Os telejornais ou noticiários -- ou como se lhes queira chamar -- das 20 agora são um pack: notícias, comentário, tertúlia, reportagens. Cabe lá tudo e mais um par de botas.
Cá em casa não há preferência por nenhum dos canais. Se calha termos a televisão ligada, deixamos estar onde no momento nos pareça estar a dar alguma coisa mais interessante, menos maçadora.
Hoje, porque os telefonemas familiares empurraram a hora do nosso jantar para mais tarde do que é costume (agora temos vindo a tentar não jantar muito depois das 8), calhou sentarmo-nos à mesa e, pouco depois, começar a dar uma reportagem sobre uma das Blue Zones, um daqueles locais abençoados em que a vida corre simples e afável e em que um número significativo de pessoas consegue ter vidas longas e felizes.
Vi com gosto. Uma maravilha.
E a Susana André, que bela repórter. Também com simplicidade, também com afabilidade, conversou com as pessoas das aldeias, visitou-as, acompanhou-as. Que maravilha de reportagem, mesmo.
Provavelmente é um lapso imperdoável da minha parte mas nunca tinha ouvido falar na Susana André mas vou passar a estar atenta. E vão daqui os meus parabéns para ela!
Sempre tive a ideia de que a minha avó paterna era uma pessoa de idade. Recordo-me de estar lá em casa quando andava na infantil ou na primária e de a achar idosa. Tenho ideia de que tinha o cabelo parcialmente embranquecido, tinha rugas, tinha artroses e dores. Sentia-se velha e nós tratávamo-la como velha. E ela gostava de ser tratada assim. Mas agora, se pensar na idade que ela tinha na altura, creio que teria uns cinquenta ou cinquenta e poucos. E isso deixa-me chocada.
Fui ver fotografias dela, nessa altura, e, de facto, se fosse hoje eu diria que seria pessoa para uns setenta. Mas depois hesito pois as mulheres de hoje, aos setenta, parecem bem mais jovens.
Ainda no outro dia, uma amiga, sessentas, enviou uma fotografia que alguém lhe tinha tirado na rua e o seu ar jovem, bem disposto, o vestuário colorido, desempoeirado, poderia corresponder aos quarentas de há uns anos. Se calhar até menos pois lembro-me de a minha mãe com quarentas ter ar de 'senhora', nem pensar em ousar roupas alegres ou jovens. Só aos oitentas é que ela se sentiu à vontade para usar calças justas, túnicas coloridas, ténis.
Mas estou a falar a nível de aspecto exterior. Mas a mesma coisa é verdadeira para a maneira de ser. Ainda hoje recebi um vídeo de um amigo que continua a trabalhar, com trabalhos em diferentes continentes, hoje, por exemplo, está em África, pessoa prestigiada nas suas funções, premiado e reconhecido como um dos melhores no seu sector. Activíssimo. Sendo patrão dele próprio consegue conjugar o prazer de trabalhar com o de viajar e de curtir a vida. Aos sessentas tem uma energia, uma jovialidade, que, francamente, não sei como consegue. Tão depressa está em África, em trabalho, como no Perú, em passeio, como a visitar montanhas remotas lá para os confins de um país de que agora não me lembro o nome (não é Moldávia mas não me lembro qual é), ou numa animada sardinhada lá em casa ou a vir de Espanha, também em trabalho.
Volta e meia, quando penso em assuntos mais distantes, faço as contas à idade que terei nessa altura (se ainda estiver viva) e penso que nessa altura distante se calhar já estou velha para curtir as mudanças. A minha prima hoje dizia-me que o meu tio tem andado a sentir-se cansado. E eu fiquei preocupada ao ouvir isso mas ele já tem noventa anos. Portanto, se calhar é normal que as forças vão faltando.
Claro que à medida que vamos envelhecendo vamos pensando nos limites da vida ao mesmo tempo que tentamos ver as virtudes da maior idade (sabedoria, tolerância, etc). Mas, bem vistas as coisas, uma coisa é certa: as pessoas vivem cada vez até mais tarde e isso traz muitos desafios à sociedade mas há que não ter ilusões. Por muito bem que se esteja, forçosamente aparecerão limitações e, se para estar em casa, na boa, isso pode não ser problemático, já para estar à frente dos destinos de uma nação como os Estados Unidos, não me parece aconselhável.
Redefining old age
CBS News chief medical correspondent Dr. Jon LaPook talks with experts about the distinctions between normal and abnormal aging as it affects memory issues, a workforce continuing beyond traditional retirement age, and the testing of surgeons who currently work without age limits.
O meu dia foi muito ocupado. Nem consegui tempo para pegar no livro que estou a ler, A Escrita ou a Vida de Jorge Semprún. Há tempos o meu filho interrogava-se como seria se eu ainda estivesse a trabalhar. Não sei. O tempo que se perde nestas coisas não se imagina.
Outra coisa que ele me perguntou e que também é de difícil resposta é como é que se gerem situações complexas a nível de saúde e que requerem muitos cuidados e acompanhamento a tempo inteiro quando não se tem dinheiro para residências assistidas privadas.
No caso da minha mãe esteve durante quase quatro semanas num hospital privado pois no dia em que foi internada ia a uma consulta num médico que dava lá consulta e, por estar tão mal, foi desviada para as Urgências e daí imediatamente internada. Felizmente podíamos pagar. Mas, se não pudéssemos, e, estando-se em pleno pico de Gripe A, a minha mãe teria estado horas nos corredores, em macas, provavelmente sem eu poder estar ao pé dela, certamente muitas horas até que se concluísse pelo seu internamento. E mal como de repente ficou nem consigo imaginar como seria... E digo isto pois passei várias vezes pela experiência, quer com a minha mãe quer com o meu pai, de estar com eles nas Urgências de hospitais públicos. Depois de internadas, as pessoas ficam bem amparadas nos hospitais públicos. Mas até que lá cheguem é um calvário. Qualquer coisa vai muito mal na organização das Urgências. Talvez agora com a integração que aí vem com os Centros de Saúde, talvez conseguindo retirar os que lá vão sem necessidade disso, talvez se consiga melhorar.
A minha mãe esteve na ala dos paliativos com um acompanhamento de excelência e esteve até que se considerou que o tratamento que estava a receber lá poderia recebê-lo num lugar em que houvesse enfermagem vinte quatro horas por dia e médico diário. Mas, uma vez mais, o lugar que encontrámos é privado e igualmente muito caro. Muito bom mas caro. Se não pudéssemos pagar não sei como faríamos pois, a nível público, só há Cuidados Paliativos através de referenciação ou pelo hospital público ou pelo médico de família. Mas, após ser referenciada (e isso, em si, também leva tempo), poderiam decorrer um ou dois meses (ou, se calhar, mais). Ora a minha mãe não viveria para lá chegar. E até lá? Impossível estar em casa pois o seu estado requeria cuidados permanentes de enfermagem.
Por isso, com o envelhecimento da população, cada vez (felizmente) havendo mais velhos, cada vez com mais doenças, a sociedade não está apetrechada para acolher tantos idosos com tantas maleitas. É necessário mais clínicas de cuidados continuados e paliativos e residências assistidas para quem não tem posses. Ao ver o estado em que a minha mãe estava pensei muitas vezes como seria se não houvesse recursos para pagar o que foi pago.
Se calhar só se pensa nisto quando se passa por elas mas, se não morrermos novos e saudáveis, um dia lá chegaremos. É urgente pensar-se nisso quando se pensam em políticas públicas no domínio da geriatria.
A par das creches gratuitas, essenciais para que haja mais nascimentos e para que os pais tenham qualidade de vida, é indispensável que o Estado invista mais em instalações para tratamento e acompanhamento de idosos que requerem tratamento e/ou acompanhamento clínico. E, certamente, também mais lares normais para quem não tem posses.
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Alguns dos meus amigos têm a sorte de ainda terem mães vivas (por acaso só mães, não pais) e, talvez pelo frio que é mau amigo dos idosos, vivem tempos duros. Hoje morreu uma senhora e outras duas estão doentes. E eu vejo-os a passarem pelo que passei. É muito complicado e triste quando percebemos que já ninguém deseja as melhoras das nossas mães. Sabemos todos que, quando se começa a descer a rampa inexorável que leva ao esvaimento absoluto, o melhor que se pode desejar é que não sofra muito.
Por isso, cada vez mais me convenço que a vida tem que ser vivida, o melhor que se saiba e possa, enquanto há vida com um mínimo de qualidade. Há que dar valor à vida. Há que agradecer a vida que se tem enquanto não se entra na rampa descendente.
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Se há pessoa que mostra dar valor à vida é Helena Sacadura Cabral. Podemos nem sempre concordar com ela, podemos não apreciar grandemente os seus dotes literários, podemos não elegê-la como a nossa guru intelectual ou espiritual. Não tem mal. Não deve haver muita gente que cumpra todos os nossos requisitos.
Helena Sacadura Cabral tem 89 anos e vejo-a com alegria, com motivação, com planos, com energia, com sentido de humor, com prazer em partilhar memórias, experiência, acções. E acho isso notável. Penso que é exemplar e todos nós deveríamos pôr os olhos nela.
Por isso, hoje partilho este vídeo que é longo mas que é um gosto ver e ouvir.
N'A Caravana com Helena Sacadura Cabral #226 Charutos, 89 anos de amor e sacos de alfazema
É licenciada em Economia e ocupou vários lugares de chefia na Administração Pública. Colunista de diversos jornais e revistas e comentadora em televisão, é também autora de vários livros (talvez já vá em 50). Concilia ainda a participação cívica com a atualização dos seus blogues.
O meu dia foi bom embora haja uma permanente nuvem a ensombrar-me.
Dizem-me que parece que não estou bem e que nitidamente não estou a conseguir gerir esta situação. E que parece que ainda não percebi que, havendo gente competente a geri-la, tenho que confiar e aprender a desligar. Compreendo pois eu própria poderia dar esse conselho a pessoas que estivessem a viver o mesmo que eu. Mas há uma angústia que me estrangula. Os próprios meninos, que já compreendem o que se passa, me aconselham a aceitar que nem tudo está nas minhas mãos e que este é um dos casos em que eu não posso fazer mais do que faço.
Mas, enfim, não vale a pena continuar para aqui a chover no molhado.
Demorei a começar a escrever pois não sabia do que falar a não ser disto. Estarei pirada, como a minha filha me diz? Estou passada como o meu marido me diz? Em loop como o meu filho me diz?
Se calhar.
Vou tentar falar de outra coisa. De como foi o meu dia.
De manhã, eu, o meu marido e o urso cabeludo, fomos passear para a praia. De lá trouxemos o almoço constituído sobretudo por sushi, coisa que os meninos muito apreciam.
Do lado do meu filho estão a passar o fim de semana prolongado no Alentejo com cunhados e primos de um dos lados, quase trinta. Recebemos fotografias, um tocando viola, vários cantando, todos em volta de uma fogueira no exterior. Imagino os meus meninos, entre os muitos primos de um dos lados da mãe, todos felizes da vida. Antes de irem, o mano do meio foi ao barbeiro e ficou com um corte futebolístico, giraço. Na véspera, ele, a mana e a mãe tinham ido ver a Carolina Deslandes. A minha menina linda foi produzida à maneira, coquette até à décima casa. O mais novo ficou em casa com o pai.
Do lado da minha filha estiveram cá e, como disse acima, de tarde a minha filha esteve com a avó. Os rapazes jogaram basket, viram televisão e, em especial o mais velho, prometeu que logo estudava quando chegasse a casa. Como sempre, comeram como uns lobos deixando-me sempre perplexa com o fenómeno que é ingerirem brutais quantidades de comida e continuarem magros e esbeltos. Mesmo logo a seguir, quando se levantam da mesa, não se percebe para onde foi a comida pois não há vestígio de nada, um estômago mais proeminente, qualquer sinal de armazém repleto. Nada. Como treinam futebol quase todos os dias, já a sério, federados, e têm jogos e, no intervalo, jogam com os amigos ou praticam basquetebol, o corpo requer certamente a reposição de todas as calorias que o desporto lhes consome.
O mais novo, o dos doze, já está da minha altura ou um ou dois dedos mais que eu. E o mais velho, o de quinze, já está indecentemente mais alto que eu. E bonitos que dão gosto. E divertidos.
Se não morrermos cedo, um dia damos por nós e estamos velhos. E não sei se é um processo progressivo em que vamos admitindo que, aos poucos, o nosso corpo vai ficando mais débil, ou se vamos indo, na boa, e, quando damos por ela, não queremos aceitar, julgamos que é maleita que deve ser tratada, imediatamente tratada, tratada com rigor, com ciência.
E, se for este o caso, como, por mais que nos tratemos, nos examinemos, nos aconselhemos, não sentimos que voltámos a ficar como éramos quando tínhamos menos vinte ou trinta anos, entramos num ciclo de ansiedade, medo, preocupação exacerbada. E queremos mais médicos, mais exames, mais cuidados.
Se calhar uns são assim, outros são de outra maneira.
Tenho uma amiga cuja mãe está perto dos cem e, segundo ela, a mãe, apesar das muitas limitações, nunca se queixa, mostra-se sempre agradecida e bem disposta.
Não sei como será comigo. Nem sei se chegarei lá. Mas, se chegar, do que me conheço, o que desejo é estar ocupada e animada, agradecendo todos os dias as flores, os frutos, as palavras, a luz, os sorrisos. E, se me vir limitada (como, por exemplo, o meu pai tão radicalmente se viu), recolher-me ao meu interior, às minhas memórias, viver apaziguada e não revoltada.
Mas não sabemos, de facto.
Acontece que, portanto, o meu dia foi outra vez assim.
Os meus amigos, no grupo, questionaram o que era feito de mim que não dava ar de minha graça. Pois. Não é fácil ter tempo para o que tem que ser e, depois, ter disposição para o resto.
Ao fim do dia, a televisão a mostrar o impensável. Não há explicação nem perdão para quem faz tanto mal aos outros. Mas uns fazem porque os outros começaram e os outros fazem porque não podem admitir e têm que vingar e os outros fazem porque os outros também fazem. E, no fim, agora, o ponto em que estamos, o mal anda à solta porque tem que ser.
E, quando o mal parece obrigatório e incontornável, onde podemos encontrar o espaço para a bondade, para o afecto, para a humanidade?
Em lado nenhum...?
Claro que é o que o Corvo diz num comentário abaixo. Nós, na nossa cultura, agarramo-nos, com unhas e dentes, à vida. Mas há aqueles para quem a vida vale zero e bom é morrer a lutar pela fé. Não há convergência possível.
Nem faz sentido, perante isto, tentar perceber quem são os bons e quem são os maus porque haverá sempre quem venha com uma adversativa diabólica justificar que o sangue e o horror são devidos porque antes houve quem também o fizesse.
Mas há uma coisa que talvez possamos convencionar: não faz sentido o fanatismo religioso, não faz sentido considerar as mulheres como um animal de segunda, não faz sentido a pena de morte ou a tortura. Etc. Coisas assim. Talvez a gente possa, em casos limites, quando não há consenso sobre quem começou ou quem são os maus e os bons da fita, dizer que regimes assentes em conceitos maus a gente não quer. E pôr aí a linha vermelha.
Mas a verdade é que, no meio de consecutivos bombardeamentos, de tantas e tantas casas destruídas, de tantos mortos, de tanto terror, de tantas ameaças, do pavor pelo que ainda está por vir, do pó que tudo cobre de ruína e dor, não há espaço para pensar em nada.
Nunca pensei chegar a esta fase da minha vida, em pleno 2023, e viver num mundo tão perigoso, tão insano, tão desumano. Nunca pensei que o mundo em que os meus filhos e netos iriam viver seria este lugar tão cheio de maldade e falta de esperança.
Por mais que puxe pelo meu optimismo, não estou a conseguir ver uma saída feliz para a tragédia que se abateu sobre tantos países, sobre tantos milhões de pessoas.
Que tristeza.
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Estava a querer acabar isto com um toque de bom ânimo mas não vejo como. O melhor que consigo é ir buscar a Chuva, até porque o dia esteve sombrio e, ao anoitecer, choveu que se fartou.
A minha neta ligou-me, dizendo-me que podíamos ir às compras. Disse-lhe que este sábado só se fosse ao fim da tarde pois antes disso estaria com a sua bisavó. Perguntei se não seria preferível a segunda-feira. Que não, hoje ao fim do dia estava bem.
Depois de deixarmos a minha mãe em casa fomos até casa do meu filho buscá-la e lá fomos as duas para as compras. Quando chegou ao carro disse que tinha feito a lista com as lojas a que queria ir.
Contei-lhe que comecei a escrever, que quero escrever um livro. Não estranhou. Para ela tudo o que eu faça é normal. Mas perguntou: 'E pintar? Não queres voltar a pintar?'. Disse-lhe que tenho vontade mas que depois não sei o que fazer aos quadros. Respondeu-me, de imedito, que podia vendê-los no OLX. Respondi-lhe que é uma ideia e que depois ela logo me ajuda nesse processo. Disse que sim e contou um peripécia de quererem comprar um carrinho para o irmão mais novo quando há algum tempo foram a Berlim e temiam que ele se cansasse de andar o dia todo no passeio mas que um carrinho era de brincar e noutro só lá devia caber uma criança de dois anos.
E lá fomos às compras. Focada, determinada, despachada. Não perde tempo, não hesita, não vacila.
Depois fomos ter com o avô e com o cão e, a seguir, fomos pô-la a casa de uns amigos dos pais que, entretanto, já lá estavam porque o pai é que ia cozinhar. Eu disse: 'Ai é?'. E ela: 'Sim, ou era isso ou era frango assado do Pingo Doce. Por isso o pai vai cozinhar, vai fazer carbonara'.
Farto-me de rir com ela. Relata as coisas com ar desprendido não deixando de fora os pormenores que acrescentam graça à conversa.
Quando lá fui levá-la, uma algazarra. Pelo que ela me disse, deviam ser uns vinte.
Entretanto a turma da minha filha está a curtir as mini férias por terras do Alentejo e fomos recebendo fotografias não apenas da paisagem como, à hora de jantar, do lauto repasto. Com o apetite que os rapazes têm só mesmo um buffet à vontade. Estou mesmo a ver o mais velho a incentivar o mais novo: 'É enfardar...'
E nós, uma vez que já passava das oito e não tinha deixado nada feito para o jantar, fomos comprar uma pizza.
E agora vou dormir pois já é uma da manhã e o dia foi preenchido até dizer chega, tendo começado bem cedo. E eu, em vez me despachar e ir cedo para a cama, não senhor. Estive a ver a final do MasterChef (a muitas milhas do de Austrália, que adoro ver) e depois a dar uma vista de olhos nas notícias. Mas não me apetece comentar nada.
The world is more connected than it's ever been before. We can communicate instantly with our friends and family who live miles apart, thanks to the power of social media. And yet... why do so many of us still feel lonely?
Feeling lonely is a normal human experience - it is something we all go through. And it's not simply a function of being alone. You can feel lonely in a crowd. Because loneliness is a feeling of being alienated from others, not feeling understood or connected - it’s a feeling that something is missing.
But loneliness is also a message that our body sends us, letting us know that we are important, and we need to become friends with ourselves again. When we feel isolated or alone, we can choose to have compassion for ourselves. We can recognise our emotions without judging them. When we accept where we are at and what we are struggling against, without berating ourselves, we can then begin to change.
In order to defeat loneliness, we have to listen to its message - You are complete, nobody is needed, you are enough!
Há aquilo de que 'este país não é para velhos'. Alguém disse e virou moda. Não aderi. Parece-me fatalismo.
E quem diz velhos diz anafados.
Fica de fora quem quiser ficar. Mesmo que haja eternos jovens ou mentecaptos encartados que padeçam de claustrofobia em relação a espaços habitados por gente mais vivida (ou melhor alimentada), eu acredito que uma andorinha não faz a primavera, não é toda a gente que é assim, e compete a quem quer estar in não saltar fora.
Mas uma coisa é a idade que a gente sente dentro de nós, que pode ser a idade de um adolescente rebelde, e outra é a imagem que o espelho nos mostra. E aí, caraças, muitas vezes a coisa não coincide.
Não acredito que a malta mais entrada tenha que se vestir 'à velha'. Ná-ná-ni-na-não. Pode até acontecer que um certo ar hippie, retro-chic ou simplesmente um ar de descontração natural tenham um certo charme. Mas daí até a malta se pôr descapotável como se tivesse a inocência que a verde idade transporta já vai um grande passo.
Quando eu era teen ou jovem adulta ousava as saias bué curtas, os vestidinhos ligeiros ou as blusinhas levezinhas sem soutien -- sabendo que o meu descaramento era evidente e provocava olhares pouco discretos -- e estava tudo certo. Pensassem o que quisessem que eu vestia o que me apetecia e era assim que me sentia bem.
A minha cabeça ainda funciona assim e agora é que eu devia ter vinte ou trinta. Mas hélàs, a cabeça funciona assim mas perdi parte da inocência e do descaramento. Portanto, olho e fico a pensar que por muito que gostasse já não me sentiria bem com esta moda que se anuncia, toda ela chamando a primavera e honrando a sagrada nudez.
É que não é apenas o facto de as transparências revelarem todas as refeições bem comidas e toda a ginástica que ficou por fazer... São também as flores pouco subtis. Para quem tenha um corpinho liso, quase andrógino, os espigões das flores quase fazem as vezes de mamilos que dão graças aos céus. Agora quem descende das modelos de Rubens, se ousar uns destemperados antúrios sobre os seios vai ficar até obscena. Acho eu.
Estou mais normal. O dia não foi coisa mole e não tive outro remédio senão deixar-me de frioleiras e arrebitar. Não é que esteja famosa mas, pelo menos, não estou tão dorida nem tão caída de sono como estive no fim de semana. Devem ser os tais dois dias.
Não tenho muito a contar pois o muito que teria -- e oh se teria, que a natureza humana, por vezes (e em algumas pessoas), é pérfida, hipócrita, sórdida até -- não pode ser aqui exposto. E, para sorte dos que comigo lidam, não tenho nada a ver com o reformado e ressabiado Costa pelo que não deve ser esperado que, daqui por uns anos, um jornalista shopinha de massa me pseudo-entreviste para eu me desbroncar e ficcionar como se não houvesse amanhã. Portanto, sobre o que hoje se passou, ficamos assim.
Prefiro contar que no domingo, a muito custo, fomos passear com a minha mãe. Muito lentamente mas lá andámos, doridos, ensonados, espapaçados. Às tantas, vimos que havia, na baixa, uma feirinha com aquelas barraquinhas, umas com artesanato local, outras com bolinhos, pãezinhos, mel, esse tipo de coisas.
Eu e a minha mãe fomos de uma a outra, espreitando aquelas peças feitas, por vezes, com uma grande ingenuidade, outras com muito carinho, outras com uma grande falta de bom gosto. Mas como isto do gosto é subjectivo, está tudo certo.
Uma vez que gosto muito de presépios (sou uma pagã com gostos um bocado fofinhos), parei numa barraquinha que os tinha muito simples, minimalistas, feitos com conchinhas e pedrinhas. Estive a ver. Perguntei o preço de um. Não era caro mas não comprei, agradeci, fui ver as outras barraquinhas. A minha mãe achou caro. Eu disse que não: 'Se daqui tirarem o sustento, quantos presepiozinhos terão que vender para se sustentarem?'. A minha mãe disse que não, que deveria ser hobby de um casal de reformados. Eu não tinha reparado nas pessoas que lá estavam, não fazia ideia se tinham idade para estarem reformados ou se eram jovens hippies.
Depois de ter visto tudo -- o meu marido, que se tinha afastado, já a telefonar-me para me despachar --, resolvi voltar lá para buscar um little presépio. Estavam algumas pessoas à frente, tive que esperar para me aproximar. Depois fiquei a ver qual o mais simples e bonito.
Nisto, a senhora que estava a vender, uma senhora de alguma idade, grisalha, óculos, vira-se para mim e pergunta: 'Desculpe, é a (....)inha?'. O meu nome, no diminutivo. Olhei para ela. Não reconheci. Esforcei-me. Retorci a memória. Zero. Pensei: Terá sido minha professora...?Mas de quê, quando? Intrigada, hesitante mas quase à laia de confirmação: 'O meu nome é (...)' e disse o meu nome sem diminutivo. Ela sorriu, um sorriso largo: 'Ah bem me parecia... Sou a Pilarcita!'.
Ia-me caindo tudo. A Pilarcita! A Pilarcita? Mas como...? Não faço ideia da cara que fiz nem sei bem o que disse. A minha mãe agarrou logo na conversa, riu-se, disse que há séculos não a via, falou na mãe dela. Sei que a olhei atentamente tentando reconhecer a menina um ou dois anos mais nova que eu de uma rua antes da nossa. Era a miúda mais pequena, a que queria brincar com as mais crescidas. Maria del Pilar. Tratávamo-la por Pilarcita. Muito bem comportadinha, uma boa menina. Quando fui para o liceu ganhei novas amigas, deixei de andar a brincar na rua com as vizinhas. Creio que não a vi desde essa altura.
Enquanto olhava para ela, sentia-me absurda (como é que a Pilarcita poderia ter sido minha professora? Imaginar-me-ia eu como muito mais nova que ela? E ela reconheceu-me e tratou-me como me tratava quando tínhamos seis, sete, oito, nove anos... e eu sem ser capaz de reconhecê-la ou sequer encontrar parecenças...). Ouvia a minha mãe a falar e, enquanto isso, eu, olhando-a o que via era uma mulher que podia ser uma daquelas colegas da minha mãe e não uma amiga minha de infância...
[E, involuntariamente, pensava: Estou desfasada da realidade em relação a mim...? Mas to-tal-men-te? Tão to-tal-men-te assim...? Cega? Ceguinha de todo...? Os outros olham para mim e o que vêem é também uma mulher 'de idade', tão velha como a Pilarcita...? Será...?]
Falei-lhe dos presépios, que eram bonitos. Contou que o marido já estava reformado e tinha começado a entreter-se com as conchinhas e as pedrinhas e que ela, apesar de ainda trabalhar, gostava de ajudá-lo. Acho que não fui capaz de dizer mais nada pois estava em estado de estupor catatónico com o que tinha acontecido. A minha mãe continuou a fazer conversa enquanto paguei e enquanto ela embalava o presepiozinho.
No fim, a minha mãe disse-me que eu pouco tinha falado. Pudera... Estava sem acreditar que aquela mulher 'de idade' era a Pilarcita. E, para dizer a verdade, ainda não estou completamente em mim. Ele há coisas do caraças.
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Os vídeos abaixo não virão a propósito mas acho-lhes graça. Ariano Suassuna faz-me imenso lembrar uma pessoa com quem trabalhei há uns anos. Já, algumas vezes, aqui, falei dele. Foi das pessoas com quem mais aprendi, a todos os títulos. Gostava também de contar histórias e divertia-se imenso ao contá-las e ao ver como os outros se divertiam a ouvi-lo. Tinha uma história de vida fascinante, algo aventureira. Eu adorava ouvi-lo. Ria-me de gosto com ele. E ele a rir-se era como o Ariano.
Já fiquei mais descansada. Em alguns dos mais banalizados testes de QI aparecem aquelas figuras de triângulos dentro de quadrados, em que a disposição dos triângulos brancos e pretos vai evoluindo e é preciso descobrir qual a sequência que se segue. Outras vezes são sequências numéricas ou outras. Não sei porquê o meu cérebro rejeita tudo isso de forma tão liminar que se recusa a olhar e a pensar. Sou tentada a responder ao calhas. É que poderia esforçar-me e falhar em toda a linha. Mas não, é pior que isso, é rejeição absoluta. Por algum motivo, acho aquilo tão absurdo para provar o que quer que seja que a pachorra se me evapora instantaneamente ainda antes de começar. E, por esta séria lacuna, sempre pensei que a minha inteligência tinha certamente uma falha fatal.
Agora, ao ver o vídeo que abaixo partilho, não concluo que não tem mas concluo que a falha não se deve, forçosamente, à incapacidade em resolver aqueles irritantes testes.
Felizmente nunca tive que fazer um teste daqueles para arranjar emprego senão não tinha passado da porta de entrada.
Fiquei também confortada ao ver confirmada uma opinião que tenho sempre que ouço alguém, muito satisfeito consigo próprio, tantas vezes referindo-se a uma decisão questionável que, em tempos, tomou, dizer qualquer coisa como isto: 'A prova que na altura tomei a decisão correcta é que, se fosse hoje, tomá-la-ia outra vez, exactamente igual '. É que até pode ser mas, caraças, o que é que aquilo prova a não ser que quem o diz é uma pessoa algo limitada? Que raio de raciocínio é aquele? As circunstâncias mudam, nós mudamos, os outros mudam. Então porque é que é axiomaticamente acertado tomar exactamente a mesma decisão tempos depois?
Em minha opinião, os sinais de inteligência de uma pessoa são vários e eu, já aqui o confessei tantas vezes, tenho grande admiração por pessoas inteligentes. A meus olhos, uma pessoa inteligente cintila.
Em contrapartida, a burrice encanita-me cá de uma maneira...
Mesmo aqui na blogosfera, não consigo deixar de rosnar entredentes quando vejo coisas que tresandam a burrice. Eu a ler coisas que quem escreveu acha, certamente, o máximo e eu, cá para mim, 'Ca ganda burra. Chiça penico...!'.
Tem razão o Mestre com quem tenho trocado umas ideias ao alertar para os perigos que a inteligência por vezes acarreta. E, concordo, é bem verdade que alguns seres inegavelmente inteligentes foram (ou são) uns estupores encartados. Mas, por outro lado, se conseguirmos despir-lhes a identidade, o que fica da sua inteligência ilumina a nossa existência.
Claro que, se com a inteligência, vier a bondade, a tolerância, a afectuosidade, a graça e todas essas características que deveriam ser intrínsecas a todos os seres humanos, melhor, mil vezes melhor. Senão, a gente tem cuidado, guarda distância e fica só com o produto que nasce do estafermo, seja palavras, pintura, música -- o que for.
Agora que escrevo isto penso num colega que tive. Sempre que tinha algum trabalho complicado em mãos, algum relatório mais cabeludo para concluir, algum projecto mais crítico para lançar, era de fugirmos dele. Intratável. Rude, cafajeste. Outras vezes, na reuniões, saía-se com coisas que deixavam toda a gente gelada, incomodada. Era de uma franqueza desabrida. Creio que lhe faltava inteligência emocional. Mal o stress passava, era de uma pessoa se deliciar com as piadas, com a ironia oportuna e implacável. Tinha ainda uma particularidade: tinha uma colecção infinita de música. LPs e CDs, milhares. De cada obra tinha todas as derivações que conseguia descobrir: maestros, intérpretes, gravações em estúdio e ao vivo. Para gerir a colecção tinha uma base de dados que mantinha actualizada e que permitia pesquisar por cada um dos parâmetros que, para ele, fazia a diferença. Tinha quse tnto orgulho n bse de ddos quanto na colecção. Agora que os suportes físicos estão a cair em desuso não sei como estará a completar o seu tesouro. Sendo uma pessoa com competências reconhecidas na sua área de trabalho, tinha depois esse seu lado de melómano que o fazia virar outro quando disso falava. Eu gostava imenso de conversar com ele. Tinha sempre uma perspectiva diferente e interessante das coisas e eu aprendia sempre com ele.
Contudo, sempre que eu falava dele, quase toda a gente se torcia e fazia um esgar de desagrado: 'Esse traste' ou 'Um mal-educado' ou 'Um tipo perigoso'.
Aqueles ataques de franqueza desassombrada de que por vezes parecia possuído causaram problemas a muito boa gente. Diziam que desferia golpes baixos quando menos se esperava. Nunca me pareceu que o fizesse premeditadamente ou para ajustar contas com alguém. Sempre me pareceu que era simplesmente desligado das conveniências sociais ou de preocupações em relação aos outros.
Outras vezes, quando se queriam referir a ele, diziam-me: 'O seu amigo' pois, de facto, acho que eu era a única pessoa que o suportava. E, ainda por cima, gostava dele. Desculpava-lhe os maus humores.
Mas isto para dizer que, vendo que o Psych2Go me caiu no goto, o menino algoritmo do youtube saiu-se com mais um vídeo daqueles em que se dizem coisas com piada e bem pensadas (textos de Max Gustavo) com uns bonequinhos fofos (feitos por Rose Lam), ditos por uma menina que tem uma vozinha soft e que fala das coisas num tom convincente e empático (Amanda Silvera de seu nome).
Desta vez, o tema é a inteligência e sinais impossíveis de forjar e que evidenciam que ela está presente.
7 Genuine Signs of Intelligence You Can't Fake
Are you truly intelligent? Intelligence is a coveted thing, and we’re encouraged to “fake it til we make it” with things. But some things in life can’t be faked and real intelligence is one of them.
Here is a short list of the subtle signs of genuine intelligence. See if you can identify these traits in yourself.
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A propósito de inteligência ou se calhar não tendo nada a ver, já que estamos na silly season, apetece-me agora mostrar a forma estranha como a Madonna está a ganhar idade (e digo assim e não a envelhecer pois a palavra envelhecer parece-me engelhada, mal amanhada). Fez 64 anos e, de facto, não tem rugas nem flacidez no rosto. Mas está inchada, desfigurada e, agora, tem tanta tralha na boca que nem sei o que me parece. E que ande a festejar os seus verdes anos dando beijos de língua a quem se senta ao seu lado só me faz sentir afortunada por nunca me ter acontecido tal golpe de pouca sorte.
Madonna Shows Off Her Custom Birthday Grillz and Reveals What Almost Killed Her Career
Madonna TONGUE KISSES Friends During Italian Birthday Celebration
Há o lado bonzinho da questão: a sabedoria, a felicidade tranquila e contagiante. As rugas que são lindas, sinónimo de histórias de vida. Os cabelos brancos que são sinónimo de orgulho numa longa vivência. Claro que sim, é verdade. Termos na família pessoas que vivem até muito tarde, tendo eles a alegria de assistir à propagação dos seus genes, bisnetos crescidos e bem dispostos, a progredirem nos estudos, é uma alegria. E, para todos, termos respectivamente a mãe, a avó e a bisavó viva é uma bênção.
Creio que, num ponto de vista estritamente pessoal, ninguém contesta isto. São bons princípios, boas intenções. E, de resto, o que seria da vida sem o bom condimento do lirismo?
O problema é que, ao viverem muitos anos depois de se reformarem, passando a ser beneficiários líquidos da segurança social, as pessoas de idade tendem a deixar esse sistema exaurido.
O dinheiro que cada um desconta não fica guardado numa caixinha à espera que a pessoa precise dele. Não. Cada ano há os que descontam e, simplificadamente falando, com essa verba paga-se a quem se deve nesse mesmo ano.
E tudo estaria bem se o edifício demográfico estivesse equilibrado. Melhor ainda se tivesse uma enorme base de gente jovem a alimentar o sistema.
O grave é quando a pirâmide começa a ficar distorcida, quando começa a haver poucos jovens e poucos contribuintes e muitos idosos a ganhar as pensões e a consumir muitos recursos, nomeadamente nos serviços de saúde.
Aqui chegados, quando a manta não chega para tapar todos os que precisam, quando estamos perante impossibilidades aritméticas, quando o edifício da democracia e da solidariedade intergeracional ameaça ruir há que começar a tomar medidas.
A primeira medida será conseguir que a pirâmide tenha uma base sólida. Elementar. Para isso há que fazer de tudo para que haja condições para que as famílias tenham mais filhos. São necessárias mais crianças. Os jovens adultos tem que procriar mais abundantemente. Faça-se o que for preciso: licenças parentais longas sem quebra de rendimentos, creches gratuitas, livros e material escolar gratuito, redução no IRS, alargamento do período de férias, redução do horário de trabalho -- tudo o que for necessário.
A segunda medida será 'injectar' contribuintes no sistema. Para tal, é fomentar a imigração. É bom para a cultura, é bom para a economia. É bom para tudo. Seja acolhendo refugiados, seja facilitando a integração de imigrantes, seja o que for (desde que o seja de forma controlada quer em quantidade quer em 'qualidade' -- mais concretamente, sem risco de importar casos que ponham em risco a segurança nacional)
A terceira medida será conseguir que os trabalhadores sintam prazer em trabalhar (e descontar para impostos e segurança social) até mais tarde e estejam disponíveis para abraçar novos desafios, ter novas ocupações. Não apenas isso os ajudará a terem um envelhecimento de qualidade como ajudará a que tenham rendimentos para suportar os seus gastos não tendo, forçosamente, que viver apenas, durante tantos anos, apenas das pensões de reforma: e, desejavelmente, poderão também custear alguns dos seus tratamentos não tendo que recorrer exclusivamente aos serviços de saúde públicos (e gratuitos). Dirão alguns que isso irá ser bom para o negócio dos seguros privados de saúde. É verdade. E isso não é problema para ninguém. Será, também aí, uma ajuda à economia, criação de postos de trabalho, mais impostos pagos para ajudar a suportar os cuidados de quem não os pode pagar.
A quarta medida é uma decorrência das anteriores e consiste em encarar o envelhecimento não como um pesadelo para a sociedade mas como oportunidade de trabalho para muita gente. Em vez de ter as pessoas de idade, especialmente as doentes e dependentes, fechadas em casa, sendo um 'peso' para a família, ou a definharem em lares e residências, passar a ter formas de ter as pessoas acompanhadas e tratadas, disponibilizando serviços de assistência ao domicílio ou, então, residências seniores de qualidade. Cada um pagará o que os seus rendimentos o permitirem mas, ao gerar emprego para muita gente, teremos essas pessoas a efectuarem descontos e, portanto, a ajudarem a equilibrar as contas.
O tema é daqueles que não se recomendam para os dias de festas. Bem sei. Mas é bom que haja consciência que, sem isto resolvido, um dia não haverá razão para festejar.
Há problemas graves que ameaçam a humanidade: a deterioração climática com todos os desastres que se anunciam, as pandemias e a falta de qualidade do ar que se respira... e o desastre demográfico em alguns países, nomeadamente e de forma preocupante, em Portugal.
[Já agora: em minha opinião, estes deveriam ser os principais temas das próximas legislativas e a forma como os partidos se posicionam perante eles o principal factor de decisão nas nossas escolhas].
O vídeo abaixo aborda o tema do envelhecimento -- e está bem feito e é elucidativo. Se puderem, por favor vejam-no.
The World Ahead: the true costs of ageing | The Economist
The rich world is ageing fast. How can societies afford the looming costs of caring for their growing elderly populations?
As imagens chamam a atenção: afinal a intimidade e o sexo entre pessoas de idade avançada é ainda um mistério. Se falarmos de pessoas do mesmo sexo e já entradas, então, o assunto vira tabu.
Fui ler. Por entre notícias gastas como as que têm a ver com os proprietários do 25 de Abril, novas dos Oscares em ano em que as salas de cinema estiveram fechadas ou notícias demasiado infelizes como a avalanche de covid na Índia, os meus olhos detiveram-se nos casais in love fotografados por Rankin.
Relate charity hopes intimate shots by Rankin will shatter taboos about physical intimacy among older people.
It is intended to start a conversation, but a new campaign on the joys of sex and intimacy in later life may also stop the traffic.
Five naked, or nearly naked, couples and a woman have been photographed by Rankin, and his images are accompanied by words that challenge stereotypes of sexual desire and activity in later years. The posters will be displayed on billboards across the country from this week.
The campaign, Let’s Talk the Joy of Later Life Sex, comes from the relationships charity Relate and aims to “tackle the stigma around this unspoken subject”.(...)
Nisto do amor e do sexo o que tenho a dizer é que acho que, em qualquer idade, um não faz muito sentido sem o outro. Não tenho experiência em sexo sem amor mas imagino que seja uma coisa a modo que vazia, ocasional, qualquer coisa a que se recorre quando não se tem a bênção de ter um verdadeiro amor por perto. Mas uma coisa que tenho para mim é que amor, amor, amor a sério -- e refiro-me, aqui, a amor a dois, amor entre casal -- também não existe sem sexo. Pode haver amizade, pode haver outra coisa qualquer, mas amor, amor, amor para a vida, amor de encher o coração, esse requer sexo, requer a intimidade e a cumplicidade profunda que coabita com o sexo. Amor sem sexo não é amor, é uma separação anunciada. Dura apenas até que o verdadeiro amor apareça. Acho eu.
E se falo de amor, mais diria de paixão. Paixão sem sexo é ficção. Sexo é o amor e a paixão do lado de dentro. Podemos ser muito racionais, muito espirituais. Mas somos também animais. É essa a nossa condição. E não há animalidade sem sexo.
E sexo do bom é sexo alegre, sexo feliz, sexo sem idade.
Quando eu era menina e moça imaginava que sexo tinha prazo de validade, coisa para gente com as hormonas aos saltos. Não me passava pela cabeça que os velhos ainda procurassem o prazer do sexo. Se tal me ocorresse, achá-lo-ia estranho, patético.
Quando se sabe pouco da vida, quase tudo nos passa ao lado. Com grandes certezas, proferimos coisas que apenas revelam ignorância de largo espectro. Com o tempo, fui constatando que nisto do sexo é quase tudo ao contrário do que imaginava. Melhora com a idade. Não sei porquê mas é verdade. Não sei se é a mente que se vai abrindo, se é o corpo que se vai tornando mais permissivo, se é a convivência em intimidade que vai trazendo novas camadas de tolerância e generosidade, se é a velha e católica liaison entre prazer e pecado que se vai desfazendo. Não sei. Sei é que sexo é uma necessidade que não se satisfaz e cujos contornos se vão alargando, colorindo e enriquecendo à medida que o casal se vai conhecendo, que os pudores vão caindo, que a proximidade se vai estreitando.
Seja homem e mulher, duas mulheres, dois homens, sejam novos, assim-assim ou velhos -- sexo é sexo é sexo.
E é isto que estes casais confirmam. Dá gosto ver.
Let’s talk the joy of later life sex
E há também a importância de não deixar para depois -- até para um dia, mais tarde (nunca se sabe) -- poder recordar. E sorrir enquanto se recorda. Tão bom, recordar doces memórias.
Começo a escrever quando o dia um já virou a página. Dormi mal até que me levantei para ir tomar um comprimido. De manhã a dor nas costas já não estava só nas costas mas também na nuca. Incapaz de mexer a cabeça. Resolvi ir de imediato para a banheira para dar com água quente na nuca durante algum tempo. Reconheci que, apesar disso, estava melhor. Senti que já não estava febril e isso, em mim, faz a diferença. Pouco dormi até ir tomar o comprimido mas, depois, dormi que me fartei. O meu corpo parece que está a querer dizer-me alguma coisa.
A minha temperatura não está nos costumeiros 36 ou abaixo mas nos 36,3º, um pouco mais do que o normal, mas nada a assinalar. Tenho é umas olheiras como nunca. Quando as vi até me assustei, pensei que tinha tido algum derrame. Depois percebi que não, que era dos dois lados, meras olheiras. Olho-me ao espelho e pareço-me uma dama do século passado, descorada, olheiras fundas, como quando se morria de amor com doenças indefinidas.
Praticamente não comi o dia todo. Estou sem fome. Ainda assim, a meio do dia fui fazer uma pequena caminhada, devagar, e não me custou tanto como ontem. Fui super agasalhada e com uma echarpe muito quente em volta do pescoço.
A minha mãe esteve a ler os seus livros e concluiu que foi um misto de três coisas: dias de muito stress, dias de muito frio e 'as porcarias que comes'. Espantada, pergunto-lhe a que porcarias se refere se tenho uma alimentação tão saudável. 'Queijos', são péssimos, favorecem estados inflamatórios, esclarece-me. Depois fala-me do cortisol que o stress provoca e que, segundo ela, é um veneno, que deveria ter uma vida mais tranquila, que, se fosse ela, ficava numa aflição com as situações em que me meto, não conseguiria ter a vida que tenho. Digo-lhe, 'pois, mas é a vida que tenho' e, quanto ao queijo, digo-lhe que cada vez gosto mais, há queijos fantásticos. Ela diz-me que deveria cortar nos queijos, ter uma vida mais calma, agasalhar-me mais, diz que não percebe como ando sempre tão à fresca. No entanto, sabendo-me sem febre e tendo encontrado explicação para este meu estado, descansa e já acredita que não é covid.
Passei parte da tarde no sofá, entre almofadas, nada à fresca. Pelo contrário, estou bem agasalhada. Há bocado fui pôr os pés em água quente, estavam outra vez gelados. Eu toda a boa temperatura, quente, e os pés gelados. Não sei porquê. No telefonema, ao falar nisto, a minha mãe disse que deveria fazer-me umas meias de lã, bem quentes. Disse-lhe que não, que geralmente nem suporto sentir calor nos pés, que esta novidade dos pés gelados deve ter a ver com estar adoentada.
De certa forma, ainda bem que isto me aconteceu nestes dias em que, por via do recolher obrigatório às 13 e da proibição de sair do concelho, também não poderia fazer grande coisa. O pior é que não faço pouco: não faço literalmente nada. O meu filho, depois de também me fazer as perguntas sacramentais, se tenho olfacto, se tenho paladar, se não tenho tosse, ainda assim aconselha que tire as dúvidas e faça um teste e, mal acabei o telefonema, já ele me tinha enviado o link para eu saber como fazer. Mas penso que isto deve ter mais a ver com o que a minha mãe diz do que com covid. E com um quarto factor, aquilo de que falei ontem: na outra semana andei a carregar baldes de terra, bem pesados; depois, no natal, transportei sacos bem pesados de laranjas e tangerinas, e o meu corpo que não é de camponesa como por vezes gosto de me iludir mas, sim, de princesa, ou seja, de burguesa lisboeta e elitista, desde há algum tempo não se dá bem com pesos. E também não se dá bem com dias inteiros sentada, de manhã à noite, sem tempo para desentorpecer as pernas ou o espírito, que foi o que me aconteceu a seguir ao natal e aos dias a seguir ao natal.
Portanto, o meu primeiro dia do ano foi assim, verdadeiramente atípico. Mas, afinal, tinha uma peça de roupa nova para estrear. Uma blusa confortável, homewear, que a minha filha encomendou para a minha mãe me oferecer. Verde. Se sou incandescente quanto às minhas paixões, sou verde quando me visto. Creio que já o contei. Quando para aí há um ano e picos tirei para fora toda a roupa dos roupeiros e as voltei a arrumar por cores, fiquei espantada com a larga, larga, maioria de diferentes tons de verde. E acontece-me frequentemente que, quando tenho alguma reunião verdadeiramente decisiva e quero vestir-me em consonância, quase invariavelmente a escolha recai nos verdes.
De tarde e à noite, estivemos a ver filmes na televisão. O meu marido disse: 'nem sabíamos que dava para ver filmes na televisão'. Ironizava, claro. Mas nunca os víamos. Não tínhamos tempo, não tínhamos paciência, tínhamos sempre qualquer outra coisa melhor para fazer. Pois hoje, comigo neste estado, rendemo-nos à televisão. Contudo, adormeci. Depois de ter dormido tanto, pela manhã adentro, voltei a adormecer à tarde. Quando estou assim, o meu corpo vinga-se, põe-se a dormir.
E mal vi as notícias, pouco depois de acordar, constatei que tinha morrido o Carlos do Carmo. Tem sido uma ceifa inclemente. Dá medo. A ver se o 2021 não vai pelo mesmo caminho que o malvado 2020. Tem sido uma razia. Mas, se tenho pena pelo Carlos do Carmo, e claro que tenho e não é pequena, não menorizo o sofrimento dos indefesos que estão a morrer nos lares. Esta situação leva-nos também a conhecer a quantidade imensa de lares ilegais. E, no entanto, quem ali está, está porque não tem onde mais estar, talvez porque as famílias não podem tê-los noutro lugar. Os filhos a trabalharem, com casas pequenas, sem poderem assegurar os cuidados necessários, alguma solução têm que arranjar. E os lares legais são escassos e caros face às necessidades. Deveria ser uma área de forte investimento público. O orçamento e os fundos da segurança social não dão para tudo mas terá que se arranjar uma fonte de financiamento para resolver este drama. Não podemos ter milhares de portugueses à mercê do que quer que seja -- maus tratos, cuidados deficientes --, uma triste antecâmara da morte.
Mas não é só nos lares clandestinos que as pessoas morrem às mãos cheias, é em todos os lares. E tem a ver, sobretudo, com o ar que respiram. Não podem estar de janela aberta senão ainda apanham alguma pneumonia, e, portanto, provavelmente com ares condicionados que recirculam o ar em vez de extrairem o ar viciado e injectarem ar novo, são vítimas adiadas, é só até aparecer o primeiro caso. Imagino o medo das pessoas que lá vivem, receando pela sua própria vida, esperando, solitários, que o tempo passe e não os leve. Espero bem que haja um qualquer fundo para ajudar a financiar, junto de quem não tem verbas para isso, a remodelação dos sistemas de ar condicionado dos lares. Não é justo nem digno que se faça de conta que é uma fatalidade que os nossos mais velhos, enclausurados em lares, estejam a morrer desta forma (e falo de Portugal mas, do que as notícias nos dão conta, o mal é geral).
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Quando ia começar este post, a minha ideia era falar do planeta, da maravilhosa perfeição que o habita, do respeito que nos deveria merecer, guiando todos os nossos actos.
Facilmente poderia dizer que o amor e o respeito pela natureza são os valores primordiais da minha religião. Mas não sinto necessidade de caracterizar a minha espiritualidade pois certamente deixaria de fora aspectos também essenciais.
Contudo, as dores que sinto e o meu mal-estar tomaram conta do texto e, sem me dar conta disso, fui desfiando maleitas, coisa que, ao vivo, nunca faço. Acho uma maçada estar a ocupar tempo das outras pessoas com males que são só meus. Mas isso é ao vivo, espaço onde tenho algum controlo sobre os meus actos. Aqui são as minhas mãos que me conduzem.
Deixo-vos, contudo, com um vídeo com a chancela BBC e a marca de Sir David Attenborough que, ao fim de tantos anos, continua a deslumbrar-se (e a deslumbrar-nos) com a espantosa beleza da natureza. Penso que no dia em que todos nós interiorizarmos que deveremos respeitar o planeta e ter como nossa missão na terra a de deixarmos um planeta melhor para os nossos descendentes, grande parte dos estúpidos problemas dos humanos desaparecerão.
David Attenborough's Jaw dropping
A Perfect Planet 🌍
Em mais uma manifestação do perigo da Inteligência Artificial, neste caso um perigo ainda apenas antevisto e, neste caso, não concreto (pelo menos, para já), o Google Arts & Culture tinha para me recomendar o vídeo abaixo que, de facto, não poderia agradar-me mais. Partilho-o também convosco.
Celebrating Art and Nature with Beethoven's Pastoral Symphony - First Part
Escolhi, como música, lá em cima, Words | Gregory Alan Isakov e espero que as recebam, pelo menos alguns de vós, como uma espécie de explicação para eu deixar aqui, noite após noite, a minha pele, os meus ossos.
Words mean more at night
Like a song
And did you ever notice
The way light means more than it did all day long?
And I'll send you my words
From the corners of my room
And though I write them by the light of day
Please read them by the light of the moon
E etc.
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Desejo-vos um bom dia -- e nem vale a pena dizer muito mais para não começarmos o ano a acumular decepções