Mas o filme, que tenho visto na Netflix, misto de filme e de documentário, não apenas retrata a vida de Ney Matogrosso em todas as suas dimensões, não apenas a artística mas a pessoal -- e, neste domínio, a activa e algo louca vida sexual (como ele diz, marchava tudo) -- como tem um intérprete que é igualmente fabuloso. 

Reproduz o Ney de uma forma perfeita, quase assustadora de tão perfeita. Segundo abaixo se verá, Jesuíta Barbosa perdeu 12 kg para reproduzir os 53 kg que Ney tinha nessa altura, estudou os seus trejeitos, os requebros, a forma de olhar e falar.

E há algo nele que parece estar desenhado para encarnar o espírito e a carnalidade de Ney. 

Ver para crer.

A quem tenha a oportunidade de mergulhar no filme, muito vivamente o recomendo. E, para abrir o apetite, aqui fica a conversa de Bial com ambos, a cópia e o original, dois homens extraordinários. E botem h nisso.

Pedro Bial entrevista Ney Matogrosso com participação de Jesuíta Barbosa | Conversa com Bial

No último Conversa com Bial (24/04/2025), Pedro Bial recebeu o icônico cantor Ney Matogrosso e o talentoso ator Jesuíta Barbosa, protagonista do filme Homem com H, cinebiografia que retrata a trajetória de Ney.

Desejo-vos uma boa semana a começar já nesta segunda-feira

Be happy

quarta-feira, março 19, 2025

De facto, nunca se sabe...

 

Quando vejo o que já fiz fico espantada. 

Lembro-me sempre de quando um colega de trabalho veio a minha casa. Quando apontei as carpetes de Arraiolos (por exemplo, esta aqui ao lado) e disse que tinha sido eu a fazê-las, ele ficou espantado. Na brincadeira disse: 'Mas como? Quando vou ao seu gabinete, nunca a vi a fazer...'. Na realidade, chegando a casa sempre bastante tarde, tendo filhos, tendo jantar a fazer, levantando-me sempre cedo, como conseguia eu fazer aquelas grandes carpetes apenas à noite ou ao fim de semana, sendo que, ao fim de semana, íamos para o campo com toda a demorada logística que isso acarretava, lá andava nas jardinagens e noutras actividades, como conseguia...? E, no entanto, conseguia. Adorava fazer. E bordava a um ritmo impressionante.

Hoje fotografei duas colchas de crochet, uma das quais feita por mim (a que está aqui abaixo). Em que momento a consegui fazer, tão grande? Creio que a fiz ainda solteira. Ora, como se, durante a semana, estava por minha conta e muito longe de crochets, e se, ao fim de semana, tinha o meu namorado lá em casa? Custa-me a perceber. Mas a verdade é que a fiz.

Da mesma maneira quando vejo as dezenas, dezenas, muitas, muitas, telas que pintei. Como? Como consegui eu pintar tudo aquilo?

Talvez seja o mesmo espanto com que fico quando me ponho a seleccionar ou a tentar organizar textos que escrevi aqui (e no Ginjal & Lisboa, a love affair). Não sei como consegui escrever tanto, em especial quando a maior parte foi escrita estando eu a trabalhar de sol a sol, carregada de trabalho até à ponta dos cabelos. 

Olho para trás, para todas estas fases e espanto-me como se não fosse eu. Na verdade, não me lembro de qualquer esforço, nem tenho ideia de que fosse grande feito. Apenas sei que o fazia com prazer. E, em qualquer dos casos, apenas deixei de fazê-lo por não ter onde pôr o que fizesse, se continuasse a produzir. 

E não estou a falar de tudo, pois, por exemplo, também houve a fase do tricot. Fiz camisolas, casacos, até que chegou a Zara com malhas giríssimas e a bom preço e já não fazia sentido usar as minhas peças.

Mas o que, nisto, para mim é mais espantoso não é nada do que falei: o mais espantoso é que, durante todos esses anos, a minha actividade principal não teve nada a ver com nada disto. Era uma executiva, creio que bem sucedida, exigente, creio que uma boa profissional. Contudo, olho para trás e parece que pouco ficou. Do resto ficaram colchas, tapetes, pinturas. Mas das longas décadas de trabalho o que ficou foram memórias que com o tempo se esbaterão pois parece que tudo aquilo só fazia sentido naquele contexto, naquele tempo. Saída desse contexto, o que vivi parece que pouco ou nada interessa, nem a mim nem a ninguém.

De facto, nunca se sabe o que fica daquilo que é a nossa vida. 

Estou agora numa outra fase. 

Hoje fomos almoçar a um restaurante naquela zona da cidade de que tanto gosto, Alvalade. Felizmente arranjámos facilmente estacionamento e felizmente fomos muito bem servidos. E aproveitámos para passear e ver o pequeno comércio tradicional, de que tanto gosto. Mas o ruído da cidade, o trânsito, isso já nos incomoda um bocado. Parece que estamos melhor no nosso sossego, nas nossas insignificantes tarefas domésticas, respirando o ar puro, jardinando, cozinhando, passeando com o nosso cão. 

Aqueles tempos exigentes do traçado dos objectivos, das sempre difíceis avaliações, dos projectos complexos, das fusões de empresas, das grandes reorganizações, na negociação de grandes contratos internacionais, parecem coisas meio difusas das quais não sobrou prova, pelo menos nada que possa pôr no chão, numa parede, numa cama.

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Mountain Girl 

- Documentary Short Film

Award-winning (Silver Telly 2024 - Documentary Under 40 Minutes) inspiring mini-documentary about aging gracefully and overcoming the obstacles in life with an 80-year old retired fashion model (Vogue, Bazaar) and a star of a cult classic film "Manos: The Hands of Fate" (as Diane Mahree). 


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Dias felizes

quarta-feira, fevereiro 19, 2025

Les beaux esprits se rencontrent

 

Quando tinha para aí uns dezassete ou dezoito anos, não sei bem, o meu namorado da altura perguntou-me, quando fiz anos, se havia algum disco que eu gostasse de ter. 

Naquela altura o conhecimento que havia -- sobre tudo mas, neste caso, sobre música internacional -- , era rudimentar face ao que hoje se passa. Hoje, com o youtube, o spotify e a internet em geral, o acesso ao conhecimento é instantâneo, praticamente universal, ubíquo. Mas, naqueles longínquos anos, os meus amigos eram muito apreciadores, havia sempre alguém que trazia discos de fora, e havia sempre festas com baile incluído, e, ou assim ou de qualquer outra maneira, eu ia minimamente sabendo sobre o que, a esse nível, se passava no mundo. 

Disse-lhe que gostava do último LP do Bob Dylan. Ele ficou espantadíssimo. Não fazia ideia que eu soubesse da existência do Bob Dylan ou que gostasse dele a esse ponto. Se bem me lembro da expressão que fez, creio que terá até ficado preocupado, sem saber se conseguiria obtê-lo, em especial no prazo de meia dúzia de dias, até eu fazer anos.

Mas ofereceu-mo. Provavelmente está ainda junto dos outros LPs que trouxe de casa da minha mãe. Não sei.

O que sei é que eu gostava imenso de ouvir o Bob Dylan. Adorava. Tudo ali era desalinhado: a voz, a música, a letra, ele próprio. E eu gostava muito disso.

Do Timothée Chalamet também sou fã. Também é desmanchado e também parece ter sido tocado por um talento insólito, pouco usual. Sempre que o vejo a actuar, fico espantada. Que rapaz versátil, que capacidade de representar inacreditável. Agarra qualquer papel e, em todos eles, é fantástico. Faz sempre que fique claro que bem representar é uma arte. Ainda não o vi a representar o Bob Dylan mas quem viu diz maravilhas.

Quanto a Anderson Cooper já aqui o trouxe muitas vezes: gosto imenso dele. É um repórter e um entrevistador extraordinário, talvez o melhor. Não há reportagem ou entrevista que ele faça que não seja irrepreensível, memorável ou quase.

Por isso, a entrevista que conduz com o Timothée Chalamet a propósito da sua interpretação do Bob Dylan é um prazer.

Timothée Chalamet: The 60 Minutes Interview

“A Complete Unknown” actor Timothée Chalamet, known for  “Dune,” “Wonka,” and “Call Me By Your Name” grew up wary of acting. He explains why and how he ended up making movies.

"60 Minutes" is the most successful television broadcast in history. Offering hard-hitting investigative reports, interviews, feature segments and profiles of people in the news, the broadcast began in 1968 and is still a hit, over 50 seasons later, regularly making Nielsen's Top 10.


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E uma bela sexta-feira!

terça-feira, setembro 17, 2024

Será que a nova Emmanuelle causará tanto escândalo quanto a primeira...?

 

Em tempos que já lá vão... deu que falar. Quando nos encontrávamos havia sempre alguém que perguntava se já tínhamos visto a Emmanuelle... 

Não que a coisa fosse verdadeiramente escandalosa mas, enfim, na altura era novidade. 

Só vi vários anos depois de já toda a gente ter visto e nunca achei que fosse a última batata a sair do pacote.


Mas, de qualquer maneira, a Sylvia Kristel tinha aquele arzinho entre o inocente e o levemente a poder tender para o depravado que apimentava as imagens e trazia alguma graça.

Do que agora vejo nesta nova versão, parece-me a modos que pãozinho sem sal. Mas, claro, posso estar enganada. Cada um que ajuize por si...

Emmanuelle

Emmanuelle procura um prazer perdido. Ela voa sozinha para Hong Kong para uma viagem profissional. Neste sensual mundo urbano, ela multiplica experiências e conhece Kei, um homem que continua a iludi-la. 

Com este filme, Audrey Diwan  oferece-nos uma adaptação livre do romance de Emmanuelle Arsan e lança um olhar feminino sobre a busca íntima da mulher cujo primeiro nome ainda evoca uma das personagens mais polêmicas do cinema atual.


Dias felizes

[Desejando muito sinceramente que acabem os incêndios o mais rapidamente possível, com o mínimo de danos, sobretudo humanos]

domingo, setembro 15, 2024

Há casas e casas...

 

Enquanto escrevo, estou a ver um programa fantástico na RTP 1, 'Em casa de Amália' em Elvas. Muita gente na rua a assistir a contagiantes momentos de partilha com o António Zambujo, o Buba Espinho e o Luís Trigacheiro, apresentado por um José Gonzalez que eu não conhecia mas que é um tipo bem simpático. 

Muito bom. Penso que o país caminha no bom sentido quando se fomentam momentos assim, de comunhão em torno de uma língua comum, em que as pessoas saem à rua para ouvir cantar, quase tudo canções que toda a gente canta, em que há sorrisos no ar. O cante alentejano é maravilhoso. 

Mas não tem que ser o típico cantar alentejano. Canções que muita gente conhece, melodicamente ricas, em que se toda a gente se junta a cantar, são uma riqueza cultural inesgotável.

E estes três jovens cantam lindamente. Estou impressionada. Por exemplo, não conhecia bem o Luís Trigacheiro e tem uma voz e um poder de interpretação extraordinários. Neste momento está a cantar uma que não é muito conhecida (digo-o pois não o acompanham a cantar) mas que é uma canção linda. Estou encantada.

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Mudando de assunto. Ontem à noite, sem querer, dei com um documentário tocante. Fiquei a ver até ao fim. Foi na RTP 2. Feito pela Charlotte Gainsbourg sobre a mãe, Jane Birkin, mulher de uma inocência e franqueza totais.

Se não viram, sugiro fortemente que ponha a box para trás e o vejam. Partilho o trailer só para se perceber o género. 

Jane by Charlotte - Official Trailer (2022) Charlotte Gainsbourg

Watch the trailer for Jane by Charlotte, a documentary by Charlotte Gainsbourg about her mother, Jane Birkin. It features intimate conversations between parent and child, as well as footage of Birkin performing onstage, and explores the emotional lives of two women as they talk about subject matter that ranges from the delightful to the difficult: aging, dying, insomnia, celebrity, and their differing memories of their shared past, which includes Charlotte's father and Jane's husband, Serge Gainsbourg. 

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Como estou com um olho no burro e outro no cigano (e espero não ser censurada pela utilização deste ditado popular), não me dá para me pôr para aqui agora com divagações. Vou já direita ao assunto.

A forma como as pessoas vivem por esse mundo varia de uma maneira que se calhar não julgamos possível. Eu, se fizesse programas educativos, incluía o conhecimento de hábitos, dificuldades, excentricidades e gostos ao longo de todo o planeta. Penso que é bom que tenhamos noção das disparidades, da diversidade. O que aqui podemos observar atesta a criatividade humana quer a nível arquitectónico, quer tecnológico, quer estético ou económico quer a nível da própria sobrevivência.

Pode ser difícil de acreditar, mas as pessoas realmente moram nestas casas


A tod@s desejo um belo dia de domingo

segunda-feira, fevereiro 27, 2023

Do êxtase ao wifi

Hedy Lamarr

 

Ao desafio abaixo lançado -- Qual a cientista mais bela e mais improvável de sempre? -- apenas o João respondeu e, honra lhe seja feita, foi uma entrada directa para bingo.

Temos todos em nós vários preconceitos. Ninguém lhes escapa.

Um deles é que uma mulher bonita dificilmente é muito inteligente. Dá ideia que a malta pensa que, no momento da criação, há um número limitado de atributos positivos para distribuir. Ou bem que vão para a beleza física ou bem que vão para os neurónios.

Simetricamente, há o preconceito de que as inteligentes pouco devem à beleza. 

Claro que isto se aplica a ambos os sexos mas, reconheçamos, maioritariamente às mulheres.

Inclusivamente a coisa refina a nível de vocações. Não sou de ciúmes mas devo referir que, quando andei tomada de amores por um candidato a engenheiro, não me preocupava nem um bocadinho com os retiros em trabalhos de grupo com as colegas de quem ele era muito amigo pois tinha a ideia que as engenheiras eram, por definição, feias, mal jeitosas, pouco femininas. 

Mesmo a nível profissional voltei a encontrar esse absurdo preconceito: para os meus colegas homens as engenheiras eram o que se sabia. Giras, giras, para eles, eram as advogadas. 

Disparates.

Nem beleza nem inteligência são cartão de identidade ou cartão de visita nem esses ou quaisquer outros atributos são exclusivos de grupos pois são características individuais não passíveis de generalizações.

Mas se estes preconceitos subsistem até aos dias de hoje, imagine-se há quase um século.

Se era bela, voluptuosa, sensual, então jamais poderia ser cientista, inventora.

De Hedy Lamarr disse o realizador Max Reinhardt, em 1930, que era a mais bela mulher do mundo. 

Diz-se que as suas feições perfeitas, a tez de veludo, os olhos grandes e claros e os lábios bem definidos serviram de inspiração para a Branca de Neve e para a Cat Woman. 

Não cantava nem dançava mas isso não a impediu de deslumbrar no cinema, claro. 

Hedy Lamarr no primeiro nu integral do cinema 


Hedy Lamarr na primeira cena de orgasmo em cinema, também no filme Êxtase

Presos à sua beleza, à sua desinibição e ao erotismo que se desprendia dos seus movimentos e expressões,  ninguém prestou muita atenção à sua invulgar inteligência, um QI próximo do de Einstein.

Quando chegava a casa, a sua mente, que fervilhava, dedicava-se a encontrar soluções tecnológicas para alguns dos maiores problemas da altura: os que se relacionavam com a guerra que atormentava o mundo.

Traduzo (às três pancadas, com o google translator como acelerador): 

Dos estúdios de Hollywood à invenção do wifi, o destino incomum da estrela Hedy Lamarr

Quando os Estados Unidos entraram na Segunda Guerra Mundial após o ataque a Pearl Harbor em 7 de dezembro de 1941, a atriz resolveu que haveria de inventar uma arma capaz de fazer vencer a guerra ao seu país adotivo. Ela lembrava-se das conversas do ex-marido. Sabe que os mísseis da Marinha dos EUA são facilmente rastreados pelos U-Booote alemães porque eles comunicam-se com o expedidor por meio de uma onda de rádio. Com a ajuda de seu amigo, o compositor vanguardista George Antheil, Hedy imaginou mísseis equipados com outro sistema de transmissão de dados, onde apenas o míssil e seu remetente saberiam a série de frequências utilizadas. Para os U-boote, essas mudanças pareceriam aleatórias, tornando-se-lhes impossível acompanharem o progresso das máquinas americanas. Hedy Lamarr e George Antheil conceptualizam assim um princípio de transmissão fundamental em telecomunicações: a dispersão de espectro por salto de frequência.

O exército aceita receber a dupla de acrobatas, mas não os leva a sério... Bem, pelo menos não antes da crise dos mísseis cubanos em 1962! A partir da década de 1980, a sua invenção permitiu o desenvolvimento do GPS, Wi-Fi e Bluetooth. Quando Antheil morreu em 1959, Hedy Lamarr permaneceu sozinha, cercada pelo prestígio de sua criação. Em 1997, aos 83 anos, recebeu o prémio Electronic Frontier Foundation. Hoje, a encarnação da venenosa Dalila no inesquecível filme de Cecil B. DeMille tornou-se a madona fatal dos geeks. E a santa mãe do wi-fi.

Em vídeo em francês 


Em vídeo, em língua inglesa:


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segunda-feira, janeiro 03, 2022

A difícil vida dos escritores

 

Gostava muito de ver o filme de que abaixo mostro a apresentação. Não sei se vem para Portugal nem sei se ganharei confiança para me enfiar durante hora e tal numa sala fechada a respirar o ar saturado, expirado pelas outras pessoas. Claro que há que acreditar que os sistemas de climatização dos espaços públicos estão configurados e mantidos para não comportarem riscos para a saúde pública, em especial em época de contágios pelas vias respiratórias. Mas, ainda assim, como nas relações um pouco saturadas, acho que prefiro dar um tempo.

No entanto, confesso que, apesar do cheiro e do ruído mandibular associado às pipocas, ainda acho que há uma mística em assistir a filmes no escurinho da sala de cinema. Além disso, como frequentemente ia ver filmes que não atraíam muito público, era bafejada pela sorte de ter salas com pouca gente e, sobretudo, por partilhar o filme com gente silenciosa, respeitadora.

Seja como for, para garantir que o via, a verdade é que gostava que o filme passasse na Netflix ou na HBO. Tromperie|Deception

Gosto bastante da Léa Seidoux, em geral gosto de filmes franceses; e ser baseado numa obra de Philip Roth é um plus que não deve ser negligenciável.

Ao ver a apresentação, ocorreu-me que uma das dificuldades para quem tem uma vida sentimental e sexual muito movimentada e uma escrita confessional deverá ser o risco de reacção de quem se sente retratado e, para os que são casados, o receio de que o/as respectivo/as tentem tirar a limpo se o que é ali retratado tem fundo de verdade.

[Alimento a esperança de ainda vir a ter tempo para me dedicar, de alguma forma, à escrita. Se me puser a escrever memórias, creio que terei alguns episódios interessantes para reportar. Mas tenho para mim que mais do que apontamentos que possam ter algum interesse do ponto de vista da petite histoire associada à história dos dias, teriam graça os episódios anedóticos ou atrevidos. Mas... e se os envolvidos o lêem e não acham graça nenhuma? Perdoar-me-iam que os expusesse daquela forma?

Será mais seguro ficcionar. Mas como ficcionar na íntegra, escrever na base de uma imaginação bacteriologicamente pura, quando a vida é tão rica e supera em densidade, divertimento ou picante a ficção?]

E pode um escritor ficcionar uma história de adultério, descrevendo ao milímetro as aventuras, os cenários e os momentos de amor, sedução ou prazer, descrever os riscos incorridos, descrever as perplexidades, os sustos, descrever a adrenalina, descrever as combinações em segredo... e o cônjuge não desconfiar que aquilo não é ficção coisa nenhuma, que aquilo é confissão pura e dura?

E como reage um escritor quando é confrontado com essas desconfianças? Ou com acusações de deslealdade por parte de quem, em segredo, viveu esses amores encobertos?

Nega? Confessa? Pede desculpa? Ou, no íntimo, está-se nas tintas e quer é viver situações extremas para ter o que contar?

Tromperie | Deception (2021) | Realizado por Arnaud Desplechin
An American novelist living for a time in London converses with his wife, his mistress, and other female characters he may have dreamed up.
Arnaud Desplechin returns with a powerful, haunting story of sex and loyalty, love and deceit. Adapted from Pulitzer Prizewinner Philip Roth’s bold autobiographical novel exploring the world of adulterous intimacy.

E, ao que parece, Léa Seydoux, 36 anos, assina mais uma memorável representação.

Estou danadinha por vê-la a beijar as palavras

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Percebi que começaram os debates para as Legislativas. Não vi. Sei bem em quem vou votar. Não é com trocas de galhardetes em formato de condensado televisivo que vou mudar de opinião. 

Ao fazer zapping vi que começou outro Big Brother, desta vez com a Madame Brega in action, gritando como uma capada. Na sala das anedotas, um bando de gente de aspecto suspeito, incluindo o Bruno de Carvalho. Não conheci ninguém a não ser ele. Pelo aspecto do que vi, parece que sacaram um bando de desocupados nalguma casa de alterne. Curiosamente, parece que chamam a esta edição a dos Famosos. A TVI na sua trajectória descendente, a bater no fundo. 

Quanto aos outros canais não tenho ideia. Estive a ver a Terapia com o Gabriel Byrne (e daqui vai, de novo, o meu obrigada pela dica!). 

Não estamos a começar bem o ano, televisivamente falando.

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Desejo-vos uma boa segunda-feira

quinta-feira, dezembro 16, 2021

And just like that as moçoilas de O sexo e a cidade viraram grisalhas e, imagine-se, uma delas até ficou viúva....

 



Não sei há quantos anos terá sido. Dez? Dez não, devem ter sido mais. Vinte? Se calhar. Ou quinze. Não faço ideia.

Poderia ir informar-me mas, quando aqui aterro, a esta hora e depois de um dia como o de hoje, já estou mais para deixar correr do que para ir à procura de respostas.

Sei que elas eram urbanas, desempoeiradas, irreverentes, bem vestidas, independentes, apaixonadas. O ambiente citadino, as suas casas, os seus amigos, a amizade com um amigo bicha, tudo aquilo me agradava. E depois havia o charmoso Mr. Big com tudo em grande: a elegância, a malícia do sorriso, a desfaçatez, a graça. 

Claro que ali tudo funcionava num daqueles registos light em que, mal a gente acaba de ver, já se esqueceu do que viu. Mas não faz mal: enquanto se vê, estamos bem. Não chateia, não cansa, não requer atenção. 

Não corria para ver o episódio e nem me lembro se dava para por a box a andar para trás. Sei que, de certeza, nunca pus, provavelmente porque nunca tal me passou pela cabeça. Mas, lá está, gostava de ver aquela parte em que ela colhia elementos do seu dia para escrever a crónica para a revista. Esse lado de reportar as insignificantes minudências do dia a dia é-me familiar e agradável. Na altura ainda não deveria ter blog pelo que provavelmente, na altura, não me ocorreu que, anos depois, também eu haveria de chegar à noite, sentar-me ao computador e desatar a escrever. 

Não sei que idade teriam elas na altura. Trintas e tais? Será que já pelos quarentas e poucos? Também não sei. 

Tenho andado a ver publicidade ao regresso das amigas, agora já sem Kim Catrall, a hot girl do grupo. Ao que parece o santo dela e o de Sarah Jessica Parker não cruzavam. 

Como não presto muita atenção a estas coisas, pensava que era uma sequela do filme (que não vi, apenas via a série). Afinal não.

O meu filho colocou-me também na HBO. Vi lá o extraordinário Mare of Easttown mas, de resto, tenho ideia que é mais fraco que o Netflix. Contudo, isto é opinião de fraca utilizadora pelo que não deve ser tomada à letra. 

No outro dia, numa daquelas preguiças que me dão quando não consigo suportar a televisão, fui espreitar. E dei de caras com And just like that. E vi os dois episódios que estavam disponíveis. 

E vi com aquele sentimento de desconforto que não é carne nem é peixe: desconforto pelo que estava a ver, desconforto também pela minha reacção -- os chamados mixed feelings.

Coloquei lá em cima o trailer mas o trailer mostra uma animação que o que vi até agora não tem.

A questão é que o tempo passa. Passou também para elas. E elas não o escondem (ou não conseguem esconder -- não sei...). São agora mulheres com outro corpo, com rugas, cabelo grisalho. 

Claro que Carrie Bradshaw se mantém magra e, portanto, ainda consegue vestir qualquer coisa e claro que Charlotte, a boneca de porcelana do grupo, tem o cabelo ainda todo escuro, assumidamente pintado. Aliás, acho que a boca também foi retocada. Preenchida, como creio que se diz. Mas a Carrie e a Miranda agora estão grisalhas e os rostos não disfarçam a erosão do tempo, a Miranda e a Charlotte têm as ancas mais largas, têm as pernas mais pesadas. 

Mas, lá está, quem sou eu para falar destes aspectos? Não sei eu também, tão bem, que o tempo, ao passar, vai deixando as suas marcas? E que mal têm essas marcas? Faria sentido chegar-se a velha com carinha e corpinho de adolescente? Seria até estranho.

Mas nem é tanto a idade que agora têm: é também todo o enredo. A Charlotte tem filhas adolescentes, uma das quais armada em rebelde, a Miranda também tem um filho adolescente que leva a namorada lá para casa (e para a sua cama) e o marido, sempre tão low profile, está também mais velho e mais low profile. E a Carrie está instalada, casada com o seu Mr. Big. 

E já não há aquele viço, aquela leveza, aquele espírito de brincadeira que as levava a rir mesmo quando falavam de desgostos de amor. Agora os semblantes por vezes ficam fechados e, quando se divertem, é um divertimento algo forçado, coisa de mulheres maduras que ainda wanna be fofas e leves. Falta a Samantha e a sua pimenta que incendiavam as conversas, falta a alegria.

E como se a coisa não fosse já suficientemente desconfortável resolveram matar o Mr. Big, caído no chão com um enfarte -- imagine-se. E, portanto, o segundo episódio foi passado nas cerimónias fúnebres do que era o gostosão da fita. Claro que tentaram polvilhar a coisa com algum humor mas, na realidade, um humor muito relativo. 

Portanto, até ver, o que fica é como que um amargo de boca. Já basta a vida de verdade ser tantas vezes uma seca e uma xaropada do piorzinho que há. A ficção, a este nível, numa série supostamente levezinha, não tem que tentar reproduzir a realidade senão vira também um desconsolo.

Pode ser que seja um arranque envolto em desgraça -- cabelos brancos, conversa de quase-velhas, a artista principal caída numa inesperada e triste viuvez --, para depois se lançar na paródia. Mas não sei, não...

Por enquanto estou naquela de que, na volta, aqui também se aplica aquela de que não se deve voltar onde já se foi feliz e que, se calhar, mais valia termos ficado com a recordação daquele grupo divertido numa Nova Iorque vibrante, cheia de eventos e de gente animadíssima. Se isto vai virar uma série de três velhas saudosistas e chatas vou ali e já venho. Mal por mal, antes a Candice Bergen toda descadeirada, a Jane Fonda toda emperiquitada ou a Diane Keaton, essa sim, sempre uma intemporal crazy girl.

O que vale, para nosso consolo, é que isto não interessa para nada. Importante, importante é que o jeitoso Vice-almirante voltou a ser chamado -- desta vez para coordenar as detenções. Boa. Estamos safos. A coisa vai correr bem.

E o resto é conversa.

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Desejo-vos um dia feliz

E cuidado com a bicha má, Ómicron de seu nome. 

Evitem espaços fechados, usem máscara... essas coisas.

terça-feira, maio 04, 2021

Ontem é história, amanhã é um mistério e hoje é uma dádiva. Por isso lhe chamam presente.

 



Uma segunda-feira que começa cedo e que vai de enfiada até ao fim do dia é uma segunda-feira para esquecer. Tanto saco, tanto pepino, tanto sapo. A meio de uma reunião que estava a deixar-me com os nervos em franja, já incapaz de disfarçar a minha impaciência, recebi uma mensagem: 'Temos quatro monos na sala'. Deu-me vontade de rir. Tal e qual. Logo de seguida, um outra: 'Pelo menos...'. A partir daí, atalhou. Percebemos ambos que dali, por mais que espremêssemos, não sairia sumo. Quando a reunião acabou, ligou-me: 'Qualquer dia estamos os dois sozinhos'. E eu, apreensiva que também ando: 'Pois. Mas não pode ser. A verdade é que o tempo passa e a conversa não evolui. Não desenvolvem. O que é que a gente faz?'. E sugeri que apostássemos na mais improvável. Concordou. Tenho cada vez mais a convicção de que quando a mudança é profunda, quando os desafios são dos valentes, quando é preciso pragmatismo e capacidade para cortar a direito, as mulheres são mais capazes. É para fazer? Então, faz-se. Não há cá converseta da treta, mas-mas, não há cá medo de ouvir um não: é pão, pão, queijo, queijo. 

Mas é uma canseira. 

A minha filha diz-me frequentemente que tenho que gerir as coisas no sentido do phasing out. Conhece alguns dos intervenientes e antevê que não me 'deixarão' sair tão cedo. Diz que eu é que tenho que pôr os pés à parede, gerir as coisas nesse sentido. E é o que quero. Mas, por outro lado, são largas, muitas, centenas de famílias que dependem da empresa. Sinto a responsabilidade de fazer o melhor possível. 

Da empresa de que saí o ano passado saí com a noção de que tinha cumprido a minha missão e que lá ficaria uma equipa, a 'minha equipa', gente competente e dedicada, que asseguraria a continuidade. Saí com a convicção de que tinha preparado bem a minha saída. 

Aqui é tudo muito diferente. Tudo diferente. 

O meu marido diz que me esgoto nesta luta. E é um bocado verdade. 

Estou in heaven mas mal consigo usufruir. À hora de almoço, saí para andar e para falar com a minha mãe. Ao fim da tarde também. A meio do dia, sempre que falei ao telefone, estive a andar à porta da sala, para a frente e para trás. Nestes telefonemas de trabalho não gosto de me afastar pois a toda a hora me pedem que veja o mail ou que veja a disponibilidade e dá-me mais jeito sentar-me ao computador enquanto telefono para este tipo de validações.

Mas, ao fim do dia, a app informou-me que tinha feito 12.929 passos, o que corresponde a 8 km. E, imagine-se, queimei 502 kcal. Menos mal. 

E isto é a maçadora síntese do dia. 

À noite, aqui, vi que Bill e Melinda Gates, o dream couple, vai separar-se. Fiquei deveras surpreendida, Dir-se-ia que já teriam ultrapassado todos os cabos das tormentas, que, casados há 27 anos, certamente já enfrentaram. Ele com 65, ela com 56, diria eu que já achariam que o divórcio é coisa para dar mais trabalho do que continuarem a resolver as diferenças. Afinal, o quarto homem mais rico do mundo e a sua mulher que, em conjunto, gerem uma das fundações mais poderosas do mundo, chegaram ao ponto de não retorno. É obra. Já em 2019, MacKenzie Scott, a ex de Jeff Bezos, ao divorciar-se conseguiu a proeza de se tornar a terceira mulher mais rica do mundo e, acto contínuo, fazer filantropia à sua maneira, sem cuidar de acautelar previamente os benefícios fiscais. 

Mas é isso: quem tem a ilusão que dinheiro é felicidade e que resolve todos os dramas, bem pode tirar o cavalinho da chuva. É ver quase todos os mais ricos desta vida: Gates, Bezos, Musk. Falta o alienado Zuckerberg. Ou o outro dream couple, a Angelina Jolie e o príncipe encantado de todos os sonhos, Brad Pitt. Dinheiro não lhes falta, sucesso também não. E, no entanto, na intimidade da casa, são como todos os outros casais, têm diferenças. E, por vezes, seja qual for a dimensão da fortuna, as diferenças são insanáveis.

Moral da história? Não há e ainda bem que não há. Detesto quando as histórias pingam moral. 

Até porque se é para falar de coisas sérias vou antes falar de outra coisa. Já aqui contei muitas vezes: nada me descansa mais e repousa, tranquiliza, refresca as ideias e me prepara para tudo do que um belo banho. Não sou de água fria. Pode ser tépida no verão mas, no inverno, convém que se lhe sinta o calorzinho. Em especial, fico outra, retemperada, poderosa, se lavo o cabelo. Uma bela shampoozada, água a correr-me em cima até que se vá toda a espuma, e eu ali, com vagar, a deixar que todos os cansaços, aborrecimentos e desconfortos se vão pelo ralo abaixo. Coisa boa. Por sorte não precisei ainda de psicoterapia ou medicação para ansiedades ou angústias. A minha terapia é o banho, em especial com lavagem de cabelo incluída. 

Pois bem. Acabo de ler no The Guardian que It’s like therapy’: how washing your hair can lift your mood – and change your life. Hairwashing can be a catharsis and a reset, the purifying sluice of water rinsing a bad day down the plughole (...) Li e pensei: olha, afinal, se calhar, não sou maluca de todo. Comentei com o meu marido. Confirmou, disse que com ele acontece o mesmo. Desatei-me a rir: 'Essa é boa. És careca!'. Não concordou. Disse que eu não devia fazer uma leitura tão literal, que o ponto está em como lavar a cabeça levanta o astral -- a cabeça, não o cabelo. Está bem, abelha. Na volta acontece-lhe é como às pessoas que perdem uma mão e que parece que continuam a senti-la: ainda sente como se tivesse cabelo. A vontade de rir que isso me dá. E calma, que não se pense que estou a depreciar. Nada disso. Sou como as demais que é dos carecas que mais gostam. 

Já contei, não contei? Uma vez, estando a ouvir a conversa de dois colegas sobre a queda de cabelo, um a dizer que não tinha problema nenhum e outro a dizer que estava a fazer um tratamento e que estava a resultar muito bem, saiu-me, sem querer: uma amiga que é médica, disse-me que a principal causa de calvície é a testosterona. Quanto mais, mais o cabelo cai. Ficaram os dois em silêncio. E eu com vontade de rebobinar e retirar o que tinha dito. A coisa propagou-se. Durante anos, ouvi toda a espécie de piadas. Quando aparecia algum cabeludo, havia sempre alguém que me piscava o olho ou que me dizia: 'Aquele... coitado...'. Uma vez estava numa situação social, com gente que não conhecia muito bem, e às tantas, alguém falou do cabelo farto de um qualquer. E, às tantas, para meu sufoco, um dos meus colegas disse: 'Aqui a nossa amiga tem uma teoria sobre isso...'. E todos, virados para mim: 'Ai é...? Conte...'. E eu, furiosa com ele: 'Desculpem mas não posso. É uma private joke... Não levem a mal'.

Mas, também calma aí, há cabeludos que eu também não rejeitaria. Por exemplo, o dito príncipe dos príncipes, Pitt, Brad Pitt. E outros. Ou seja, quem vê cabelos não vê corações. Nem corações nem o resto, bem entendido.

E é isto. Termino com uma citação que acho o máximo e que vem mesmo aqui a calhar: «Yesterday is history, tomorrow is a mystery and today is a gift, that is why it is called the present.» (Eleanor Roosevelt)


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Do melhor


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Uma boa terça-feira.
E, se não estiver a correr bem, façam o favor de tomar uma banhoca.

sexta-feira, abril 30, 2021

Um homem de 83 anos.
A demência. A normalidade.

 

Gosto das interpretações de Anthony Hopkins. Não conheço muitas mas as que tenho visto são superlativas. É um grande actor. Sendo contido é, no entanto, o máximo. E tem boa pinta e, estou em crer, é boa onda.

Tenho ideia que a grande bolada que me atingiu foi a sua interpretação n' O Silêncio dos Inocentes. Ainda não vi este, O Pai. Nem sei se o verei de bom grado. Talvez em casa, num dia em que esteja especialmente bem disposta. A demência assusta-me. Assusta-me muito e mais ainda se pensar que a pessoa pode ter consciência que está a caminhar inexoravelmente no sentido da perda das suas capacidades cognitivas. Deve ser aterrador. 

Quando a minha mãe esteve a recuperar de uma cirurgia, esteve numa residência assistida cujas condições, creio eu, são superiores às normais. Dir-se-ia um hotel de muitas estrelas com a vantagem de ter médico todos os dias e enfermeiros em permanência. Acontece que havia ali uma concentração considerável de pessoas com demência. Todas as que conheci nessas condições pareciam normalíssimas. Dir-se-ia o cenário de um filme: nada era exacatamente o que parecia. Uma seria sensivelmente da minha idade. Bem arranjada, bonita. Estava sentada a uma mesa com o que parecia ser o marido. Viu-me, sorriu-me, cumprimentou-me como se me conhecesse. Pensei que me conhecia e fiquei a pensar quem seria. Ela disse-me mais qualquer coisa e eu aproximei-me. Contudo, o que admiti ser o marido fez um gesto discreto que percebi que quereria dizer que eu não parasse, que não fizesse muito caso. Fiquei muito intrigada. Contou-me, depois, a minha mãe que era sempre assim, cumprimentava sempre com afabilidade toda a gente. E era mesmo o marido. Ia lá todos os dias para tomar as principais refeições com ela. Numa das vezes que a minha mãe tomou o pequeno almoço com ela, despejou o iogurte no guardanapo e comeu a partir do guardanapo. No fim, ia limpar a boca com o guardanapo e, não sei como, lá conseguiram trocar-lhe as voltas. Tudo com muitos bons modos, gestos de quem sabia estar à mesa. E contava a minha mãe que as proezas se sucediam. Sempre bem disposta, sorridente, amistosa, como se tudo estivesse normal com ela.

Havia uma outra que parecia uma diva de Hollywood mas do tempo do mudo. Uma pessoa com uma pose extraordinária. Aparecia vestida como se fosse para um cocktail chic de fim de tarde numa Embaixada. Casaco comprido de verão (isto passou-se no verão), belas e vistosas jóias, saltos altos, carteira a condizer, cabelo muito bem penteado. Não sei que idade teria mas era seguramente mais velha que a minha mãe. Se a minha mãe estava sentada nos sofás perto dos elevadores (e era onde estava quando estava à nossa espera), ela, ao passar por ali, vinda do seu quarto num dos pisos superiores, perguntava à minha mãe se tinha visto a mãe dela. A minha mãe respondia com naturalidade que não. E ela dizia: 'Ah, disse que vinha aqui ter comigo... Estranho... Vou ver se está ali...' e lá ia, com aquela atitude de grande diva.

A minha mãe contava-nos peripécias das suas 'vizinhas', coisas extraordinárias. Eu gostava de ouvir. Ouvia com um misto de curiosidade e de inquietação. A demência assume várias formas e frequentemente dissimula-se sob a ténue capa da 'normalidade'. Ao princípio a minha mãe assistia com alguma estranheza e muita benevolência e generosidade a todas essas demonstrações. Contudo, ao fim de algum tempo, começou a achar muito deprimente o convívio com a degenerescência. Se calhar, começou a recear que alguma vez lhe tocasse a ela. Felizmente, estava recuperada e pode voltar para casa.

Mas, voltando ao filme que trouxe o Oscar pra melhor actor deste ano a Anthony Hopkins, tenho mixed feelings em relação a vê-lo. Gosto de ver filmes com finais felizes e, quando a demência se instala, não há tal coisa. O final é sempre o corolário de um caminho cada vez mais curto, cada vez mais sombrio. Não sei se para a vida há finais felizes mas, enfim, queremos sempre sonhar com um fim que seja breve, pouco doloroso, em que possamos manter intacta a nossa dignidade e consciência. E, em casos como o deste filme, é tudo ao contrário disso: é um pesadelo. Um pesadelo às tantas mais para os que lhe são próximos do que para o próprio que, por fim, perde a consciência de si.

Anthony Hopkins - O pai


 A dança como celebração

(com Salma Hayek)


Oscar - o discurso da vitória


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A primeira fotografia é, obviamente, de Sir Anthony Hopkins. A segunda é Gloria Swanson.

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Uma happy friday

domingo, fevereiro 21, 2021

Björn Andrésen não morreu em Veneza

 

Tenho um amigo cinéfilo. Pelo menos, assim se define. Durante anos consumiu compulsivamente filmes. Agora consome séries. E memoriza argumentos, realizadores, intérpretes. Por vezes pergunta se vi isto ou aquilo e, desmiolada como sou, geralmente não me lembro. Só quando dá detalhes, acabo por reconhecer e, muitas vezes, fico aborrecida comigo pois até tinha gostado... e tinha-se-me varrido. 

Uma vez fiz-lhe aquela pergunta que acho absurda e à qual não consigo responder quando ma fazem: qual o seu filme preferido? Pensei que iria dizer que era impossível escolher, que são muitos os muito bons, os preferidos. Mas não. Para meu espanto, convictamente, respondeu: Morte em Veneza

E, a seguir, em estado de um deslumbramento quase hipnótico, começou a falar da beleza daquele miúdo, na obsessão do homem mais velho pela juventude sedutora do rapaz. Eu disse: Uma beleza tentadora. Ele confirmou: sim, uma beleza tentadora.


Não me esqueço da forma como ele recordou a cena da praia e outras... e de como o seu olhar quase estava alheado da minha presença ao pensar nessas cenas. 

Contou-me que não sabe quantas vezes já viu o filme. 

Também gostei muito do filme. Não li o livro pelo que não sei avaliar se, em palavras, a rendição do homem é tão absoluta e, por vezes, tão patética ou se beleza tentadora do rapaz é tão cativante -- ou se são as figuras de Dirk Bogarde e Björn Andrésen que tornam a história de Thomas Mann tão erotizada, tão bela, tão intemporal. Claro que Visconti e toda a equipa não terão sido de somenos no sucesso do filme mas, seja como for, o rosto de anjo atrevido e o corpo juvenil e apelativo de Björn Andrésen no papel de Tadzio não serão jamais esquecidos.

No entanto, tendo sido alguém tão marcante não tenho ideia de se ter voltado a falar nele. Ainda será vivo? Será ainda um homem com uma beleza invulgar?

Fui saber. E, como tantas vezes quando um jovem é tão idolatrado pela sua beleza na juventude, parece que lhes fica colada ao corpo uma espécie de maldição. Neste caso até parece que os dramas por que passou não terão tido a ver com a profissão mas com a morte súbita de um filho, bebé. Contudo, a carreira cinematográfica, ao que parece, não evoluiu substancialmente. E a beleza... bem... a beleza obviamente foi perdendo aquele viço que a inocência virginal acentuava. Mas é a vida. Só permanecem para sempre jovens e belos os que cedo se desprendem da vida terrena. 

Björn Andrésen tem 66 anos, é actor e músico, tem uma filha e dois netos.


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Desejo-vos um feliz dia de domingo.
Saúde. Ânimo. Paciência.

sexta-feira, fevereiro 19, 2021

Allen. Woody Allen.



Não sei onde foi que o vi pela primeira vez. Tenho ideia que o Manhattan vi no cinema pequeno por cima do Império. Como se chamava? Satélite? Estúdio? Podia ir procurar mas não interessa. O que interessa é que achei espantoso. Eu era uma jovem que se deslumbrava com o que parecia ser um mundo novo, com grandes imagens, com vozes que destilavam inocências, com histórias que juntavam amor, humor, ironia, melancolia.

Mas acho que antes tinha visto o Annie Hall e esse não me lembro onde foi. São Jorge? Apolo 70? Uma graça. Uma doçura sorridente, uma irreverência moderna, uma graça permanente. Tenho também ideia de ter gostado imenso do Zelig. Será que foi o Zelig que vi no Apolo 70? Ah, ainda hoje o chamo à liça de cada vez que vejo gente que muda de opinião, que se metamorfoseia para ficar igual aos que acham mais poderosos, os que se descaracterizam porque, na verdade, não têm carácter. Mas o Zelig acho que nem era pelo poder, era porque era mesmo assim, um camaleão humano. A graça que ele tinha. 

Adorava ver os filmes dele. Ficava a comentá-los, desatava a rir quando me lembrava de algumas cenas, era tema de conversa, repetíamos algumas coisas que ele dizia para se auto parodiar, eterno desajeitado, eterno inseguro. 

E, no entanto, como tantas vezes acontece com os homens feios mas inteligentes e com domínio da arte da ironia, sempre com sorte ao amor.

Ou o Alice. O charme discreto da burguesia no feminino, a rebeldia contida e bem perfumada, a insegurança como maneira de ser, a vontade de transgressão não assumida. Pelo menos assim a lembro. Aquela que viria a fazer-lhe a vida negra. Na realidade, não nos filmes. Ou, creio que antes de Alice, o September. As crises, os dramas, os risos, os segredos. Mia, a musa. 

Mesmo mais recentemente, já o escândalo tinha rebentado há tempo e os efeitos ainda se faziam sentir, outros filmes, já outras as musas. Por exemplo, gostei do Match Point ou, não há muito, do A Rainy Day in New York. Não quero saber que sejam levezinhos. Gosto de ir ao cinema e ver um flme que me deixe bem disposta. Gosto de sorrir ou rir. Ou de uma emoção mesmo que apenas ao de levezinho. Gosto de cidades bonitas, gosto de cores harmoniosas, gosto de subtilezas elegantes e suaves, sejam elas felizes ou nostálgicas. 

Uma vez, a passear em Oviedo, uma estátua de um homem meio desmanchado a andar na rua. Woody Allen. Gostei de ver, parecia que estava a ver alguém conhecido.

Sobre o que se passou, nunca percebi bem. A mente humana tem cavernas e o ciúme o despeito são uma tortura para os próprios e para os que deles são vítimas. Acredito na inocência de Woody Allen mas acredito porque sim. E imagino que deve ter sofrido bastante. Ele e a que era filha adoptiva da que foi sua mulher. Não deve ter sido fácil. Um rasgão difícil de sarar.

Conheço uma pessoa de quem, em tempos, se chegou a dizer que fazia parte de uma certa lista. Falava-se à boca pequena. De concreto, nunca nada. Mas circulava pelas redacções. Por vezes, as televisões mostravam peças em que as câmaras se detinham sobre ele. Homem que sempre tive por íntegro, homem de família. Estava muitas vezes com ele ao fim do dia, dali cada um seguia para sua casa. Contava-me muito da sua vida. Corriam vivos os rumores. Nunca lhe perguntei nada nem ele me disse nada. Até que um dia, um ou dois anos depois, emocionado, quase com lágrimas nos olhos, me disse: 'Não imagina, ninguém imagina. A vergonha que sentia, o medo que tinha que acreditassem no que se dizia, que desconfiassem de mim. Um tipo morre um pouco com uma mancha destas a pairar sobre a nossa reputação.' E a verdade é que, mesmo por entre quem o conhecia tão bem, surgia a dúvida insidiosa, matreira, rasteira, silenciosa. 

Não consigo malquerer ou malpensar a propósito de Woody Allen. Tem agora 85 anos e ao seu aspecto desconjuntado junta-se agora o aspecto etéreo que algumas pessoas de idade adquirem. Soon Yi tem 50 anos e, segundo dizem, é feliz ao lado de Woody.

Vi uma entrevista no Youtube que é uma graça, uma daquelas conversas a que se assiste de gosto. Contudo, não consigo aqui colocar o vídeo pois parece que foi interditado não sei bem porquê, direitos de autor de quem o publicou, qualquer coisa assim. Nem consigo que o link vá lá dar mas, just in case, deixo-o na mesma, pode ser que volte a estar disponível

Woody Allen em entrevista a Pedro Bial

Mas partilho uma outra entrevista.


E mais esta, também gostosa.


E tenham, por favor, uma happy friday.

segunda-feira, novembro 23, 2020

A world without intelligence is a primitive place, Doctor, not an enchanted place

 

Se eu fosse Mr. X começaria este post dizendo qualquer coisa parecida com isto: 

"Recebo uma carta com a letra manuscrita na caligrafia cuidada nos clubes de Oxford, onde reconheço a tinta azul da S. T Dupont Olympio de J. Eustáquio de Andrada, professor jubilado do Magdalen College em Oxford..."

mas, plebeia das palavras que sou, não ouso arriscar-me a esse ponto e nem sequer vou referir os títulos académicos do ilustre autor a que a seguir me refiro. 

Limito-me, pois, a dizer que recebi um mail do J. com uma graça que muito aprecio e onde se inclui uma inesperada citação, referências a cinema e a música e, como sempre, a simpatia franca de quem respira o ar limpo e azul das serranias.

Dizia suspeitar que eu acharia a citação interessante. Acertou na suspeição, J.: acho as afirmações -- como direi...? - deliciosas. E tanto que aqui vou partilhar. Revejo-me no que aqui é dito. A inteligência é fundamental. A inteligência e, já agora também a beleza, são essenciais.

A world without intelligence is a primitive place, Doctor, not an enchanted place. Intelligence is part of the advancing scheme of evolution. Without it, nature reaches a plateau very quickly and does not progress beyond raw survival. The full flavor of possibility goes unsavored. And that... is a true shame.

Tal como ele no seu mail, também não vou aqui referir o autor da citação. Contudo, aqui fica uma pista juntando aquilo que refere: 'uma nave a navegar no espaço, uma música de fundo, e uma voz cativante que anuncia:

Space: the final frontier. These are the voyages of the starship Enterprise. Its five-year mission: to explore strange new worlds, to seek out new life and new civilizations, to boldly go where no man has gone before.'

  


Merci, J.

sexta-feira, novembro 13, 2020

Uma experiência homossexual...?

 


Do que me conheço, em abstracto diria que seria altamente provável que eu fosse pansexual: ou seja, que gostasse de pessoas independentemente do seu sexo ou orientação sexual. Crio, naturalmente, uma forte conexão com pessoas de quem gosto. Pelo contrário, sinto repulsa, que é mesmo repulsa física, se verdadeiramente antipatizo com alguém. Não é frequente sentir uma antipatia assim, visceral: tenho que sentir, no meu mais íntimo, que é uma pessoa parva, oca, narcisista, destituída de inteligência, de genuínos sentimentos, de valor de qualquer espécie. Aí nada a fazer, só peço a todos os santinhos para nunca me aparecer à frente. Em contrapartida, se a pessoa é inteligente, se tem sentido de humor, se é generosa, simpática, se desenvolve empatia em relação aos outros, se é boa companhia, se sabe surpreender-me, então, tem a minha simpatia e facilmente me relaciono com ela.

Mas uma coisa é simpatizar, outra é sentir atracção física. Aí, nesse capítulo, sou muito selectiva. Quando eu desdenhava de muitos que toda a gente achava o máximo, havia sempre alguém que dizia: hás-de deixar-me ver o teu caixote do lixo. Para eu me sentir atraída por alguém tem que essa pessoa ser muito de muitas coisas e nada também de muitas coisas. Na atracção física sou fundamentalista. Não há meio termo, não faço concessões. Tem que fazer o pleno dos fundamentais. 

E, até hoje, isso só aconteceu com homens. Nunca me senti atraída por uma mulher. Identicamente, nunca me apercebi de que alguma mulher se sentisse atraída por mim. Que eu saiba, de entre as mulheres com quem me relaciono mais de perto apenas uma é homossexual, mas não assumida. A mim tanto se me dá. Não me faz qualquer impressão nem uma coisa nem o contrário. Simpatizo com ela por ser como é.

Se me forçar a pensar no que poderia ser a minha reacção se uma mulher se apaixonasse por mim ou pretendesse tocar-me de uma formais sexualizada, sinto incómodo. Penso que sentiria repulsa. Mas lá está: nunca aconteceu, o que pense sobre isso é em abstracto. Contudo, a verdade é que face aos antecedentes e à minha muito marcada inclinação hetero, julgo ser altamente improvável que alguma vez venha a ter alguma experiência homossexual. Para o ter, julgo que deveria haver da minha parte, a priori, alguma predisposição e não há. Ou melhor, até hoje nunca houve.

Mas, também em abstracto, uma coisa eu digo: se houvesse essa tal predisposição, não haveria da minha parte qualquer preconceito que me levasse a rejeitar, à partida, uma tentativa. Em abstracto, imagino que o melhor dos mundos deverá ser o mundo dos pansexuais: uma pessoa apaixonar-se e desejar uma pessoa só porque a pessoa nos cativa, nos dá vontade de estar próxima, abraçada a nós, bem apertadinha, nos apetece a sua companhia, nos apetece rir e conversar e passear e construir sonhos e projectos conjuntos e tudo isso pela pessoa em si e não por ser homem ou mulher ou gostar de homens e mulheres; isso parece-me um conceito irrecusável, a maravilha das maravilhas. Cá para mim, felizes os pansexuais. 

Agora que escrevi isto ocorreu-me uma dúvida: ser pansexual será a mesma coisa que ser bissexual? Deve ser, não é? Não sei se conheço alguém bissexual. Se conhecesse e se quisesse falar sobre o assunto, aproveitaria para satisfazer a minha curiosidade. 

Mas, pronto, não conheço, não sei. Não digo mais nada. Limito-me a partilhar um vídeo com as meninas mais prá-frentex de que há memória: Gilda, 78 anos, Helena, 92, e Sônia, 83.

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As fotografias são da autoria de Mario Finazzi na companhia de Portrait of a Lady on Fire (ao som de Vivaldi) e de Carol

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E tudo de bom para vocês, ok?