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domingo, julho 07, 2019

Do Ginjal pela manhã à praia à noite, passando por mais um encontro familiar e a terminar no Panorâmico de Monsanto com a Madame M



Depois de eu ter estado constipada, foi o meu marido que a apanhou. De manhã ainda foi comigo para matarmos saudades da beira do rio, nesse lugar mágico que é o Ginjal, eu a fotografrar as mil coisas diferentes desde a última vez, a parar, encantada, a cada passo.  Mostro algumas das muitas com que tentei matar saudades. Lugar de mil fascínios, este. E, logo ali, Lisboa a bela, a magnífica.


Mas, a seguir ao almoço, o meu marido, mais 'atacado', decidiu ficar em casa. Está com tosse, sente-se bastante apanhado, sente-se cansado. Por isso, fui só e o resto do pessoal para casa dos meus pais.

Festejámos, os meninos brincaram, riram, pregaram partidas e foi aquele chinfrim do costume. Quando dei por mim, tinha as calças todas salpicadas de tinta azul. A menininha também mas, como a tshirt tem florzinhas e pintinhas, disfarça. As minhas calças é que estão uma desgraça. Tenho que ver se há maneira de salvá-las. Ela diz que o irmão é que estava com uma caneta azul. Não sei como foi que aconteceu. Mas, isso é peanuts face à alegria incomparável de estarmos juntos, felizes. O bebé perguntou pelo avô, foi à procura dele. Está habituado a ver-nos sempre juntos.


De lá, uma parte foi para um jantar de amigos e outra parte veio comigo cá para casa e, de cá, resolvemos ir jantar à praia. E, no fim, fomos passear à beira mar e os meninos quiseram ir brincar para a areia, junto ao mar banhado pelo luar. Estavam felizes, aquilo para eles eram uma aventura. Ver os barquinhos dos pescadores no areal solitário, correrem ali numa longa extensão deserta, a luz da noite e a tranquilidade do mar envolto em negrime -- tudo novidade para eles. O meu marido lamuriou-se em voz baixa, só para mim: 'Como estou constipado desta maneira, não arranjaram melhor programa do que quererem vir para a praia às tantas da noite'. Disse-lhe para puxar a gola do blusão mais para cima.

Chegámos a casa lá para as onze e meia. Agora é quase uma. E, claro, estou com sono. É o qe dá ter os dias como tenho e só pegar no computador a estas horas.


A minha mãe também deve ter ficado ko. Os meninos estão cada vez maiores, mais barulhentos, brincam muito. Fizeram concurso de salto em comprimento no quintal, apanharam limões e depois guerra de limões, treparam muros e foram para o telhado da casinha das ferramentas. O bebé imita os outros e por lá anda a fazer das dele. Mas quando lhe dizem que não pode subir as escadas sozinho e que tem que esperar que os outros venham, ele percebe, senta-se no degrau de baixo e fica pacientemente à espera. E ela, a mais linda, faz a roda na relva, faz esquemas em folhas para distribuir por todos com o jogo das letras, pede que eu lhe faça trancinhas e até tenta ensinar o pai a fazer ballet. E lancham, e cantam, e bate palmas. E a minha mãe ri, contente por ver aquela família tão bem disposta. O menino que mais se preocupa com a finitude da vida pensa e, dirigindo-se à bisavó, começa a formular a pergunta: 'Então... e quando o avô...' e hesita, não sabe como dizer. Mas depois continua, arranjando maneira de tornear a ideia que lhe ocupa o pensamento 'quando o avô estiver a dormir... com quem é que tu conversas?' E a minha mãe percebe mas desdramatiza: 'Então, eu tenho sempre coisas para fazer, estou sempre entretida' E ele, 'Então, se calhar tens que falar mais ao telefone, não é?' E a minha mãe diz que não é preciso estar sempre a conversar, que vê televisão, que vai às compras. Ele escuta, apreensivo. 

Mas logo alguém fala de outra coisa, logo a brincadeira o puxa noutro sentido.


No fim, a minha mãe, toda chateada, diz que tinha uma quiche e que se esqueceu de o dizer. O meu filho diz que não faz mal, que leva metade, que até lhe dá jeito. E a minha filha diz o mesmo. E cada uma embrulha a sua metade em papel de alumínio. E a minha mãe fica logo toda contente. E bolo também. Cada um leva seu pedaçp. E levantámos a mesa mas é escusado pensar que fica pouco por fazer, por onde aqueles cinco passam é como se um pequeno vendaval por ali tivesse passado.

E isto tudo para dizer que não vi televisão, não sei de notícias, nada. No outro dia li um texto do Nabokov sobre o Tolstoi e gostei muito, até assinalei as páginas para aqui transcrever algumas passagens. A inteligência é fundamental num escritor. A escrita, para me prender, não tem que ter apenas elegância e fluência, tem também que revelar inteligência. De preferência tem que surpreender-me pelo seu fulgor. Lampejos de inteligência. Gostava de ser capaz de ir ali buscar o livro para vos mostrar mas é-me impossível. 


Um dia ainda hei-de habituar-me a arranjar maneira de escrever menos para poder vir até ao blog a horas mais decentes. Se eu fosse capaz de não me deter aqui por mais de cinco ou dez minutos, pequenos haikus, aforismos, uma música, uma frase, coisa simples assim, talvez a coisa fosse mais racional e os meus horários mais decentes. Por exemplo hoje, entre as três e as três e um quarto tive quinze minutos livres. Mas nem me ocorreu aqui vir pois já sei que desato a escrever e escrever, uma coisa torrencial, e levo quase uma hora senão mesmo mais. Ainda não aprendi a ser concisa. E devo dar com cada seca a quem aqui vem na esperança de descobrir coisa que se aproveite...


E, portanto, nada tendo eu a reportar, deixo-me ficar pelo documentário da Madonna sobre o seu último trabalho. Não alinho nessa de dizer mal dela, de achar que ela se sente superior a nós ou de desdenhar de tudo o que ela diz. Acho sinal de inferioridade essa coisa de embirrar com tudo o que seja novo, estrangeiro, endinheirado. Pelo contrário, gosto de quem gosta da minha terra. E ao ver o Panorâmico de Monsanto, lugar tão extraordinário, não poderia ficar indiferente. Fico até a achar que deveríamos ficar-lhe reconhecidos por Madonna reconhecer a beleza daquele lugar decadente e tão estranhamente abandonado.

The world of Madame X


Madonna em Lisboa



E a todos desejo um belo dia de domingo

segunda-feira, setembro 25, 2017

Panorâmico de Monsanto: a beleza e a tristeza da decadência


No post abaixo poderão ver a extraordinária vista a partir do Panorâmico de Monsanto, o primeiro dos três edifícios que visitámos durante este dia de domingo, no âmbito do Open House Lisboa.

Aqui, agora, vou tentar dar uma ideia do estado de triste abandono a que está votado há anos depois de nenhum destino lhe ter assentado bem. 
Fez-me lembrar aquelas mulheres muito bonitas e desejadas, as Marilyns desta vida, que toda a gente acha belíssimas e que, não obstante, não conseguem acertar na companhia, não alcançam uma vida feliz, sentindo-se frequentemente solitárias, mal amadas e tendo, frequentemente, destinos trágicos ou, pelo menos, desoladores. 
Assim o Panorâmico: talvez belo demais, talvez bem situado demais, talvez com uma vista deslumbrante demais, talvez com demasiado potencial. 

E, no entanto, quanta beleza na sua decadência. Abandonado, maltratado, riscado, partido... e cheio de vida impressa nas suas paredes. E tão elegante nas suas curvas, no equilíbrio dos seus volumes, na distribuição entre desníveis e recantos, no balanceamento feliz entre a luz e a sombra. Tão belo apesar de tão sem destino, tão sedutor apesar de tão esquecido, tão promissor apesar de num tão triste estado de acentuado declínio.

O que eu faria com ele se pudesse decidir já o disse no post abaixo. Não há dinheiro? Há. Há sempre dinheiro quando o retorno é garantido. Mesmo em épocas de crise (e estamos a sair dela), dinheiro é o que não falta para bons investimentos.

Não falei ainda de um outro aspecto: o local em que está implantado. No meio da Serra de Monsanto, num dos seus pontos altos, entre arvoredo, frondoso arvoredo. Um local que parece fora de Lisboa. E, no entanto, dentro de Lisboa. Dali deveriam partir caminhos pedonais, caminhos para bicicletas (até caminhos para se andar a cavalo ou de atrelado).

O Panorâmico de Monsando deveria ser um ex-líbris de Lisboa e não a quase ruína que é.


Mas vejam o que os meus olhos viram.

























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Vejo um lugar assim e, apesar de me deixar entusiasmada com tanto que ver e fotografar, sinto pena. Penso que, com excessiva facilidade, se deixam perder preciosidades que, em tempos, alguém sonhou e desejou. Penso que se deixam perder oportunidades que, certamente, outros agarrariam e estimariam. Que se deixam perder ideias, riquezas, tesouros -- como sempre o fizemos, nós os portugueses que parece que nos desinteressamos da nossa história e das nossas heranças e que, desprendidamente, tudo deixamos esvair por entre os dedos. Perdem-se as memórias e os valores e nem se percebe porque se perdem. E o tempo passa e vai levando consigo quem se lembra dos sonhos que em tempos alguém sonhou. Ficam, depois, apenas frágeis memórias.

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Nem sei se vem a propósito mas apetece-me ouvir:

"What We Lost" de Michael Ondaatje (lido por Tom O'Bedlam)



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Pensava que teria tempo para falar dos dois outros lugares que visitei mas fica para amanhã
(embora um ou outro tema da actualidade me estejam a convocar).
Verei como me organizo.

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E queiram, por favor, continuar a descer para testemunharem as belas paisagens que do Panorâmico se avistam

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Lisboa, a bela.
[E o que se vê dela. Mais concretamente: o que se vê do Panorâmico do Monsanto]


Open House Lisboa. Edifícios nem sempre acessíveis ao público abertos durante o fim-de-semana, com o apoio de simpáticos voluntários que nos contaram a história das construções, realçando os aspectos ligados à arquitectura.


Começámos pelo Panorâmico de Lisboa. Transcrevo do site:

Não existe vista sobre Lisboa como esta. Construído a uma altitude de 250 metros, este edifício inaugurado em 1968 já foi um restaurante de luxo, uma discoteca, um bingo, já albergou escritórios e um armazém de materiais de construção civil. Abandonado há mais de uma década, esta obra maior de arquitectura tem no seu interior painéis cerâmicos de Manuela Madureira e um mural de Luís Dourdil. Para já, o plano da Câmara Municipal de Lisboa é dotá-lo de condições de segurança para que possa ser visitado por todos, e assim se devolva este miradouro à cidade.
Uma construção espectacular, de onde se tem uma vista absolutamente deslumbrante -- e ao abandono. 

Do Panorâmico de Monsanto se faria um fantástico museu. Um museu, por favor. Um garnde museu. Se Philippe Starck está a viver em Portugal, vão buscá-lo, está perto. Ele poderá dar uma preciosa ajuda. Um museu  com restaurante, com ateliers, com residência de artistas, uma sala de concertos, uma biblioteca de artes. O edifício é enorme, dará para tudo.O que é que o Ministro da Cultura, o da Economia (na vertente Turismo), o Presidente da Câmara de Lisboa ou sei lá quem mais estão à espera, eu não sei. Façam qualquer coisa. E construam um hotel lá ao pé. Despachem-se. 


Neste post não estou a mostrar o edifício em si mas sim a vista que dele se tem. Uma vista absoluta que o tempo limpo permite que se estenda até às maiores lonjuras. Noutro post já mostro o estado em que se encontra, uma desolação. Mas agora o que quero que vejam é o que os meus olhos viram.



O Cristo-Rei, o Tejo, a Ponte 25 de Abril
(e mais um cruzeiro a entrar a caminho de Lisboa)



Ao fundo Palmela, a Arrábida. Junto ao Tejo, penso que o seixal.
No meio Almada e virado para cá, uma rua estreita rente ao Tejo, quase invisível, o Ginjal.
Do lado de cá, Lisboa, Lisabona, Lisbon, Lisbonne -- la ville blanche


O aqueduto das Águas Livres e, sobrevoando Lisboa, um aviãozinho

E eis que o aviãozinho desceu -- e cá está ele a aterrar

Uma cidade branca espraiada ao longo de rio largo e igualmente belo. E a outra margem, la rive gauche.


As Amoreiras que, em tempos, tanta polémica geraram. E afinal tão bonito que é.

A noiva. Os cabos da Ponte Vasco da Gama como se fossem véus brancos 

Para os meus Leitores benfiquistas, um miminho: o Estádio da Luz 

Do lado de lá, Cacilhas e o início do Ginjal e, do lado de cá, o Museu de arte Antiga


Uma das varandas de onde se vê o que vos mostrei

As alturas e a beleza da paisagem inspiram o corpo que parece ter vontade de ganhar asas

Não identifico esta paisagem pois as opiniões, aqui em casa, dividem-se.
Na verdade, não estou a perceber onde é embora aqui ao meu lado teimem que é óbvio. Para mim não é.

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