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quarta-feira, março 01, 2017

So typical...
[5º de 8 Postais ilustrados de Lisboa, a bela]


Não sou daquelas pessoas que acham que a sua rua deve ficar guardada só para quem lá mora ou que se agastam quando o seu restaurante de estimação foi descoberto por gente de outras paragens.

Tinha eu dezasseis anos e já não suportava viver numa terra em que meio mundo parecia conhecer a outra metade ou em que havia, em muitos, a preocupação do que as coisas pudessem parecer aos olhos dos outros. Não descansei enquanto não me deixaram vir viver para Lisboa. 
Uma prima minha sentiu o mesmo que eu mas, vá la saber-se porquê, quis ir para Coimbra. Parece que sentiu o apelo nostálgico de uma cidade universitária e tanto gosou que por lá ficou. Um outro primo a mesma coisa: durante anos andou itinerante por aí, volta e meia saía do país. Durante uns anos namorou uma holandesa e por lá passava umas temporadas. Depois, na Alemanha, conheceu uma rapariga, com cerca de vinte anos a menos que ele, filha de emigrantes portuguesas. Pensámos que seria mais uma. Afinal casou com ela, fixou-se na sua cidade natal e já tem três filhos. Uma outra sempre foi mais certinha. Mas todos os anos, pelo menos uma vez por ano, aí vai ela, numa grande viagem fora do país.
Mas, dizia eu, gosto de cidades grandes em que se misturem gentes desconhecidas, raças diferentes, nacionalidades múltiplas. Gosto de ir a passar na rua e ouvir todas as línguas e ver gente com hábitos distintos. Gosto de me sentir uma turista. 

E é assim que, sentindo-me sempre como se não fosse de cá, vejo elementos que são tão típicos desta Lisboa de que tanto gosto e fico encantada, como se os reconhecesse de os saber de longe. So typical..., quase poderia dizer. Mas não digo, apenas fotografo.

Depois de mudar de agulha (ou 'fazer a agulha'), o condutor do eléctrico apressa-se a voltar lá para dentro

Amália em calçada portuguesa, em Alfama, por Vhils



No coração da Lisboa antiga: fados e guitarradas em Alfama


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Gisela João - Vieste do Fim do Mundo


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E queiram, por favor, continuar a descer caso queiram ver mais três postais de Lisboa. 

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quinta-feira, dezembro 22, 2016

I Photograph Historical Storefronts In Lisbon To Reveal The Story Of City Rarely Seen By Tourists
-- diz Sebastian Erras cujas fotografias podem ser vistas no Bored Panda e no Pixartprinting



Lisboa hoje é uma cidade frequentada por muitos, muitos estrangeiros. Cada vez mais encontramos as ruas cheias de gente que fala outras línguas e que passeia olhando tudo com olhos de ver. Como é assim que eu gosto de passear, reconheço-me muito nesta imagem de pessoas encantadas com os lugares.

As melhorias da cidade, os voos baratos, os hostels e hotéis de todos os preços e a publicidade internacional ajudam a atrair gente de todos os lados.

Ao contrário da gente bairrista que olha com repúdio os forasteiros, eu sou o contrário. Sinto-me bem no meio da heterogeneidade e acho que as culturas estrangeiras enriquecem as culturais locais. Para além disso, a entrada de dinheiro fresco só faz bem à economia.

Encontro recomendações para visitar Lisboa em vários sites internacionais prestigiados. Já aqui trouxe, que me lembre, pelo menos o caso da Vogue ou da Harpar's Bazaar. No outro dia foi na Elle francesa que mostrava Lisboa como uma das 12 melhores cidades europeias para se passar um fim de semana.


Hoje é o Bored Panda que mostra Lojas de Lisboa. E que lojas...
After the success of Paris re-tale project, Pixartprinting called me again to explore the beauty of the historical shops in the city of Lisbon. The last November 14th we landed in the city of the seven hills to meet thirty lovers of the Lisbon tradition: thirty historical shops, their facades and their owners.
We chose Lisbon as the last city of the re-tale series because of its light, for the wonderful energy that its people transmit and for its nostalgic architecture that can make you feel in a different period of the history. 
Lisbon, solar city, land of labyrinthine streets where the colors of the clothes in the balconies are mixed by those of the tiles in the walls of the buildings giving a very picturesque image. Old trains that go up the hills, people smiling, talking with foreigners, shaking hands with energy. 
We have discovered stories that are worth being written. For this reason, we would like to leave an evidence of the good practices and the tradition of many people. As well we will talk about the satisfaction and sense of belonging to a place that today shines in the international landscape.   

Recomendo a visita ao site e a visualização do vídeo Lisbon Re-Tale da Pixarprinting. 


Abaixo mostra apenas das 4 lojas fotografadas e mantenho as legendas em língua inglesa.

Lubelia Marques, Manager For Portugal Of The Jewelry Company Tous, At The Door Of The Brand’s Local Flagship Store

  

Alfredo Sampaio Sees The Many Stories That Are Linked With His Jewelry Shop



João Silva, One Of The Owners Of Lisbon’s Most Famous Coffeehouse


Manager José Antonio Almeida Poses At The Entrance Of His Business


sexta-feira, abril 01, 2016

O imediato perde história e nome






Isto podia ser a história da minha vida.
O que digo eu? Podia ser? Podia ser, não: é
Passa, e passa bem, da meia noite e agora é que cheguei ao pé do computador. 
Está bem que hoje tive desculpa. Trabalhei até tarde, depois festa de anos, uma alegria, mas daqui a nada tenho que estar a pé que o dia começa como eu não gosto nada que comece: mal ponha o pé no escritório já tenho que ir a correr para uma reunião. Os dias inteiros nisto, sem um tempo para respirar. E se há épocas que me desagradam são destas. Altura de avaliações. Odeio. Eu não devia dizer isto que supostamente não há empresa evoluída que não adopte estas métricas, KPI's (Key Performance Indicators) e o escambau. Dir-me-ão que só existe o que pode ser medido e que a gestão deve ser top down e os objectivos das empresas devem desdobrar-se em cascata até ao nível mais baixo. Tretas. Para mim isto é a maneira de entregar a gestão efectiva, a liderança. o acompanhamento efectivo a uma ferramenta de avaliação. Uma coisa é monitorizar, através de métricas, a evolução da empresa a todos os níveis, que isso é indispensável, e outra, bem diferente, é avaliar o desempenho de cada pessoa segundo metodologias todas xpto, como se fossem a última coca-cola do deserto. Claro que há funções em que as métricas são importantes mas, mesmo para essas e para todas as outras, a avaliação de verdade é sempre subjectiva e vale o que vale. Mas, enfim, é matéria em que estou em minoria e, portanto, não apenas sou avaliada como tenho que avaliar segundo o que está instituído. Da parte que me toca, ao avaliar, nem consigo disfarçar que acho aquilo uma brincadeira de crianças e, portanto, aligeiro o processo. Todos sabem o que penso de cada um pois vou dizendo ao longo do ano, tudo aquilo é, pois, apenas um pró-forma maçador que cumpro porque tenho que cumprir. Tabelas para preencher, objectivos, competências comportamentais, e sei lá que mais (até versejei). Depois comunicar um a um, uma trabalheira. E, se quase todos alinham pela minha bitola, há sempre quem queira levar a coisa a sério ou se sinta injustiçado. Isso é o pior. Não tenho paciência para aquilo, quanto mais para justificar porque é que acho que não são tão proactivos quanto deviam ou que comunicam deficientemente ou outra coisa qualquer.


Enfim. Para quem está desempregado, uma coisa destas é frescura pois tomara passarem por estas chatices mas terem trabalho. E terão razão. 

Mas a questão é que, ainda por cima, esta pincelada das avaliações calha a meio um conjunto de cenas, uma conjugação de complicações, e reuniões e imprevistos e maçadas. Penso (e digo) por vezes, a lastimar-me: andou a minha mãezinha a criar-me para isto. Mas não posso dizer ao pé dela, que ela bem me avisou que eu deveria era ser professora. Se bem que, com o que se tem passado ultimamente, não sei se ainda mantém essa opinião. Provavelmente chegam ao fim do dia com a cabeça mais feita em água do que eu. Também não lhes gabo a sorte.


Pronto, já carpi. E sinto que estou a carpir de barriga cheia pelo que isto é mesmo apenas um desabafo lançado para o espaço.

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E agora, falo de quê? Ando a milhas disto. Nem sei bem o que se anda a passar. Ouvi, ao vir para cá uma coisa chata mas nem quero falar disso. Tenho medo. Tenho medo até de falar. Cruzes, canhoto. 


Vi também no online qualquer que o Rangelinho, o Três Pelos, que coitadito parece um enfezado desde que fez dieta, ainda mais incredível ficou, sempre armado em maria-amélia cheia de chiliques, agora deu para se armar em machão, a querer que o PSD faça mais sangue, parece que acha que o Láparo anda feito mariazinha, que isto não é oposição que se faça. 


Pobrezito. Alguém lhe devia dizer para ensaiar aquela conversa em frente ao espelho para perceber que, coitado, não é possível que alguém o tome a sério. Não é que eu tenha alguma coisa contra os rangelitos deste mundo mas este, em particular, tem falta de qualquer coisa, um je ne sais quoi que lhe falta e sem o qual nunca poderá ser nada a sério nesta vida. Até como deputado europeu já levou um raspanete dos valentes por ir para lá fazer queixinhas, armado em puto mal educado, sobrinho de tia velha, daqueles sobrinhos que, quando resolvem soltar a franga, só fazem disparates -- como se em pequeninos tivessem vivido aperreados e, quando chegam a adultos, desatam a ser uns putos apalermados, sem tino, desorbitados.

Parece também que o Rui Rio voltou àquela de agarrem-me senão eu avanço. Mas ninguém o agarra pelo que ele não consegue avançar.

Mas é uma questão de tempo. Ou o Rio ou outro qualquer haverá de fazer a caridade de tirar o Láparo de cena já que ele não tem capacidades cognitivas para perceber que ninguém o quer em lado nenhum.

Tirando isso, apercebi-me, ao ouvir a rádio enquanto conduzia à hora de almoço, que decorre a comissão de inquérito parlamentar à barracada do Banif. 


Juro que continuo sem perceber para que é que aquilo serve. Parece um confessionário a céu aberto. Dali, que eu perceba, não sai nada que se aproveite. Satisfaz a curiosidade da populaça, obriga uns e outros a humilharem-se ou a inventarem desculpas para nada, as televisões apontadas às cabeças. E os deputados, depois de horas nisto, fazem um relatório -- e está feito. Pedra em cima.

Que eu saiba, no BES, isto não substituiu a investigação judicial nem coisa nenhuma. Ainda se víssemos que, na sequência destes interrogatórios, faziam legislação para evitar mais gaitas destas ou arranjavam mecanismos para controlar incompetências e bagunçadas deste lindo calibre ainda eu acharia que aquilo serve para alguma coisa. Agora assim, abóbora. Voyeurismo, exibicionismo e humilhação gratuita e pouco mais. Ou, então, sou eu que ando por fora e do que me chega só vejo isto.

De resto, uma coisa me deixou assim: Ah..... Com pena, quase sem acreditar.

Zaha Hadid morreu e esta é daquelas perdas que me deixam mesmo prostrada. Já aqui falei dela antes. A sua obra é daquelas que me deixa com a certeza que há pessoas que têm dentro de si sementes divinas. 


Há qualquer coisa nela que é maior do que o normal, uma escala sobre-humana, um arrojo desmedido, uma ausência de medo que é incomum. As suas construções são extraordinárias, mesmo a que não chegaram a ser concretizadas. As linhas que ela desenhava erguem-se aos céus ou deslizam ao longo de terras e mares, como se não houvesse limites a uma imaginação desbragada, como se a desmesura tivesse conquistado o direito a existir mas num estado de absoluta transcendência.

Zaha começou por ser matemática e da geometria espacial transitou para a geometria material, desafiando, aí, todas as convenções.

A gente mediana que gosta de ver nos outros uma humildadezinha barata, incomodava-se com a sua assertividade, a sua segurança, a sua autoconfiança.  Falavam no seu mau feitio mas, do que li, nunca achei que fosse mau feitio mas, sim, falta de paciência para perder tempo a aturar gente parva.

São de trabalhos da intensa Zaha Hadid as fotografias que aqui coloquei ao longo deste post.

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Apetece-me ouvir um poema de Cora Coralina

Saber viver - dito por Juca Oliveira

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Gosto de ouvir dizer poesia, como já vocês sabem, mas, para além disso, tenho sempre que ler um poema. Ao menos um poema. Como habitualmente, deito a mão a um dos livros que paira aqui ao meu lado, abro ao acaso. Foi o que fiz. Partilho convosco:

Nas terras que estremecem com o ardor estival,
O dia é invisível, puro e branco. O dia
é uma estria pungente numa gelosia,
uma febre no plaino, um fulgor litoral.

Porém, a antiga noite é funda como um jarro
de água côncava, aberta a infinitos sinais,
e em canoas, perante as estrelas fatais,
o homem mede o vago tempo com um cigarro.

Com o fumo desvanecem-se as constelações
remotas. O imediato perde história e nome.
O mundo é umas quantas vãs imprecisões.
O rio, primeiro rio. O homem, primeiro homem.


[Manuscrito Achado Num Livro de Joseph Conrad, de Jorge Luis Borges, traduzido por Fernando Pinto do Amaral.]

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Sobre Zaha Hadid


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Quando aqui me sentei, apeteceu-me ouvir a Gisela João a cantar 'O meu amigo está longe', como se estivesse com saudades -- mas sem saber bem de quê ou de quem. Como não tenho tempo nem discernimento para averiguar a razão de ser disto, deixo para os descendentes de Freud a explicação.
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Tal como no outro dia, não consigo reler o que escrevi. Por isso, vai assim, completamente em bruto, escrito à pressa. Relevem as imperfeições, por favor.
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa sexta-feira.

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quarta-feira, abril 15, 2015

"Em memória de uns Pais" - a palavra ao Leitor Vítor Manuel


No post já abaixo tenho um vídeo que mostra o que terá sido a tragédia brutal de 1 de Novembro de 1755 em Lisboa. Interessante.

Mas isso é a seguir. Agora a conversa é outra.


Aqui há tempos divulguei (depois de devidamente autorizada, claro) o conteúdo de um mail que recebi de um Leitor que muito estimo no qual ele me contava memórias do tempo da guerra colonial.

Nessa altura, o Vítor Manuel falou-me também nos seus tempos de menino e moço até à ida para a guerra. Fiquei curiosa e, por isso, quando recebi agora o mail relatando esses tempos, pedi autorização para também aqui o divulgar. Cá está, então. A escolha das fotografias é de minha lavra pelo que espero que as tenha escolhido bem. E daqui envio o meu sentido agradecimento ao Vítor por partilhar comigo as suas memórias e me autorizar a divulgá-las.


Meu amigo está longe




Recordações, tristes, do tempo do Estado Novo

Ano de 1944:

Um jovem de 21 anos, oriundo de Lisboa, chega à antiga aldeia de Venda Nova, mais de 500 Kms a Norte - actualmente submersa e reconstruída em cota superior - deixando noiva na Capital.

Tinha concluído o Curso da antiga Escola Industrial de Afonso Domingues  a que se seguiu uma Especialidade em "Betões para Grandes Infra-Estruturas" e o cumprimento do Serviço Militar Obrigatório em Artilharia Pesada em Sacavém e Vendas Novas .

Consciente de que a carreira profissional, estável e de acordo com os conhecimentos adquiridos, exigiria sacrifícios e “mobilidade" (como agora soi dizer-se) concorreu a um lugar no Estado.

Logrou obter a colocação de "Encarregado de Laboratório" no então "Gabinete de Fiscalização dos Grandes Aproveitamentos Hidro-Eléctricos do Sistema Cávado-Rabagão".


Ano de 1945:

Casamento, em Lisboa, a 15 de Julho e, uma semana após, regresso - já com a jovem esposa - à Barragem de Venda Nova. Não foi fácil a adaptação da nubente!


Ano de 1946:

A 15 de Julho, em Lisboa e em casa (junto à Praça do Chile) e após muitas horas para parto, nasceu o filho varão. (A "régua de cálculo" que sempre acompanhou o Progenitor terá ajudado nas contas e desejo de um filho o mais rápido possível… ).

A jovem Mãe, 21 anos completados dez dias antes (com aperto mitral desde muito jovem) ficou bastante debilitada mas, naturalmente, imensamente feliz.

Passado um mês, os Pais colocaram a alcofa no banco traseiro de um Ford Anglia de muitos poucos cavalos e três velocidades e rumaram à Barragem de Venda Nova.

A viagem constituía uma verdadeira aventura e suplício: partida pelas 7 horas e chegada para cima das 22 com o itinerário pela antiga Estrada Nacional 1. Paragem para almoço em Coimbra e para jantar em Braga.

A partir de Braga, 16 Kms de estrada em paralelepípedo até ao cruzamento para Vieira do Minho após o que vinha o inferno final… em terra batida e dezenas e dezenas de curvas e contra-curvas. Não era nada fácil!

A recuperação da jovem Mãe prolongou-se por duas semanas (a fadiga e os efeitos da diferença de altitudes assim o exigiam). Depois, o muito pequeno "pimentinha " (permita-me usar o seu delicioso termo) foi crescendo e desenvolvendo-se.

Uma vez por Ano, na quadra natalícia, vinha-se até Lisboa para passar a Consoada e Fim de Ano com os Avós e Tios.

Por vezes, ficava vazio o lugar do Avô paterno, nas suas andanças pelos mares a que o obrigavam as suas funções de Oficial da Marinha Mercante.

O tempo ia correndo e a angústia dos jovens Pais ia aumentando também. É que subsistia um "pormaior" terrível: naqueles tempos, cinzentos e pobres, não havia Escola em redor!

Assim, chegados os quatro anos e meio do seu "pimentinha", os Pais viram chegada a hora da terrível e angustiante decisão: colégio interno, em Chaves, ou ficar em Lisboa entregue aos cuidados e educação da Avó e Tio paternos?

Com enorme tristeza e dor (apesar de ficar com quem ficava) foi tomada a opção por Lisboa.

A primeira dor, maior, de minha falecida Mãe foi o não me ter criado.

A segunda, foi a minha mobilização para a guerra colonial (nunca esquecerei vê-la ser transportada, em braços, por meus Falecidos Pai e Tio, para o automóvel enquanto o "Vera Cruz" se afastava, lentamente do Cais (foi uma "guerreira" e só colapsou quando as amarras foram retiradas).

Vinte e sete meses depois, reencontrei-a completamente branca!

Pois, fiquei em Lisboa; minha falecida Avó (ex-professora), mesmo antes de entrar para a Escola, foi-me ensinando a ler e escrever as primeiras letras secundada por meu falecido Tio que passou a ser o meu Encarregado de Educação até ao fim dos meus estudos, e meu "explicador" de sempre (fez o Curso de Económicas e Financeiras, no Quelhas, terminado em 1948 e de onde saíram alguns nomes conhecidos na sua área; ele, próprio, concorrendo ao Grupo Cuf e subindo a pulso, sem "cunhas", contribuíu para a remodelação da Contabilidade Industrial do Grupo passando de Chefe de Secção a Director Financeiro e, finalmente, a Administrador da então UFA - União Fabril do Azoto com sede na Avª da Liberdade - com a responsabilidade dos "Locais", Barreiro (hoje, "Quimigal") e Alferrarede. Terminou a sua carreira muito junto a Jorge de Mello, como Administrador da EGF.

Ambos inculcaram-me o gosto pela Leitura e pela História, aproveitando a minha predisposição natural.

Verdadeiros "segundos" Pai e Mãe, a eles muito, mas muito, devo o que sou e tenho sido na Vida e perante as suas Memórias me curvo, sempre! 

Seis anos e a entrada para a 1ª Classe, no " Externato Lys " (mesmo em frente ao Café Império, próximo de casa. Depois… exame da 4ª classe e exame ao Liceu… conseguida a entrada no Liceu Camões…. e concluído o 7º Ano (sempre com grandes dificuldades a Matemática - não saí ao Avô, Pai e Tio; tinha mais "disposição" para Línguas, Histórico-Filosóficas, Geografia)

Entretanto, e a partir dos treze anos (idade em que comecei a raspar as "penugens" da face) passei a deslocar-me, sozinho, para férias de Páscoa e Férias Grandes na companhia dos Pais.

Saída de Santa Apolónia... transbordo em Campanhã... novo transbordo em Nine... e chegada a Braga por volta das 17H00 com o Pai aguardando (vá que ia devidamente precavido com umas belas sandes de bife carinhosamente preparadas pela Avó).

Uma aventura mesmo, e ainda se tinha de cumprir a étape Braga-Barragem dos Pisões.

Cumprir-se-ia o "religioso" horário das 20H00, para jantar e o primeiro abraço e beijo a minha Mãe.

Fiquei a conhecer, no terreno, (e em profundidade), todas as fases de construção de uma Barragem, acompanhando meu Pai nas suas funções de Supervisão da qualidade dos Betões feitos e aplicados pelo Empreiteiro, na rigorosa aplicação das Normas de Segurança do Pessoal e ajudando na elaboração de Mapas de Qualidade, no Laboratório do Estado.

Lá ia eu, felicíssimo, no velho Anglia (de que meu Pai não se separou até 1965 e no qual aprendi a conduzi).


Agosto de 1965 (Dia 2)

Por circunstâncias da vida e de saúde, agravada, de minha Mãe (tinha eu 10 anos foi operada ao aperto mitral" pela equipa do Sr. Prof. Pádua) meu Pai decidiu, com enorme pena, abandonar a sua vida de "barragista ". Foi muito duro para ele.

E, por coincidências da vida, também, Pai e Filho, juntos, tomaram o metro; Pai, para o seu novo emprego e filho para o seu Primeiro.

Conhecendo-me o Tio, muito bem, sabia de há muito (com muita pena dele e não só) que eu queria iniciar a minha vida de homem, ganhar o meu dinheiro e não sobrecarregar, mais, os meus Pais.

Assim, fui "inaugurar" a "Secção de Controlo Orçamental e de Gestão na UFA.

(O tio, lá dentro, era o Sr. Dr. e a partir da saída passava, de novo, ao meu “segundo" Pai e Grande Companheiro, ele que também não teve filhos. Fui o filho que não teve!)

Depois... veio o Serviço Militar e Comissão em Angola, de que já falámos.


Autor: Vítor Manuel
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Lá em cima Gisela João interpreta Meu amigo esta longe

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Permitam que relembre o vídeo do post abaixo. 

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela quarta-feira, cheia de sorrisos e esperança. 

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quinta-feira, fevereiro 19, 2015

As coloridas e elegantes casas do Porto [Post 4 de 5]


O Porto é uma cidade que, na parte das ruas principais (digamos assim), apresenta uma arquitectura que a faz assemelhar-se à das grandes cidades europeias. Há monumentalidade nos seus edifícios, sobriedade, 'classe'. É uma construção de grande porte, com qualidade, boa pinta.

E há as grandes e boas moradias da Boavista e da Foz, por exemplo, a habitação da grande burguesia portuense. 

Mas depois há a habitação mais popular. E é esta que mais me atrai. É aí que há uma marca distintiva, há alegria, imaginação, aí o Porto é vibrante, mimoso, truculento. E solidário, as casas bem encostadas umas às outras, certamente propiciando fortes relações de vizinhança. E as janelas são frequentemente altas, e eu gosto tanto de janelas bonitas e grandes. E as paredes estão frequentemente cobertas ou ornamentadas por azulejos e eu sou maluca por azulejos.

E há elegância. Mesmo quando as casas são antigas ou revelam a necessidade de obras, elas são bonitas, dignas.













Estive a ver as fotografias que tirei a casas, a prédios, a telhados, a varandas e são mais que muitas. Tive dificuldade em escolher pois acho este tipo de arquitectura uma maravilha. Mas não quero maçar-vos mais do que já o faço.

Fotografei também os graffiti, alguns de grande qualidade. Humorísticos, artísticos ou poéticos, mereceriam talvez um post autónomo mas a verdade é que estou cansada e vocês, coitados, ainda mais devem estar com estas minhas loooongaaaas reportagens fotográficas. Por isso, poupo-me e poupo-vos e mostro apenas um, uma graça.


Beware: this could be poetry

Através do comentário de Fernando Ribeiro soube que este poético graffiti é da autoria de Hazul LuzahAqui fica a justa referência


E há muita poesia na cidade do Porto. Vasco Graça Moura cantou-a em vários poemas. Tenho por aqui um volume que reúne poemas dele dedicados ao Porto, mas não estou a vê-lo. Nestas pilhas instáveis a esta hora nem me arrisco a mexer muito senão nem sei o que poderia acontecer.

Também gostava de juntar aqui a leitura de um poema ou uma música relativas ao Porto mas a verdade é que ou estou já a carburar mal ou pouca coisa há para além do Porto Sentido. Por isso, deixo aqui ficar a Gisela João, fadista do Porto, cantando a saudade de um amigo que está longe. Pode ser que esteja a falar das saudades que já tenho do Porto.


Meu amigo está longe


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terça-feira, fevereiro 17, 2015

Porto, lindo e majestoso [1 de 4] - Uma árvore cheia de rendas à beira do Douro


Atravessando a pé a Ponte D. Luís para o lado de Gaia chega-se a um ponto, um miradouro de onde se tem boa vista para o outro lado, onde há alguns plátanos. Uma dessas árvores, enorme e majestosa árvore, tem os troncos cobertos de rendas. O tronco dos plátanos descarna-se e ostenta manchas pelo que apenas com atenção se descobrem estas rosetas de renda fina que se confundem com a sua casca. Não sei como as colocaram lá, tão alto. Terão trepado? Não consegui perceber. O risco de as colocar lá ainda aumenta mais o interesse do que se pode considerar uma obra de arte.

A renda conjuga-se com o rendilhado dos finos troncos, dos restos de folhas, com o metal desenhado da ponte. E de repente percebe-se como foi possível trazer ainda maior delicadeza a uma árvore já de si tão bela, superando a sua natural perfeição.





   


sobre a minha cidade, falei-te ontem, mostrei-te
as esquinas do tempo, a imagem de fachadas
que ainda conheci, de outras que
eu próprio ignorava; sobre
a minha cidade e suas pedras, seus espaços
de árvores graves; 






e o que foi arrasado,
ou está a desfazer-se; as manchas do presente, a
poluição dos homens; e o que foi
violentamente arrancado por negócios sucessivos,
erros, brutalidades: o que era e o que foi
o que é dentro de mim o seu obscuro,
imaginário ser: costumes e conflitos,
maneiras de falar, a gente
e a confusão das ruas, as casas do barredo;





sobre a minha cidade achei que tu
tiveste gratidão, a viste.
que percorreste as pontes que a minha
cidade a ti me trazem, entre
gaivotas alastrando e músicas diferentes,
e foste nascer nela.





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O poema é 'sobre a minha cidade' de Vasco Graça Moura

Gisela João canta 'Vieste do fim do mundo' com Ricardo Parreira na guitarra portuguesa e João Tiago na viola.

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terça-feira, dezembro 09, 2014

O Pai Natal chegou e a autora de Um Jeito Manso recebeu o seu primeiro presente. Aqui deixo o meu agradecimento, que nunca será suficiente, ao Leitor que tão amavelmente me ofereceu um livro seu, Quadras Impopulares, com dedicatória e tudo.


No post abaixo falo dos Métiers d'Art, reportando-me também aos meus dotes manufactureiros e às minhas dúvidas sobre como ocuparei o meu tempo um dia que me reforme. Mas tanto tempo ainda falta que nem vale a pena estar já a especular sobre isso.

Por isso, adiante.

Meu amigo está longe



Foi com emoção que li o mail de um Leitor que me informava ter-me deixado um presente num esconderijo, cuja localização referenciava - aliás, à semelhança do que já tinha acontecido o ano passado.

Já lhe contei a ele, por mail, mas aqui fica descrito. Não descansei enquanto não fui lá. A minha locomoção está ainda um bocado limitada mas, com o carro perto, e o meu marido esperando pacientemente pela minha lenta passada, fomos até ao local.

E lá estava estava ele, bem escondido, embrulhadinho, protegido. E então, trazendo-o comigo, toda contente, logo ali o fotografei junto ao rio, numa tarde fria e luminosa, o Tejo muito azul, cheiroso.


Quadras Impopulares de Joaquim Castilho,
(ainda hermeticamente fechado dentro do saco de plástico).

Um livro com dedicatória. As palavras de um amigo que me agradece como se não fosse que eu que tivesse razões para agradecer tudo, as palavras gentis, a presença, o incentivo, a estima tantas vezes manifestada - e aqui permito-me estender as minhas palavras de agradecimento, que vão em primeiro lugar para Joaquim Castilho, a todos os Leitores que me acompanham de uma forma tão calorosa e afável.


Nestas alturas sou como uma menina que recebe um presente e está desejando de o ver, de o ter consigo. Soltei-o do seu invólucro, e enquanto andava, logo ali o vim lendo, neste lugar tão especial.

Com humor, diz Joaquim Castilho no cartão que acompanha o livro que, numa tentativa de se enquadrar, inventou umas quadras de pé quebradíssimo para manjericos de Santo António ou fadunchos esfarrapados.

Pois que seja; e eu, por ele pedir fados, escolhi Gisela João e a sua forma autêntica de os sentir para nos acompanhar. E escolhi algumas das suas quadras soltas, aquelas para as quais encontrei fotografia minha que me parecesse acasalar com as palavras.



Casa morta, ruína, sombra que voou
Destroços de vidas que terminaram
Um grito surdo que encontraram
Enterrado num tempo, que se acabou.



Eras como um rio lento
Sem ouvir a cor do mar
Meandros mágicos do vento
Histórias, lendas de encantar.



Num mar de longos abraços
Onde um rio se desfaz
Ora vento ora sargaços
Sombras de memória e paz.



Pássaro jovem que voa
Sem nunca aprender a voar
Razão que sempre entoa
Do rio jovem sem ter mar.




Num poema ou fotografia
Uma sombra iluminada
Em tudo ou num quase nada
Um brilho profundo acontecia.



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Todas as fotografias foram feitas no sítio mágico do Ginjal.

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Muito obrigada, Joaquim! O meu Natal já está a ser muito bom.


quinta-feira, fevereiro 06, 2014

Porque tem agora o 'Um Jeito Manso' um link para um site de Hotéis em Lisboa e outro de Hotéis no Algarve? Eu explico.



Lisboa, a bela, fotografada este fim de semana







Já não é a primeira vez que sou contactada para publicitar produtos, lojas, sites, etc. Explico sempre que isso desvirtuaria os meus blogues que se querem amadores, sem quaisquer intuitos comerciais.

Como também já aqui contei (acho eu), fui também convidada para participar num programa de grande audiência na televisão e para antes, fazerem uma reportagem comigo, em minha casa. Também recusei embora tenha achado piada à ideia e ao convite.

Agora fui contactada no sentido de saber se estava interessada em divulgar um site com hotéis em Lisboa e, depois, veio também à baila o dos hotéis no Algarve


Nunca tinha visto estes sites nem conheço as pessoas que por eles se responsabilizam mas a forma de abordagem foi directa e simpática. Gostei. E gosto tanto do meu País e é tão importante que a economia se dinamize e que a procura interna seja estimulada que acedi sem esforço. Além do mais é sabido que sou devota de Lisboa, a magnífica, e que gosto também bastante de algumas zonas do Algarve, nomeadamente a zona que vai de Lagos para ocidente (Sagres, praia do Castelejo, etc).

Em contrapartida, esses sites divulgariam os meus blogues. Enquanto tudo correr bem, manterei os links que podem ser vistos à direita. Se alguma coisa me desagradar, é simples: retiro-os.

E só espero que muita gente venha conhecer Lisboa e passar férias no Algarve.

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A música é o fado Meu Amigo está Longe, letra de José Carlos Ary dos Santos e música de Alain Oulman e é brilhantemente interpretado pela fadista Gisela João.

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